A existência virtual é mais como um "JOGO" de azar que sempre dá prêmios. Ronaldo Bento
Este é um projeto de entrevista que busca homenagear os imprescindíveis parceiros dos desenvolvedores de games e outros. Um singelo tributo aos produtores de conteúdos e membros do Condado BraveHeart. Boa leitura!
Desta vez nosso entrevistado é o desenvolvedor do excelente jogo Canções da Memória.
BlackCatFM: Bom, primeiramente, agradeço o convite para esta entrevista, é um imenso prazer estar aqui. Sobre quem sou eu, bem, essa é sempre uma pergunta difícil. Quando confrontado com ela, sinto-me um pouco como Alice, quando a lagarta lhe faz a mesma pergunta e ela, confusa, lhe responde que não sabe, pois “ser de tantos tamanhos diferentes num dia é muito perturbador”. Mas tentarei meu melhor mesmo assim.
Chamo-me Raony, tenho 32 anos e sou um ex-acadêmico tentando navegar nesse grande mar de caos que é a vida. Não tenho grandes feitos, tampouco grandes ambições, costumo brincar dizendo que sou um diletante profissional. Tenho uma releação muito forte com a cultura, minha formação intelectual, se é que posso falar em algo do gênero, está enraizada na filosofia, que tem sido minha companheira desde a adolescência, mas também nas artes de um modo geral, embora a literatura e os videogames se destaquem. Quanto ao meu avatar, ele tem origem em duas referências, uma de cunho pessoal e outra política. A pessoal: eu gosto de gatos pretos desde que me entendo por gente, eles me fascinam. A política: todos que me conhecem sabem de minhas inclinações ao anarquismo e o gato preto é um símbolo entre os anarquistas, sobretudo os sindicais, norte-americanos. Por essas duas razões, decidi tomá-lo como avatar (a título de curiosidade: ele foi criado por mim, baseado numa pintura da Belle Epoque). Já o FM, apesar de a piada ser muito boa (aquele velho caso em que o mito é muito mais interessante que a verdade... hahaha), não tem relação com rádios, mas são as iniciais de meu sobrenome: Francisco Moraes. Sim, nada criativo, mas... c’est la vie (risos)!
Bento: Em que circunstâncias você teve contato com os videogames pela primeira vez? Quando aconteceu? Possui algum jogo preferido?
BlackCatFM: Meu primeiro contato com videogames deu-se na tenra infância, ali entre os cinco e seis anos de idade, quando ganhei meu primeiro console, um Atari 2600 usado, de meus pais. Meu amor por videogames começou aí. Se possuo algum jogo preferido? Posso dizer que tenho alguns, não apenas um, mas para não me alongar, direi os dois último a entrar nessa lista: Nier: Automata e Elden Ring.
Nier Automata causou-me sensações que há muito eu não sentia com videogames (alegria, tristeza, pesar, luto, deslumbramento, indignação...), foi uma experiência única que dificilmente terei novamente, pelo menos não tão cedo. É digno de nota, também, que se trata de um jogo profundamente filosófico, que parte de uma série de conceitos existencialistas, passeando por diversos autores da história da filosofia, como Schopenhauer, Nietzsche, Sartre, Descartes, entre vários outros. Ele é, a meu ver, um dos grandes exemplos de como mesclar reflexão filosófica com videogame e é um dos ápices dessa mídia naquilo que ele se propõe. Também não posso deixar de mencionar seu experimentalismo, na medida em que subverte diversos “dogmas” de game design.
Elden Ring, por outras razões, dispensa comentários, é o jogo mais ambicioso - até agora - da FromSoftware, criadora da série Dark Souls, e é um marco na indústria. Tudo o que a Fromsoftware já fez é elevado a outro patamar aqui, desde sua narrativa de estilo arqueológico até sua direção de arte e filosofia de design, conhecidas por serem tão únicas. Certamente, é um dos games mais importantes da década e eu fiquei apaixonado por ele.
Bento: Agora, como você conheceu as comunidades de desenvolvedores Indies? É como você analisa o atual cenário em que elas se encontram atualmente?
BlackCatFM: Conheci a comunidade quando surgiu-me o interesse em saber como os games eram feitos, uma vez que esse conhecimento era essencial para caso eu quisesse criar algo nessa mídia. Meu primeiro contato, de fato, foi com o Condado, lá nos idos de 2018. Foi um período muito único, eu não esperava uma recepção tão calorosa; cheguei mesmo a fazer parte da staff por um período, como moderador, e conheci pessoas incríveis. Outra comunidade que conheci praticamente na mesma época, foi a CRM, que também levo com grande estima. Contudo, preciso frisar, meu contato, ao menos de maneira ativa, restringe-se às comunidades de RM. Para além desse nicho, careço de conhecimento para discorrer amplamente. Mas tenho a vaga impressão de que elas (as comunidades) estão crescendo por novos meios, como o Discord, havendo mais possibilidades de contato e troca de experiências do que há cinco ou dez anos, quando gamedev era algo impensável no contexto brasileiro.
Agora, falando desde um ponto de vista mais global, acredito que o ouro da criação de jogos está na cena independente. Enquanto os famosos AAA sofrem de uma profunda atrofia criativa, gerada pela subserviência da indústria às diretrizes mercadológicas, às “fórmulas de sucesso”, à semelhança dos blockbusters de Hollywood, os games independentes vem mostrando que é possível sair do lugar-comum daquilo que, durante anos, se compreendeu como sendo a natureza imutável de um jogo de videogame. A liberdade criativa que a cena independente proporciona é, de longe, o ponto mais decisivo para a renovação da indústria como um todo. E já vemos os frutos disso, pois no último TGA, tivemos um game independente, Stray (o famoso jogo do gatinho), concorrer à categoria de melhor jogo do ano. Claro, isso já aconteceu antes, com Celeste, mas acredito que casos como o de Stray se tornarão mais frequentes do que imaginamos, o que eu vejo como extremamente positivo, pois trás para acena independente um reconhecimento que, durante muito tempo, só era dado aos títulos de grandes estúdios. Acabou-se o tempo em que restava aos jogos independentes contentar-se apenas com as migalhas que lhes eram deixadas.
Bento: Excelentes argumentos, Todavia acrescentaria, além do citado Discord, o trabalho dos desenvolvedores de conteúdos como você... Recomento fortemente aos membros... Prestigiarem o trabalho dos mesmo. Agora, voltando para as perguntas. Quais jogos indies, você indica para os corações valentes?
BlackCatFM: Quando li essa pergunta, fiquei em dúvida sobre sugerir indies em geral ou indies BRs, em especial os da comunidade. Decidi, então, optar pela segunda alternativa. Talvez eu esteja roubando no jogo? Talvez. Mas tudo bem. Tenho grandes expectativas acerca destes títulos: Profana: O aceno de Sozo, que conta com pessoas muito talentosas na produção, como o lendário maper Lycanimus (uma das minhas principais referências como maper) e o musiqueiro Zago; Fumiko, que está sendo desenvolvido pelo Aleth (a menina de cabelo de abacate conquistou nossos corações com sua fofura); Elidriel, desenvolvido pelo Gabriel Schade, que conta com uma trama mais política, algo que eu gosto bastante e quero ver como se desenrolará. Acho que é isso!
Bento: Por favor, fale sobre seus projetos?
BlackCatFM: Atualmente, tenho apenas um grande projeto (em escopo) que venho tocando há alguns anos, cuja demo será lançada em breve (tinha planos para lançá-la ainda este ano, mas ficará para o ano que vem, provavelmente), chama-se Canções da Memória e está sendo desenvolvido no RPG Maker VX Ace. Em termos bastante gerais, trata-se de uma fantasia cujo tema central é a violência colonial e a relação entre o passado e a memória. Por essa razão, diferentemente das fantasias tradicionais, que bebem quase que exclusivamente de fontes europeias, ele trás elementos de culturas não-ocidentais.
Bento: Agora, como você conheceu as comunidades de desenvolvedores Indies? É como você analisa o atual cenário em que elas se encontram atualmente?
BlackCatFM: Conheci a comunidade quando surgiu-me o interesse em saber como os games eram feitos, uma vez que esse conhecimento era essencial para caso eu quisesse criar algo nessa mídia. Meu primeiro contato, de fato, foi com o Condado, lá nos idos de 2018. Foi um período muito único, eu não esperava uma recepção tão calorosa; cheguei mesmo a fazer parte da staff por um período, como moderador, e conheci pessoas incríveis. Outra comunidade que conheci praticamente na mesma época, foi a CRM, que também levo com grande estima. Contudo, preciso frisar, meu contato, ao menos de maneira ativa, restringe-se às comunidades de RM. Para além desse nicho, careço de conhecimento para discorrer amplamente. Mas tenho a vaga impressão de que elas (as comunidades) estão crescendo por novos meios, como o Discord, havendo mais possibilidades de contato e troca de experiências do que há cinco ou dez anos, quando gamedev era algo impensável no contexto brasileiro.
Agora, falando desde um ponto de vista mais global, acredito que o ouro da criação de jogos está na cena independente. Enquanto os famosos AAA sofrem de uma profunda atrofia criativa, gerada pela subserviência da indústria às diretrizes mercadológicas, às “fórmulas de sucesso”, à semelhança dos blockbusters de Hollywood, os games independentes vem mostrando que é possível sair do lugar-comum daquilo que, durante anos, se compreendeu como sendo a natureza imutável de um jogo de videogame. A liberdade criativa que a cena independente proporciona é, de longe, o ponto mais decisivo para a renovação da indústria como um todo. E já vemos os frutos disso, pois no último TGA, tivemos um game independente, Stray (o famoso jogo do gatinho), concorrer à categoria de melhor jogo do ano. Claro, isso já aconteceu antes, com Celeste, mas acredito que casos como o de Stray se tornarão mais frequentes do que imaginamos, o que eu vejo como extremamente positivo, pois trás para acena independente um reconhecimento que, durante muito tempo, só era dado aos títulos de grandes estúdios. Acabou-se o tempo em que restava aos jogos independentes contentar-se apenas com as migalhas que lhes eram deixadas.
Bento: Excelentes argumentos, Todavia acrescentaria, além do citado Discord, o trabalho dos desenvolvedores de conteúdos como você... Recomento fortemente aos membros... Prestigiarem o trabalho dos mesmo. Agora, voltando para as perguntas. Quais jogos indies, você indica para os corações valentes?
BlackCatFM: Quando li essa pergunta, fiquei em dúvida sobre sugerir indies em geral ou indies BRs, em especial os da comunidade. Decidi, então, optar pela segunda alternativa. Talvez eu esteja roubando no jogo? Talvez. Mas tudo bem. Tenho grandes expectativas acerca destes títulos: Profana: O aceno de Sozo, que conta com pessoas muito talentosas na produção, como o lendário maper Lycanimus (uma das minhas principais referências como maper) e o musiqueiro Zago; Fumiko, que está sendo desenvolvido pelo Aleth (a menina de cabelo de abacate conquistou nossos corações com sua fofura); Elidriel, desenvolvido pelo Gabriel Schade, que conta com uma trama mais política, algo que eu gosto bastante e quero ver como se desenrolará. Acho que é isso!
Bento: Por favor, fale sobre seus projetos?
BlackCatFM: Atualmente, tenho apenas um grande projeto (em escopo) que venho tocando há alguns anos, cuja demo será lançada em breve (tinha planos para lançá-la ainda este ano, mas ficará para o ano que vem, provavelmente), chama-se Canções da Memória e está sendo desenvolvido no RPG Maker VX Ace. Em termos bastante gerais, trata-se de uma fantasia cujo tema central é a violência colonial e a relação entre o passado e a memória. Por essa razão, diferentemente das fantasias tradicionais, que bebem quase que exclusivamente de fontes europeias, ele trás elementos de culturas não-ocidentais.
Rapaz, parafraseando o grande Leonardo da Vinci "A pintura é poesia muda; a poesia, pintura cega."
Eu disse lá atrás que possuo uma formação intelectual em filosofia, mas o que eu não mencionei é que também tenho uma grande proximidade com a antropologia e, por consequência, com o pensamento indígena. E assim como minha bagagem filosófica, minha bagagem antropológica está fortemente presente em Canções. Há diversos elementos que remetem a culturas indígenas das Américas, desde os povos nativo-americanos do norte, passando pela meso-américa e pelos povos indígenas brasileiros, como os Yanomamis. Mas preciso destacar que meu objetivo não é “representar” tais povos, e sim pensar junto com eles e, a partir disso, escrever uma história para além dos limites das narrativas eurocêntricas. É um esforço criativo e intelectual de me situar numa perspectiva mais aberta, que acolha outras formas de pensar e ver o mundo, mas sem propriamente rechaçar ou renegar a tradição, que também está presente, ainda que de maneira crítica.
Bento: Filosofia, Antropologia, História e claro Cultura, além disso, o que atrai e manifesta o processo criativo de Game Design para fomentar as diversas ideias para seus projetos? Sugere livros, filmes ou outras obras artísticas?
BlackCatFM: Tenho muitas sugestões, pois minhas referências são bastante variadas. Gosto de dizer que sou como uma esponja. Eu absorvo as coisas ao meu redor. Dentro da mídia de videogames, consigo pensar em Dragon age, Divinity: Original Sin, Witcher 3; clássicos como Chrono Trigger e Fantasy Stars. Na filosofia, há uma dose razoável de Nietzsche. Na literatura, recomendo Ursula K. Le Guin, que mencionei numa das perguntas acima. Ela foi uma autora fundamental para o amadurecimento do projeto, no que tange storytelling e wordlbuilding. Além da ficção científica, ela ficou muito famosa pela hexalogia Ciclos de Terramar, uma aventura fantástica que se passa num mundo não baseado na Europa e que bebe de fontes africanas, indígenas e asiáticas. Foi também, em sua época (o primeiro volume foi lançado em 68, apenas 4 anos após o fim das leis de segregação racial nos EUA), uma obra disruptiva em seu tempo, pois, acredito eu, tratou-se da primeira obra de fantasia ocidental a não só trazer um protagonista negro, como a compor todo seu universo ao redor de povos não-brancos. Ela me deu muitas direções para seguir. A ideia de fazer com que os elfos de Canções fossem retratados como povos indígenas, ao invés de seguir o conceito nórdico, veio dela. Manter o protagonista do game como não-branco também partiu de minhas leituras de sua obra. Acidentalmente, em alguns aspectos, e propositadamente, em outros, o protagonista de Canções guarda muitas semelhanças com Gavião, o protagonista de Terramar. No cinema, mais especificamente na animação japonesa, destaco Mononoke Hime, um clássico do Estúdio Ghibli. Uma das personagens mais importantes de Canções, uma elfa da lua que fará parte do grupo principal, foi fortemente inspirada na Sam, protagonista de Mononoke Hime.
Bento: Filosofia, Antropologia, História e claro Cultura, além disso, o que atrai e manifesta o processo criativo de Game Design para fomentar as diversas ideias para seus projetos? Sugere livros, filmes ou outras obras artísticas?
BlackCatFM: Tenho muitas sugestões, pois minhas referências são bastante variadas. Gosto de dizer que sou como uma esponja. Eu absorvo as coisas ao meu redor. Dentro da mídia de videogames, consigo pensar em Dragon age, Divinity: Original Sin, Witcher 3; clássicos como Chrono Trigger e Fantasy Stars. Na filosofia, há uma dose razoável de Nietzsche. Na literatura, recomendo Ursula K. Le Guin, que mencionei numa das perguntas acima. Ela foi uma autora fundamental para o amadurecimento do projeto, no que tange storytelling e wordlbuilding. Além da ficção científica, ela ficou muito famosa pela hexalogia Ciclos de Terramar, uma aventura fantástica que se passa num mundo não baseado na Europa e que bebe de fontes africanas, indígenas e asiáticas. Foi também, em sua época (o primeiro volume foi lançado em 68, apenas 4 anos após o fim das leis de segregação racial nos EUA), uma obra disruptiva em seu tempo, pois, acredito eu, tratou-se da primeira obra de fantasia ocidental a não só trazer um protagonista negro, como a compor todo seu universo ao redor de povos não-brancos. Ela me deu muitas direções para seguir. A ideia de fazer com que os elfos de Canções fossem retratados como povos indígenas, ao invés de seguir o conceito nórdico, veio dela. Manter o protagonista do game como não-branco também partiu de minhas leituras de sua obra. Acidentalmente, em alguns aspectos, e propositadamente, em outros, o protagonista de Canções guarda muitas semelhanças com Gavião, o protagonista de Terramar. No cinema, mais especificamente na animação japonesa, destaco Mononoke Hime, um clássico do Estúdio Ghibli. Uma das personagens mais importantes de Canções, uma elfa da lua que fará parte do grupo principal, foi fortemente inspirada na Sam, protagonista de Mononoke Hime.
Clássico: Princesa Mononoke é um filme de animação japonês dirigido por Hayao Miyazaki e produzido pelo Studio Ghibli. A data de estreia no Japão foi 12 de julho de 1997 e a estreia no restante do mundo aconteceu a partir de 1999.
Bento: E sobre o Game Dev no Brasil? Quais as suas expectativas?
BlackCatFM: Infelizmente, a indústria de videogames ainda é incipiente no Brasil, há pouco ou nenhum investimento na área, o que força muitos devs a ir para fora ou produzir tendo em vista o público internacional, já que o público nacional não os valoriza. No entanto, acredito que o cenário já não seja mais o de um grande deserto, como era até alguns anos atrás. Eu acredito que a tendência é de que os brasileiros se destaquem ainda mais no cenário de games nos próximos anos. Atualmente, dispomos de muito mais ferramentas para gamedev, além de cursos de formação mais acessíveis, isso possibilita que mais talentos surjam a partir de iniciativas individuais e também coletivas. Claro, não posso dizer que chegaremos ao mesmo patamar da produção internacional, mesmo a independente, mas com certeza o caminho para quem deseja tornar-se gamedev, no Brasil, terá menos obstáculos.
Bento: Concordo plenamente e digo mais... É muito pertinente os GameDevs desenvolverem seus jogos no idioma em Inglês apenas, para vender para o publico estrangeiro. Observação: nada contra, na realidade sou favorável, apenas sugiro que lance-o também no idioma local, pois foi uma grande luta dos gamers das antigas (eu, por exemplo) para que os jogos fossem localizados. Desde já agradeço!
Bento: Como decidiu promover e fomentar conteúdos no formato streamer lives de gameplay na Twitch?
BlackCatFM: Até o ano passado, eu não tinha o hábito de assistir lives, mas as coisas mudaram quando conheci uma streamer, na Twitch, que fazia lives de joguinhos indies. Inclusive, ela chegou a fazer lives de projetos aqui do Condado. Eu acompanhei o trabalho dela, participando do chat, coisa que eu nunca tinha feito antes e, com o tempo, veio-me a vontade de fazer o mesmo. Foi assim que comecei. Devo isso a ela. E minhas lives não se restringem apenas a gameplays, já fiz lives de gamedev, de arte (ilustração e parallax mapping); semanda passada abri uma live especial para assistir ao TGA com o meu público; também discuto assuntos atuais, falo de política, filosofia, antropologia, literatura etc.
Bento: Como Ex-professor de Matemática, jogador e aspirante a desenvolvedor, acredito que os Games podem ser usados como ferramentas educacionais, especialmente em metodologias relacionadas à tecnologia da informação, história, filosofia, matemática etc... Como um grande apoio para a aprendizagem como um todo. Acredita que isso seja possível? Jogou algum game educacional? Já pensou em desenvolver jogos com temática educacionais?
BlackCatFM: É sabido que games de caráter educacional tem uma má reputação, por serem considerados chatos e professorais. Eu, sinceramente, acredito que antes de pensar na possibilidade (ou impossibilidade) de “games educacionais”, seria necessário rever os conceitos que norteiam a própria ideia de educação e ensino, isto é, seria preciso voltar para as bases do nosso modelo educacional. Sem esse recuo crítico, acho muito difícil avançar nessa frente. Mas esse é um debate que eu não tenho condições de levantar com propriedade, por faltar-me referências teóricas e práticas. Tudo que posso fazer é conjecturar.
Entretanto, há outras saídas, embora elas não sejam ortodoxas, digamos assim. Apesar de todas as críticas que podem ser feitas, os games da série Assassins Creed acertam quanto ao viés “educativo” de seus títulos. Há todo um cuidado da Ubisoft em reconstruir o mundo antigo a partir de uma curadoria de especialistas e pesquisadores. Em Odissey e Valhalla, por exemplo, foi criado todo um sistema de visita guiada que conta a história de ruínas, figuras históricas, artefatos e regiões de relevância documental que, a meu ver, poderia ser incluído na categoria “educacional”. Mas os jogos da série não tem, como carro chefe, a intenção de serem educacionais, eles são aventuras fictícias ambiantadas no mundo antigo e, portanto, tomam uma série de liberdades criativas, Obviamente, tal fato não impede que, porventura, alguém se interesse pela história da Grécia Antiga ou pelo Antigo Egito através de seus games.
Eu nunca tive a pretensão de fazer jogos de cunho educacional, mas isso não significa que meu projeto não busque provocar reflexão e pensamento crítico. Ele o faz, mas à maneira de um Guernica (quadro famoso de Picasso, que retrata o bombardeio de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola, ao mesmo tempo em que denuncia a guerra e a violência) ou de uma obra da Le Guin (escritora norte-americana, de fantasia e ficção científica, que se utiliza desses gêneros para pensar uma série de questões relativas à natureza humana, à política, ao fascismo, à revolução, aos papéis de gênero na sociedade etc.). A arte pensa, sempre pensou, ela não é apenas “fruição estética”. A sensação faz pensar. Pelo menos, é nisso que acredito.
Bento: Agradeço muito pela oportunidade de entrevistá-lo e deixo em aberto para considerações finais ou mesmo um jabá, recado ou conselho que gostaria de passar adiante?
BlackCatFM: Eu é que deveria agradêce-lo pela oportunidade, caro Bento! Um conselho para passar adiante? Não façam jogos, crianças, pagam mal e vocês vão ficar calvos.
Bento: E sobre o Game Dev no Brasil? Quais as suas expectativas?
BlackCatFM: Infelizmente, a indústria de videogames ainda é incipiente no Brasil, há pouco ou nenhum investimento na área, o que força muitos devs a ir para fora ou produzir tendo em vista o público internacional, já que o público nacional não os valoriza. No entanto, acredito que o cenário já não seja mais o de um grande deserto, como era até alguns anos atrás. Eu acredito que a tendência é de que os brasileiros se destaquem ainda mais no cenário de games nos próximos anos. Atualmente, dispomos de muito mais ferramentas para gamedev, além de cursos de formação mais acessíveis, isso possibilita que mais talentos surjam a partir de iniciativas individuais e também coletivas. Claro, não posso dizer que chegaremos ao mesmo patamar da produção internacional, mesmo a independente, mas com certeza o caminho para quem deseja tornar-se gamedev, no Brasil, terá menos obstáculos.
Bento: Concordo plenamente e digo mais... É muito pertinente os GameDevs desenvolverem seus jogos no idioma em Inglês apenas, para vender para o publico estrangeiro. Observação: nada contra, na realidade sou favorável, apenas sugiro que lance-o também no idioma local, pois foi uma grande luta dos gamers das antigas (eu, por exemplo) para que os jogos fossem localizados. Desde já agradeço!
Bento: Como decidiu promover e fomentar conteúdos no formato streamer lives de gameplay na Twitch?
BlackCatFM: Até o ano passado, eu não tinha o hábito de assistir lives, mas as coisas mudaram quando conheci uma streamer, na Twitch, que fazia lives de joguinhos indies. Inclusive, ela chegou a fazer lives de projetos aqui do Condado. Eu acompanhei o trabalho dela, participando do chat, coisa que eu nunca tinha feito antes e, com o tempo, veio-me a vontade de fazer o mesmo. Foi assim que comecei. Devo isso a ela. E minhas lives não se restringem apenas a gameplays, já fiz lives de gamedev, de arte (ilustração e parallax mapping); semanda passada abri uma live especial para assistir ao TGA com o meu público; também discuto assuntos atuais, falo de política, filosofia, antropologia, literatura etc.
Bento: Como Ex-professor de Matemática, jogador e aspirante a desenvolvedor, acredito que os Games podem ser usados como ferramentas educacionais, especialmente em metodologias relacionadas à tecnologia da informação, história, filosofia, matemática etc... Como um grande apoio para a aprendizagem como um todo. Acredita que isso seja possível? Jogou algum game educacional? Já pensou em desenvolver jogos com temática educacionais?
BlackCatFM: É sabido que games de caráter educacional tem uma má reputação, por serem considerados chatos e professorais. Eu, sinceramente, acredito que antes de pensar na possibilidade (ou impossibilidade) de “games educacionais”, seria necessário rever os conceitos que norteiam a própria ideia de educação e ensino, isto é, seria preciso voltar para as bases do nosso modelo educacional. Sem esse recuo crítico, acho muito difícil avançar nessa frente. Mas esse é um debate que eu não tenho condições de levantar com propriedade, por faltar-me referências teóricas e práticas. Tudo que posso fazer é conjecturar.
Entretanto, há outras saídas, embora elas não sejam ortodoxas, digamos assim. Apesar de todas as críticas que podem ser feitas, os games da série Assassins Creed acertam quanto ao viés “educativo” de seus títulos. Há todo um cuidado da Ubisoft em reconstruir o mundo antigo a partir de uma curadoria de especialistas e pesquisadores. Em Odissey e Valhalla, por exemplo, foi criado todo um sistema de visita guiada que conta a história de ruínas, figuras históricas, artefatos e regiões de relevância documental que, a meu ver, poderia ser incluído na categoria “educacional”. Mas os jogos da série não tem, como carro chefe, a intenção de serem educacionais, eles são aventuras fictícias ambiantadas no mundo antigo e, portanto, tomam uma série de liberdades criativas, Obviamente, tal fato não impede que, porventura, alguém se interesse pela história da Grécia Antiga ou pelo Antigo Egito através de seus games.
Eu nunca tive a pretensão de fazer jogos de cunho educacional, mas isso não significa que meu projeto não busque provocar reflexão e pensamento crítico. Ele o faz, mas à maneira de um Guernica (quadro famoso de Picasso, que retrata o bombardeio de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola, ao mesmo tempo em que denuncia a guerra e a violência) ou de uma obra da Le Guin (escritora norte-americana, de fantasia e ficção científica, que se utiliza desses gêneros para pensar uma série de questões relativas à natureza humana, à política, ao fascismo, à revolução, aos papéis de gênero na sociedade etc.). A arte pensa, sempre pensou, ela não é apenas “fruição estética”. A sensação faz pensar. Pelo menos, é nisso que acredito.
Bento: Agradeço muito pela oportunidade de entrevistá-lo e deixo em aberto para considerações finais ou mesmo um jabá, recado ou conselho que gostaria de passar adiante?
BlackCatFM: Eu é que deveria agradêce-lo pela oportunidade, caro Bento! Um conselho para passar adiante? Não façam jogos, crianças, pagam mal e vocês vão ficar calvos.
"A arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à vergonha." (Gilles Deleuze)
Muito Obrigado! O próximo entrevistado é um cara muito gente fina (apesar de gordinho rs')... Será uma grande surpresa do Papai Bardoel. Valeu, Corações Valentes!