Don't compare yourself to others, do what only you can do.
"Viajar o mundo sozinho não significa viver uma aventura solitária."
A Capa Amarela
A Capa Amarela
Mais uma vez me vi olhando para esse lugar... Morto? Talvez, se não fosse pelos animais, mas isso não mudava o fato que não teria alguém semelhante com quem partilhar aquela jornada, estava completamente deserto. Não lembro quando cheguei aqui, quando me dei conta já me via olhando para aquele céu escuro e nublado, impedindo qualquer sinal de um esperançoso feixe da luz do Sol. Comecei a me aventurar. Por que estava ali só? Por que não conseguia encontrar mais ninguém? Tudo que encontrei foram casas abandonadas, sem resquícios de que alguém havia morado lá. Qual seria a razão da existências delas? Não tinha porque existir... Até aquele momento era o que pensava.
O silêncio começou a fazer parte da minha rotina. Estar sozinho também. Havia me acostumado a esse cotidiano, andando sem rumo e batendo de casa em casa sem luz do Sol ou alguém que ali morasse. Estava tudo bem... É, estava. Aos poucos o silêncio se tornou um mal ao qual não sabia como combater, era maior e pior do que eu podia suportar. A cada dia era consumido por aquele mundo, me sentia tão impotente do já pouco que me recordara. A sensação de fraqueza e impotência era surreal, a cada dia, também, a pressão me fazia dar menos passos, além de me desgastar fisicamente mais rápido. Minha jornada estava árdua, quase impossível. Eu conseguiria chegar em algum lugar? Achar alguma razão? Entender tudo aquilo? Essas dúvidas rondavam minha mente, a curiosidade se tornava maior e se transformava na essência da minha vitalidade, mesmo que quase exausto.
Um certo dia, quando estava me dando por vencido, mesmo não querendo desistir, pela primeira vez um feixe de luz se fez a minha frente e, com ele, uma sombra estava se projetando e vindo em minha direção. Estava incrédulo demais, com certeza comecei a delirar, devia ser um efeito daquele "submundo". Um choque percorreu meu corpo assim que a mão da sombra tocou meu braço esquerdo, logo depois puxou e a colocou em torno do seu pescoço, me ajudando a levantar. Outro choque se fez em mim ao ouvir sua voz gentil, o que me fez olhar com mais calma e clareza para quem era a pessoa na sombra.
Não desista, você não está só. Essa luta não é de apenas uma pessoa, você apenas se deixou ficar cego por este submundo nublado que se escondeu. Enquanto não desistir, e desejar seguir em frente, iremos ouvi-lo. Lembre-se, não se esconda nesse submundo que criou e muito menos ache que vive só nele. Se abra e se compreenda, só assim este seu mundo irá se abrir para novas formas, novas luzes, novas motivações.
O que mais me recordo era seu sorriso caloroso e dócil, o que fez meu corpo se aquecer apesar do frio que estava sentindo. Ela não era grande, e muito menos forte, mas, por algum motivo, conseguiu sustentar todo meu peso, esse que carregava tanta exaustão, desesperança e solidão. Mesmo sem precisar dizer mais uma palavra, compreendi tudo que tinha percorrido e vivido. Compreendi que aquele submundo era parte de mim e somente eu poderia mudá-lo e preenchê-lo, as casas não estavam vazias, apenas pensei que não tinha ninguém mais por mim e não quis enxergar que, sim, havia. Ao ter essa certeza, antes que notasse, aos nuvens do céu começaram a se dissipar, dando espaço a mais raios do Sol, a um horizonte menos sombrio. Senti meu corpo mais leve, mais energético. Ao me virar para agradecer aquela pessoa, para minha surpresa, ali já não mais se encontrava, porém no chão estava sua capa de chuva amarela que peguei e vesti, agora era minha vez de ir a outros submundos e dissipar o nevoeiro que cega os solitários.