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"O mais importante não é a história, mas como você conta ela."
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Docinhos Salgados (+16) - Capítulo 5: Um veneno solitário

AbsoluteXandy Masculino

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04 de Julho de 2015
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Oh, eu peguei no sono? Sinto dores por todo meu corpo, que horrível…
Por algum motivo não conseguia mexer meus braços, isso me incomodava, talvez não mais que o local, cujo todo o barulho tinha simplesmente desaparecido. Em meio a várias dúvidas lentamente abri meus olhos. Aos poucos, fui capaz de ver que estava presa a uma cadeira acolchoada estranhamente confortável em um quarto chique de paredes pretas com desenhos de morcegos vermelhos, bem fofinhos se me permite dizer. A cama a minha direita parecia enorme, mas não pude ver exatamente dentro dela, pois havia uma cortina vermelha cobrindo-a, fora isso, tinha também um guarda roupas preto enorme logo a frente, em uma de suas portas estava um espelho com bordas de ouro sem detalhes, não era o maior espelho que já vi na vida, mas era o suficiente para olhar a mim mesma sem poder fazer nada. A minha esquerda estava uma janela aberta, o lugar era extremamente alto e dava uma visão de boa parte da cidade, aparentemente eu não dormi tanto, estava de noite, as luzes da cidade afirmavam isso com todo o coração, se eu tiver sorte, este é o mesmo dia de quando falei com aquela princesa, mas sério, eu não esperava ser sequestrada em tão pouco tempo, parece até uma piada com princesas de extremo mau gosto. Por algum motivo, não conseguia me sentir ameaçada, ou sequer desesperada, tudo era tão aconchegante que me fazia esquecer da minha casa problemática, ou das responsabilidades da pousada que eu pude escapar.
Acabei me surpreendendo com um som repentino, a porta acabou de ser aberta, e por ela passava a culpada por eu estar aqui, a Princesa Assustadoralina estava chegando. Sem fazer rodeios ela perguntou:
— Uau, já acordou? Isso é ótimo.
Tenho muito a perguntar, acho que vou aproveitar o momento para isso:
— Sim, eu acordei. Mas me diga, o que foi tudo aquilo na pousada?
A garota parecia confusa com o que eu disse, então acabou respondendo com outra pergunta:
— Do que você está falando?
Certo, parece que vou ser obrigada a explicar…
— Na pousada, após eu ter tomado um pouco do chá, eu não era capaz de contrariar a sua vontade.
Não sei bem o que eu esperava, mas ela não me parecia nem um pouco surpresa:
— Sim, este é o veneno da família real do Mundo Reverso! Mas não fique surpresa, o nome diz “veneno”, mas ele não pode te matar ou causar algum impacto negativo em você. Pra falar a verdade, eu pedi permissão ao dono da pousada antes de fazer aquilo.
Pediu permissão? Isso parece muito ridículo para ser verdade.
— Como assim, “pedi permissão”?
A menina sorriu me respondendo de uma maneira assustadoramente honesta:
— Eu pedi ao dono da pousada para te sequestrar, digo, eu sei que isso é uma atitude de socialização muito desesperada na visão da sociedade, mas quando eu ouvi os boatos sobre a princesa do Mundo Docinho indo trabalhar lá com um dragão, eu me senti obrigada a fazer isso. Como eu disse, sou uma grande fã sua!
Isso é ridículo, como aquele velho permitiu que isso acontecesse? Tudo bem que ela é uma princesa, mas ainda sim é muito irresponsável!
— Olha aqui, Gordurinha. Eu definitivamente não sou a favor disso!
Pude sentir uma pontada de ofensa vindo do rápido franzir de suas sobrancelhas, não deveria ter dito isso, apesar de ter sido completamente pelo calor do momento. Mas de qualquer forma, ela pareceu apenas ignorar:
— Tudo bem, você pode sair, desde que me permita dar um beijo em sua boca.
Essa menina é meio louca, né? É realmente louvável ela pedir permissão numa situação onde ela pode fazer o que quiser, mas eu não posso permitir isso. Digo, não é como se fosse meu primeiro beijo, mas eu não consigo me imaginar beijando uma garota!
— Não, isso está fora de questão!
A princesa parecia muito desapontada comigo, mas não demonstrou qualquer vontade de lutar, mesmo pedindo algo diferente, sua voz falhada mostrava que aquilo estava sendo um fardo:
— Certo, mas você poderia ao menos dormir aqui por hoje? Não na minha cama, ou no mesmo quarto que eu, apenas gostaria que ficasse sob o mesmo teto que eu.
Essas palavras espalharam um frio inexplicável naquele quarto, a temperatura da noite estava perfeita, porém minha alma parecia estar congelando naquele momento.
— Tudo bem.
Por um curto tempo, ela forçou um pequeno sorriso enquanto me tirava das algemas que me prendiam à cadeira.
— Você já pode se mexer agora.
Senti um grande alívio, mesmo ela sendo a causa disso, acabei agradecendo:
— Muito obrigada.
Na hora em que levantei, olhando pro seu rosto com total atenção, fui capaz de perceber que nesta noite, sua preciosa fantasia havia sido destruída, pelo menos, era o que sua expressão morta gritava.
— Vá tomar um banho, troque essa roupa, não me importo de te emprestar algumas peças minhas, apesar de que elas ficarão folgadas.
O clima entre nós estava horrível, afinal, não há como eu ficar bem com a pessoa que me sequestrou, mas achei que tomar banho fosse uma ideia interessante, então apenas aceitei.
— Tudo bem, poderia me mostrar o lugar?
A Gordurinha acenou a cabeça e começou a andar, sem pensar eu a segui. Não demorou para que chegássemos no fim de um corredor com duas portas, ela entrou na porta da direita dizendo:
— Use o da esquerda.
Sem dizer uma palavra eu logo entrei, fechando a porta ouvindo a batida forte logo a minha frente. Assim que entrei naquele enorme banheiro de várias opções nada me parecia realmente atrativo, tudo que fiz foi ignorar a banheira, tirar minhas roupas, as jogando em um canto qualquer. Finalmente indo em direção ao chuveiro, me entregando totalmente a meus pensamentos. Usando minhas próprias mãos botei meu cabelo para frente, o impedindo de se molhar, sentindo ainda mais forte a sensação da água escorrendo em minhas costas. E assim fiquei, imóvel viajando em sensações e pensamentos vazios num total loop sem nenhum sentido, no qual após alguns minutos foi interrompido pela princesa:
— Eu trouxe as menores roupas que encontrei.
Ouvir a voz da Gordurinha realmente chocou meus pensamentos, mas logo sai do banho pegando uma toalha para me secar e respondendo simultaneamente:
— Já estou indo!
Enrolando a toalha ao redor do meu corpo, eu fui em direção a porta para atender a garota. O que me esperava realmente me surpreendeu, ela estava com um pijama branco cheio de bolinhas vermelhas bem casual e folgado, eu senti uma inveja legítima de vê-la usando isso sem o menor dos problemas em seu próprio castelo. Agradeci ela enquanto agarrava as peças que ela me trouxe e voltava para dentro do banheiro.
— Obrigada.
Assim que fechei a porta eu comecei a me secar para me vestir às pressas. Obviamente não havia roupas íntimas no meio, mas como era apenas pra dormir, eu vesti o pijama que ela me deu, peguei minha roupa antiga do chão e sai do banheiro.
Atrás da porta, a Assustadoralina me esperava com uma expressão inquieta. Assim que teve uma oportunidade ela me disse:
— Me desculpa, ficou grande, não é?
De fato elas ficaram bem mais folgadas do que eu gostaria, mas dá para o gasto.
— Está tudo bem, não estou em condições de reclamar, depois do que eu fiz…
Droga, o clima já está ruim, eu não deveria falar essas coisas! Não que o clima já não fosse estranho desde o começo, mas piorar agora não vai levar em nada.
— Venha, eu vou te mostrar o seu quarto.
Quebrando meus pensamentos eu a sigo a um quarto bem próximo ao dela no qual estive presa antes, mas assim como ela tinha deixado claro a pouco, é um quarto diferente do dela, então não deve ter problemas. Assustadoralina me deixa em frente ao quarto para encerrar seu dia:
— Boa noite, eu vou pro meu quarto agora.
Ela começou a correr em direção ao quarto dela, e um pouco antes de entrar, olhou pra mim inquieta, se virando novamente e gritando enquanto batia a porta de seu quarto:
— Me desculpa, Pudim!
E essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes de dormir.​

Guia Docinho para Pessoas Salgadas #5 - Socialização desesperada
“É um costume do Mundo Reverso que pessoas desesperadas por amizades peçam aos pais da pessoa que quer conhecer a permissão para sequestrá-lo. Normalmente se os pais ou os responsáveis aceitarem, eles também ajudaram no suposto sequestro como uma forma de demonstrar confianças. A pessoa que sequestrou também por cultura tende a respeitar o sequestrado acima de tudo, mesmo teoricamente tendo controle sobre a situação.”​

 
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