🤔 Para Refletir :
"Não descarte uma ideia aparentemente ruim, pode ser apenas o efeito do spoiler."
- Frank

História de um Observador

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Kaza Guruma
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11 de Setembro de 2014
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Pode parecer algo egoísta da minha parte, mas eu odeio trabalhar. Na verdade, prefiro ficar em casa, dormindo, assistindo futebol na televisão do que trabalhar. Não trabalho porque gosto, trabalho porque preciso. Na verdade, a maioria das pessoas pensa assim. Se fosse bom não se chamaria trabalho, se chamaria comer/dormir. Um dia, eu pensei: Não vou trabalhar hoje, realmente não estou a fim de trabalhar. Amanhã, eu dou qualquer desculpa pro meu chefe, e fica por isso mesmo, pois ele não se importa muito comigo. E foi assim que eu fiz.
Fiquei deitado na cama durante as primeiras horas do meu dia. Não me pareceu a coisa mais legal de se fazer. Ficar olhando pro teto, imaginando que aquele teto não existisse, e que eu estivesse olhando pro céu estrelado de uma manhã ensolarada. Isso sim seria mágico. Após algumas horinhas deitado, sem fazer nada (já estava começando a cochilar), resolvo levantar-me. Tomo um café, e saio na rua para dar uma volta, e ver se faço algo de útil, ou algo mais produtivo (falou o cara que não quis ir trabalhar). Visto uma roupa simples, e saio na rua, e começo a andar como quem não quer nada. Quando eu menos percebo, já estou longe de casa, mas não me importo.
Depois de andar bastante, e decidir aonde ir, penso em ir numa floresta na região sudeste da minha cidade, lá parece um bom lugar para passar um tempo. Ao entrar, vejo que não há muitas pessoas, pois numa manhã de segunda não devia realmente haver muitas pessoas, pois a maioria delas estaria trabalhando. Neste momento começo a perceber o quão irresponsável era minha atitude de não ir trabalhar, e que eu deveria realmente estar trabalhando, para talvez garantir uma promoção até o fim do ano, mas já era tarde demais. Se eu aparecesse na empresa agora, causaria mais ódio por parte do meu chefe, e eu teria que inventar uma desculpa pro meu atraso, que, creio eu, é mais complicado do que inventar uma desculpa pra minha falta. Pensei em talvez chegar lá e falar a verdade, talvez isso fizesse o chefe acreditar em mim, e saber que sou uma pessoa verdadeira, porém ele também saberia que sou uma pessoa preguiçosa, e sem comprometimento nenhum com meu trabalho, preferindo fazer outras coisas fúteis ao invés de cumprir minha obrigação. É uma faca de dois gumes, mesmo eu acreditando que seria bem pior ele achar que sou uma pessoa preguiçosa e sem comprometimento do que uma pessoa mentirosa. E pode ser que ele nem descubra que meu motivo se tratava de uma mentira. Mesmo que eu saiba que é um tremendo clichê conhecido por todos, inventar motivos fúteis para não ir trabalhar. Não sou a única pessoa preguiçosa, e sem comprometimento com meu trabalho que existe. Isso me faz sentir menos mal, mas também me faz sentir triste.
Fiquei muito tempo andando na floresta, e pensando em possibilidades, o que aconteceria se eu tivesse ido pra empresa, se eu tivesse contado tal história, ou não tivesse contado, que eu nem percebi para onde eu estava indo, e notei que estava fora da trilha, e já tinha me perdido. Deu um mínimo desespero no começo, então toquei meu bolso e procurei meu celular para acessar o GPS e tentar me encontrar, mas o celular não estava lá. Percebi que não havia trago o celular, e percebo o quão burro eu fui. Dei um soco na minha própria cabeça, e comecei a olhar pra trás pra ver se conseguia ver a rua, ou barulho de pessoas, e nada. O que fazer? O que fazer? Resolvi então voltar pelo caminho que eu vim, e perceber que a trilha se dividia, e num certo ponto eu já a tinha perdido. Comecei a me desesperar. Pensei, suspirei, e pensei novamente: Calma, basta eu seguir minhas próprias pegadas, e voltarei onde eu estava. Aí eu percebo que há várias pegadas diferentes. Começo a comparar cada pegada com a de meu sapato, e voltar, mesmo que num ritmo ridículo, aos poucos. Mas as pegadas começam a se embaralhar, os sapatos parecem tão semelhantes, e eu começo a perceber que nada disto estava funcionando. Penso: Tudo bem, preciso enxergar por onde eu vim. Subo numa árvore grande, e tento enxergar o ambiente. Porém, como estou numa floresta de grandes pinheiros, o primeiro galho fica a quase 3 metros de altura. Isso é inútil. Tento me segurar no tronco da árvore e subir até o galho mais próximo como uma cobra (ou quase), mas caio no chão e falho miseravelmente. Então, faço a única coisa e a mais inteligente restante. Começo a gritar e correr.
- SOCORRO! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE! EU ESTOU PRESO NO MEIO DA FLORESTA! – Grito tão alto, que chego a ver pássaros voando. Mas nenhuma resposta. Então, aceito os fatos e continuo andando para qualquer direção, e ver se consigo encontrar a saída. Ando durante a manhã e a tarde. E parece que não faço progresso nenhum. Eu me desespero, já estava escurecendo e eu ficava cada vez mais preocupado. Já imaginava que qualquer animal poderia me aparecer na mata e me matar, quando eu estivesse despercebido.
Fico cansado e ofegante, depois de tanto andar pela mata sem resultado, minha visão ficava embaçada, mas vejo algo que me parece ser uma espécie de miragem, mesmo que eu não estivesse num deserto. Vejo uma cabana, sim uma cabana. Pode estar abandonado e podia ser algo perigoso, mas eu não me importava. A luz estava acesa, então tinham pessoas dentro, e eletricidade. Eu estava salvo afinal de contas. Corro direto para a cabana e abro a porta. A primeira coisa que vejo, é um caipira com chapéu de palha, barba malfeita em cima de um banquinho apavorado. Quando ele me vê, ele grita:
- A...A...A... COBRA! – E então, quando eu menos percebo, a boca enorme de uma cobra aparece na minha visão, e ela avança no meu rosto. Essa foi a última coisa que eu vi.
E então, eu acordo assustado, e levanto da cama, ofegante, implorando por minha vida, e acalmo, pensando: Era só um sonho, ufa. Começo a respirar aliviado, e pego meu celular. Vejo que é segunda-feira, e eu tinha que ir trabalhar. Pode parecer egoísta da minha parte, mas eu odeio trabalhar. Na verdade prefiro ficar em casa, dormindo, assistindo futebol na televisão do que trabalhar. Não trabalho porque gosto, e sim porque preciso. Por vezes, eu reclamo do trabalho, mas realmente, trabalhar é a melhor coisa que eu poderia fazer naquele momento. Então eu levantei, tomei café e fui assistir um pouco de televisão para ficar informado antes de ir pro trabalho.
Ao ligar a televisão, estava passando no noticiário, que cientistas concluíram um trabalho em segredo, que mudaria a história da humanidade. Eles estavam comercializando um produto, que aumentaria bastante sua expectativa de vida.
- Exatamente, este produto é maravilhoso. Ele vai aumentar sua expectativa de vida magicamente, o nome dele é X-Life. Nosso produto é incrível, é uma revolução mundial, está tendo milhares de compras por segundo, a população mundial está amando este produto, funciona mesmo. Acesse nosso site que está aparecendo aí na tela, e adquira já o seu. As primeiras sete bilhões de pessoas que comprarem nosso produto ganham 50% de desconto, vai perder?
De começo, achei que era uma tremenda mentira, pensei um pouco e resolvi acessar por mera curiosidade. Vi que o preço estava extremamente em conta, decidi comprar.  Talvez fosse algo impossível para as pessoas, mas como a ciência evolui como um flash de luz, isso poderia sim ser possível.
Aguardei o tempo médio de entrega, e ele chegou a minha casa. Eram algumas pílulas, que diziam que eu deveria  tomar 1 por dia durante 1 mês e o produto faria efeito. Resolvi tentar, como sou uma pessoa curiosa que gosta de tentar coisas novas, e comecei a tomar. Depois de 1 mês, o produto acabou, e eu continuei minha vida normalmente. De repente, eu comecei a perceber que meu dedo mindinho começou a sumir, eu fico apavorado, e começo a me desesperar, gritar e chorar.
- Maldito remédio! Eles que fizeram isso, vou ligar imediatamente. – Eu gritei, apavorado e comecei a ligar, porém o número não atendia. Naquele momento, começa um comunicado na televisão de um homem mascarado dizendo:
- Todos vocês que tomaram o X-Life, estão amaldiçoados. Nem desconfiaram de nosso produto, creio eu. Nosso produto foi vendido para 6.5 bilhões de pessoas, que desejaram ter uma expectativa de vida maior. Agora devem estar percebendo que seu corpo está sumindo. Pois bem... O que queremos, é poder sobre todas as nações do mundo. Podemos controlar a velocidade com que o X-Life se espalha por seu corpo, as partes afetadas pelo mesmo, entre outros fatores. Se todos os presidentes do mundo não me aceitarem como novo líder mundial, juntamente da equipe X, farei toda a população desaparecer. Estão avisados. – E acaba a transmissão. Eu congelo por alguns segundos, mas logo depois que cai a ficha, eu choro cada vez mais alto do que antes, e percebo como eu fui idiota de cair em algo desse tipo. Fico extremamente aterrorizado no começo, não consegui dormir nas primeiras noites, imaginando a que nível a ciência chegou, e que existem pessoas tão malignas neste mundo.
A vida de todas as pessoas não somente na minha cidade, mas em todo o mundo se transformaram num instantâneo terror. As pessoas choravam, sofriam, gritavam na rua, o mundo não tinha mais paz. A taxa de suicídio havia aumentado em 150%. Porém, havia as pessoas que não foram atingidas pelo produto, porque simplesmente não compraram. Talvez por motivos financeiros ou por simplesmente desconfiar da procedência daquele produto, mas estas pessoas eram pouco a pouco sendo forçadas pela Equipe X.
Meses depois outro comunicado aparecia na televisão, novamente de um dos membros da Equipe X. Ele dizia:
- Realmente, ser o novo líder mundial parecia ser algo extremamente divertido, mas depois de algum tempo vira extremamente entediante, pois não há nada para fazer ou conquistar. Dessa vez, eu irei tornar isto mais divertido. Reverteremos o efeito do X-Life, abandonaremos nossos cargos como líderes mundiais, e nos explodiremos no espaço sideral, caso apareça alguém digno o suficiente de nos vencer numa partida de videogame. 1 contra 1. Quem poderá nos vencer, ou queira assistir o show de terrores, venha para os Estados Unidos, na Praça Mundial na pacata cidade de BadBreath. Encontre-nos lá. Adeus. – E o comunicado é encerrado. Pensei um pouco, e então decidi ir até a Praça Mundial em BadBreath para assistir os competidores enfrentarem a Equipe X.
Então, eu fui ao banco pegar minhas economias para comprar uma passagem para os Estados Unidos. Não estava muito barata a passagem devido a quantidade de pessoas que queriam assistir, ou os mais corajosos que queriam participar do espetáculo, e talvez salvar o mundo. Então, eu saí de casa e vi que a fila estava tão grande que começava do outro lado da cidade, e passava pela minha rua. Realmente, a fila estava enorme, de pessoas somente da minha cidade querendo ir ao banco. Resolvi então levar algum dinheiro para comer, e um saco de dormir para passar a noite na fila.
Realmente, a fila demorou. Distraí-me bastante no celular para passar o tempo, jogando alguns joguinhos instalados nele, sentado na cadeira de cada estabelecimento que aparecia no meu caminho. Infelizmente depois de um tempo, a bateria acabou. E eu me diverti olhando para os pés das pessoas, com um dedo faltando ali e acolá, e isso me fez ficar com vontade de rir, mas tentei muito segurar o riso e me manter sério até chegar minha vez na fila.
Passaram-se dias, e finalmente chegou minha vez de ir ao banco. Saquei algum dinheiro, e fui comprar a passagem, e adivinha? A fila também era longa. E foram mais alguns dias esperando naquela fila para comprar a passagem de avião. Felizmente, deu tudo certo e eu pude fazer minha viagem para assistir a competição.
Tinha muita gente, obviamente, só se ouvia vaias, gritos, e pessoas desejando boa sorte para os participantes em várias línguas diferentes. Decido ir para a fila de participantes que estava mais vazia, mesmo que eu fosse obrigado a participar da competição, certamente eu teria uma visão melhor do que a plateia, que parecia um estado de futebol dez vezes aumentado. E então começa a competição, e o líder da Equipe X começa a falar, em inglês:
- É isso aí, pessoal! Vai começar a grande competição! Temos ali, nossos queridos competidores, se algum deles me vencer no videogame, a Equipe X se explodirá no espaço, e o mundo será de vocês novamente, e os efeitos da X-Life serão revertidos! – A plateia vai a loucura, não no bom sentido, eles realmente vão a loucura, começam até a jogar coisas. Um deles joga uma espécie de vidro de veneno no membro da Equipe X, e o mesmo faz uma careta, e mexe numa máquina, fazendo o atrevido que jogou o veneno perder uma perna.
- O próximo que jogar algo perde o braço direito! – O líder da Equipe X ameaça, e todos ficam calados e apavorados.
- Certo, agradeço a cooperação de todos, que venha o primeiro competidor! Gean Desejos! Um nome tanto quanto esquisito, mas pode vir. – O segurança abre a porta da arena, e Gean senta na cadeira e pega o controle. Então, o líder senta na cadeira, e começam a jogar um jogo de luta. As pessoas olham furiosamente para Gean, como quem quisesse dizer: Você não pode perder. Socos, chutes e “Radouquens” são lançados, e Gean vence a primeira rodada! As pessoas vibram, gritam, agitam placas com frases como: “Gean, graças a ti serei feliz, vencerás a Equipe X” e coisas semelhantes.
- Você é bom no controle, hein. Acredito que isso faça sentido. Vamos para a segunda rodada! – Disse o líder. E começa a segunda rodada, mais frenética do que a primeira. O líder discretamente coloca um ponto eletrônico no ouvido, porém ninguém percebe. Somente as pessoas que estavam na fila da competição, que tinham uma visão melhor. Então, eu pego um dardo jogado no chão que alguma pessoa estava planejando acertar a Equipe X, e jogo diretamente no ponto eletrônico, acertando de uma forma inacreditável, e o ponto eletrônico para de funcionar, e o dardo cai no chão antes que o líder percebesse. E felizmente, o líder começa a ficar em desvantagem sem seu ponto eletrônico, e começa a perder. Gean fica confiante, aperta vários botões em ordem aleatória, e vence a partida! Todos começam a gritar loucamente seu nome, jogar beijos, gritam tão alto que chego a quase ficar surdo.
- Tudo bem, calem a boca! Eu nem gostava desse mundo mesmo, adeus. – O líder diz, e juntamente da Equipe X, desativam a máquina que faz o X-Life funcionar, e entram num foguete, e decolam. Todos olham atentamente e com a boca aberta, o foguete subir, e explodir no espaço sideral. Ele explode como um fogo de artifício escrevendo as seguintes palavras no céu: “Aprendam a não comprar qualquer coisa idiota na internet!”. E todos aplaudem olhando pro céu, e começam a comemorar sem parar. O corpo das pessoas começa a voltar ao normal, e tudo volta a ser como era antes. Festas acontecem sem parar em todo o mundo, durante semanas, e em alguns lugares até durante meses. E é assim que termina nossa história completamente sem sentido, que eu não fui um herói, tão pouco um protagonista importante, apenas sou a pessoa que viu todos estes fatos, e está contando agora. As histórias continuam vivas graças às pessoas que as mantém assim, passando para frente os acontecimentos. E não se sabe se as histórias são verdadeiras ou não. Porém, na imaginação de cada um, qualquer coisa pode ser verdadeira.
 
Muito bom e muito louco o texto.  No começo achei que era uma crônica -fenomenal diga-se de passagem-  e a sua explicação sobre a gente odiar o trabalho foi extremamente verdadeira, quando você volta pra mesma sequência que usou na abertura ficou ainda melhor. Depois que o cronista acorda parece que eu estava vendo um filme do Tarantino, que coisa mais WTF, muito bom, tamanha a viagem sobre Equipe X e o produto que não faz a não ser amaldiçoar.
Ótimo texto.
 
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