Atenção: poderia ser verídico.
Manhã fria, luz suave, coração leve, dezembro.
A fila da loja estava razoavelmente longa, o que me permitia observar os arredores sem medo de perder a vez.
Olhava atenciosamente a capa de um livro, seguindo com a vista as linhas e as cores, redesenhando aquelas figuras, quando ouvi ao longe uma voz:
- Cuidado, Luciana.
Aquela voz me arrancou da hipnose em que estava, me puxando como se estivesse no fundo de um poço.
- Eu só te digo cuidado!
Rapidamente despertei, olhei para as outras pessoas, escondi meu celular e carteira, fiquei apreensivo. Sim… -IVO, não sou Luciana, mas um aviso de cuidado serve pra qualquer um.
Comecei a vasculhar o ambiente em busca da fonte e notei, umas 4 pessoas atrás de mim, uma mulher falando ao celular com o rosto sério e o olhar pregado no chão.
Ela repetia:
- Eu já te disse!!! ME OUVE!
Eu tremi com a ênfase nessas palavras.
- Cuidado, Luciana!!!!
Mantive meu olhar no livro, um aleatório, mas transferi minha atenção para a conversa.
- Viu? Eu te disse!!!! Cu-i-da-do!
Separações silábicas são sinais do apocalipse. Alguma coisa ia muito mal. Silabação significa mãe mais zangada, professor estressado, o clímax de um programa de auditório. Hiatos deixam as coisas mais graves!!!!
Procurei algum aplicativo de hackear conversas alheias, mas foi em vão.
Então, chegou a hora:
- Luciana, cuidado com isso, porque…
- Próximo!
Droga!!! Era a minha vez! Queria dar a vez pra alguém, fingir que tava esperando alguém trazer algum pacote de biscoito que esqueceu, mas me movi automaticamente.
No meio do caminho, tive a sucinta ideia de pedir para que a pessoa atrás de mim prestasse atenção na conversa e depois me dissesse, eu pagaria até um lanche. Não era possível que somente eu me preocupava com Luciana, sentia que era parte de mim já.
Paguei de qualquer jeito, deixei o troco, voltei correndo. Luciana poderia ter um grave problema. Poderíamos criar uma vakinha ali mesmo e lançar online. Pobre Luciana!
A pessoa tinha ido embora. Aquele lugar vazio, aquela marca do passado que nunca irá se resolver. A vaga na fila deixada por alguém que foi acudir Luciana pessoalmente às pressas.
Isso faz três anos! De assombro, de incertezas, de um estrondoso eco do vazio
Não que eu seja fofoqueiro, mas como estará Luciana?
Cuidado, Regina -como acabar com um fofoqueiro
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