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"Não force a criatividade, liberte a sua mente e a criatividade virá."
- Frank

Animatronick (A Problemática)

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07 de Janeiro de 2017
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A Problemática
002


Da câmera de segurança era possível ver Roger entrando no compartimento onde sua criação ficava. Ele destrava algumas coisas no chão, liberando, assim, os trilhos da maca. Os trilhos vão até o meio do laboratório, onde Lucas aguardava de costas para Roger. Os trilhos estavam escondidos no chão, sob compartimentos pintados com faixas amarelas e pretas. Quando Roger os destrava, os compartimentos se abrem, deixando-os a mostra. Roger empurra a maca até onde Lucas aguardava.

– Não olha ainda. Dá mais alguns passos para frente.

Lucas avança mais três passos e Roger trava a maca no meio da sala. Ao ativar o botão de rotação, a maca se inclina para trás. Lucas pôde ouvir o som da maca se movendo.

– O que você tá fazendo?
– Calma, não olha ainda! Só tô arrumando umas coisas aqui. Só um instante.
– Anda logo, cara! Parece menina, com esse negócio de “não olha não” ... – Disse Lucas, com uma voz aguda.

Depois de corrigir algumas coisas como amassados na roupa e posição de algumas mechas de cabelo de sua criação, Roger diz ao amigo: – Pronto. Pode olhar. – Por favor, não pira. Não pira. Não pira. Não pira. Era o que Roger pensava enquanto o amigo se virava. Lucas, então, se virou para ver o que Roger queria tanto lhe mostrar. Lucas ficou surpreso com o que viu. Havia uma moça deitada numa mesa, ou maca, no meio do laboratório. Ela aparentava estar dormindo. Lucas percebeu que Roger parecia ter muitas expectativas sobre o que ele acharia daquilo. Ambos ficaram em silêncio durante alguns segundos. Roger acionou novamente o botão de rotação da mesa/maca, deixando-a numa inclinação de 30°, sendo zero a vertical.

– E então? O que você achou? – Perguntou Roger com um sorriso no rosto.
– O que é isso, Roger? O que tá acontecendo aqui? O que essa moça tá fazendo aqui embaixo? E por que ela está com os pés e os pulsos amarrados desse jeito? E deitada nessa... Nessa mesa.

Roger percebeu que o amigo mudou o aspecto de seu rosto. Estava sério.

– O que você anda fazendo aqui embaixo? – Perguntou Lucas.
– Não, não! Não é o que você está pensando. Era ela que eu queria te mostrar. Ela é minha criação, entende?
– Não. Não estou entendendo nada.

Lucas, suspirando, se aproximou de Roger.

– Escuta. Você... Pode se abrir. Abra-se comigo. O que tá acontecendo aqui? Eu tô aqui pra te ajudar. Hã? – Perguntou Lucas com a mão no ombro de seu amigo. Roger ficou sem resposta. Teve que mostrar pra ele. Então ele abriu a boca da ‘moça’ e colocou sua mão lá dentro.

– Ei, ei! O que você vai fazer? Pra quê isso? – Perguntou Lucas surpreso.
– Calma. Olha isso.

Então o rosto dela se destravou, indo um pouco para frente. Isso deixou Lucas ainda mais surpreso. Roger, então, levantou o rosto da moça como se fora uma máscara ou algo do tipo. Lucas ia se afastando pelo espanto de ver que aquilo não era humano. Era máquina. Vários circuitos, mecanismos, as gengivas e os globos oculares dela ficaram à mostra agora. Lucas estava perplexo. Sem palavras. Roger respeitou a reação do amigo e aguardou. Lucas esbarrou na poltrona de Roger e sentou-se nela.

– Mas o que é isso, cara? O que estou vendo? – Perguntou Lucas gaguejando.
– Lucas. Gostaria de apresentar minha mais nova criação: eu a categorizei como sendo um Animatronick. – Disse Roger como se estivesse apresentando sua criação a uma grande plateia com nomes conhecidos.
– Você fez um robô?
– Ah... Assim você me ofende. Ela não é um simples robô. Robôs fazem tarefas simples. Ela não. Ela é... Especial.
– Então era dela que você estava falando? Como você conseguiu isso, mano? – Perguntou Lucas, enquanto se levantava da poltrona. – Isso é... Rsrs... Isso é... Incrível!
– Eu sei. *Suspiro* Agora você entende porque seria problemático mostrá-la ao mundo.

Lucas observa enquanto seu amigo explica:

– Haveria retaliações... Perseguições, prisões e, talvez, até mortes por causa dela.
– Mas... Ninguém precisa saber que ela é um... Um animatronick.
– É, eu sei, mas... – Respondeu Roger indo até sua poltrona para se sentar – Se eu quisesse manter segredo total sobre ela, teria que... Fazer documentos falsos... RG falso, Registro de Nascimento falso, CPF falso, Passaporte falso. E eu não quero ter que fazer coisas contra a lei só pra... Ter ela. Você entende? Eu não quero ser obrigado a virar um criminoso só pra poder andar por aí com uma coisa que eu fiz. Quer dizer: Foi eu quem fiz! Ela é minha! Qual é o problema de ela existir? Só porque ela é um animatronick? Isso não é contra a lei! Mas... *Suspiro* Isso é frustrante!
– Entendo. Mas pra fazer algo assim, com essa tecnologia, imagino que você já deve ter feito muitos...
– Não, não, não. Não fiz nada de errado para construí-la. Tudo que eu usei para fazê-la foi comprado, ou foi feito por mim mesmo. Aliás, a maioria das partes dela foram feitas por mim. Se houver trinta por cento de peças compradas nela, será muito.
– Puxa... E o que você vai fazer, então?
– Eu não sei. Foi por isso que eu te chamei aqui. Eu passei os últimos anos trancado aqui nesse porão e me sinto... Travado. Eu pensei que, talvez, uma mente mais... Descansada pudesse me dar uma ideia melhor sobre o que fazer com ela.
– Quanto tempo você ficou aqui embaixo? Desde quando você tá trabalhando nisso?
– Você se lembra de quando éramos mais novos e morávamos na mesma rua? Nós ficávamos na porta da casa da minha mãe inventando histórias, super-heróis, teorias loucas.
– Sim, eu me lembro. – Respondeu Lucas com um sorriso por se sentir nostálgico. – Lembro também que nós fingíamos que tínhamos namoradas imaginárias e que elas conversavam conosco. Mas isso faz muito tempo.
– Eu sei. Mas pode-se dizer que meus primeiros projetos surgiram ali. Lembra que eu fazia desenhos, como se fossem desenhos esquemáticos?
– Não brinca...
– É isso mesmo. – Roger levantou-se de sua poltrona e continuou dizendo, enquanto caminhava em direção a sua criação: – Naquela época eu nem imaginava que eu realmente faria algo assim, mas... Rsrs... Acho que consegui.

Então Roger mudou de expressão.

– Só queria que os outros entendessem.

Lucas se aproximou dela pensativo. Todos aqueles fios encapados, aqueles olhos sintéticos, a gengiva, os dentes...  Era tudo muito impressionante. Feio, porém muito impressionante. Ele percebeu que ela não tinha pupila. Havia apenas a parte chamada esclerótica, e a íris. Ele achou aquilo curioso, mas então pensou na situação em que seu amigo se encontrava e compreendeu sua preocupação.

– Bom, eu... Também tô cansado e... Talvez amanhã. A gente possa pensar em algo. – Disse Lucas.
– Claro. Se você quiser, pode ficar no quarto de visitas. É à esquerda, subindo as escadas. E o banheiro é aqui debaixo da escada.
– Olha, cara... Eu te entendo. Ainda bem que você não fez nada de errado pra poder construí-la. Realmente isso não é necessário. Eu admiro sua integridade. E... É isso. Boa noite. Amanhã a gente pensa melhor.
– Boa noite.



Continua...
 
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