🤔 Para Refletir :
"No alto daquela ideia, plantei um projeto de jogo. A empolgação da ideia bate, o fracasso da ideia cheira."
- DanTheLion

[Conto] O Advento Nefando

Alkemarra Masculino

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24 de Fevereiro de 2017
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Olá, Makers do Condado!
Venho trazer para vocês o desenvolvimento de um novo conto em que sou co-autor, parte na série literária A Lenda de Materyalis, junto do meu grande amigo Saymon César.
Atualmente o primeiro volume já foi impresso, lançado e está em sua segunda edição, pela editora Novo Século, recebendo o selo Talentos da Literatura Brasileira.
Estarei registrando a narrativa aqui para que degustem um pedacinho do que está sendo desenvolvido, e também porque pretendo fazer um pequeno jogo ilustrando este conto futuramente.

Uma observação interessante, é que o personagem leva meu pseudônimo como nome, sendo Azkan o nome de uma família do Reino de Aliank.

Como o que estará abaixo é um trecho inicial, vou adiantar um pouco o ambiente do conto para que percebam a ambientação do que se passa:

Trama: Como um peregrino de Hedoron, Bruce cai em uma distorção temporal que o leva a um estranho povoado em uma ilha colonizada pelo reino de Aliank. Dizem que seus habitantes foram possuídos por bartaluns, porém, seu conhecimento sobre as zonas temporais indica que a influência vem de uma força até então desconhecida no mundo.

Pois bem, ao trecho inicial do conto:


— Fale-me sobre as entradas, Nira.

A matriarca fitava a criada com um olhar exigente. Escolhera cuidadosamente os componentes do banquete e precisava ter certeza de que ela preparara tudo o que foi pedido.

— Pães e três pastas de queijo, tomate ou tâmaras, Dona.

Sarah anuiu com a cabeça.

— Agora, as opções para o prato principal.

— Um pato, um carneiro e uma merluza. Temperos: molho picante de alho, ervas aromáticas, molho de vinho, vinagre e extrato de uva verde. Guarnições com especiarias, grãos e amêndoas.

— E quanto às sobremesas?

— Torta de maçã com molho de uvas passas.

Satisfeita, Sarah sorriu.

— Muito bem, está tudo pronto?

— Sim, Dona.

— Certo. Sirva ao meu sinal — ordenou a matriarca.

Trajando um belo vestido longo e azul escuro, Sarah saiu da sala de estar e entrou na de jantar. Conferia os últimos detalhes da ceia. A ornamentação da mesa era bela, com o tampo de madeira forrado com uma bela toalha de cetim dourado e bordado branco. Três candelabros de cinco velas estavam dispostos nas extremidades e no centro, iluminando o ambiente com a ajuda de castiçais de parede. O aposento era perfeitamente preparado para os convidados deliciarem as diferentes iguarias aprendidas pela família Azkan durante suas viagens pelo mundo.

— Dona Sarah — disse Nira, interrompendo-a de suas confabulações. — Devo chamar Dom Bradan e seu unigênito?

— Não. Anuncie-os quando os comensais estiverem reunidos. 

Nira respondeu afirmativamente. Sarah suspirou. Voltava lentamente por onde viera, mas desta vez passando por um corredor estreito após uma entrada em arco que desembocava na sala de estar e, por fim, terminava num hall amplo. Lá, um sujeito calvo e baixo, porém finamente enroupado, estava parado ao lado de uma porta de carvalho, por onde logo surgiriam membros do alto escalão aliankino.

— A Dona não deveria estar aqui — disse o mordomo. — Sei que a senhora não está feliz com o evento, embora sua delicadeza lhe impeça de abandonar seu perfeccionismo característico. Não é preciso que se preocupe. Cuidaremos de tudo. Por que não retorna à sala de estar e, ao menos, acalenta tua alma com o fogo da lareira?

Sarah sorriu.

— É impossível esconder-lhe meus sentimentos, meu caro Fridlin — disse Sarah. — Mas não consigo sossegar. À despeito do banquete, sinto que esta noite será muito atordoante.

— Eu sugeriria que se acomodasse nos braços de Bruce, mas estou certo de que também deseja poupá-lo de seus devaneios.

— Isso mesmo — confirmou Sarah. — Não há motivos para preocupá-lo. Bradan já exige demais dele e o melhor é deixá-lo descansar até a ceia. Por isso, não comente nada com ele, está bem?

— Como quiser, Dona Sarah.

A mulher confiava plenamente em Fridlin. Era seu porto seguro em tempos difíceis. Há muito não podia contar com a afabilidade de Dom Bradan, seu esposo, que tornara-se um feudatário cego pelas ordens da realeza aliankina. Muitas vezes, era Bruce quem afagava sua alma contra a irrequietação de um povo pávido pela crueldade da inquisição. Esforçava-se ao máximo para parecer uma teryonista convicta e plena de sua fé, porém, seus objetivos se afastavam cada vez mais das contradições expostas pelas leis de uma nobreza insegura e defensiva.

— Receberei os comensais na sala de estar. Por favor, conduza-os conforme chegarem — ordenou Sarah, que se retirou da presença do mordomo. Seguiu a recomendação dele. Sentou-se em uma poltrona rente à lareira, aproveitando do fogo que fora aceso premeditadamente pelos serviçais para trazer conforto aos convivas antes da refeição.

Do lado de fora, um dos convidados se aproximava calmamente a cavalo. Atravessava as ruas largas com total tranquilidade, pois o turno escolhido para a reunião dos figurões aliankinos fora bem pensado. A plebe era obrigada a se manter em seus lares devido ao toque de recolher noturno, diminuindo a quantidade de observadores que poderiam conjecturar algo sobre a movimentação na casa dos Azkan. No entanto, os comensais sabiam, de imediato, que qualquer coisa relacionada à família dos "exploradores do mundo", como eram chamados, apontava para um assunto além das fronteiras aliankinas.

A curiosidade alimentava o cavaleiro incipiente, ainda que sua boca estivesse tapada por uma máscara famigerada pelo simbolismo despótico das leis aliankinas. Não era apenas mais uma pessoa com um trabalho a cumprir. Tratava-se de um carrasco hábil em usurpar segredos de fiéis a Materyon presos nas masmorras do reino, ainda que um dia tivessem jurado pelo seu deus que selariam sua sabedoria para que nunca chegassem aos ouvidos dos membros da inquisição. Todavia, seus muitos olhos e ouvidos espalhados por toda a parte convergiam informações capazes de criar uma grande biblioteca invisível e intocável, absorvidos numa mente enigmática e hermética. O encontro só serviria para fomentar ainda mais aquele depósito de conhecimento escamoteado.

O ruído inconstante dos cascos do velho andaluz nas pedras irregulares do pavimento terminaram de frente para a mansão. O animal era magro e com cicatrizes nos lombos, digno de um aldeão pobre que cuida de sua lavoura, e não da uma figura importante como a que estava sobre a sela. Tratava-se do Alto Inquisidor do reino, que vestia uma capa de tecido grosseiro lhe cobrindo todo o dorso e as pernas, assim como o capuz sombreava-lhe a face. Apenas duas vestimentas saltavam à luz frágil que eventualmente seria captada por algum observador: as botas para cavalgada, cheias de lama seca, e as luvas, ambas de um couro bege desgastado. Uma indumentária disponível em qualquer mercado de rua, que destoava do porte altivo proveniente de sua função em Aliank.*

Finalmente diante do portão da propriedade, o mascarado aprumou-se na sela. A postura ereta era como a de um aristocrata orgulhoso de sua estirpe. Ergueu a cabeça na tentativa de reconhecer alguém antes que fosse recebido.

*****​


Já fazia algum tempo que Bruce estava deitado na cama, trancado em seu quarto. Pensava em sua mãe, Sarah, a quem se dedicava de corpo e alma. Seu olhar vagava pelo teto fosco do aposento, refletindo ansiedade e irritação com a situação vivida por ela. 

"Apesar de toda a glória, Aliank parece uma jaula. Mamãe é um animal raro, preso, atormentado por uma angústia que talvez eu nunca entenda."

Vez por outra, as divagações eram quebradas pelas pisadas firmes de Dom Bradan, seu pai. Só ele e a água da clepsidra pareciam capazes de produzir algum som em toda propriedade. Ao mesmo tempo, se confundiam com uma estranha canção ritmada e constante de ninar. Bruce continuava devaneando, mas a sonolência fortalecida pela atmosfera fúnebre de sua morada começava a vencê-lo.

"O que será, afinal, que está acontecendo nessa casa ultimamente?"

*****​


Quando sua consciência estava prestes a apagar, os passos fortes voltaram. Pararam diante da porta. Batidas estrondosas, provindas do punho poderoso de Dom Bradan, se chocaram contra ela.

— Bruce! — berrou o patriarca, impaciente, fazendo Bruce saltar da cama, sobressaltado. — Abra! Sei que está acordado! Logo os convidados chegarão e precisamos conversar antes!

Bruce andava tão anuviado pela preocupação com sua mãe, que esquecera completamente do evento daquela noite, organizado cuidadosamente por Sarah sob a pressão constante do marido. Há alguns anos, Dom Bradan foi um camponês, porém conhecido pelo seu espírito nobre e corajoso, além de autenticamente fiel aos preceitos de Materyon, o deus benévolo. Suas viagens mundo afora lhe revelavam culturas distintas e motivações diversas, suficientes para fazê-lo refletir profundamente sobre a moralidade das leis de sua pátria, ou mesmo em sua crença. Porém, tudo mudou quando a realeza resolveu recompensá-lo pomposamente por suas aventuras. Deixaria a fama ordinária do mero andarilho de terras estranhas, para se tornar um homem valoroso aos propósitos imperiais de um reino opressor. Ademais, a família Azkan entraria para a distinta aristocracia aliankina, deixando a vida laboriosa dos campos para uma realidade ladeada por luxo.

— Estou acordado, pai! — respondeu Bruce, correndo pelo quarto como um vulto. Jogava alguns livros pra debaixo da cama e cobria com seu diário algumas anotações feitas em pedaços de papiros soltos, reunidos sobre uma escrivaninha de cedro. Felizmente, precisava de poucos e ágeis passos para preparar tudo.

— Seja lá o que estiver fazendo, abra logo! — ordenou Dom Bradan. — Não tenho tempo a perder com a sua morosidade!

O jovem sabia que a mudança de seu pai o deixara impaciente. Não era nada sábio deixá-lo esperando. Entre o sexto e sétimo passo, já estava com a mão sobre a tranca da porta. Sentiu a madeira lisa, finamente polida e envernizada, receber o toque levemente trêmulo de sua mão. Destrancou e a abriu num único movimento. Endireitou-se, disposto a encarar Dom Bradan seriamente. No entanto, logo abaixou a cabeça, encruado.

— Vamos ter visitas, pa... — disse Bruce, corrigindo a pergunta quase no fim. — Digo, do que se trata a visita, meu bom pai?
 
Venho trazer para vocês o desenvolvimento de um novo conto em que sou co-autor, parte na série literária A Lenda de Materyalis, junto do meu grande amigo Saymon César.
Atualmente o primeiro volume já foi impresso, lançado e está em sua segunda edição, pela editora Novo Século.
Estarei registrando a narrativa aqui para que degustem um pedacinho do que está sendo desenvolvido, e também porque pretendo fazer um pequeno jogo ilustrando este conto futuramente.

Parabéns!

Gostei do Trecho do conto!

Quando sua consciência estava prestes a apagar, os passos fortes voltaram. Pararam diante da porta. Batidas estrondosas, provindas do punho poderoso de Dom Bradan, se chocaram contra ela.

— Bruce! — berrou o patriarca, impaciente, fazendo Bruce saltar da cama, sobressaltado. — Abra! Sei que está acordado! Logo os convidados chegarão e precisamos conversar antes!

Bruce andava tão anuviado pela preocupação com sua mãe, que esquecera completamente do evento daquela noite, organizado cuidadosamente por Sarah sob a pressão constante do marido. Há alguns anos, Dom Bradan foi um camponês, porém conhecido pelo seu espírito nobre e corajoso, além de autenticamente fiel aos preceitos de Materyon, o deus benévolo. Suas viagens mundo afora lhe revelavam culturas distintas e motivações diversas, suficientes para fazê-lo refletir profundamente sobre a moralidade das leis de sua pátria, ou mesmo em sua crença. Porém, tudo mudou quando a realeza resolveu recompensá-lo pomposamente por suas aventuras. Deixaria a fama ordinária do mero andarilho de terras estranhas, para se tornar um homem valoroso aos propósitos imperiais de um reino opressor. Ademais, a família Azkan entraria para a distinta aristocracia aliankina, deixando a vida laboriosa dos campos para uma realidade ladeada por luxo.

— Estou acordado, pai! — respondeu Bruce, correndo pelo quarto como um vulto. Jogava alguns livros pra debaixo da cama e cobria com seu diário algumas anotações feitas em pedaços de papiros soltos, reunidos sobre uma escrivaninha de cedro. Felizmente, precisava de poucos e ágeis passos para preparar tudo.

— Seja lá o que estiver fazendo, abra logo! — ordenou Dom Bradan. — Não tenho tempo a perder com a sua morosidade!

O jovem sabia que a mudança de seu pai o deixara impaciente. Não era nada sábio deixá-lo esperando. Entre o sexto e sétimo passo, já estava com a mão sobre a tranca da porta. Sentiu a madeira lisa, finamente polida e envernizada, receber o toque levemente trêmulo de sua mão. Destrancou e a abriu num único movimento. Endireitou-se, disposto a encarar Dom Bradan seriamente. No entanto, logo abaixou a cabeça, encruado.

— Vamos ter visitas, pa... — disse Bruce, corrigindo a pergunta quase no fim. — Digo, do que se trata a visita, meu bom pai?

Acredito que um jogo do gênero:  Visual Novel, seria perfeito... Sucesso!
 
[member=164]CHICO BENTO[/member]
Obrigado pelo feedback, professor!
O conto tem 99% de chances de ficar pronto.

Já o jogo, vai depender de muitos fatores.
Porém, vou usar o Maker mesmo. E não sei se consigo trazer algo no estilo Visual Novel usando ele.
Você acha possível?
 
Saudações!

O texto está excelente! Parabéns!

Espero que tudo dê certo, tanto para a publicação do livro quanto para um jogo eventualmente!

Houve alguns termos que não compreendi, justamente por pegar parte de uma história e não conhecer todo o "mythos" do cenário.



Bruce Azkan comentou:
O ruído inconstante dos cascos do velho andaluz nas pedras irregulares do pavimento terminaram de frente para a mansão. *O animal era magro e com cicatrizes nos lombos, digno de um aldeão pobre que cuida de sua lavoura, e não da uma figura importante como a que estava sobre a sela. Tratava-se do Alto Inquisidor do reino, que vestia uma capa de tecido grosseiro lhe cobrindo todo o dorso e as pernas, assim como o capuz sombreava-lhe a face. Apenas duas vestimentas saltavam à luz frágil que eventualmente seria captada por algum observador: as botas para cavalgada, cheias de lama seca, e as luvas, ambas de um couro bege desgastado. Uma indumentária disponível em qualquer mercado de rua, que destoava do porte altivo proveniente de sua função em Aliank.*

Eu não entendi os asteriscos no começo e fim da frase.

Bruce Azkan comentou:
Porém, vou usar o Maker mesmo. E não sei se consigo trazer algo no estilo Visual Novel usando ele.
Você acha possível?

Eu vejo que é algo possível sim, com o uso de imagens e menus personalizados.

Mas, se quiser dar uma olhada, encontrei esse link aqui:

http://www.visualnovelty.com/index.html

Novamente, muita sorte e sucesso para vocês dois nessa empreitada!

Até mais!
 
[member=565]Romeo Charlie Lima[/member]
Sim, sim!
Apesar de deixar na dúvida, a intenção é essa mesmo. São gatilhos de narrativa que já deixam o leitor curioso desde o início (que diabos é Aliank afinal de contas?). No desenrolar, estas perguntas estarão sendo respondidas gradativamente.

Os asteriscos foram errinhos de edição. XD
Eu uso eles pra identificar os trechos que adiciono ou modifico, durante a "lapidação" do texto.

Muito obrigado pela indicação da engine de visual novels, darei uma olhada e quem sabe eu não a utilize pra isso?

Abraço, Romeo!
 
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