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"Mais vale um jogo completo na mão do que dois projetos voando."
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A Representatividade nos Jogos

Nandikki

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19 de Junho de 2015
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As pessoas brancas compõem juntas apenas 7% da população do nosso planeta. Na mídia, jogos e histórias, entretanto, compõem mais de 90% da população existente (às vezes 100%). Hoje eu proponho outra discussão que acredito ser nobríssima: a representatividade nos jogos. Pra começar, abra seu projeto e conte quantos personagens negros existem.​


Todo mundo aqui já sabe (ou deveria saber) que a mídia brasileira sofre de uma crônica crise de representatividade no que diz respeito à orientações sexuais aparentemente minoritárias (gays, lésbicas e bissexuais) e principalmente aos negros. Se você acha que estou “doutrinando esquerdices igual o MEC”, se proponha a assistir uma novela nacional, e me diga quantos negros achou, e ainda: quantos negros achou que não eram faxineiros ou empregados. Afinal até no Egito Antigo só tinha brancos, segundo a Record.​


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Por que eu me importaria com isso? Eu só quero criar meu jogo e ser feliz.
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E por que não criar seu jogo com personagens negros também? Nada mais natural, não é? Até mesmo porque mais da metade de seu público-alvo provavelmente não possui as características eurocêntricas dos personagens do seu jogo. Além disso, você estará pregando um avanço social.​

“Paulo baixou a versão gratuita (porque o jogo fez tão sucesso que a versão paga custa uns 30 euros) do novo hit da playstore, o jogo que você desenvolveu. Ao começar o jogo notou a presença de alguns heróis negros. Paulo não iria mais passar o resto do jogo almejando os lindos olhos azuis do protagonista, por que podia se espelhar na beleza nítida dos outros heróis mais parecidos com ele.”

Como desenvolvedor de jogos você deve estar consciente de que acabará por se tornar também um formador de opiniões e, sobretudo, um agente social.​


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Eu entendo que é importante a presença de negros e outros grupos “minoritários” no meu jogo. Mas como inseri-los adequadamente?
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De forma natural. É difícil achar hoje uma cidade (no Brasil) onde não haja negros ou gays. Então inseri-los no jogo não será nada espalhafatoso, dependendo do modo como colocará. No fim das contas será só mais um ator, então não é necessário colocar junto ao character uma enorme placa dizendo OLHE, EU SOU NEGRO ou até OLHE, EU SOU GAY. Nem será preciso no tópico de divulgação - ou na sinopse - escrever em caixa alto que um dos personagens é negro. Você deve entender que a presença de negros no jogo não deve ser encarada como algo inovador, mas como algo natural.


Para o membro Lima...
Bem, sinceramente quando eu vou jogar um jogo eu não olho se são negros ou brancos, ou seja, interessa-me os gráficos e o tipo de jogo, não é relevante se o personagem é negro ou branco, mas agora que fala no assunto, noto que raramente existe um personagem negro, até o próprio RTP do MV não inclui qualquer personagem negro, talvez isso nunca os interessou, mas era ótimo haver personagens negros nos jogos, porque conseguíamos provavelmente que os jogos chegassem a outros continentes, que tivessem maior diversidade cultural e que com isso, aprendêssemos mais um pouco sobre os outros povos.​



Para o membro Cronus...
Acho que quando se fala em diversidade em jogos, pra muita gente o problema inicial tá em simplesmente considerar isso. Em lembrar que você pode fazer um personagem de etnia diferente, que poderia fazer um personagem de outro sexo, que poderia contar uma história diferente do que a maioria conta. Muitos ignoram e sequer pensam nisso por hábito ou até por acharem que isso limita sua liberdade criativa, mas é o contrário. Ter em mente essas diferenças aumenta seu leque de possibilidades e te incentiva a criar novos conceitos e até a aprender coisas novas. Quando se reconhece a importância da diversidade, passa a ser mais fácil tratá-la com sutileza e de forma natural, sem ter que forçar.​



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Eu concordo que é importante a presença de negros no meu jogo. Mas meu jogo não é gay, então por que eu colocaria um?
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Porque a não ser que seu jogo goste de jogos de gênero opostos ao dele, ele também não é hétero. Inserir um personagem gay no seu jogo não significa dedicar uma história inteira pra ele, é apenas uma característica de um dos personagens. Na verdade são poucos os personagens que possuem a sexualidade totalmente esclarecida, mas como vivemos numa sociedade hétero-normativa: para nós todo mundo é hétero. Se você deseja passar a informação de que tal personagem é gay, ou bi, você pode utilizar-se dos diálogos para isso. Invente um namorado(a) ou algo assim, sem precisar abordar diretamente isso, afinal não é desejável que o personagem seja visto apenas pela sua sexualidade.​

 
Eu já pensei em colocar negros no Elkiria Land Revision, porque eu não queria me sentir meio que culpado por só colocar brancos e fazer alusão ao racismo. Aí eu quero fazer tipo, uma parte do jogo vai ser cheia de negro/afro-americano (não totalmente cheia, mas pelo menos a maioria dos NPCs vão ser negros) e pelo menos algumas pessoas vão ser negras.

Acho que não tem negro no RTP do MV pq não tem negro do Japão, normalmente. Nunca vi um negro na terra do sol nascente (cês já viram?), e acho que essa é a causa, já que o MV e outros RMs vem do Japão.
 
Os Japoneses não costumam se representar, imagine representar negros. Personagens de Animes são o contrário de Japoneses, inclusive. O RTP do MV (e de todos os outros, no que diz respeito aos characters) é eurocêntrico.
 
    Acho a "representatividade nos games" um assunto importante de ser discutido e levado em conta, mas que dá margem à muitas falsas concepções e exageros de posicionamento.
    Por exemplo: concordo que em muitos jogos falta a participação de personagens negros e de etnias diferentes, mas às vezes isso é uma mera questão de ambientação. Se o jogo é de fantasia medieval e se passa na norte da Europa (como acontece com uma miríade de RPGS), não faz o menor sentido você colocar um personagem negro ou asiático no meio da multidão como se fosse natural se não houver uma explicação no enredo para isso, afinal, o aumento da circulação de pessoas no globo não se deu até pouco depois dos séculos XVI-XVII.
    O mesmo vale para a sexualidade. Muitos são os jogos em que há um romance ou enredo amoroso envolvido, mas muitos mais não o tem. Deixar o personagem com um status 'default' (heteronormativo) de homem ou mulher facilita a retirar a temática romântica/amorosa do jogo; afinal, se você deixa clara a sexualidade do personagem, algo no enredo tem de envolver isso, o que nem sempre é conveniente às intenções de um jogo que não quer dar enfoque a esse aspecto. Cabe aqui também a discussão da ambientação, se um personagem homossexual declarado publicamente se encaixaria bem no contexto histórico ou não (nesse caso, poderia ser construído um roteiro interessante sobre um protagonista homossexual que fosse perseguido numa época feudal, por exemplo).
    Pessoalmente, eu acho que o ideal é não forçar nada, deixar tudo vir naturalmente, para que seja o mais verossímil possível. Por exemplo, estou coordenando um projeto com vários amigos no RMXP e nossa protagonista do século XIX - indiana, pele parda clara e de cabelos ruivos(!) - naufragou em uma ilha próxima à Inglaterra (aonde a história acontece). Como deixamos isso natural e verossímil? Ela é filha de um magnata do algodão inglês na Índia com uma mulher indiana, e foi enviada pelos pais para estudar na Inglaterra (como era comum em meados de 1800). Isso tudo foi sugerido em uma sessão de brainstorm, e em nenhuma hora nossa preocupação foi a de ter uma personagem "mulher, negra e de etnia minoritária"; apenas achamos um background bacana e daí montamos as características físicas da protagonista. :hocuspocus:

PS: Acho que a falta de personagens negros e/ou de outras etnias nos RPG Makers é de causa principalmente cultural. Não vejo uma preocupação dos japoneses quanto à isso, seja pela ausência dessa variedade étnica no Japão, seja pela própria cultura local de pouca aceitação à estrangeiros (gaijins); não acho que se deve necessariamente à motivos eurocentristas.
 
Problem is, convenhamos, discutir isso é entrar num saco de gatos. É muito difícil até conversar, pois com o próprio vocabulário para se falar dessas questões está viciado. E como todos deveriam saber, falar nesse vocabulário já é entrar no jogo deles, já é dar munição para a patrulha ideológica. Deixe-me tentar uma aproximação diferente.

O problema não é de representatividade. Não é como se tenhamos obrigação alguma de representar alguma etnia ou grupo. Em muitos cenários isso é totalmente fora de questão. [member=225]Lord Wallace[/member] já deu a pista nesse aspecto. Mas também em outro: Se existe algum problema, talvez seja o da concepção de diferentes personagens. (Sim, agora eu vi que o Cronus lá na CRM falou o mesmo...) Nesses termos dá para conversar, e eu até concordo. Tem muitos cenários e grupos culturalmente interessantes de se tratar em jogos, só precisamos que alguém vá lá e os conceitualize, imagine e passe isso para os roteiros/jogos/etc.
 
Eu não comentei nesse tópico antes pq não tinha visto :x Só vi na CRM, mas eu evito por os pés lá

Eu concordo parcialmente com esse lance de "ah, na época não existiam negros nem gays nesse cenário". Well, num mundo totalmente realista pode até ser (inclusive, eu acharia muito legal se existisse racismo e homofobia de fato in-game, só que sendo denunciados como algo ruim, como num vilão por ex). Mas num mundo cheio de dragões, mundos explodindo, anjos de uma asa só, gente de cabelo rosa/azul/verde, explicar existência de negros ou gays é o menor dos problemas .-. Really, eu só engulo a não-existência da representação de algum grupo social no jogo se houver um motivo realmente convincente para isso, em algum tipo de jogo realmente muito específico. Embora eu também aceite a desculpa de "eu nunca tinha pensado nisso antes". Tudo bem, eu te aceito assim. Também demorou um tempinho para eu me tocar, depois de ter feito um milhão de personagens brancos hétero de gênero binário cis.

Coincidentemente, na mesma época que esse texto foi publicado eu estava acompanhando umas aulas sobre transexualidade em personagens literários: http://escrevatrans.encontroirradiativo.com.br/
As aulas já acabaram, mas se alguém se interessar como passar os e-mail (são quatro ao todo). Muito útil e interessantes c: E me ajudou também. Um dos motivos de eu evitar fazer personagem trans é que eu nunca sequer conheci uma pessoa assim, então como diabos vou fazer um char desse sem cometer uma gafe catastrófica? (creio até que muito gente passe por isso tbm na hora de criar personagens diversificados).

Enfim, belo texto. Eu até tava pensando em escrever alguma coisa sobre isso, já que considero representatividade algo muito importante socialmente e que as pessoas ainda relevam (inclusive, ter algum grupo social representado no jogo já é condição determinante para me chamar atenção e me atrair pelo jogo xD). Não escrevi porque eu escrevo muito mal mesmo, melhor nem arriscar :x Obrigada por poupar trabalho <3
 
Pois é, tem essa coisa do mundo não ser o mesmo do mundo real... então nele pode não existir genética para ter pele escura e homossexualidade .-.
... mesmo assim ninguém nunca cita isso quando faz um projeto, simplesmente faz todos pers brancos, héteros e fds o resto, isso só pode ser algum costume que seguimos desde muito tempo... (eu mesmo já fiz muito isso) mas costumes mudam pode ser que paremos com essa mania algum dia
 
Pretty-Belle comentou:
Eu não comentei nesse tópico antes pq não tinha visto :x Só vi na CRM, mas eu evito por os pés lá

Eu concordo parcialmente com esse lance de "ah, na época não existiam negros nem gays nesse cenário". Well, num mundo totalmente realista pode até ser (inclusive, eu acharia muito legal se existisse racismo e homofobia de fato in-game, só que sendo denunciados como algo ruim, como num vilão por ex). Mas num mundo cheio de dragões, mundos explodindo, anjos de uma asa só, gente de cabelo rosa/azul/verde, explicar existência de negros ou gays é o menor dos problemas .-. Really, eu só engulo a não-existência da representação de algum grupo social no jogo se houver um motivo realmente convincente para isso, em algum tipo de jogo realmente muito específico. Embora eu também aceite a desculpa de "eu nunca tinha pensado nisso antes". Tudo bem, eu te aceito assim. Também demorou um tempinho para eu me tocar, depois de ter feito um milhão de personagens brancos hétero de gênero binário cis.

Coincidentemente, na mesma época que esse texto foi publicado eu estava acompanhando umas aulas sobre transexualidade em personagens literários: http://escrevatrans.encontroirradiativo.com.br/
As aulas já acabaram, mas se alguém se interessar como passar os e-mail (são quatro ao todo). Muito útil e interessantes c: E me ajudou também. Um dos motivos de eu evitar fazer personagem trans é que eu nunca sequer conheci uma pessoa assim, então como diabos vou fazer um char desse sem cometer uma gafe catastrófica? (creio até que muito gente passe por isso tbm na hora de criar personagens diversificados).

Enfim, belo texto. Eu até tava pensando em escrever alguma coisa sobre isso, já que considero representatividade algo muito importante socialmente e que as pessoas ainda relevam (inclusive, ter algum grupo social representado no jogo já é condição determinante para me chamar atenção e me atrair pelo jogo xD). Não escrevi porque eu escrevo muito mal mesmo, melhor nem arriscar :x Obrigada por poupar trabalho <3
Interessante, às vezes realmente é preciso conhecer bem o público-alvo que vai tratar de, hmm, mostrar em determinados jogos. (Yeah, vou continuar fugindo das palavrinhas mágicas) Eu mesmo lembro de que, poe exemplo, o Vai Seiya, que é um abridged/paródia do Cavaleiros do Zodíaco, trabalha algumas dessas questões com um dos membros, para que as piadas tenham uma boa identificação com o público pretendido. (Fogo é que tem besta que ainda enxerga "discurso de ódio" na série. Ô gente besta...) Cara, achei isso muito bacana da parte deles, por que eles fazem um trabalho muito bom e eu acho engraçado sem ser apelativo.

Agora já a parte de ser socialmente importante tratar isso num jogo ou não, aí já vou ser meio cabreiro. Se o jogo quiser tratar de questões sociais, beleza, há jogos para isso que o fazem com maestria. TEM que haver jogos que o façam. Mas isso não tem que ser obrigação, nem critério de valor. Julgar um jogo como melhor apenas por ser "socialmente responsável" ou whatever já começa a bagunça, pois tem muita porcaria que pode ser promovida apenas por fazer ressonância com esse tipo de discurso.

Para mim a arte não deve ser julgada pela sua utilidade social. Isso é só um adorno desnecessário que polui sua beleza essencial. Infelizmente querer procurar o politicamente correto em tudo pode sufocar a criatividade, além de politizar desnecessariamente mais esse aspecto da nossa vida. Sem contar aquilo que já falei, dar munição pra certas pessoas... Você mesmo Bellinha deve conhecer gente que se exalta só de ouvir certas palavrinhas mágicas, o que é sinal de que o adestramento ideológico já penetrou fundo na mente dos nossos amigos...

Ah, e você não escreve mal de jeito nenhum!  :XD:
sir helix comentou:
Pois é, tem essa coisa do mundo não ser o mesmo do mundo real... então nele pode não existir genética para ter pele escura e homossexualidade .-.
... mesmo assim ninguém nunca cita isso quando faz um projeto, simplesmente faz todos pers brancos, héteros e fds o resto, isso só pode ser algum costume que seguimos desde muito tempo... (eu mesmo já fiz muito isso) mas costumes mudam pode ser que paremos com essa mania algum dia
Mania ou não, realista ou não, há sempre a questão da demanda do público. Até pouco tempo atrás pouca gente se importava com essas questões, até por até bem pouco tempo atrás não existia essa preocupação. Hoje em dia novos públicos querem mais atenção, então acho que vale muito a pena os desenvolvedores focarem nessa questões, até mesmo para atrair um público maior pros RPGs. Agora claro, sem ceder às demandas irrealistas e restritivas de alguns. Novos públicos podem demandar novos produtos, para que as alterações nos já existentes não afastem o público atual (vocês bem sabem que fã é bicho chato de lidar). Os desenvolvedores vão ter que quebrar muito a cabeça para conceber coisas novas, mas o resultado será muito melhor para todos.
 
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