🤔 Para Refletir :
"A verdadeira ideia criativa vem do momento mais simplório do dia."
- Yonori Akari

(Conto) Mulher com Sombrinha

misterdovah Masculino

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05 de Maio de 2020
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:zaggo:Musiquinha para acompanhar a leitura:bocejo:

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(Passeio ou Mulher com Sombrinha, Monet)​

“Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!”. E se Blake visse esse quadro da mulher no passeio ele veria que ela mesma é uma flor no campo e olha para trás com uma expressão que pode ser qualquer coisa. Ela guarda o infinito no semblante. Ela está eternamente surpresa, olhando para trás, vendo-se seguida por um espectador diferente a cada minuto por todas as décadas, e quem sabe como são os campos abaixo daquelas nuvens ali atrás?​
Abaixo…​
Isso me lembra de quando eu era criança e caí enquanto corria atrás do nosso cachorro. A visão era muito semelhante: as gramas no rosto e o olhar de reprovação de mamãe alguns passos na minha frente.​
Que estranho, se for a visão de uma queda o rosto da mulher é de zombaria, não mais de surpresa.​
Acho que hoje de manhã devo ter esperado meu marido ligar. Ele não ligou. Não ligou mais. Nunca mais. Parece que nem importava. Se eu tivesse feito faculdade de Economia eu e ele estaríamos viajando para o Rio de Janeiro agora e eu não estaria nesse plantão.​
Ele foi sozinho e eu… eu estava preocupada?​
Não ouço ninguém e nem consigo me virar para procurar alguém. Silêncio, silêncio bom e profundo. Parece… o infinito. E tudo é tão lento aqui dentro da minha cabeça que só sobra lugar pra olhar pra esse quadro e imaginar os ventos suaves nos cabelos dessa mulher e os leves movimentos no tecido do vestido. Eu estou sorrindo, acho, juro que estou.​
Hum!​
Eu não tinha visto essas manchas vermelhas no quadro. A diretora do centro vai me matar se achar que fui eu. O que é isso??? Uma televisão??? Distante, distante. Não lembrava que era uma televisão. Uma sirene? Estridente.​
Oh!​
Não vi você aí, pequenino. Que bonitinho! Um bebê! Deve ter dias. Pare de chorar, criança. Vou dar um beijinho! E outro!​
Você está ficando vermelhinho que nem o quadro, vou dar um abraço mais forte e um beijo para acalmar.​
Isso, pare. Marquinhas de beijo e quietude.​
Não chore mais, não chore.​
Deixe que eu choro por você, enquanto sinto que o quadro é mais real que esse mundo. Quem é essa mulher? Me olha com tanta promessa de um mundo melhor. E quem aparece na porta de repente? Outra mulher, com cara de qualquer coisa, mas no lugar do infinito ela guarda o pavor no semblante e uma arma na mão. Sem barulho, sem reação, sem nada ela me lança para dentro do quadro. Eu me levanto e a mulher de Monet me estende a mão. Somos amigas e vamos para um piquenique na relva dourada de sol.​
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________​
  • Quem era, soldada Mariana?​
  • Não sei, senhor. Mas a ela comeu uma criança. Só que…​
  • O quê?​
  • Enquanto devorava, ela olhava para o quadro, parecia tão...​
  • Humana? Não mais. Deve ser uma das enfermeiras que ficaram para trás.​
  • Pela roupa, sim.​
Mariana olhou ao redor, O berçário destruído. Sem sobreviventes. Lamentou pelas crianças, pelas enfermeiras, mas aquela mulher… quem era aquela mulher que olhava para Mariana com a máscara zombeteira da morte daqueles dias? A mulher do quadro parecia olhar para ela com pena.​
(1998 - início da tragédia de Racoon City)​
 
Última edição:

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(Passeio ou Mulher com Sombrinha, Monet)​

“Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!”. E se Blake visse esse quadro da mulher no passeio ele veria que ela mesma é uma flor no campo e olha para trás com uma expressão que pode ser qualquer coisa. Ela guarda o infinito no semblante. Ela está eternamente surpresa, olhando para trás, vendo-se seguida por um espectador diferente a cada minuto por todas as décadas, e quem sabe como são os campos abaixo daquelas nuvens ali atrás?​
Abaixo…​
Isso me lembra de quando eu era criança e caí enquanto corria atrás do nosso cachorro. A visão era muito semelhante: as gramas no rosto e o olhar de reprovação de mamãe alguns passos na minha frente.​
Que estranho, se for a visão de uma queda o rosto da mulher é de zombaria, não mais de surpresa.​
Acho que hoje de manhã devo ter esperado meu marido ligar. Ele não ligou. Não ligou mais. Nunca mais. Parece que nem importava. Se eu tivesse feito faculdade de Economia eu e ele estaríamos viajando para o Rio de Janeiro agora e eu não estaria nesse plantão.​
Ele foi sozinho e eu… eu estava preocupada?​
Não ouço ninguém e nem consigo me virar para procurar alguém. Silêncio, silêncio bom e profundo. Parece… o infinito. E tudo é tão lento aqui dentro da minha cabeça que só sobra lugar pra olhar pra esse quadro e imaginar os ventos suaves nos cabelos dessa mulher e os leves movimentos no tecido do vestido. Eu estou sorrindo, acho, juro que estou.​
Hum!​
Eu não tinha visto essas manchas vermelhas no quadro. A diretora do centro vai me matar se achar que fui eu. O que é isso??? Uma televisão??? Distante, distante. Não lembrava que era uma televisão. Uma sirene? Estridente.​
Oh!​
Não vi você aí, pequenino. Que bonitinho! Um bebê! Deve ter dias. Pare de chorar, criança. Vou dar um beijinho! E outro!​
Você está ficando vermelhinho que nem o quadro, vou dar um abraço mais forte e um beijo para acalmar.​
Isso, pare. Marquinhas de beijo e quietude.​
Não chore mais, não chore.​
Deixe que eu choro por você, enquanto sinto que o quadro é mais real que esse mundo. Quem é essa mulher? Me olha com tanta promessa de um mundo melhor. E quem aparece na porta de repente? Outra mulher, com cara de qualquer coisa, mas no lugar do infinito ela guarda o pavor no semblante e uma arma na mão. Sem barulho, sem reação, sem nada ela me lança para dentro do quadro. Eu me levanto e a mulher de Monet me estende a mão. Somos amigas e vamos para um piquenique na relva dourada de sol.​
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  • Quem era, soldada Mariana?​
  • Não sei, senhor. Mas a ela comeu uma criança. Só que…​
  • O quê?​
  • Enquanto devorava, ela olhava para o quadro, parecia tão...​
  • Humana? Não mais. Deve ser uma das enfermeiras que ficaram para trás.​
  • Pela roupa, sim.​
Mariana olhou ao redor, O berçário destruído. Sem sobreviventes. Lamentou pelas crianças, pelas enfermeiras, mas aquela mulher… quem era aquela mulher que olhava para Mariana com a máscara zombeteira da morte daqueles dias? A mulher do quadro parecia olhar para ela com pena.​
(1998 - início da tragédia de Racoon City)​

Wow. 🤯
Adorei, que conto bem desenvolvido, realmente até então eu enxergava de uma outra perspectiva e o desfecho final me arrebatou nas ultimas frases.
Quero mais.
Quero pronto na minha mesa.
Amanhã.
 
Não ouço ninguém e nem consigo me virar para procurar alguém. Silêncio, silêncio bom e profundo. Parece… o infinito. E tudo é tão lento aqui dentro da minha cabeça que só sobra lugar pra olhar pra esse quadro e imaginar os ventos suaves nos cabelos dessa mulher e os leves movimentos no tecido do vestido. Eu estou sorrindo, acho, juro que estou.
@Suchimu o personagem está em um sonho, ou acredita que esteja em um, ele está fazendo um monólogo interno, até o ponto onde há duas pessoas conversando sobre um um ocorrido macabro. :)
 
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