Prezado, boa noite!
Divaguei dentro dessas desilusões descritas. Dancei dessa dardejante danação, degustando detalhes decifrados da demências decantadas de dimensões delirantes.
O que quero dizer é: gostei bastante dos seus contos. Contudo, acredito que você pode melhorar ainda mais, tanto na parte do storytelling, quanto na parte semântica.
No geral, seus contos possuem uma ideia bastante interessantes, contudo, da forma que você escreveu (com grandes blocos de textos), deixou-os bastante maçante, tornando a leitura pesada, de difícil compreensão e identificação dos personagens, misturando ações e pensamentos como se fossem uma coisa só. Eu evitaria parágrafos muito longos, pois há uma grande chance do seu leitor se perder no meio dele, o que não é algo bom para uma história cheia de detalhes.
Gostei bastante da ideia do conto "Enigma da Escuridão" e da forma que você escolheu para contar ela: pelas horas. Acredito apenas que você se perdeu um pouco ao usar "uma semana depois", "um ano depois", denotando uma certa insegurança em trabalhar com datas, diferente de como você fez com o conto "A Cor".
Nictofobia foi o que mais gostei, achei uma ideia incrível, apesar de mal apresentada. A apresentação da história, além de maçante, é bastante confusa. Muitas das vírgulas poderiam ser substituídas por pontos finais, permitindo que o leitor se oriente melhor durante a leitura, assim como alguns parágrafos poderiam se desdobrar em outros três ou quatro parágrafos, facilitando a compreensão da sequência de eventos e a diferenciação entre o pensamento da protagonista e a ação dela. O excesso de vírgulas é algo que me deixou bastante incomodado também.
No conto, a descrição de alguns eventos destoa da perspectiva em primeira pessoa, fazendo com que a protagonista teça alguns comentários um tanto artificiais apenas para tentar entregar a imagem do evento em terceira pessoa, quando, na verdade, a história deveria ser contada na primeira pessoa. Por exemplo, o trecho em que ela descreve o movimento do celular antes de entrar no vaso: "Ele salta, quica, rola no ar e mergulha direto no vazo, ouço claramente o barulho molhado do impacto na água, não é possível, meu celular, minha luz. [...]". A primeira parte deste trecho possui uma linguagem completamente descritiva destoando muito da proposta em primeira pessoa assumida no conto.
Em terceira pessoa, o trecho ficaria mais ou menos assim: Ela tenta se socorrer do seu celular, sua única fonte de luz, o qual desliza por seus dedos, dança entre seus braços e mergulha no vaso, tornando-o completamente inoperante.
Em primeira pessoa, poderia ser assim: Ao ver as luzes do banheiro se apagar, meu coração quase saiu pela boca. Fiquei quieta por alguns segundos e pude sentir o clima do ambiente ficar mais pesado, como se algo me espreitasse nas sombras. Desesperada, abro minha bolsa e empunho o meu celular, destravando-o para iluminar o ambiente. Ainda desesperada, aperto as teclas com tanta firmeza que ele escorrega entre os meus dedos. Para salvar o objeto, ponho minha mão embaixo dele, porém em vão, minhas tentativas de amortecer a queda se mostraram pior do que pensei, pois o celular utilizou meus "tapas" como trampolim para mergulhar no vaso.
É importante definir a forma em que você pretende entregar a história antes de escrever ela. Não existe um jeito melhor do que o outro, você precisa pensar em qual técnica é mais apropriada para apresentar o seu conto. Uma história em primeira pessoa é muito boa para descrever sensações e sentimentos, contudo destoa da proposta escrever algo que o protagonista não possa ver ou sentir (como o salto olímpico do celular na vaso sanitário). Por outro lado, uma narrativa em terceira pessoa lhe permite descrever eventos que estão acontecendo com o protagonista sem que ele saiba, contudo deixa o leitor em uma perspectiva de mero observador da cena, retirando-o da pele do protagonista.
O encerramento deste conto foi ainda mais confuso.
Apenas por curiosidade, o conto "Nictofobia" repete a palavra "não" vinte e seis vezes. Oito delas em um só parágrafo.
A estrutura do "A Coisa nas Sombras" está muito melhor. Nesse conto você conseguiu descrever as cenas como se fossem experimentadas pela própria protagonista, o que é algo esperado pela perspectiva escolhida. O final também é muito interessante, mas ficou faltando aquela pitada de terror cósmico, como, por exemplo, a entrevistadora ler o prontuário da protagonista indicando que ela infligiu os cortes em seu próprio corpo e foi levada para uma ala psiquiátrica com quadro de surto psicótico, ou algo semelhante.
O "Quarto de Hotel" e o conto "Amor Cósmico" são histórias muito bacanas. Começo, meio e fim bem apresentados. Só o que me incomodou foram os pontos já citados no inicio desses apontamentos: parágrafos longos; excesso de vírgulas; confusão entre ação e pensamentos; etc.
H.P. Lovecraft e Robert W. Chambers são muito bons, porém é sempre bom ler escritores que escrevam diferente do seu padrão de leitura. Recomendaria Stephen King, ele tem uma boa mescla de primeira e terceira pessoa em alguns dos seus contos, como "O Dedo Semovente", a mera leitura dessa obra já é uma aula de como escrever um conto de terror.
Tão importante quanto ler boas histórias, é relembrar algumas questões de semântica (estrutura das frases) e ortografia. Por isso é sempre bom manter um dicionário por perto e tirar suas dúvidas com leituras mais técnicas, vez ou outra. Recomendaria você relembrar um pouco sobre a estrutura de um parágrafo e o uso da reticências (...) e da vírgula (,). Português é uma língua viva que está em constante mudança. É algo que precisamos sempre correr atrás.
Por fim, não pare de escrever. É possível vislumbrar um certo progresso entre o conto "A Cor" e o conto "Amor Cósmico", e isso é sinal de evolução de técnicas e domínio da língua, bem como criação de um estilo próprio, o que é algo muito bom!
Essa é apenas a minha sincera opinião, em momento algum eu quis desmerecer ou diminuir seus trabalhos, muito pelo contrário, só tomei o meu tempo para escrever por acreditar que você pode torna-los ainda melhor. Fique à vontade para ignorar um ou todos os apontamentos feitos.
Abraços.