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- HenriqueGibi

Chegada Eminente

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Kaza Guruma
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11 de Setembro de 2014
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  O robô tinha mais ou menos dois metros de altura, revestido de cobre e aço. Tripulado, apesar que a escuridão do visor tentasse ofuscar isso. A fábrica estava em chamas, com alguns mecânicos mortos, e marcas de garras metálicas em suas costas. Pessoas dentro e fora gritavam em uníssono, até o som ser interrompido por outro de uma garra, ou do lança-chamas em ação.

  As botas metálicas do Esquadrão de Controle faziam barulho. Pesadas, e quando os azarados que ainda estavam dentro da fábrica escutaram esse som, tinham certeza de sua salvação.

  Primeiro, tinham que limpar a entrada. Alguns atiravam com suas pistolas automáticas para abrir espaço entre os escombros, enquanto as chamas eram apagadas com pistolas moleculares.

    — Ei, cuidado onde mira! — Exclamou Capitão Jinsen. — Está me molhando. O soldado alvo da sua reclamação ficou confuso.

    — Mas senhor… Eu não estou fazendo isso. Olhe para cima, é chuva.

    — Ah sim. Não poderia ter vindo numa melhor ora, vai ser de grande ajuda. — Observou.

    Outro soldado, já mais afastado, escorregou, causando um estrondo.

    — Soldado Melquior, recomponha-se!

    — Perdão, senhor. É que tem algo escorregadio demais. No chão.

    — Como é? — Só então olhou para as suas vestes. Seu coração quase parou.

    — Pessoal! Não é chuva! Isso é ól…

    O robô se aproximou, e ativou seu lança-chamas.

Do outro lado da cidade...

  O vento soprava forte e as janelas estavam batendo. Por sorte, uma serva se certificou de fechá-las antes que Rickas reclamasse. E ele com certeza faria. Mas não agora, antes de tomar sua decisão. Os dedos do governante tremiam com a caneta nas mãos, não por medo, mas por vício. Com a outra mão ele acariciava os cabelos grisalhos. Essa discussão entre ele e Dale já durava vinte minutos e a tensão se acumulava na sala, prestes a explodir.

    — Eu não sei como isso é sequer uma discussão, Rickas. Eu não vou aprovar essas máquinas amaldiçoadas sendo usadas em nossa cidade, não importa a ocasião. Não sou a favor de uma carnificina.

    — Não vamos usá-las na cidade. — Retrucou. — Nós vamos usá-las pela cidade, e se for estritamente necessário. É um último recurso para nos salvar em caso de um ataque. Nossas defesas são fracas, temos poucos atacantes. Quem falou em carnificina?

    — Que ataque? Quem vai nos atacar? — Elevou a voz. — Não temos inimigos, não temos conflitos armados há décadas.

    — Será? Eu ouço... sons perto do porto.

    — Hahahahaha, você acredita mesmo nesse tipo de coisa? Foi o que eu imaginei. Bom, o que mais está escondendo de mim? Na verdade, não quero saber. — Dale encara-o sem dizer nada por um bom minuto, enquanto Rickas tenta desviar o olhar. O vento por outro lado fazia questão de ouvir a conversa, com estocadas na janela até que ela abrisse novamente. Os dois suportaram o barulho por pouco tempo.

    — Rickas, faça como quiser. Mas saiba de uma coisa, quando a pilha de corpos se acumular em nossa porta, vamos saber exatamente em quem a culpa vai pesar mais. Estamos na véspera de um festival, esqueceu? — Levantou-se, preparando para deixar a sala. — E os cofres públicos já estão vazios demais pra isso. É só. — Fechou lentamente a porta ao sair.

    Que idiota. Não pensa mesmo no nosso futuro. Eu estou velho, o que posso fazer? Cansado e sem vontade de continuar, Rickas pediu um café, que uma serva foi preparar sem dizer uma palavra. Velho. Lento. Incapaz de continuar, sim, isso tudo me define. Se eu abandonar o cargo, Dale vai comigo. Não vou deixar esse louco no governo. Só comigo o observando ele deixa de fazer besteiras.
Rickas estava em seus setenta-e-quatro anos. Ainda tinha uma boa postura e um porte físico saudável apesar das marcas no rosto, cicatrizes no braço e um cabelo curto grisalho formando uma muralha ao redor da careca. Vestido com roupas de aviador antigas remendadas com os óculos grandes na cabeça e sapatos escarlate. O diferencial que o fazia se orgulhar eram os botões metálicos da camisa em formato de engrenagem. Nos dias mais frios também vestia um casaco remendado alaranjado, mas tão velho que já estava num marrom bem escuro. Mas raramente estava frio. Até o inverno na cidade permitia andar sem casaco na maioria das vezes.

  Dale era diferente. Mais novo que Rickas, em seus cinquenta-e-um anos ainda tinha todos os fios de cabelo castanhos e cacheados e uma barba longa. Usava roupa social no trabalho e no dia-a-dia. Sempre vestimentas de cor sólida, uma calça longa e botas mecânicas, que ajudam a controlar o atrito.

— Aqui está, senhor. — Anuncia a serva, trazendo a xícara de café para Rickas.

— Muito obrigado, Silvanna. — O governante soprou de leve antes de beber. Tomou um, dois goles, e depois disso bebeu tudo de uma vez. Deixada a xícara em cima da mesa, que foi rapidamente levada para a cozinha por outra serva, ele aproveitou seu pouco tempo livre para abrir a janela e observar a cidade. A ventania finalmente cessou, dando espaço a um brilho forte do sol primaveril de terça.

    O Palácio do Governo tinha cinco andares, nos primeiros os cidadãos tratavam de assuntos gerais, sendo no último que se situava os escritórios de Dale e Rickas. Ambos tinham total autonomia sobre a cidade, podendo colocar qualquer coisa em prática sem a aprovação de terceiros. Outros funcionários tratavam de questões menores, mas sempre com a aprovação dos dois governantes.

    Aquele ponto de observação era perfeito, a maioria das construções da cidade mal chegavam a três andares. Uma cidade populosa, mas não tão espaçosa. Expandir a área estava em primeiro na lista de necessidades do povo, mas não na lista de prioridades dos dois. Pelo menos nisso concordavam. Rickas mudou de ideia.

    — Silvanna. Traga Dale de volta, há coisas a se discutir. — Explicou Rickas. — Já adiamos isso demais.

Do outro lado do oceano..

— Pegue esta aqui, ela é mais leve. Permitirá que ataque com mais facilidade e que possa desferir mais golpes. Treine com ela. — Instruiu Luttin, jogando a espada de treinamento para Roy. — Avance.

O jovem aventureiro tentou acertar o braço direito do treinador, mas foi bloqueado. Tentando um ataque pelas costas teve o mesmo resultado. Um golpe em cima, baixo, um lateral, com a espada na horizontal, todos bloqueados. Nisso, tentou chutar Luttin, que segurou seu pé e o puxou, derrubando o garoto. Gargalhou.

— Foi uma boa tentativa, mas cuidado. Elevar o pé assim o deixará sem equilíbrio, então não faça isso. Não tente me atacar por trás quando estou te vendo claramente, apenas se cansará. Numa tentativa dessas você precisará correr para atacar, eu apenas girar para me defender. Demorar demais entre ataques não surpreende ninguém. Tente estocar sucessivamente. E o mais importante…

— Deu uma rasteira em Roy, derrubando-o na grama úmida. — Você só ataca onde estou armadurado. E a cabeça? Tão vulnerável, mas não tentou nem uma vez.

— Você podia se machucar.

Luttin gargalhou novamente.

— Com essa espada inofensiva? Convencido demais para alguém que não me acertou nenhuma vez. — Segurou-o pela mão e puxou para que se levantasse. — Mais uma?

— Já estou cansado, Luttin. — Fingiu ofegar. — Talvez mais tarde?

— Fale isso pro seu inimigo e até terminar a frase ele já está segurando o seu pâncreas.  — Nisso, Luttin virou-se bruscamente para ouvir um grunhido. Goblins.

    A criatura tinha um metro e meio de altura, pele cinzenta e garras afiadas. Olhos vermelhos como rubi e uma aparência asquerosa. Pequenos chifres e vestindo peles. Da mandíbula escorria sangue misturado com pus e saliva. Ao avistar os dois no campo, a criatura recuou lentamente por alguns instantes. Temia.

    — Veja isto, Roy. — E o treinador retirou o arco preso nas suas costas com uma mão e pegou uma flecha da aljava com a outra. Posicionando a flecha, puxou a corda apontando a flecha para onde o goblin iria estar e soltou. O som do projétil cortando o vento ecoou por alguns instantes até que pousou, atravessando carne e osso. A ponta da flecha apareceu na testa do goblin, acompanhada de sangue. A criatura caiu, ainda de olhos abertos.

    — Quanta precisão! — Exclamou o jovem. — E… O que um desses faz aqui? Parece perdido.

    Ambos caminharam apressadamente em direção ao corpo abatido e o treinador prosseguiu com a explicação:

    — Eles não passam das fronteiras do condado. — Afirmou. — Provavelmente ou este estava escondido há algum tempo, o que é improvável, pois parece não ter mais de algumas semanas de vida. Ou alguém está criando essas abominações em cativeiro, o que explica seu medo de humanos. Veja.

    — O goblin cheirava a sangue seco e carne podre. Não dele, mas de alguma vítima infeliz. Olhando mais de perto, Luttin notou o que a criatura realmente vestia: Pele humana. Roy também percebeu, estava apreensivo, mas preferiu não comentar. O velho treinador arrancou a flecha, que acabou por quebrar. A analisou por alguns segundos e largou na grama. Continuou a olhar para o corpo sem nenhum objetivo aparente e concluiu:

    — É, está morto.

    — Sério que só percebeu isso agora?

    — Não. Roy, poderia buscar um saco? — E apontou para o armazém perto do gramado. — E uma pá, de preferência.

    — De preferência?

    — Posso empacota-lo com as mãos, mas não vou ficar muito feliz com você.

    — Vou buscar o saco. Qual seu objetivo?

    — Reportar. Nós dois vamos, parecerei menos louco assim.

    — Não posso, tenho que ir continuar trabalhando em minhas invenções?

    — Invenções? Que coisa de garotinha. Você deveria estar treinando com a espada, não fazendo essas coisas. Você é um guerreiro, rapaz. Você é um homem, e deveria agir como um. Seus pais com certeza não aprovam isso.

    Enquanto Roy se dirigia ao armazém, Luttin analisava melhor a criatura. Viu algo estranho no antebraço. Um chip. Ah, por favor... Olhou para trás, para os lados, suspirou e tocou na pele do goblin. Sim. É sintética.
 
Prezado [member=1820]Kazzter[/member] , boa tarde!



Gostei bastante da leitura, em especial, o primeiro bloco de acontecimento. Achei fascinante!

Na minha opinião, a leitura poderia se tornar ainda melhor com uma suavização entre as ações. Você usa bastante o ponto final, o que torna a leitura rígida. O ponto final expressa uma interrupção muito mais brusca do que a vírgula, por isso a minha recomendação é separar as ações por ponto, e as reações, por vírgula. Como nesse trecho:

O vento soprava forte e as janelas estavam batendo, mas, por sorte, uma serva se certificou de fechá-las antes que Rickas reclamasse. Ele com certeza faria isso, mas não agora antes de tomar sua decisão. Os dedos do governante tremiam com a caneta em uma das suas mãos - não por medo, mas por vício - enquanto com a outra mão ele acariciava os cabelos grisalhos. Essa discussão entre ele e Dale já durava vinte minutos e a tensão acumulada estava prestes a explodir.


Eu também evitaria isolar ações com pontos, como você fez com o "gargalhou" no seguinte trecho:
O jovem aventureiro tentou acertar o braço direito do treinador, mas foi bloqueado. Tentando um ataque pelas costas teve o mesmo resultado. Um golpe em cima, baixo, um lateral, com a espada na horizontal, todos bloqueados. Nisso, tentou chutar Luttin, que segurou seu pé e o puxou, derrubando o garoto. Gargalhou.


Escolhi esse trecho para citar uma outra questão: o tempo. Quando você diz "o jovem aventureiro tentou acertar" você está falando no passando e já está afirmando ao leitor que ele não acertou. Essa é a ideia do "tentou". Nesse momento a sua mente pregou uma peça em você. Antes de você escrever essa ação você já sabia o que ia acontecer e disse para o leitor antes que ele pudesse saber. Você mesmo quebrou o ritmo ao dizer as consequências antes da ação.

Definir o tempo é importante para isso. Histórias em primeira pessoa costumam contar sobre acontecimentos no passado, então é normal o uso de verbos como "tentou", "esforçou", "buscou", "quis", entre outros. Quando você despersonaliza o narrador - como na sua história - o recomendado é evitar o gerúndio e contar a história como se fosse uma sucessão de eventos no presente. Não que você deva abolir o uso dos verbos no passado, mas evite utilizar verbos que demonstrem o resultado antes do tempo.

O jovem aventureiro mirou e atacou o braço direito do treinador (ação), mas foi bloqueado (consequência). No mesmo fôlego, atacou pelas costas (ação), mas teve o mesmo resultado (consequência). Respirou fundo e se lançou em uma sucessão de ataques contra o instrutor (ação), todos bloqueados (consequência). Aproveitando-se de um descuido de Luttin, chutou (ação) e teve seu pé agarrado pelo instrutor (consequência), que o puxou (ação), desequilibrando o garoto que caiu no chão (consequência). Vislumbrando o rosto enrubescido do garoto (ação), o instrutor soltou uma gargalhada muito alta (consequência).


A leitura precisa ter um ritmo, quase como uma música. Quando você sobe a tensão, o leitor fica apreensivo, e quando você libera a tensão, o leitor relaxa. Se você deixar a tensão sempre baixa, você perderá a atenção do leitor. Eu fiquei encantado com o rumo dos eventos no primeiro bloco, mas então apareceu "do outro lado da cidade", o que, de per si, já quebra muito o ritmo da narrativa, mesmo assim a leitura passou uma cena recheada de tensão para uma extremamente burocrata. Este segundo bloco, reduziu muito a tensão, e o terceiro reduziu ainda mais. Se você tivesse invertido a ordem dos três blocos, a história teria um ritmo bem melhor.

Há dois trechos, em especial, que me deixaram confuso:
— Deu uma rasteira em Roy, derrubando-o na grama úmida. — Você só ataca onde estou armadurado. E a cabeça? Tão vulnerável, mas não tentou nem uma vez.

— O goblin cheirava a sangue seco e carne podre. Não dele, mas de alguma vítima infeliz. Olhando mais de perto, Luttin notou o que a criatura realmente vestia: Pele humana. Roy também percebeu, estava apreensivo, mas preferiu não comentar. O velho treinador arrancou a flecha, que acabou por quebrar. A analisou por alguns segundos e largou na grama. Continuou a olhar para o corpo sem nenhum objetivo aparente e concluiu:


Nesses dois trechos, o uso do travessão no começa causa a impressão que será uma fala, mas ao invés do personagem falar vem uma descrição do narrador, o que torna a leitura um pouco confusa. Afinal, é uma fala ou uma descrição?



Essa e apenas a minha mais sincera opinião, em momento algum eu quis lhe ofender. Sinta-se livre para ignorar completamente elas.


Por fim, gostaria de saber: essa trama terá novos capítulos ou é apenas um conto isolado?
Abraços.​
 
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