"colore a minha vida com o caos do problema."
Estou deixando aqui um breve conto que escrevi, tenho centenas deles e ninguém que possa os ler e me contar suas impressões a respeito deles.
Esse não chega a ser o meu favorito, ou o que considero o melhor, o escolho apenas pelo seu tamanho! Mesmo assim, espero que gostem. (Deixarei no fim do mesmo uma explicação sobre o motivo do mesmo.)
Dezembro
[2004]
O vapor escapava pelas beiradas da xícara de chá-verde, olho para o calendário em minha parede, dia 22 de Dezembro.
Lá fora, uma neve rala salpicava de branco as ruas cheias de luzes de Hokkaido.
Utsumi me ligou um minuto antes de colocar a chaleira no fogo, uma tentativa frustrada de me convidar para o Festival de Inverno, dispensei educadamente.
O frio deslizava como uma serpente por baixo do meu cobertor, impregnava minhas meias listradas para por fim picar meus ossos com uma sensação congelante. – Que droga, pensei, não suportava o frio exagerado.
Meus dedos pareciam dançar de modo inconsciente para aquecer um aos outros, bebi meu chá e apertei todo o meu corpo com a coberta.
Uma mão macia paira sobre meu ombro.
— Fuyuki. — Escutei a voz de Sayuri, como um delírio, me chamar. — Está com frio?
— Oh. — Olhei para seus cabelos escuros e curtos. – É você.
Me acalmei a ponto de esquecer um pouco do frio.
— O que importa? — Disse. — Nunca gostei dessa estação.
Sayuri riu. — É estranho para alguém com o seu nome falar algo assim.
— Não sou um amante do inverno. — Disse categórico.
— Eu sei. — Respondeu sem mover sua expressão e depois sorriu. — Sei tudo sobre você.
Sayuri sentou na minha cama, pequena por ser de solteiro.
— Estamos bem perto, não é? — Queria toca-la, mas não movi um dedo.
— Estamos perto desde o jardim de infância, Pequeno Fuki. Não lembro muito bem como foi, eu deveria estar lá dentro por alguns meses quando seus pais se mudaram. Você era do tipo que não falava com nenhuma criança e ficava com a cara emburrada o tempo inteiro, por isso ninguém percebeu quando você machucou o joelho, você odeia se abrir, segurou o choro e ficou sentado sozinho tentando se limpar e ainda foi mal educado quando tentei te ajudar.
— Desculpe sobre esse dia. — Estava envergonhado. — Não queria ter sido desagradável.
— Não foi tanto. – Seus olhos brilharam como se uma lâmpada tivesse acendido em sua cabeça. — Lembra de quando você começou a desenhar? Eu sabia o quanto você era bom com isso, não me surpreende o fato de você se tornar um arquiteto, admiro muito seu esforço e determinação, você estudou até ficar doente antes dos exames de admissão. Por conta disso teve uma nota primorosa, foi chato não ter falado tanto com você.
— Músico é muito mais complicado. — Fui incisivo. — Você fez um concerto memorável ano passado, um pouco antes de... — Me recusei a falar.
— Está tudo bem, você não deveria guardar magoas sobre isso. Você tem um grande coração, não o encha com bobagens.
— Sayuri, você já sabia, não é? — Olhei para ela com seriedade.
— Sabia? — Ela soltou um olhar penetrante e eu desviei por um instante.
— Gosto de você.
— Adoraria ter escutado isso antes.
— Eu sei, nunca fui bom em falar dessas coisas. — Meus olhos arderam coloquei minha mão sobre o rosto. — Droga.
— Quer que eu te faça outro chá?
— Adoraria outra xícara, mas você não pode fazer.
— Tem razão. — Ela gargalhou de modo prazeroso no começo até se tornar melancólico. – Me deixe sentir uma sensação?
— É claro. — Questionei. — O que é?
Sayuri se aproximou de meu queixo como uma primavera solene, nossas peles estavam a poucos milímetros de distância. Não sentia cheiro nenhum além de uma pitada de café, então uma sensação entorpecida de um estalo em minha boca e seus braços finos caindo de leve sobre o meu peito.
— Agora é o fim. — Ela me disse com um sorriso no rosto. Meu peito estava acesso e minhas mãos formigando.
Foi quando eu desmaiei antes de ter dito: Obrigado.
Queria que o inverno passasse como um sonho e no verão encontrar novamente minha Sayuri e seus lábios com gosto de café.
Notas sobre o motivo do conto
Em uma breve pesquisa, descobri a cerca de um terremoto em Hokkaido em 2003, fiquei me perguntando como seria a sensação de uma pessoa que sofreu com a perda de um grande amor deste forma, sem conseguir se despedir. No evento real, felizmente, não houve nenhuma morte!