Quid ita serius?
Choveu dentro de mim outra vez, mas desta vez não havia com o que cobri-lo. Adoeceu-se, pois. Teve frio, e não havia com o que esquenta-lo. Teci um manto com as primeiras palavras que encontrei, mas não era o remédio que um Grande Médico receitaria. De qualquer forma, procurei quem o curasse como uma criança procura seus pais quando se perde. Recebi, pois, um belo par de calçados tecidos pelos mais sinceros gestos e atitudes que com certeza ajudaram-no a caminhar pelo chão da cozinha durante a noite. Como que já não mais doente, não largava mais os calçados, mas insistia que tecesse mais mantos de diferentes lãs, como se eu pudesse tirar palavras de todas as outras partes de meu corpo. O que ele não percebia é que, apesar da dependência criada pelos calçados, a cura vinha de sua fonte. Como uma mãe, que sempre sabe o que é melhor para o seu filho, tirei-o os malditos e o fiz olhar para o guarda-roupa de palavras que tanto dediquei-me a escrever-lhe. Com uma expressão salpicada de angústia, um suspiro de cansaço e lágrimas de satisfação, permanecemos uma noite inteira abraçados, eu e meu coração.