Algo que escrevi para o Pascoalium Fest. Nada muito grande, apenas para deixar minha participação.
Aproveitem.
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"In your easter bonnet, with all the frills upon it, you'll be the grandest lady in the easter parade..." Eu observava à fundo os estalos cristalinos do fogo em minha lareira. Algo quase que hipnótico para mim. A música vinda do meu gramofone — um presente querido do meu falecido avô — ecoava sobre a sala. É noite de Páscoa, e mais uma vez, encontro-me sozinho. Não que isso realmente importe muito, pois o costume já me havia vencido há anos. Nada extremamente melancólico, porém, já que antes da noite cair, passei a maior parte da tarde com meus parentes, comendo e bebendo como se o próprio Cristo tivesse renascido hoje. Apesar de não me enturmar muito bem com minha família nos últimos anos, admito que foi um encontro bem agradável. Entretanto, na volta de carro para casa até agora, eu não consegui tirar de minha mente as minhas memórias sobre ela. Especialmente deste dia que para mim, alguém que não costuma seguir tradições, costuma ser como qualquer outro. Estas são as que mais me atiçam. Ela gostava. Adorava o fato da Páscoa chegar. Sempre que podia, em todos os anos, ela gostava de se aprontar. Colocava enfeites na casa e sempre comprava os chocolates mais baratos que tinham em supermercados e armazéns de doces. Não somente isso, como também, veementemente, fazia gincanas e distribuía presentes para as crianças do bairro. Eu sempre a ajudava com as coisas, pois nada realmente conseguia me tirar daquele sorriso, daquela magia. Creio que era uma coisa só dela. Quando chegávamos em casa, a mesma caia em nossa cama, dura como uma pedra, mas contente. Satisfeita. "Nada realmente bate com o sentimento de fazer o dia de alguém melhor.", dizia ela. Isso se estendia para mim também. Ela fazia os meus dias serem mais toleráveis. Depois disso, costumávamos jantar juntos com um bom vinho e conversar sobre aleatoriedades. Também falávamos sobre fazer planos para a próxima Páscoa, para o futuro de nossas vidas. Ela gostava muito de falar. Nós fazíamos um excelente contraste. "Oh, I could write a sonnet about your easter bonnet, and of the girl I'm taking to the easter parade..." Ela se foi. Eu observava à fundo os estalos cristalinos do fogo em minha lareira. Algo quase que hipnótico para mim. A música vinda do meu gramofone — um presente querido do meu falecido avô — ecoava sobre a sala. Desvio o olhar da lareira para o sofá. Ela estava lá, sentada, em seu belíssimo vestido azul e cabelo de girassol. Eu olho novamente para a lareira. Talvez a Páscoa realmente seja mágica. 10 de abril de 2021 às 19:00 |
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