A existência virtual é mais como um "JOGO" de azar que sempre dá prêmios. Ronaldo Bento
Bravejam: Realizada pelo Condado Braveheart foi uma Game Jam onde os Devs tinham 9 dias para desenvolver seu próprio jogo do zero, sozinhos ou em equipe, baseado no tema da edição que foi “Controle o jogo e não o jogador!”, fazendo com que o jogador tivesse que jogar sem controlar um personagem diretamente. Penso que não foi um tema fácil... Dito isso, entrevisto o vencedor de 2020 o ilustre desenvolvedor @Neobit com o incrível Terminal que é um jogo de plataforma no qual você terá o poder de CONTROLAR O JOGO através de códigos que você pode escrever em um terminal para realizar alterações em parâmetros para ser possível avançar no jogo.
Este é um projeto de entrevista que busca homenagear os imprescindíveis parceiros dos desenvolvedores de games e outros. Um singelo tributo aos produtores de conteúdos. Boa leitura!
Bento: Agradeço muito por aceitar o convite e compartilhar sua experiência conosco. Por favor, conte-nos quem é o desenvolvedor e vencedor da BraveJam de 2020?
Neobit: Eu que agradeço o convite Bento! Fico feliz por participar de algo feito com amor me enche o coração ver pessoas dedicadas a fazer coisas com amor.
Meu nome é Rafael tenho 23 anos, atualmente dedico a minha vida a ser desenvolvedor de jogos e não exerço mais nenhuma outra profissão. Eu estou nessa de desenvolver jogos desde julho de 2019. Apesar de muito antes dessa data eu já ter feito cursos em relação a GameDev e também ter feito faculdade na área de programação, eu nunca tinha de fato cogitado ser um desenvolvedor de jogos. Quando eu fiz o curso de gamedev em uma escola chamada Microcamp logo no primeiro dia de aula eu fui desmotivado demais com um filme que me passaram na aula que mostrava a vida de alguns desenvolvedores indies bem na época de quando não tinha tanto espaço para quem era independente, o nome do filme era “Indie Game: The Movie”. Apesar disso eu tinha continuado no curso, mas sem muitas expectativas e também sem me dedicar a aprender nada.
Nessa época, em vez de me dedicar a gamedev, meu maior sonho na verdade era ser jogador profissional de League of Legends.
Sim, aos meus 16 a 17 anos eu jogava quase que 24h esse jogo sugador de vida e alma. Eu passava tanto tempo me dedicando apenas a isso que eu tinha negligenciado completamente a escola. Repeti pelo menos 2 anos no ensino médio para viver o sonho de ser jogador profissional. Após eu me frustrar com o sonho de ser jogador profissional por falta de apoio e brigas constantes com meu pai, eu desisti de vez desse sonho quando eu conheci minha esposa a @yumykon.
Eu sei que não é relevante a história de como eu conheci a minha esposa e na verdade nada do que eu disse sobre mim agora foi muito relevante em relação a gamedev mas mesmo assim vou contar. Em 2015 foi me recomendado um anime chamado “Shigatsu wa Kimi no Uso”, e no anime tinha uma garota chamada Kaori.
Kaori Miyazono - Personagem do anime "Shigatsu wa Kimi no Uso"
Após assistir o anime eu estava absolutamente apaixonado pela personagem e pelo apoio que ela dava ao personagem principal e também extremamente arrasado pelo o que aconteceu com ela no anime. Nisso após eu terminar de ver o anime eu fui no facebook pesquisar o nome “Kaori. E por ironia do destino eu encontrei a minha esposa que morava na mesma cidade que eu e por incrível que pareça... estudava na mesma escola que eu ia passar a estudar pois tinha sido expulso da minha antiga escola por causa das notas. Nessa aventura eu conheci a minha Kaori, a personagem do anime que se tornou real para me apoiar e tornar o meu sonho de gamedev real.
Depois que eu a conheci, fui capaz de ter motivação e apoio para conquistar tudo o que eu conquistei hoje e tudo o que ainda conquistarei no futuro.
Foi aí que então em julho de 2019 no meu aniversário eu descobri que iria começar a fazer jogos. Nisso eu descobri o Construct e logo o comprei e comecei a usa-lo. Em 1 mês usando o Construct eu fiquei sabendo através do meu irmão que o Youtuber que ele assistia ia fazer um “campeonato de desenvolvimento de jogos”. Essa foi a minha primeira empreitada nas gamejams. Eu lembro que apesar do conceito do meu jogo ser legalzinho, ele era CHEIO de gambiarras e coisas bizarras dignos de alguém que começou a pouco tempo. (Tipo criar um objeto só para declarar variáveis pois eu não sabia que tinha como declarar variáveis globais)
O nome do jogo era Fruor Mortem, o primeiro jogo completo que eu tinha criado na vida, graças a uma Game Jam.
O mais impressionante foi que o meu primeiro jogo tinha sido indicado ao prêmio de ideia mais original. Isso foi EXTREMAMENTE extasiante para mim. Eu fiquei tão feliz, foi tão recompensador que isso foi o suficiente para colocar na minha mente que era aquilo que eu queria para minha vida. A partir daí que eu comecei a me dedicar full time a desenvolvimento de jogos na minha vida.
Bento: Em que circunstâncias você teve contato com um videogame pela primeira vez? Quando aconteceu?
Neobit: Eu sou privilegiado em poder dizer que eu nasci em meio a videogame. Meu pai faz sempre questão de me contar as histórias de que quando eu era bebê ele me colocava em frente a TV e o Playstation 1 pois o som do Grand Turismo me fazia parar de chorar. Consequentemente eu nasci jogando videogame e passei a minha vida inteira em jogos eletrônicos. Minha trajetória jogando videogame começou com Playstation 1, depois ganhei um Playstation 2 em 2009 quando o mesmo ficou mais barato. Fiquei alguns anos com Playstation 2 até eu ganhar um computador, nisso eu viciei em jogos como The Sims, Spore e World of Warcraft assim que tive uma internet.
Bento: Primeiramente parabéns! Acho que você já sabe que sou um "utópico" que acredita muito que jogos possam ser utilizados na educação, pois bem, adorei seu jogo e acredito que o mesmo poderia ser adaptado para ensinar programação para crianças e jovens. O que acha meu caro?
Neobit: Eu acredito que seja possível sim fazer uma adaptação para auxiliar na educação, integração ou introdução de crianças, jovens e adultos no ensino de programação. Porém, eu não sou tão utópico assim... não vejo tanto potencial assim em jogos fazerem uma grande diferença na educação da população. Mas deixando essa opinião fatalista de lado, sim Terminal tem um potencial para se tornar um jogo que estimule o pensamento lógico e afins sem perder o elemento principal de um jogo... ser divertido.
Neobit: Eu acredito que seja possível sim fazer uma adaptação para auxiliar na educação, integração ou introdução de crianças, jovens e adultos no ensino de programação. Porém, eu não sou tão utópico assim... não vejo tanto potencial assim em jogos fazerem uma grande diferença na educação da população. Mas deixando essa opinião fatalista de lado, sim Terminal tem um potencial para se tornar um jogo que estimule o pensamento lógico e afins sem perder o elemento principal de um jogo... ser divertido.
Bento: Como conheceu o Condado Braveheart e o que chamou a sua atenção para frequentá-lo? E o que você achou da BraveJam?
Neobit: Conheci a BraveJam antes do condado, através de um amigo que é um ex-usuário do condado. Através dele fiquei sabendo que iria ter uma GameJam e eu sempre dou uma olhada na estrutura das jams antes de participar. Toda a organização do fórum e seu visual não só me atraiu para participar da jam mas como me cativou a participar do fórum. A Bravejam foi um evento muito memorável, ela foi muito bem organizada e aquilo que eu mais gosto de pontuar no fórum e na jam é que sua organização foi impecável. Fora isso o tema foi bem escolhido apesar de muita gente ter achado meio controverso, dada as diferentes interpretações que ele poderia ter. Apesar de todos esses elogios tenho algumas críticas em relação ao evento. Primeiro... acredito que a quantidade de participantes poderia ser maior! O gargalo que evitou as pessoas de participarem foi a necessidade de se registrar no fórum, digo isso pois conheço pessoas que iam participar e não participaram pois era necessário se registrar no fórum. Entendo que o intuito por trás da coisa era trazer pessoas de fora para a comunidade, mas nem todo mundo gosta do sistema de fórum. Minha outra crítica é em relação a divulgação, acredito que o evento tinha culhões para ser divulgado em canais do youtube de grande influência, digo isso pois já vi eventos menores e menos organizados que a bravejam serem divulgados em canais grandes no youtube. Bom, apesar de tudo isso, aposto que foi um evento satisfatório para todo mundo, sendo participantes, staffs ou vencedores. Com certeza todo mundo amou o evento.
Bento: Como foi participar do melhor podcast da galáxia denominado Toca do Dragão?
Neobit: Foi uma experiência interessante. Foi muito divertido conversar com o Ricky e o Wallace, pessoas extremamente eloquentes e que fizeram a entrevista ser muito fluída pra mim que tenho dificuldades em me comunicar por voz. Foi um máximo e espero ter a oportunidade de participar mais uma vez algum dia.
Bento: Que mensagem você gostaria de passar para aqueles que querem desenvolver jogos no Brasil? Vale a pena participar dos eventos de Game Jam?
Neobit: Olha... minha mensagem não é tão motivacional assim, é na verdade uma mensagem bem realista. Eu sempre gosto de mostrar a verdade e a realidade para todo mundo que bate um papo comigo com dúvidas em relação ao mundo de gamedev.
Ser gamedev é extremamente árduo, é uma profissão ou um hobbie que te testa e te consome para ver se você aguenta continuar tentando. Essa profissão não vai te dar nada, nenhum centavo durante o desenvolvimento. Nem sempre uma ideia sua, que pra você parece algo revolucionário, vai ser tão legal assim para as pessoas, ou ás vezes pode até ser... porém é um projeto tão audacioso que você nunca será capaz de cria-lo sozinho.
Vai te faltar equipamentos, recursos, conhecimento, apoio, visibilidade... literalmente tudo.
Eu gosto de separar o gamedev por 3 caminhos.
- A pessoa que quer fazer um jogo sozinho.
- A pessoa que quer fazer um jogo em grupo.
- A pessoa que quer trabalhar em/criar uma empresa de jogos triple A.
Se você quer fazer um jogo sozinho a primeira coisa que precisa pensar é que tu tens que ser um “pau pra toda obra”. Tens que ter como ambição realizar o seu sonho de criar sua obra de arte para o mundo e não levar como uma profissão rentável, não lutar pelo dinheiro, mas sim para fazer algo para si mesmo.
Agora para os que querem levar como uma profissão, se você se aprimorar em uma coisa e ser bom naquilo, basta apenas você fazer seu networking para ir conseguindo espaço em grupos ou no mercado, nessa jornada você vai estar priorizando ter uma profissão em meio a desenvolvimentos de jogos.
Agora, seja a jornada que for, você TEM QUE BOTAR A MÃO NA MASSA. Você somente conseguirá criar sua obra ou aprimorar suas habilidades se você criar as coisas. Uma gamejam com certeza vai ser a melhor escolha para você se aperfeiçoar, se desafiar... evoluir!
Me desculpe caro leitor, eu escrevo MUITO.
Bento: E sobre a evolução dos jogos Indies apresentados na BraveJam. Como você vê esse processo? Achou que iria vencer?
Neobit: Eu sinceramente não acompanhei muitos dos jogos concorrentes na BraveJam, eu apenas vi 2 jogos (Star Hero e Semaforando) e não quis mais olhar outros pois eu sempre fico com muita ansiedade olhando os jogos alheios em meio a uma competição. A minha expectativa era mediana em relação ao meu jogo, eu achava que conseguiria pelo menos menção entre os melhores jogos, mas não esperava atingir nem mesmo o terceiro lugar. O desenvolvimento de Terminal foi meio conturbado pois meu objetivo era participar de uma gamejam juntamente de alguém que era iniciante em desenvolvimento de jogos. Então eu encontrei um guri no grupo do Discord do condado que queria participar do meu grupo. Porém no meio do desenvolvimento esse guri desapareceu e nunca mais falou nada. (Até hoje ele não falou mais nada) isso deu uma desmotivada no meio do desenvolvimento e atrapalhou um pouco na criação de mais comandos e também no desfecho do jogo. Apesar de tudo isso eu tive ajuda da minha cara esposa @yumykon para criar algumas animações e também de um velho amigo para fazer a música do jogo para que eu pudesse por fim concluir o desenvolvimento.
Bento: Por favor, fale sobre seus outros projetos?
Neobit: Desde o começo de 2020 eu trabalho em um projeto pessoal chamado Generic, que está sendo desenvolvido na Unity. O jogo é de terror existencial com gráficos pixel art retro e com jogabilidade semi point and click. Há um foco gigantesco no enredo, o jogador vive a história de um garoto estudante do ensino médio dos estados unidos, e nele o jogador cria empatia com o personagem principal e com todas as pessoas do mundo de Generic e a simpatia com o jogo e os personagens torna o jogador apegado emocionalmente e vulnerável a brutalidade da vida. Fora o foco no enredo o jogador terá como mecânicas puzzles, enigmas e interpretação de história para resolução de problemas, ocasionando também um ar investigativo, apesar de não ser o foco.
O jogo se encontra em uma fase bem inicial de desenvolvimento, sempre deixo claro que eu estou em uma parte em que estou tentando lapidar tanto a parte gráfica como mecânica de jogo para se tornar uma experiência única, para depois começar o desenvolvimento geral. Apesar de ter passado 1 ano após a iniciação o jogo não desenvolveu a partir da fase de “lapidação” pois eu havia parado seu desenvolvimento para participar do projeto de um jogo adulto que iria ser lançado na Steam. E no meio disso participei da bravejam e depois tive um hiato pois estava passando por problemas pessoais/emocionais.
Bento: Qual foi o melhor e o pior momento no cenário Indie para você? Já pensou em desistir?
Neobit: Ouso dizer que ainda estou no meu pior momento no cenário indie. Penso todos os dias em desistir e procurar um outro sonho, uma outra ambição. Porém além de meu sonho ser algo que eu não consigo abrir mão, eu tenho uma paixão muito grande pelo meu projeto e também tenho pessoas ao meu lado que me motivam a não desistir não importa o que acontece.
Também não desisto pois não volto atrás da minha palavra. Esse é meu jeito ninja de ser!
Bento: Agradeço muito pela oportunidade de entrevistá-lo e deixo em aberto para considerações finais ou mesmo um jabá, recado ou conselho que gostaria de passar adiante?
Neobit: Gostaria de terminar dizendo para todos que estou disponível para conversar em qualquer momento. Seja sobre gamedev, sobre a vida ou qualquer outra coisa. Eu sou peculiar e um pouco difícil de lidar, mas tenho consciência disso e me esforço todos os dias para ser alguém bom e que tenta semear empatia pelas histórias das pessoas. Apesar de eu parecer pessimista, fatalista ou algo assim, sei que cada um de vocês são únicos e tem uma história difícil seja no aspecto que for, estrutural, financeiro ou até mesmo intrapessoal. Vivemos no Brasil, um país que todo mundo joga no Hard.
Bom, ressalto aqui novamente, estou a disposição para conversar sobre qualquer coisa. Até mesmo para participar de projetos ou algo do gênero.
Outra coisa que gostaria de dizer é que acredito que não continuarei a desenvolver o Terminal. Quem tiver interesse em continuar seu desenvolvimento, sinta-se livre para utilizar a ideia.
É isso, obrigado pelo convite para entrevista, desculpa por escrever tanto.
Abraços,
Neobit.
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