🤔 Para Refletir :
"Escrever para o seu jogo já começa nas mecânicas"
- AbsoluteXandy

(FINALIZADO) DESAFIO DO CORINGA: Dê desfecho à trama

Eliyud Masculino

O Coringa
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12 de Agosto de 2019
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DESAFIO DO CORINGA
Academia de Escrita

╰── ⋅ ⋅ ──────── ✩ ──────── ⋅ ⋅ ──╯

Apesar de constrito
palhaço boca-aberta,
em mim jaz um espírito
que escreve quando desperta.

Entregando-se ao delírio da inspiração,
minh'alma dá às letras sentido,
ao soneto, direto do coração, romance,
à poesia liberdade
e ao texto uma chance.


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E por falar em chance, é a sua vez: será que você consegue impressionar o CORINGA com o seu texto?

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-ˏˋ O DESAFIO: Dê desfecho à trama ˊˎ-
MAJESTADE! MAJESTADE! – Gritava o guarda enquanto corria pela estrada de pedra em direção à sala do trono. Esbaforido, o guarda parecia estar desesperadamente necessitando falar com o rei, ignorando todos os protocolos necessários para aquela situação.

Próximo do trono, ele cai de joelhos, lançando o seu capacete aos pés do rei: – Majestade! Majestade! – Buscando fôlego, ele repete.

Mas o que diabos está acontecendo? – Indaga o rei, seguido de uma ameaça: – Fale de uma vez pelo que veio ou mandarei lhe retirar a força.

O guarda ergue a cabeça, respira fundo e então diz: – A princesa sumiu!

Após pronunciar aquelas palavras, todos da sala real ficaram paralisados tentando processar as palavras do guarda. O rei, um pouco a cima do peso, cai sentado no trono, boquiaberto: – Como pode isso acontecer? A fortaleza dela estava protegida por quinhentos dos nossos melhores homens!

– Senhor! Não sabemos ainda, mas estamos investigando.

– Chamem todos os cavaleiros e campeões, precisamos resgatar a minha filha!

☆» Texto: @Dobberman

</> Você deverá escrever o desfecho para a trama acima, atentando-se aos seguintes pontos:
  1. Explicar o motivo de a princesa ter desaparecido;
  2. Explicar como a princesa desapareceu da fortaleza;
  3. Criar um personagem que tenha participado ativamente do evento, inimigo ou aliado.
</> O trabalho precisa ser inteiramente de sua autoria.

</> O objetivo é impressionar o coringa. Este é um desafio de escrita, então além da gramática serão levados em conta o storytelling (evite um texto apenas expositivo) e a criatividade. Capriche!

☆» Avaliação:

◮ Os envios serão avaliados pelo CORINGA, e classificados das seguintes formas:
  1. Porquê tão sério?: Fez o que foi proposto, mas faltou capricho e/ou técnica. O coringa aprecia o que foi feito, mas não se impressiona.
  2. Nem sei como lidar: Além de cumprir com a proposta, o fez de maneira a demonstrar certo domínio técnico e criatividade. O coringa fica orgulhoso.
  3. Ponha um sorriso no rosto: Abraçou a proposta e a executou com maestria, demonstrando grande criatividade e/ou domínio do assunto. O coringa adorou!
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-ˏˋ PERÍODO DO DESAFIO ˊˎ-

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28/SET ~ 04/OUT

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-ˏˋ PRÊMIOS ˊˎ-

O CORINGA fará questão de fazer brotar dinheiro e premiar com bravecoins os melhores trabalhos.

CondiçãoPrêmio
Cada Ponha um sorriso no rosto25 Bravecoins
Cada Nem sei como lidar15 Bravecoins
Cada Por que tão sério?5 Bravecoins

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-ˏˋ REGRAS GERAIS ˊˎ-


  • O trabalho deve ser criado após a data deste tópico;
  • Não serão aceitos trabalhos enviados depois do prazo;
  • Você poderá enviar sua participação até às 23h 59min do dia 04 de Outubro (domingo);
  • Você precisa enviar sua participação respondendo a este tópico;
  • O trabalho não pode conter conteúdo adulto;
  • Não é permitido enviar o mesmo trabalho duas vezes;
  • Ao criar os trabalhos, você compreende que o fórum Condado Braveheart pode divulgar seu trabalho no fórum ou na revista;
  • A premiação será entregue depois do término do desafio para todos, não necessariamente no dia em questão;
  • Membros da staff que não forem avaliadores podem participar do evento e receber as premiações normalmente.
  • Todas as regras do fórum se aplicam a este evento e a quebra de qualquer uma delas pode levar a desclassificação.


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Última edição:
Excelente desafio, parabéns pela iniciativa 👏
Mas será que não há uma chance de prolongar o tempo para pelo menos um fds?

Tendo em vista que grande parte dos nossos membros estão ocupados durante a semana, como poderia eu recusar essa proposta?
Obrigado pela sugestão!

Desafio prorrogado até o final de semana.
 
(…)

A conturbação tomou conta do castelo. Homens e mulheres de toda parte do reino se apresentavam nos dias e noites que se seguiram. Foi quase uma semana de apresentações, decoro e impaciência. O rei sabia que cada minuto poderia custar sua preciosa filha.

E a cada novo rosto, novas histórias:

- No caminho para Arjun, um bando de saqueadores diziam ter raptado a princesa e cobravam pelo resgate, mas quando os interceptamos, não eram mais que mentirosos – dizia um guerreiro. - Mas o reforço militar do castelo impossibilitaria o sequestro- rebatiam os ouvintes.

- As pessoas fofocavam sobre uma misteriosa jovem que apareceu pelas tabernas nas últimas noites. Pensando ser a princesa, fizemos buscas incansáveis, até descobrir que não passava de uma escrava fujona. – Por que a donzela fugiria? Frágil e protegida pelo pai, órfã de mãe, sabia que o melhor lugar do mundo era o castelo– respondiam as outras pessoas.

- Nas colinas a oeste, ouvimos rumores de um dragão, e realmente vimos a besta sobrevoando vilarejos e cobrindo com sua sombra os desesperados vilões. – Um dragão? Poderia ser isso a razão para aquilo tudo? – ecoava nos grupos.

Após múltiplas retomadas dos fatos sobre a fera alada, o rei decidiu que isso deveria ser investigado e estava convencido de que, encontrando o dragão, encontraria a jovem.

Reuniu 20 de seus melhores, enviou-os para os campos ao norte para investigarem os rumores sobre visões da princesa em lugares diversos. Mandou pequenos grupos aos sul, em busca de informações com as autoridades locais. Ao oeste, prontificou-se para liderar 30 dos seus mais confiáveis a fim de encarar o dracônico ser.

Vestiu novamente sua armadura aposentada, segurou firmemente sua espada que tanto o acompanhou nas conquistas. No corredor, parou em frente ao quarto de sua filha, tomou um longo fôlego e abriu a porta. Tocou os objetos, as joias, os vestidos, os brinquedos, não com as mãos, mas era seu coração no lugar da pele trêmula e enrugada. Os brinquedos dela ainda estavam bagunçados no mesmo lugar onde ela deixou na última vez em que visitou seu mundo fantástico que construiu em seus poucos anos de vivência, observação e sonhos.

Nenhum sinal de arrombamento. Nada quebrado.

Recuperou sua postura de rei e foi ao encontro de seus companheiros.

- Hoje, partiremos em busca de minha filha. Muito mais que uma princesa, é um pedaço de mim. Olhem para mim, não como um rei, mas como um pai. Busquem-na como se estivessem buscando seus próprios filhos e filhas, batalhem, se assim for, como se estivessem buscando seus pais no inferno…

- O que você entende de inferno? – Cortou uma voz suave e controlada. – Para construir o seu céu, trouxe dor e sofrimento para muitos.

Era Yanka, uma odiada conselheira mágica que só morava ali porque a falecida rainha a considerava sua mãe. Yanka cuidou da senhora desde tenra infância, desde antes de tornar-se a esposa do rei, até os minutos finais após o parto da menina, e seu nome foi a última pronúncia audível da boca da mulher. “Cuide dela, como cuidou de mim, Yanka”.

Havia uma terrível história oculta entre o rei e Yanka, que os enlaçava com a ardência da inveja, do rancor e de memórias dolorosas para a velha.

- Se eu souber, bruxa, que está por trás do desaparecimento de Kira, considerarei traição à memória de minha esposa, sua rainha, e eu mesmo a executarei em praça pública.

- Não preciso de suas ameaças, o peso da vida já supera tudo o que um homenzote como você pode fazer comigo, mesmo escondido sob esse latão que chama de coroa.

- CALADA!

Sob gritos e espamos, o rei ordenou a retirada de Yanka do salão, e a mulher saiu antes mesmo que qualquer capacho real tocasse em um fio de seu cabelo. Ao longe, sussurrou, e todos ouviram o som fantasmagórico:

- As Moiras gostam de uma dor poética. A vingança é um espetáculo que se vê com seus melhores amigos de camarote.

Ao fechar da porta, o rei lançou uma pesada bacia de prata que atingiu violentamente a madeira e resmungou metalicamente nos ouvidos dos presentes. Dificilmente se via o honrado, valente e cavalheiro rei fora de si.

O sol surgia, hora de seguir.

As guardas seguiam os trotes do cavalo do rei, ostentando os símbolos de sua presença divina por onde passava, fazendo cabeças se curvarem, alguma tocando o chão com rapidez, outras indo até onde a idade permitia. Algumas pessoas se ajoelhavam.

Até a primeira noite, nada de estranho. Apenas o enorme luar e o céu pincelado de estrelas. Os companheiros do rei, deitados, desenhavam linhas e conectavam sua sorte nos pontos brilhantes por cima das nuvens.

- Dizem que quando olhamos para o céu estrelado, estamos olhando o passado – falou algum jovem aleatoriamente.

- E se lá do céu alguém nos olha? Somos o passado de quem? – alguma voz distraída respondia.

Conversas e conversas se entrelaçavam descontraidamente, em vários tons, de várias bocas, em um mar indecifrável de coerência que não molhava os pés do rei, absorto nos seus pensamentos, revivendo as memórias de suas batalhas e a voz da odiosa Yanka.

De repente, as nuvens formaram um rosto familiar. Aquele sorriso nos lábios e nos olhos, o cabelinho ao vento, os passos velozes vindo em sua direção, as estrelas realmente guardavam o passado em seu brilho e parecia que aquele passeio com sua filha no bosque das árvores douradas foi há séculos.

- Veja, papai, uma flor com rostinho.

- São chamadas de flores de fada, porque parecem pequenas fadinhas. Quando é lua cheia, elas brilham e o mundo se torna um lugar mágico.

A criança insistiu para que o pai a levasse àquele lugar na próxima lua cheia, para ver as fadinhas saindo das flores. E assim aconteceu.

- Papai, – sussurrava com medo de espantar os seres mágicos – às vezes eu sonho que estou voando acima das nuvens e vejo as cidades e os castelos de vários reinos como se fossem de boneca.

- É mesmo, meu amor, e o que mais?

- Eu sinto que tenho poderes e tudo brilha como o sol.

- Ora, mas você está certa, você é meu sol.

Ficava claro para todos que aquele homem encontrava na filha a redenção de seu passado sombrio, moldado no fio de sua espada e no sangue dos conquistados.

- Meu sol…

O eco dessas palavras se materializou na forte luz que vinha do céu.

Amanhecia.

Tudo aconteceu na segunda noite, próximo às colinas do oeste, como disseram os viajantes.

Misteriosamente, vestindo uma fraca lua sob o véu de nuvens e sem estrelas, o céu era uma massa escura, uma virgem fúnebre.

- Hoje o passado não nos brinda.

De repente, um rugido… um tremor… passos pesados… uma silhueta demoníaca voava dominante. Sua sombra parecia um manto de morte e ocultava mais ainda aquele ambiente.

Em silêncio, observaram-na passar, saindo de uma entrada localizada em um dos montes. A luz era parca, mas, deduzindo a direção, poderiam chegar até lá e descobrir o que havia no esconderijo. Preparariam uma emboscada.

Dentro da caverna, somente a luz de suas tochas. No chão, crateras disformes feitas pelas frequentes pisadas. Ossos? Coisas quebradas?

- Não! – mal conseguiu falar o rei.

Aquele vestido azul. Os restos do vestido azul de sua princesa. Ressaltando aos olhos no meio de outras coisas mais antigas e destroçadas.

Aquele vestido azul, um pai amoroso reconheceria no meio de uma guerra. Segurou o paninho delicado e sentiu que sua alma se esvaia naqueles trapos. Suas lembranças se misturaram com seus sonhos de futuro.

Ouviu suas primeiras palavras; perdeu-se nos seus primeiros sorrisos; cantou pela primeira vez uma música de ninar e, quando ela dormiu, manteve-se imóvel a noite inteira, admirando-a; ensinou a ler, porque ela seria uma grandiosa rainha e deveria saber ler; ensinou-a a empunhar a espada; viajou por muitos lugares com ela e falou como ela era parecida com a mãe; ficou enciumado do primeiro amor; levou-a emocionado até o altar; conheceu seus netos e brincou com eles; ouviu gritos de terror vindos de longe; sentiu esbarrões no seu corpo inerte; foi tomado pela escuridão da caverna; olhou para o vestido rasgado e viu que sua vida não se realizaria por causa daquele maldito dragão.

Foi então que sentiu um tremendo golpe que o jogou na parede. Tal sorte não teve um soldado, que caiu sobre uma pedra pontiaguda e foi empalado. Olhou ao redor e tudo era sangue, dor, pedaços de seus semelhantes e dentes, muitos dentes.

O monstro olhou na sua direção e parou. De besta para rei, um desafio, uma chacota? Aqueles olhos, verdes, tão verdes como os de sua filha, tão verdes como os de sua esposa, eram do pasto do inferno para onde ele mandaria aquilo.

O dragão abriu a boca, uma bola de fogo formou-se lentamente, mas o espetáculo ígneo foi interrompido pelos golpes que recebera nas costas. Mais companheiros chegavam, os que viram de longe o dragão correram para aquele lugar e chegaram a tempo de salvar o rei. Tantos golpes que o fizeram cair.

- Por que não se levanta? Por que não é forte o suficiente? Por que cai tão fácil?

Zombando do ser, prostrou-se perante sua face e cravou sua adaga dourada na testa. Deixou-o agonizante e ordenou que fosse colocado sob uma enorme lona que conseguira em um vilarejo perto. Apresentaria a besta aos súditos, vingando a princesa e mostrando como um rei deve agir.

Dois dias arrastando o corpo, que foi misteriosamente secando a cada hora, mas o fedor que exalava não permitia que ninguém visse seu estado. Os cavalos que arrastavam não pareciam morrer de cansaço.

Ao chegar na cidade, ordenou a presença de todos os que podiam e ordenou que trouxesse, a odiosa Yanka. Sem mais sua esposa, sem mais sua filha, aproveitaria para considerá-la traidora e a executaria ali mesmo. Livrar-se-ia de tamanho fado.

O cadáver da besta ficou na praça oculto todo esse tempo, tempo em que Baba Yanka fora julgada em público e condenada à morte. Yanka sorriu e disse que ninguém morreria mais que o rei. Como se mata um homem mais de uma vez?

Revelaram, então, o dragão... dragão? O que aconteceu com o dragão? Apenas um pequeno corpo arrumado no centro jazia.

Ao retirar o pano, o rei escandalizou-se: era sua filha, com sua adaga cravada no pescoço, aqueles olhos verdes, mas como?

- Às vezes sonho que estou voando acima das nuvens... e eu sinto que tenho poderes e que brilha como o sol... – a doce voz dela se fez presente na memória.

– Que voa acima das nuvens e cospe fogo como um dragão- pensou ele.

- Como se mata um homem muitas vezes? – Ironizou sufocante Baba Yanka – Matando nele com a morte que ele causou em muita gente de várias formas.

Baba Yanka sabia que a menina fora criada no ventre de sua mãe como uma forma de fazer o rei sofrer uma dor insuportável. Que dor maior do que saber que matou a própria filha?

Há algumas noites, a velha entrou no quarto da menina e a encontrou desmaiada, sabia o que estava por vir, levou-a, então, até a caverna onde o dragão foi combatido e lá, após alguns dias de dolorosa transformação, alimentou-a com vagabundos e viajantes que encontrava na estrada, razão pela qual havia muitos destroços de coisas quaisquer pelo chão e ossos.

Antes de morrer, Baba Yanka olhou para o corpo da menina e pronunciou seu nome: Kira Ognya, que poderia significar “senhora do fogo”.

Um dia, a conta de todo herói chega e o generoso destino deixa o troco de gorjeta.
 
┈┈┈┈┈┈┈┈┈┈◦•✩•◦┈┈┈┈┈┈┈┈┈┈​

O que vejo aqui é um desfecho digno de um livro. Uma trama medieval com resquícios de poesia e emocionante na dose certa. Um desenrolar que, a partir de certo ponto, chega-se a suspeitar, mas com uma expectativa sobre estar certo ou errado. A estória é contada de uma forma que gera aflição, como se eu a ouvisse de um soldado da própria época. Não tenho palavras pra descrever o quão encantado fiquei. Foi um ótimo primeiro envio para o desafio!

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@misterdovah
PONHA UM SORRISO NO ROSTO!

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Na madrugada do dia do sumiço da princesa
Silencioso era a palavra que mais se adequava ao castelo na madrugada anterior ao sumiço da princesa. Todos os moradores descansavam felizes e com suas barrigas cheias em suas camas emplumadas como qualquer outro nobre com posses sempre o fez. Foi justamente nesse momento que uma sombra apareceu rumando sorrateiramente para o quarto da princesa. Seu rosto, escondido por uma grossa capa escura de lã só poderia ser visto caso o bisbilhoteiro que quisesse descobrir sua identidade chegasse na distância de uma respiração. Em sua mão direita, segurava uma tocha que crepitava e largava cinzas a cada passo dado, mas esse não era o detalhe que despertava maior assombro, longe disso. Em sua mão esquerda, o jovem rapaz carregava uma bíblia cuja cruz em sua capa era cravejada de rubis do tamanho de azeitonas. Ao chegar diante do quarto da princesa, o mesmo batia com a mão que segurava o archote na porta e falava baixo, mas audível o bastante para quem já o esperava do outro lado da porta:​
— Milady, estou aos... — Antes que terminasse de falar, a porta a sua frente se abria e uma linda e jovem mulher de cabelos negros e sorrisos fáceis o recepciona com um puxão em suas vestes e um beijo apaixonado que com certeza tirou o folego do padre. Ela o encarava com uma cara emburrada de quem estava irritada, mas o mesmo sabia que aquilo era apenas fingimento. Na sua frente estava a Princesa Hackless, ou melhor, Sophia para os mais próximos como ele. A garota o fitava com aqueles olhos extremamente azuis enquanto fazia o sinal de "dois" com os dedos. O jovem ria da garota enquanto colocava a tocha no suporte da parede e a bíblia numa bancada próxima da cama.​
— O que eu fiz para merecer dois socos? — Disse o garoto que já sabia o que aquele sinal significava.​
— O primeiro é por me fazer esperar! — e lançava o soco no braço do seu companheiro secreto que fingia ter sentido.​
— E o segundo? — perguntava coçando o braço.​
— É por que eu quero!​
Não que ele já não estivesse acostumado. Foram criados juntos desde cedo, os dois, e desde criança tudo foi sempre do jeito que ela quis. Não importava se ela era princesa e ele um simples filho de ferreiro. Desde o dia que seus olhos se cruzaram no dia da cerimônia ao rei há mais tempo que ambos possam lembrar, os dois nutriam um amor mútuo que nada e ninguém pôde acabar. Com a ajuda dela, o jovem rapaz do povo estudou e se alfabetizou, podendo anos depois ascender socialmente ao sacerdócio, tudo para estar mais perto dela. Agora, é certo dizer que nada daquilo poderia ser possível se não fosse o assistente pessoal da Princesa Sofia, o velho e enrugado Godoh, um dos criados mais antigos e influentes do castelo que, percebendo o amor dos dois, moveu seus pauzinhos por debaixo dos panos para deixa-los tão próximos quanto alguém conseguiria deixar. Sofia puxa o acólito para sua cama e o empurra para os travesseiros de pena de ganso de sua suntuosa cama.​
— Temos pouco tempo, que tal aproveitarmos? — dizia sentando no colo do seu companheiro, uma cara não tão pura assim estampava seu rosto naquele momento.​
— Teremos todo o tempo do mundo minha princesa! — respondia com um beijo nos lábios da mulher irresistível que o provocava. — Jajá Godoh chegará e ele nos pegará numa posição bem constrangedora... — falava em tom sério.​
— Deixe que nos veja, até parece que ele não sabe o que fazemos, ele mesmo que ajudou a nos unir. — no lugar da expressão anterior, a garota mostrava em suas expressões um misto de desaprovação e de desapontamento, algo bem difícil para o padre lidar.​
Antes que ele conseguisse pensar em algo para responder, mais uma vez a porta do quarto era batida levemente, primeiro três vezes, depois duas, e uma vez, bem espaçadas entre si. Jonnah, o acólito, suspira aliviado por escapar daquela situação no mínimo complicada, mas antes de tirá-la calmamente de cima dele, o jovem não esqueceu de beija-la o mais apaixonadamente que ele conseguia, depois de tal feito, ele chegava próximo da orelha dela apenas para sussurrar:​
— Depois de hoje estaremos livres, estamos planejando nossa fuga há anos. Quando estivermos seguros, não precisaremos nos segurar mais, aguarde só mais um pouco meu amor. — e se levantou para abrir a porta. Infelizmente, quando abriu, Jonnah percebeu seu erro. Quem o esperava na porta não era Godoh, o velho criado da família real, mas o próprio rei. Mal respirando devido ao susto, o garoto nem conseguiu disfarçar a surpresa, caindo de bunda no chão e rastejando para trás completamente perplexo. Sua voz não mais saia de sua boca nem para se lamentar ou pedir desculpas. Ele estava morto, e sabia disso. Imagina o que o Rei faria com o homem que deflorou sua única filha, a herdeira de todo o seu reino? Só de pensar já era um martírio. Ainda sim, as palavras que saíram da boca do rei foram todas, menos as esperadas pelo não mais tão acólito:​
— Acalme-se rapaz, se você acha que poderia fazer algo dentro de meu castelo sem meu consentimento, você está completamente errado. Eu já sei que vocês se amam há muito tempo, o próprio Godoh me contou. Independente de quão antigo o criado seja, ninguém tem mais poder que o Rei. — Jonnah e Sophia se entreolharam, ambos sem entenderem o que estava acontecendo.​
— Há muitos anos atrás, fui obrigado a casar com sua mãe, Sophia, sem eu nunca ter sequer a visto antes da cerimônia. Óbvio que depois dos anos de convivência, construímos uma relação de confiança e amor, mas a que custo? Havia uma camponesa que eu era apaixonado desde novo, e sabe o que seu avô fez ao descobrir que eu andei saindo escondido dela? Ele queimou toda a sua família acusando-os de bruxaria, deixando apenas ela viva. Envolta de grande sofrimento e de um ódio tremendo por toda a família real, tal moça tirou sua própria vida, no mesmo lugar que sua família foi cruelmente assassinada e exposta para todos da cidade ver. Então sim, mesmo que sejas minha única herdeira, preparei todo o plano para a sua fuga e hoje é o último dia que nos veremos, então, me abraça filha? — com lágrimas nos olhos, Sofia corria para os braços calorosos de seu pai enquanto soluçava o que devia ser "porque nunca me contou?" ou "como viveu com isso até hoje?". Por cima dos ombros dela, o olhar do rei perfurava o garoto como uma lança e suas palavras cortavam tanto como uma:​
— Cuide bem da minha filha, mesmo ela sendo tudo o que eu tenho, confio-a a ti jovem Jonnah. Entraste em minha corte para eu ver do que você era capaz, se tinha alma de bom moço e isso eu sei que têm. A única coisa que peço aos dois é que voltem quando me derem um netinho. Jonnah será tido como herói por trazer a Princesa Sofia de volta ao seu lar e lhe darei a mão dela em casamento. É um bom plano, não acham? — mais uma vez Jonnah e Sophia se entreolharam, atônitos e admirados com a ideia do Rei.​
— Agora vão! — falava o Rei. — Godoh os espera no portão leste da cidade, evitem lugares movimentados e rumem para o sul. Quando todos notarem que Sophia sumiu, eu convocarei os meus principais guerreiros e reinos vizinhos apenas para despistar a localização de vocês. Depois de duas semanas cessarei as buscas e vocês poderão viver calmamente na casa que preparei. Há uma boa terra já cultivada e suprimentos para pelo menos alguns meses. Vocês terão que colher o que a terra dar e plantar para a próxima estação, vez ou outra eu irei visitá-los. Agora vão! Godoh deve estar com frio de tanto esperar por vocês.​
Antes de saírem, Rei Aethe abraça ambos e os deseja sorte. Estavam livres para viverem o amor que sentiam um pelo outro. No amanhecer daquele mesmo dia, a notícia correu igual a fogo em pólvora no castelo. A princesa, única herdeira do reino tinha sumido, mas ninguém nem ligou pro sumiço do jovem acólito. O Rei, visivelmente transtornado, convocou tudo e todos os que o obedeciam ou deviam favores e fez bem seu papel desviando-os da morada de sua filha. Como dito pelo próprio Rei, tempos depois das buscas terem falhado, o Rei dá a filha como morta e fazem um grande funeral para todo o reino. Alguns bons anos depois, o Rei Aethe que atualmente possuía mais cabelos grisalhos do que negros tanto em sua cabeça quanto em sua barba recebeu uma estupenda mensagem de um arfante mensageiro que bateu no salão do trono quase sem ar devido à sua corrida:​
— Senhor, senhor, há uma jovem que diz ser sua falecida filha, ela vem com um jovenzinho que diz seu neto e um homem que fala ser seu protetor. — Naquele momento, em frente ao mensageiro, o Rei se fez de surpreso, mas foi só ele dar as costas com a mensagem para deixa-los entrar que o Aethe se permitiu dar um largo sorriso. Enfim, sua amada filha retornou ao seu lar.​
 
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Uma estória emocionante, eu diria! Me parece ter sido inspirada em belos romances. Jamais esperava um papel tão exemplar do rei, confesso - e acho que foi o que deu a sacada da moral. A ambientação na Idade Média deu um charme especial ao desfecho, caracterizando ainda mais o storytelling. Um texto como o seu só mostra que eu estava certo desde o início quando resolvi criar este desafio, pois acreditei que não me decepcionaria nem um pouco com os excelentes escritores que temos por aqui.

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@NolanHawk
PONHA UM SORRISO NO ROSTO!

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Acho que passou um pouco da hora e do dia.
Mas tentei escrever alguma coisinha, só para participar mesmo.
 
- Palhaço... Confesso... Falhei... Não consegui escrever nada, não tive o tempo necessário... Por isso, agora irei cortar meu dedo mindinho como auto punição por minha falha...
 
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Eu seria muito chato se recusasse o seu envio tendo ele apenas dois minutos de atraso. Eu o avaliarei! Fiquei um tanto quanto surpreso com o desfecho. Me senti como se estivesse lendo uma novela, e isso pode agradar a alguns, mas não é o meu caso. Não tivemos um plost-twist para a trama, ficando um pouco evidente o que aconteceria desde o início. Porém, isso não faz com que o desfecho seja ruim - muito pelo contrário: está muito bom. A ideia de uma batalha musical em um concurso é algo que eu realmente não esperava. Agradeço muito pelo seu esforço e a sua participação, que sempre nos encanta, meu querido!

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@scar
NÃO SEI COMO LIDAR!

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@Omar Zaldivar deixa que eu corto o seu dedo mindinho pra você tudo bem, não se preocupe, meu querido Omar! Haverão outros desafios no mês de Novembro! Não me decepcione da próxima vez!
 
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FINALIZAÇÃO - DESAFIO DO CORINGA
Academia de Escrita

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Hoje encerro mais um desafio, e é com grande prazer que condecoro os participantes com as suas devidas bravecoins.

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-ˏˋ O DESAFIO: Dê desfecho à trama ˊˎ-
(…)

A conturbação tomou conta do castelo. Homens e mulheres de toda parte do reino se apresentavam nos dias e noites que se seguiram. Foi quase uma semana de apresentações, decoro e impaciência. O rei sabia que cada minuto poderia custar sua preciosa filha.

E a cada novo rosto, novas histórias:

- No caminho para Arjun, um bando de saqueadores diziam ter raptado a princesa e cobravam pelo resgate, mas quando os interceptamos, não eram mais que mentirosos – dizia um guerreiro. - Mas o reforço militar do castelo impossibilitaria o sequestro- rebatiam os ouvintes.

- As pessoas fofocavam sobre uma misteriosa jovem que apareceu pelas tabernas nas últimas noites. Pensando ser a princesa, fizemos buscas incansáveis, até descobrir que não passava de uma escrava fujona. – Por que a donzela fugiria? Frágil e protegida pelo pai, órfã de mãe, sabia que o melhor lugar do mundo era o castelo– respondiam as outras pessoas.

- Nas colinas a oeste, ouvimos rumores de um dragão, e realmente vimos a besta sobrevoando vilarejos e cobrindo com sua sombra os desesperados vilões. – Um dragão? Poderia ser isso a razão para aquilo tudo? – ecoava nos grupos.

Após múltiplas retomadas dos fatos sobre a fera alada, o rei decidiu que isso deveria ser investigado e estava convencido de que, encontrando o dragão, encontraria a jovem.

Reuniu 20 de seus melhores, enviou-os para os campos ao norte para investigarem os rumores sobre visões da princesa em lugares diversos. Mandou pequenos grupos aos sul, em busca de informações com as autoridades locais. Ao oeste, prontificou-se para liderar 30 dos seus mais confiáveis a fim de encarar o dracônico ser.

Vestiu novamente sua armadura aposentada, segurou firmemente sua espada que tanto o acompanhou nas conquistas. No corredor, parou em frente ao quarto de sua filha, tomou um longo fôlego e abriu a porta. Tocou os objetos, as joias, os vestidos, os brinquedos, não com as mãos, mas era seu coração no lugar da pele trêmula e enrugada. Os brinquedos dela ainda estavam bagunçados no mesmo lugar onde ela deixou na última vez em que visitou seu mundo fantástico que construiu em seus poucos anos de vivência, observação e sonhos.

Nenhum sinal de arrombamento. Nada quebrado.

Recuperou sua postura de rei e foi ao encontro de seus companheiros.

- Hoje, partiremos em busca de minha filha. Muito mais que uma princesa, é um pedaço de mim. Olhem para mim, não como um rei, mas como um pai. Busquem-na como se estivessem buscando seus próprios filhos e filhas, batalhem, se assim for, como se estivessem buscando seus pais no inferno…

- O que você entende de inferno? – Cortou uma voz suave e controlada. – Para construir o seu céu, trouxe dor e sofrimento para muitos.

Era Yanka, uma odiada conselheira mágica que só morava ali porque a falecida rainha a considerava sua mãe. Yanka cuidou da senhora desde tenra infância, desde antes de tornar-se a esposa do rei, até os minutos finais após o parto da menina, e seu nome foi a última pronúncia audível da boca da mulher. “Cuide dela, como cuidou de mim, Yanka”.

Havia uma terrível história oculta entre o rei e Yanka, que os enlaçava com a ardência da inveja, do rancor e de memórias dolorosas para a velha.

- Se eu souber, bruxa, que está por trás do desaparecimento de Kira, considerarei traição à memória de minha esposa, sua rainha, e eu mesmo a executarei em praça pública.

- Não preciso de suas ameaças, o peso da vida já supera tudo o que um homenzote como você pode fazer comigo, mesmo escondido sob esse latão que chama de coroa.

- CALADA!

Sob gritos e espamos, o rei ordenou a retirada de Yanka do salão, e a mulher saiu antes mesmo que qualquer capacho real tocasse em um fio de seu cabelo. Ao longe, sussurrou, e todos ouviram o som fantasmagórico:

- As Moiras gostam de uma dor poética. A vingança é um espetáculo que se vê com seus melhores amigos de camarote.

Ao fechar da porta, o rei lançou uma pesada bacia de prata que atingiu violentamente a madeira e resmungou metalicamente nos ouvidos dos presentes. Dificilmente se via o honrado, valente e cavalheiro rei fora de si.

O sol surgia, hora de seguir.

As guardas seguiam os trotes do cavalo do rei, ostentando os símbolos de sua presença divina por onde passava, fazendo cabeças se curvarem, alguma tocando o chão com rapidez, outras indo até onde a idade permitia. Algumas pessoas se ajoelhavam.

Até a primeira noite, nada de estranho. Apenas o enorme luar e o céu pincelado de estrelas. Os companheiros do rei, deitados, desenhavam linhas e conectavam sua sorte nos pontos brilhantes por cima das nuvens.

- Dizem que quando olhamos para o céu estrelado, estamos olhando o passado – falou algum jovem aleatoriamente.

- E se lá do céu alguém nos olha? Somos o passado de quem? – alguma voz distraída respondia.

Conversas e conversas se entrelaçavam descontraidamente, em vários tons, de várias bocas, em um mar indecifrável de coerência que não molhava os pés do rei, absorto nos seus pensamentos, revivendo as memórias de suas batalhas e a voz da odiosa Yanka.

De repente, as nuvens formaram um rosto familiar. Aquele sorriso nos lábios e nos olhos, o cabelinho ao vento, os passos velozes vindo em sua direção, as estrelas realmente guardavam o passado em seu brilho e parecia que aquele passeio com sua filha no bosque das árvores douradas foi há séculos.

- Veja, papai, uma flor com rostinho.

- São chamadas de flores de fada, porque parecem pequenas fadinhas. Quando é lua cheia, elas brilham e o mundo se torna um lugar mágico.

A criança insistiu para que o pai a levasse àquele lugar na próxima lua cheia, para ver as fadinhas saindo das flores. E assim aconteceu.

- Papai, – sussurrava com medo de espantar os seres mágicos – às vezes eu sonho que estou voando acima das nuvens e vejo as cidades e os castelos de vários reinos como se fossem de boneca.

- É mesmo, meu amor, e o que mais?

- Eu sinto que tenho poderes e tudo brilha como o sol.

- Ora, mas você está certa, você é meu sol.

Ficava claro para todos que aquele homem encontrava na filha a redenção de seu passado sombrio, moldado no fio de sua espada e no sangue dos conquistados.

- Meu sol…

O eco dessas palavras se materializou na forte luz que vinha do céu.

Amanhecia.

Tudo aconteceu na segunda noite, próximo às colinas do oeste, como disseram os viajantes.

Misteriosamente, vestindo uma fraca lua sob o véu de nuvens e sem estrelas, o céu era uma massa escura, uma virgem fúnebre.

- Hoje o passado não nos brinda.

De repente, um rugido… um tremor… passos pesados… uma silhueta demoníaca voava dominante. Sua sombra parecia um manto de morte e ocultava mais ainda aquele ambiente.

Em silêncio, observaram-na passar, saindo de uma entrada localizada em um dos montes. A luz era parca, mas, deduzindo a direção, poderiam chegar até lá e descobrir o que havia no esconderijo. Preparariam uma emboscada.

Dentro da caverna, somente a luz de suas tochas. No chão, crateras disformes feitas pelas frequentes pisadas. Ossos? Coisas quebradas?

- Não! – mal conseguiu falar o rei.

Aquele vestido azul. Os restos do vestido azul de sua princesa. Ressaltando aos olhos no meio de outras coisas mais antigas e destroçadas.

Aquele vestido azul, um pai amoroso reconheceria no meio de uma guerra. Segurou o paninho delicado e sentiu que sua alma se esvaia naqueles trapos. Suas lembranças se misturaram com seus sonhos de futuro.

Ouviu suas primeiras palavras; perdeu-se nos seus primeiros sorrisos; cantou pela primeira vez uma música de ninar e, quando ela dormiu, manteve-se imóvel a noite inteira, admirando-a; ensinou a ler, porque ela seria uma grandiosa rainha e deveria saber ler; ensinou-a a empunhar a espada; viajou por muitos lugares com ela e falou como ela era parecida com a mãe; ficou enciumado do primeiro amor; levou-a emocionado até o altar; conheceu seus netos e brincou com eles; ouviu gritos de terror vindos de longe; sentiu esbarrões no seu corpo inerte; foi tomado pela escuridão da caverna; olhou para o vestido rasgado e viu que sua vida não se realizaria por causa daquele maldito dragão.

Foi então que sentiu um tremendo golpe que o jogou na parede. Tal sorte não teve um soldado, que caiu sobre uma pedra pontiaguda e foi empalado. Olhou ao redor e tudo era sangue, dor, pedaços de seus semelhantes e dentes, muitos dentes.

O monstro olhou na sua direção e parou. De besta para rei, um desafio, uma chacota? Aqueles olhos, verdes, tão verdes como os de sua filha, tão verdes como os de sua esposa, eram do pasto do inferno para onde ele mandaria aquilo.

O dragão abriu a boca, uma bola de fogo formou-se lentamente, mas o espetáculo ígneo foi interrompido pelos golpes que recebera nas costas. Mais companheiros chegavam, os que viram de longe o dragão correram para aquele lugar e chegaram a tempo de salvar o rei. Tantos golpes que o fizeram cair.

- Por que não se levanta? Por que não é forte o suficiente? Por que cai tão fácil?

Zombando do ser, prostrou-se perante sua face e cravou sua adaga dourada na testa. Deixou-o agonizante e ordenou que fosse colocado sob uma enorme lona que conseguira em um vilarejo perto. Apresentaria a besta aos súditos, vingando a princesa e mostrando como um rei deve agir.

Dois dias arrastando o corpo, que foi misteriosamente secando a cada hora, mas o fedor que exalava não permitia que ninguém visse seu estado. Os cavalos que arrastavam não pareciam morrer de cansaço.

Ao chegar na cidade, ordenou a presença de todos os que podiam e ordenou que trouxesse, a odiosa Yanka. Sem mais sua esposa, sem mais sua filha, aproveitaria para considerá-la traidora e a executaria ali mesmo. Livrar-se-ia de tamanho fado.

O cadáver da besta ficou na praça oculto todo esse tempo, tempo em que Baba Yanka fora julgada em público e condenada à morte. Yanka sorriu e disse que ninguém morreria mais que o rei. Como se mata um homem mais de uma vez?

Revelaram, então, o dragão... dragão? O que aconteceu com o dragão? Apenas um pequeno corpo arrumado no centro jazia.

Ao retirar o pano, o rei escandalizou-se: era sua filha, com sua adaga cravada no pescoço, aqueles olhos verdes, mas como?

- Às vezes sonho que estou voando acima das nuvens... e eu sinto que tenho poderes e que brilha como o sol... – a doce voz dela se fez presente na memória.

– Que voa acima das nuvens e cospe fogo como um dragão- pensou ele.

- Como se mata um homem muitas vezes? – Ironizou sufocante Baba Yanka – Matando nele com a morte que ele causou em muita gente de várias formas.

Baba Yanka sabia que a menina fora criada no ventre de sua mãe como uma forma de fazer o rei sofrer uma dor insuportável. Que dor maior do que saber que matou a própria filha?

Há algumas noites, a velha entrou no quarto da menina e a encontrou desmaiada, sabia o que estava por vir, levou-a, então, até a caverna onde o dragão foi combatido e lá, após alguns dias de dolorosa transformação, alimentou-a com vagabundos e viajantes que encontrava na estrada, razão pela qual havia muitos destroços de coisas quaisquer pelo chão e ossos.

Antes de morrer, Baba Yanka olhou para o corpo da menina e pronunciou seu nome: Kira Ognya, que poderia significar “senhora do fogo”.

Um dia, a conta de todo herói chega e o generoso destino deixa o troco de gorjeta.
☆» Texto: @misterdovah
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Na madrugada do dia do sumiço da princesa
Silencioso era a palavra que mais se adequava ao castelo na madrugada anterior ao sumiço da princesa. Todos os moradores descansavam felizes e com suas barrigas cheias em suas camas emplumadas como qualquer outro nobre com posses sempre o fez. Foi justamente nesse momento que uma sombra apareceu rumando sorrateiramente para o quarto da princesa. Seu rosto, escondido por uma grossa capa escura de lã só poderia ser visto caso o bisbilhoteiro que quisesse descobrir sua identidade chegasse na distância de uma respiração. Em sua mão direita, segurava uma tocha que crepitava e largava cinzas a cada passo dado, mas esse não era o detalhe que despertava maior assombro, longe disso. Em sua mão esquerda, o jovem rapaz carregava uma bíblia cuja cruz em sua capa era cravejada de rubis do tamanho de azeitonas. Ao chegar diante do quarto da princesa, o mesmo batia com a mão que segurava o archote na porta e falava baixo, mas audível o bastante para quem já o esperava do outro lado da porta:


— Milady, estou aos... — Antes que terminasse de falar, a porta a sua frente se abria e uma linda e jovem mulher de cabelos negros e sorrisos fáceis o recepciona com um puxão em suas vestes e um beijo apaixonado que com certeza tirou o folego do padre. Ela o encarava com uma cara emburrada de quem estava irritada, mas o mesmo sabia que aquilo era apenas fingimento. Na sua frente estava a Princesa Hackless, ou melhor, Sophia para os mais próximos como ele. A garota o fitava com aqueles olhos extremamente azuis enquanto fazia o sinal de "dois" com os dedos. O jovem ria da garota enquanto colocava a tocha no suporte da parede e a bíblia numa bancada próxima da cama.


— O que eu fiz para merecer dois socos? — Disse o garoto que já sabia o que aquele sinal significava.


— O primeiro é por me fazer esperar! — e lançava o soco no braço do seu companheiro secreto que fingia ter sentido.


— E o segundo? — perguntava coçando o braço.


— É por que eu quero!


Não que ele já não estivesse acostumado. Foram criados juntos desde cedo, os dois, e desde criança tudo foi sempre do jeito que ela quis. Não importava se ela era princesa e ele um simples filho de ferreiro. Desde o dia que seus olhos se cruzaram no dia da cerimônia ao rei há mais tempo que ambos possam lembrar, os dois nutriam um amor mútuo que nada e ninguém pôde acabar. Com a ajuda dela, o jovem rapaz do povo estudou e se alfabetizou, podendo anos depois ascender socialmente ao sacerdócio, tudo para estar mais perto dela. Agora, é certo dizer que nada daquilo poderia ser possível se não fosse o assistente pessoal da Princesa Sofia, o velho e enrugado Godoh, um dos criados mais antigos e influentes do castelo que, percebendo o amor dos dois, moveu seus pauzinhos por debaixo dos panos para deixa-los tão próximos quanto alguém conseguiria deixar. Sofia puxa o acólito para sua cama e o empurra para os travesseiros de pena de ganso de sua suntuosa cama.


— Temos pouco tempo, que tal aproveitarmos? — dizia sentando no colo do seu companheiro, uma cara não tão pura assim estampava seu rosto naquele momento.


— Teremos todo o tempo do mundo minha princesa! — respondia com um beijo nos lábios da mulher irresistível que o provocava. — Jajá Godoh chegará e ele nos pegará numa posição bem constrangedora... — falava em tom sério.


— Deixe que nos veja, até parece que ele não sabe o que fazemos, ele mesmo que ajudou a nos unir. — no lugar da expressão anterior, a garota mostrava em suas expressões um misto de desaprovação e de desapontamento, algo bem difícil para o padre lidar.


Antes que ele conseguisse pensar em algo para responder, mais uma vez a porta do quarto era batida levemente, primeiro três vezes, depois duas, e uma vez, bem espaçadas entre si. Jonnah, o acólito, suspira aliviado por escapar daquela situação no mínimo complicada, mas antes de tirá-la calmamente de cima dele, o jovem não esqueceu de beija-la o mais apaixonadamente que ele conseguia, depois de tal feito, ele chegava próximo da orelha dela apenas para sussurrar:


— Depois de hoje estaremos livres, estamos planejando nossa fuga há anos. Quando estivermos seguros, não precisaremos nos segurar mais, aguarde só mais um pouco meu amor. — e se levantou para abrir a porta. Infelizmente, quando abriu, Jonnah percebeu seu erro. Quem o esperava na porta não era Godoh, o velho criado da família real, mas o próprio rei. Mal respirando devido ao susto, o garoto nem conseguiu disfarçar a surpresa, caindo de bunda no chão e rastejando para trás completamente perplexo. Sua voz não mais saia de sua boca nem para se lamentar ou pedir desculpas. Ele estava morto, e sabia disso. Imagina o que o Rei faria com o homem que deflorou sua única filha, a herdeira de todo o seu reino? Só de pensar já era um martírio. Ainda sim, as palavras que saíram da boca do rei foram todas, menos as esperadas pelo não mais tão acólito:


— Acalme-se rapaz, se você acha que poderia fazer algo dentro de meu castelo sem meu consentimento, você está completamente errado. Eu já sei que vocês se amam há muito tempo, o próprio Godoh me contou. Independente de quão antigo o criado seja, ninguém tem mais poder que o Rei. — Jonnah e Sophia se entreolharam, ambos sem entenderem o que estava acontecendo.


— Há muitos anos atrás, fui obrigado a casar com sua mãe, Sophia, sem eu nunca ter sequer a visto antes da cerimônia. Óbvio que depois dos anos de convivência, construímos uma relação de confiança e amor, mas a que custo? Havia uma camponesa que eu era apaixonado desde novo, e sabe o que seu avô fez ao descobrir que eu andei saindo escondido dela? Ele queimou toda a sua família acusando-os de bruxaria, deixando apenas ela viva. Envolta de grande sofrimento e de um ódio tremendo por toda a família real, tal moça tirou sua própria vida, no mesmo lugar que sua família foi cruelmente assassinada e exposta para todos da cidade ver. Então sim, mesmo que sejas minha única herdeira, preparei todo o plano para a sua fuga e hoje é o último dia que nos veremos, então, me abraça filha? — com lágrimas nos olhos, Sofia corria para os braços calorosos de seu pai enquanto soluçava o que devia ser "porque nunca me contou?" ou "como viveu com isso até hoje?". Por cima dos ombros dela, o olhar do rei perfurava o garoto como uma lança e suas palavras cortavam tanto como uma:


— Cuide bem da minha filha, mesmo ela sendo tudo o que eu tenho, confio-a a ti jovem Jonnah. Entraste em minha corte para eu ver do que você era capaz, se tinha alma de bom moço e isso eu sei que têm. A única coisa que peço aos dois é que voltem quando me derem um netinho. Jonnah será tido como herói por trazer a Princesa Sofia de volta ao seu lar e lhe darei a mão dela em casamento. É um bom plano, não acham? — mais uma vez Jonnah e Sophia se entreolharam, atônitos e admirados com a ideia do Rei.


— Agora vão! — falava o Rei. — Godoh os espera no portão leste da cidade, evitem lugares movimentados e rumem para o sul. Quando todos notarem que Sophia sumiu, eu convocarei os meus principais guerreiros e reinos vizinhos apenas para despistar a localização de vocês. Depois de duas semanas cessarei as buscas e vocês poderão viver calmamente na casa que preparei. Há uma boa terra já cultivada e suprimentos para pelo menos alguns meses. Vocês terão que colher o que a terra dar e plantar para a próxima estação, vez ou outra eu irei visitá-los. Agora vão! Godoh deve estar com frio de tanto esperar por vocês.


Antes de saírem, Rei Aethe abraça ambos e os deseja sorte. Estavam livres para viverem o amor que sentiam um pelo outro. No amanhecer daquele mesmo dia, a notícia correu igual a fogo em pólvora no castelo. A princesa, única herdeira do reino tinha sumido, mas ninguém nem ligou pro sumiço do jovem acólito. O Rei, visivelmente transtornado, convocou tudo e todos os que o obedeciam ou deviam favores e fez bem seu papel desviando-os da morada de sua filha. Como dito pelo próprio Rei, tempos depois das buscas terem falhado, o Rei dá a filha como morta e fazem um grande funeral para todo o reino. Alguns bons anos depois, o Rei Aethe que atualmente possuía mais cabelos grisalhos do que negros tanto em sua cabeça quanto em sua barba recebeu uma estupenda mensagem de um arfante mensageiro que bateu no salão do trono quase sem ar devido à sua corrida:


— Senhor, senhor, há uma jovem que diz ser sua falecida filha, ela vem com um jovenzinho que diz seu neto e um homem que fala ser seu protetor. — Naquele momento, em frente ao mensageiro, o Rei se fez de surpreso, mas foi só ele dar as costas com a mensagem para deixa-los entrar que o Aethe se permitiu dar um largo sorriso. Enfim, sua amada filha retornou ao seu lar.
☆» Texto: @NolanHawk
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☆» Texto: @scar
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-ˏˋ PONTUAÇÃO ˊˎ-

ArtistaPrêmio
@misterdovah25 bravecoins
@NolanHawk25 bravecoins
@scar15 bravecoins

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-ˏˋ RESULTADO ˊˎ-

A generosa quantia de 65 bravecoins será debitada do tesouro do Condado e entregue aos seus devidos merecedores. Afinal, não é sobre o dinheiro, mas sim sobre enviar uma mensagem.

Agradeço a todos os que reservaram um tempinho para participar do desafio e ao @Dobberman , por nos emprestar o seu enredo.

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