Bem meus amigos, matarei uma porção de coelhos (ou seriam renas para combinar com o tema) ao trazer essa história abaixo, que acabei de escrever. Ela, de fato, não posso dizer que é mentira, nem que é verdade, deixo para os amigos decidirem...
Depois que a postar aqui, sendo um conto ainda inédito, peço a permissão de poder divulgá-lo amanhã em outros locais que participo, inclusive esse texto seguirá com meus votos de Feliz Natal para os meus contatos, então, sintam-se todos brindados com esse meu honesto desejo.
Sem mais, eis-lo:
Uma visita no Natal
Não sei com quantos anos deixei de acreditar em Papai Noel...
Mas foi bem depois daquela noite, uma bem estranha por sinal, que algumas vezes fico com um grande desejo de contar os detalhes do que aconteceu para meus filhos ou amigos ou parentes ou ao meu psicólogo, mas logo deixo pra lá, pois vão falar que tudo foi obra da minha imaginação, afinal, ganho a vida vendendo rabiscos, então não os poderia culpar quando me brindassem com a seguinte frase: Você inventou isso!
E é bem por esse motivo que nunca contei o ocorrido para ninguém, mas isso não me impede de compartilhar um texto anônimo na Internet... Quem sabe alguém dá crédito ou veracidade para a história?
Se me recordo bem, eu tinha uns oito anos e morava com minha família numa fazenda afastada da cidade. Estávamos na década de 70 e a energia elétrica ainda não fora instalada em nossa propriedade, então a nossa diversão quando a noite chegava era sentar junto ao fogão de lenha com os adultos e ficar ouvindo suas histórias.
Numa noite meu avô, pai do meu pai, já bem velhinho e com uma barba branca grande e que cobria todo seu rosto, era o contador nomeado da noite. Ele nos estava visitando naquele início de primavera pela última vez, pois um mês depois acabaria falecendo dormindo, sendo convocado pelo Deus Maior para o merecido descanso, de uma vida toda só de trabalho, assim dizia minha mãe. Mas naquela noite em questão ele nos brindou com uma história de Natal, cujo final eu e meus dois irmãos caçulas gêmeos conhecíamos de cor e salteado: seja um bom garoto e vai ganhar um presente especial do Bom Velhinho...
Tem algo que preciso contar: eu não era uma criança muito fácil de lidar, não que eu fosse rebelde ou malcriado, mas era bem teimoso e quieto, como alguns garotos dos sítios do interior costumam ser, mas o meu avô me compreendia perfeitamente, dizendo que eu herdara todos os seus traços, então mantínhamos uma excelente amizade, e foi ele quem me ensinou a nadar, pescar, ordenhar, cuidar bem da terra e muitas outras coisas que me lembro. Contudo ele também sempre me aconselhou:
Você precisa mudar o seu jeito de ser, senão também vai se tornar uma pessoa que nem eu mesmo fui, até quando me casei: sozinha no mundo, sem amigos, sem ninguém!
Eu até tentava, mas com oito anos acredito que ainda não me empenhava o suficiente para ter algum êxito nisso, então simplesmente seguia com a vida.
Depois que meu avô morreu eu sofri muito, pois como eu disse, éramos muito ligados. O final de ano chegou logo, o país estava passando por mudanças, meu pai não andava muito bem dos bolsos, se é que você me entende, e nos informou com antecedência que aquele Natal seria um pouco mais triste, primeiro pela falta das histórias de meu avô e segundo por necessitarem economizar, então não haveria presentes nesse ano.
Por sermos filhos sensatos, não houve a menor queixa de nossa parte. Montamos uma pequena árvore com um pinheiro colhido na propriedade para simbolizar a data e na véspera do dia 25 de dezembro, fizemos nossa oração em família e fomos nos deitar. Acredito que passava da meia-noite quando uma voz conhecida veio a me acordar. Sentei assustado na cama, ouvi meus dois irmãos roncando, mas fora isso estávamos sozinhos no quarto. Escutei um barulho vindo da sala e acreditei que era um dos meus pais, então me levantei para tomar uma caneca de leite puro.
Ao sair para a sala vislumbrei um homem vestido de vermelho parado em pé em frente do pinheiro que plantamos numa caixa de madeira e que se encontrava no meio do cômodo. Creio que ele me ouviu chegar e se virou na minha direção. Era o meu avô que me disse sorrindo: Feliz Natal meu filho...
Recuei assustado para o quarto, depois tomando uma coragem que ainda não sabia que existia em mim, voltei para a sala, mas esta agora se encontrava vazia. Balancei a cabeça com força, tendo certeza de que andara dormindo até ali e imaginara coisas, então fui até a cozinha, tomei meu leite e voltei voando para a cama, acordando somente na manhã seguinte por volta das 6 horas.
Antes de sair para tirar leite, encontrei minha mãe toda contente, que me presenteou com um abraço, coisa meio rara entre nós.
Parece que o Papai Noel nos visitou...
Fui entender o que ela estava falando quando vi pedaços de embrulhos de presentes espalhados pela sala. Ao pé da nossa improvisada Árvore de Natal, apenas um presente sobrava. Um pequeno cartão identificava o destinatário: Para quem tem mais valor!
No fim meu pai pensou que minha mãe tinha dado um jeito de comprar os presentes e fazer aquela surpresa e minha mãe, por sua vez, pensou o mesmo de meu pai. Só eu sabia a verdade dentro do meu coração, ao desembrulhar o presente e encontrar lá dentro uma foto minha com meu falecido avô, que se fantasiara do Bom Velhinho que fora durante toda a sua vida e viera, de alguma forma que jamais saberei explicar, nos fazer uma última visita no Natal.
Eu sei, você vai me dizer: Você inventou isso! afinal, eu sobrevivo de rabiscos, mas no fundo, bem no fundo, certeza mesmo você não vai ter, principalmente se conseguisse me ver agora, que estou tão próximo do ponto final desta história, com os olhos úmidos de emoção...