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Histórias de Mediterra: O Andarilho

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10 de Outubro de 2019
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H i s t ó r i a s  d e  M e d i t e r r a
— O Andarilho —

Em seu vigésimo sexto ciclo mais alguém arrancava suas raízes. Cansado do descontentamento pelas frustrações e humilhações, mais alguém se distanciava do conforto daquele que já não era mais o seu lugar. Carregado pelos ventos do acaso, desapareceu nas florestas, se tornando um andarilho de instintos fragilizados. Consumido pela necessidade.

Suportou dias. Sufocando a vontade de voltar. Estava tão distante a ponto de o retorno sequer ser uma opção. O delírio lhe fazia acreditar que a experiência surgiria inesperadamente, tornando-se um solitário caçador. No entanto, a cada noite a natureza selvagem sussurrava sons que invadiam sua mente debilitada.

As dores no corpo testavam os limites da sua resistência. Mesmo sem rumo, ele continuava. Não bastava sobreviver, pois em alguma coisa sua alma ainda acreditava.

A chuva diluía suas preocupações.

Recostado no vão de uma grande árvore, notava-se que seu corpo exalava o que parecia ser vapor.

Ele só tinha olhos para a correnteza perto dali. Pensou que poderia deitar de costas nela, deixando as águas o levarem para qualquer lugar. Mas não queria afundar, bastava ser levado para cada vez mais longe.

Os membros ignoravam seus comandos mentais, sua última chama parecia se apagar em meio a tanta chuva. Estava tudo bem. Ficar ali e de repente se unir com a própria árvore, sentindo-se vivo novamente.

Seu corpo se superaquecia involuntariamente com a sensação de estar queimando sob a pele. Olhos para o céu com as pálpebras cansadas, avistava relâmpagos dançando entre as nuvens e ouvia as trovadas se espalhando por toda a atmosfera local.

O olhar fixo presenciou um raio escapar em direção a árvore. O tronco flamejante caiu a poucos metros de si. Aquela chama ganhou sua atenção, por em plena tempestade continuar a queimar.

As mãos se movimentaram primeiro. Em seguida os braços. As pernas. Por fim os pés feridos. Calmamente o vagante se aproximou do tronco. O calor lhe confortava. Estendeu os braços na direção das chamas. As mãos sentiam a combustão ardendo-as até os ossos, sem despedaçá-las, ao contrário de seus trapos cujas extremidades queimavam ou se encolhiam perante aquela fonte de calor.

Ele aproximou-se ainda mais quando subitamente um novo raio despencou dos céus atingindo-o diretamente. Por alguns segundos pareceu se ajoelhar perante o tronco, antes do seu corpo desabar.

Mais tarde a tempestade cessou. A correnteza voltava a seu fluxo natural. Todo o ambiente ao redor rapidamente retornou ao seu estado regular, mesmo com sequelas inevitáveis.

Em algum momento, o tronco carbonizado fora arrastado para as margens do riacho, pedaços se desprenderam, no entanto, o seu cerne permanecia firme à terra, com aquele corpo inconsciente, repleto de queimaduras aparentemente superficiais, agarrado a ele.

Os primeiros raios de luz alcançaram a floresta que pouco a pouco consumia aquele corpo. Criaturas locais ignoravam-no. Insetos o atravessavam como um obstáculo comum. Sinais vitais presentes, mas talvez ele não quisesse mais acordar. De olhos ainda fechados, permaneceu imóvel mesmo quando ouviu passos suaves esmagando folhas e galhos.
A presença não lhe parecia hostil. Deixou-a tocá-lo sem demonstrar reação. Ela continuou, dessa vez sem evitar passar os dedos pelos ferimentos daquele homem que imediatamente reagiu com discreto desconforto. "Ele está vivo, precisa de ajuda!" Gritou a garota, com um tom sério, levantando-se em direção aos recipientes cheios de água deixados à margem do riacho. Em resposta, um barulho de sino ecoou. O homem caído se levantou devagar. A luz fez seus olhos arderem. Acompanhou a garota de baixa estatura, vencendo a vegetação com os braços até uma sinuosa estrada de terra surgir diante deles.

Havia um homem velho ao lado de um cavalo que carregava peças metálicas de diferentes formatos e tamanhos. Notava-se que uma de suas patas era feita de algum tipo de metal.

A garota arrastava uma caixa larga, relativamente rasa, onde havia depositado os recipientes de água selados. Pequenas rodas ajudavam a deslizá-la na superfície pedregosa.

— Me chamo Hasgan. — Interrompeu o constante silêncio durante a caminhada.

— Sou Hatisui. Barden. — Respondeu a garota, apontando para o cavalo — e Hugo. — Olhou para o velho.
Novamente ouviam-se apenas os seus passos e o leve tilintar do sino, a cada trote do cavalo.

Vários minutos se passaram sob o sol que não incomodava mais ninguém. Estavam cada vez mais próximos de uma cidadela murada, cujas fortificações mostravam sérios sinais de desgaste. Em seu interior haviam ruas sinuosas, estreitas em alguns pontos. Via-se estabelecimentos de diferentes especialidades por toda a parte dividindo espaço com residências.

Hugo e Hatisui conversaram com diferentes pessoas. Hasgan sentiu olhares sobre si e decidiu se afastar dali. O cavalo o acompanhou serenamente.

Circulando com suas roupas surradas, observava tudo ao seu redor, cada vez mais indiferente ao que pensassem dele. A barriga doía mais do que qualquer outra coisa.

Pouco depois voltou para onde o velho e a menina estavam. Não os encontrou no mesmo lugar, mas ele seria encontrado longe dali, encolhido na cela de uma prisão abandonada assim como o cavalo Barden, parado próximo às grades voltadas para a rua principal.

— Fique com essas roupas, devem servir. — Disse a menina, entregando vestimentas nas mãos de Hasgan.

— Porque estão me ajudando?

— Ouvimos falar sobre um desconhecido que vive nas florestas e que tem ajudado algumas pessoas.

— ...

Hasgan continuou a ouvi-la atentamente, comendo pedaços de pão e bebendo chá. Ela comentava sobre uma jovem sacerdotisa que foi transferida para outra cidade e pouco tempo depois surpreendida por indivíduos hostis durante uma meditação na floresta. Mas antes que o pior acontecesse, foi salva por alguém com os punhos flamejantes.

— ...e depois ela foi encontrada por aldeões nos arredores de Nancledra.

— Nancle... dra. — Hasgan balbuciou.

— Vamos várias vezes para lá, é a maior cidade na região.

—Venho de Columa, um vilarejo do leste.

— É bem distante.

— Não sei a quanto tempo estou vagando...

Hatisui se movimentou rumo a um baú, retirando dele largos papéis pardos e os apresentou a Hasgan. Ela explicou que
eram mapas de localidades próximas que estava desenvolvendo, além de desenhos com cálculos e especificidades de
peças e maquinários com os quais Hugo trabalhava.

— Obrigado... pelo alimento e pelas roupas. — Falou enquanto tateava os projetos artesanais da garota.

— Era de um rapaz que nos ajudava.

— E onde ele está?

— Certo dia ele simplesmente desapareceu, deixando seus pertences para trás. Não demorou para descobrirmos que
havia se juntado com bandidos.

Semanas passaram depressa. Hasgan adquiriu noções de mecânica com Hugo, ajudando-o nas visitas periódicas a diversos clientes. O velho não falava. Um detalhe que dificultava negociações tal como explicações necessárias sobre problemas, reparos, novos mecanismos, mesmo assim conseguia se virar, mesmo sem a presença da sua ajudante.

Após um difícil trabalho em Nancledra, Hugo e Hasgan decidiram partir somente no dia seguinte. Barden, o cavalo, foi deixado num estábulo, com a gentileza de um cliente. Não longe dali a dupla se instalou numa pensão. O velho logo dormiu, mas o andarilho ainda enfrentava problemas para descansar à noite.

Andou pela cidade sem que nada lhe interessasse até avistar um homem preparado para incendiar um estabelecimento. Seus olhares se cruzaram, Hasgan manteve-se na mesma distância. Elevou um dos braços com a mão aberta na direção do indivíduo transtornado que segurava uma garrafa meio cheia e uma tocha. O fogo cresceu subitamente, assustando-o. O homem se jogou para dentro da loja a qual rapidamente foi consumida pelo fogo.

Hasgan correu para o estabelecimento, resgatando o homem ainda com vida. Instintivamente voltou para o local, lidando com as chamas o suficiente para facilitar a chegada dos locais com baldes de água.

"Além de louco é incendiário!"
"Como esse cara não se queimou?"
"Deveriam ter deixado ele preso!"
"Prendam os dois! Não sabemos quem começou!"

Os exaltados falavam sem parar.

O andarilho se sentiu acuado com tantos olhares e vozes direcionados a si. O corpo se aqueceu intensamente ao ponto de não conseguir mais conter as chamas que cobriam totalmente seus braços. Entre os presentes, estava Hugo, o único para quem olhou fixamente. Eles observaram a emanação daquele fogo na pele do vagante. As fagulhas nas roupas se soltavam no ar quando corria para longe dali.

Próximo de uma das saídas da cidade, um indivíduo misterioso, somente com os olhos a mostra, estendeu a mão impedindo sua passagem. Com a outra, apontou na direção do único templo da cidade, a poucos metros dali. Hasgan avistou uma mulher jovem os observando, parada em frente a uma grande porta dupla de madeira.

No dia seguinte, Hugo e Barden retornaram com a companhia de um mercador. E Hasgan despertou nas acomodações de um templo. O silêncio na alcova lhe agradava.

— Espero que tenha conseguido descansar — Disse a sacerdotisa.

— Pensei que eles iriam me perseguir.

— Não posso garantir que não vão.

Um homem baixinho adentrou o local. Carregava algumas vestimentas e acessórios dentro de um caixote.

— Monja! Monja! A benção deu certo! Pela primeira vez tudo correu bem.

— Fico contente por isso, Cédric. Entretanto, Bronstom sabe que não deve se acostumar. Não compactuo com as
atividades de vocês.

— O monge anterior sempre nos ajudou.

— O Sr. Ildegard não mais administra este templo, Cédric.

Hasgan observou o baixinho deixar o caixote perto do altar. E saiu resmungando pelo mesmo caminho de onde veio.

Dias se passaram sem se comunicar com Hatisui ou Hugo. Durante todo aquele tempo não saiu das dependências do local. Apenas ajudava a sacerdotisa Catarina com as sessões e rituais diários, e em troca recebia ensinamentos sobre a religião de culto à Luz.

Numa noite chuvosa, um homem alto e corpulento adentrou forçadamente o recinto. Deparou-se com Hasgan. Ambos se entreolharam. O silêncio seria quebrado alguns instantes mais tarde com a presença inesperada de Catarina.

— O que faz aqui, Sr. Bronstom?

— Soube que o Cédric se sentiu ameaçado quando trouxe os nossos pertences para serem abençoados.

— Pensei que ele tivesse entendido o recado na última vez que aceitei realizar a benção.

— Desde que o Ildegard saiu daqui você só fez uma única vez! E ainda jogou nossos pertences na rua!

— Pare de gritar. — Disse Hasgan.

— QUEM é você?

— Volte para seus aposentos Hasgan.

— Tem certeza? — Respondeu, sem parar de encarar aquele homem.

— É esse cara aí que ameaçou o Cédric? Ele mencionou que você tem acobertado esse incendiário!

— Vá embora, Sr. Bronstom.

— Vocês não vão durar muito tempo aqui! — Exclamou antes de desaparecer.

— Quem é ele?

— Não se envolva, Hasgan. É um pirata. Muito influente por aqui.

Ele assentiu com a cabeça.

Aquela situação não o agradava mesmo sendo melhor do que nada. Ás vezes pensava em fugir para a floresta novamente, no entanto aquele ambiente que o cercava lhe trazia alguma paz. Todos os pensamentos desenfreados haviam desaparecido. Inclusive aqueles acerca do seu próprio poder.

Pela primeira vez sentia genuína falta de Hatisui. As atividades com Hugo também lhe ocupavam de forma bastante satisfatória. Tudo parecia efêmero exceto seu próprio fogo.

Giorgio Bronstom e seu bando haviam abandonado por tempo indeterminado as garantias de proteção a maioria dos estabelecimentos da cidade, permitindo a incursão de gangues rivais. Por consequência, a criminalidade cresceu durante um tumultuado processo de transição política.

Mesmo com a expansão de luminárias mais modernas pela cidade, quase todos os residentes e viajantes evitavam aparecer nas ruas aos primeiros sinais da chegada da noite.

Catarina e Hasgan mantiveram-se alheios ao templo que recebia eventuais ameaças de criminosos. Mesmo com a presença do andarilho, a sacerdotisa não mais conseguia ocultar sua preocupação.

Eventualmente Cédric apareceria, dizendo que Bronstom e aliados partiram rumo a uma ilha de difícil acesso, onde supostamente haviam artefatos valiosos escondidos nas ruínas de um santuário.

— A quanto tempo eles estão fora? — Hasgan indagou.

— Dezesseis dias! As provisões já devem ter acabado!

— Pode ser uma armadilha, Catarina.

— Se ele quisesse pegá-lo, já o teria feito! — Respondeu Cédric.

— Ok. E o que acha que podemos fazer em relação a isso?

O baixinho chamou a sacerdotisa para conversar reservadamente.

— Eles precisam de você, Hasgan... — Disse Catarina.

— ...

— É isso mesmo. Estou recrutando alguns desgraçados para a viagem. Você seria uma boa ajuda.

— Porque eu?

— Não há mais em quem confiar aqui! Apesar disso, graças a mim ainda não invadiram esse lugar!

— É verdade... — Catarina olhou para Hasgan. — Cédric conseguiu negociar com eles, mas a qualquer momento podem
mudar de ideia.

— E você, como fica? — Hasgan perguntou já saindo pela porta de entrada.

— Se quiserem invadir, saquear, destruir que façam... esse lugar continuará sagrado e a ser guardado por mim.

A viagem para a ilha ao norte durou três longos dias. Avistaram o navio de Bronstom encalhado num rochedo.
Rapidamente os poucos piratas que ali estavam se acomodaram na embarcação de Cédric.

Disseram que Bronstom e os outros haviam se deslocado até a pequena ilha com as únicas barcaças inteiras que
possuíam, posteriormente avistadas na faixa de areia.

Apesar das circunstâncias, o debilitado capitão ainda acreditava que conseguiria levar os objetos encontrados nas
ruínas para as principais cidades mercantes de Kastan.

— Chegou em boa hora! Venha dar uma olhada no que encontramos! Mas se achar algo de valor terá que passar pelas minhas mãos! — Gritava Bronstom para Hasgan que tentava não se incomodar.

Hasgan admirou as ruínas e o céu que pairava sobre elas. A estrutura era grande, com entradas obstruídas, alguns pilares que ainda resistiam, uma praça central com uma enorme cratera, tomada pela vegetação a escorrer para dentro da abertura. Aproximou-se de um dos aposentos que cuja entrada estava tomada pela escuridão. Um silêncio amedrontador tomou conta dos seus ouvidos. Voltou-se para trás, mas seu corpo foi impelido no sentido contrário.

— E não volte sem algum tesouro! — Bronstom gritou.

O andarilho caiu no buraco ocultado pelo escuro. Não demorou para atingir o limite daquela área subterrânea. Algum tempo mais tarde, viu-se obrigado a produzir chamas com suas mãos para se localizar.

Havia uma escada vertical de madeira em bom estado do outro lado da sala subterrânea a qual deduziu que servia como acesso ao espaço secreto. No lado oposto, notou uma enorme fenda na parede. Instintivamente passou por ela, esforçando-se para atravessar aquele caminho apertado. Finalmente liberto, viu-se dentro da cratera presente na praça.

No meio de tanta vegetação, percebeu uma estranha formação de cristal que guardava um corpo adormecido. Mais de perto teve a certeza de que era uma mulher submersa em algo aparentemente fluido no interior do cristal envolto de raízes e plantas.

Com a chama em um dedo, tocou a formação que se desfez a sua frente. O corpo da mulher escorreu com o líquido para fora do cristal que lentamente se desintegrou.

Uma chuva começou a cair.

Naquele momento, Hasgan não queria estar em nenhum outro lugar.

[size=14pt]Continua...


. . .

Observação:
Esta é a primeira de três pequenas narrativas complementares.

Não é dos melhores textos que já escrevi, mas fiz o possível para contar brevemente uma das histórias ligadas ao universo do projeto em andamento "Outer Heart: Void's Whispers".

Agradeço a leitura de quem se interessou. No mais, peço desculpas em relação a possíveis erros no texto e se não formatei aqui corretamente, por falta de costume em fóruns.

Obrigado.
 
Caaaaaaraca! QUE TEXTO! Apesar de que eu não me surpreendo disso vindo de você! Sempre admirei a sua escrita! Meus PARABÉNS por essa referência e eu já estou ansioso pelas próximas partes!
 
Prezado, bom dia!


Inicialmente, gostaria de lhe dar os parabéns por retirar a ideia da cabeça, passar para o papel e, principalmente, por expor ela publicamente. Pode parecer algo simples, porém sabemos o quanto difícil é conseguir lutar contra si mesmo para finalizar uma história. O primeiro passo você já deu, agora basta você não desanimar e continuar escrevendo que logo terá uma boa e completa obra. Força!

Se me permite, gostaria de tecer alguns comentários sobre esse capítulo da história. Destaco, desde logo, que a intenção não é desmerecer sua obra, muito pelo contrário, apenas dedico o meu tempo para escrever esses comentários por acreditar que você poderá evoluir como escritor. Sinta-se à vontade para ignorar todos ou alguns destes comentários.



Gostaria de iniciar esses comentários questionando qual a intenção desta narrativa? Confesso que a construção está bastante confusa. Mudanças abruptas de cenários e situações, quebra espontânea da narrativa, acontecimentos e diálogos superficiais, explicação de eventos banais e não explicação de eventos importantes e a inversão do curso natural da ação são alguns eventos que percebi no decorrer da leitura. Elementos estes que serão destacados nos comentários a seguir.​


??? ORTOGRAFIA ???


Geralmente eu não toco neste assunto, eis que a escrita é parte natural do estudo das regras ortográficas, contudo gostaria de lhe sugerir mais atenção para o uso de ênclise. Existem várias aulas grátis no YouTube que podem lhe esclarecer o uso desta figura e de outras da língua portuguesa. Ninguém nasce sabendo, reconhecer as falhas faz parte do desenvolvimento, a outra parte se faz com trabalho árduo.

Cuidado com os parágrafos, vírgulas e os pontos finais. Existem pontos finais que poderiam ser trocados por vírgula - em prol de uma leitura mais orgânica - e há vírgulas aonde não deveria existir. Quanto aos parágrafos, cuidado na construção. Muitas ideias você inicia em um parágrafo e termina em outro - quando não passa por três ou mais - o que causa uma certa confusão no leitor. Seja conciso, antes de contar uma história você precisa deixar o leitor interessado em ouvir. Seja claro e fale com poucas palavras. Evite floreio desnecessário.​


??? OBJETIVO ???


Qual o foco desta história?

Grande parte das narrativas - principalmente em livros - pode ser resumida pelos diálogos, contudo, percebi que na sua narrativa, apenas os diálogos banais são escritos, por outro lado, aqueles importantes estão bastante resumido, como neste parágrafo: "Ela explicou que eram mapas de localidades próximas que estava desenvolvendo, além de desenhos com cálculos e especificidades de peças e maquinários com os quais Hugo trabalhava". Com esse resumo, você diz ao leitor que a sua personagem não é importante e que o assunto é irrelevante, sequer merecendo a sua atenção. O que não seria tão assustador quando se percebe que você dá mais destaque aos diálogos banais do que aqueles que aparentam levar a narrativa em diante. Com isso, parece-me que nem o contador da história está interessado em contar.

Você perdeu uma grande oportunidade de dar profundidade à personagem com este resumo, este era o momento em que você deveria fazer sua personagem não ser apenas mais um nome-que-deve-ser-decorado-pelo-leitor. Você poderia ter usado deste acontecimento para que a personagem apresentasse a sua paixão ou o desgosto por esse trabalho. Principalmente, levando em consideração que o diálogo anterior foi extremamente superficial.

Tenha em mente sempre um objetivo ao narrar uma cena, por mais banal que a cena aparente ser. Até mesmo em uma conversa de bar entre dois coadjuvantes pode haver informações importantes para o desenrolar da trama. Por outro lado, evite diálogos monossílabos, triviais ou que não levem a trama para frente.

Pergunte-se sempre antes de escrever: O que eu quero passar ao leitor? Como vou passar isso ao leitor? Por que devo passar isso ao leitor? ou seja, tenha sempre em mente qual o real objetivo da cena.

Foque-se nas cenas que avancem na trama, sirvam para construir um personagem ou explicar um evento muito importante para a narrativa. Evite dar foco as trivialidades sem uma segunda intenção. A leitura precisa ser agradável, busque sempre recompensar o leitor por ter lido o parágrafo com alguma informação importante. Em sua narrativa, consigo ver poucas informações importantes e muita informação desnecessária, o que pode levar o leitor em se achar "enganado", por perder seu tempo lendo, e afetar negativamente no interesse em continuar lendo.

Particularmente, em muitos trechos da narrativa, eu me senti enganado, tive a sensação de ler um grande bloco de texto que não acrescentou em nada.​


??? RITMO ???


Para escrever uma narrativa envolvente é importante que você tenha em mente sempre a tensão da cena. Você precisa aumentar a tensão, e aliviar ela, sendo que a frequência destes recursos ditará o ritmo da sua narrativa. Se não há tensão, não há narrativa, trata-se, ao meu ver, de apenas um texto descritivo.

Em um parágrafo você aumenta e alivia a tensão da cena tão rápido que o leitor sequer percebe que se trata de uma cena de ação (uma dica: essa cena envolve fogo), e, nos próximos parágrafos, você retira completamente a tensão e passa para uma escrita descritiva. O texto é longo, porém a tensão é mínima, o que torna a leitura enfadonha. Isso, corroborado por uma descrição confusa, torna o texto cansativo.

Treine as construções literárias básicas antes de partir para as mais complexas. Evite narrar a cena antes de introduzir os personagens que a integram, pois isso deixa o texto bastante confuso. As palavras devem servir para guiar o leitor na construção mental da cena, se você narrar a ação sem dizer quem estava participando dela, você prejudica a imagem mental do leitor, e quando você apresenta o personagem após a ação, o leitor precisará voltar no texto para conseguir ligar a ação ao personagem.

Lembre-se, você não deve dificultar a leitura, mas sim facilitar, o seu foco deve ser convencer o leitor em continuar lendo, e não simplesmente apresentar as suas ideias. Você não pode jogar as informações sobre o leitor, você deve convencer ele a ir em busca das informações, recompensando-o pela leitura dedicada.

??? SUPERFICIALIDADE ???


Normalmente não costumo adentrar no aspecto certo/errado da narrativa, limito-me as questões técnicas, contudo, não pude deixar de perceber que a narrativa estava sendo levada por um caminho altamente improvável e conveniente. Dois pontos que acho bastante importante destacar.

Quem é o protagonista? Por que ele tem uma atitude tão passiva com as pessoas ao seu redor? Ele estava ajudando a Hasgan, por semanas, e de repente parece esquecer ela por completo para ficar junto da Catarina, um acontecimento muito conveniente para apresentar os personagens, contudo nem um pouco orgânico na construção dos personagens como "pessoas".

Com efeito, o protagonista não possui qualquer preocupação, responsabilidade ou objetivo ao ponto de resolver perder semanas inteiras acompanhando pessoas completamente desconhecidas? Acredito que se trate de um evento extremamente improvável, principalmente considerando que no inicio da narrativa o personagem é mostrado como alguém que deixou a civilização para viver em meio a selva. É, no mínimo, contraditório.

O que pessoas comuns fariam nessas situações? Será que uma pessoa comum sentiria empatia com os personagens ao ponto de concordar com o rumo que a narrativa está sendo levada? Destaco que estes dois eventos citados não foram os únicos improváveis e/ou convenientes que encontrei durante a leitura.

Na minha opinião, essa superficialidade levada pela extrema conveniência e improbabilidade tornam a narrativa rasa, o que pode ser resolvido apresentando melhor os personagens, expondo as suas fraquezas e demonstrando o real motivo por trás das ações.​



Gostaria de destacar que não quis em momento algum lhe ofender ou desmotivar em seguir na escrita. Essa é apenas a minha sincera opinião, dediquei meu tempo escrevendo esses comentários apenas por acreditar que você poderá melhorar como escritor.

Por fim, recomendaria a ler livros, bastantes livros. Se você quer ser um escritor, saiba que a leitura e a escrita são tão importantes quanto a alimentação. Não deixe de ler nem escrever, e mantenha um olhar técnico sobre a sua leitura, buscando identificar o que o escritor quis dizer por trás de cada um dos parágrafos, como ele disse e por que ele disse. É um exercício bem bacana e vai lhe ajudar a expandir o seu arsenal de técnicas.


Fico no aguardo do segundo capítulo.
Abraços!
 
Dobberman comentou:
Prezado, bom dia!


Inicialmente, gostaria de lhe dar os parabéns por retirar a ideia da cabeça, passar para o papel e, principalmente, por expor ela publicamente. Pode parecer algo simples, porém sabemos o quanto difícil é conseguir lutar contra si mesmo para finalizar uma história. O primeiro passo você já deu, agora basta você não desanimar e continuar escrevendo que logo terá uma boa e completa obra. Força!

Se me permite, gostaria de tecer alguns comentários sobre esse capítulo da história. Destaco, desde logo, que a intenção não é desmerecer sua obra, muito pelo contrário, apenas dedico o meu tempo para escrever esses comentários por acreditar que você poderá evoluir como escritor. Sinta-se à vontade para ignorar todos ou alguns destes comentários.



Gostaria de iniciar esses comentários questionando qual a intenção desta narrativa? Confesso que a construção está bastante confusa. Mudanças abruptas de cenários e situações, quebra espontânea da narrativa, acontecimentos e diálogos superficiais, explicação de eventos banais e não explicação de eventos importantes e a inversão do curso natural da ação são alguns eventos que percebi no decorrer da leitura. Elementos estes que serão destacados nos comentários a seguir.​


??? ORTOGRAFIA ???


Geralmente eu não toco neste assunto, eis que a escrita é parte natural do estudo das regras ortográficas, contudo gostaria de lhe sugerir mais atenção para o uso de ênclise. Existem várias aulas grátis no YouTube que podem lhe esclarecer o uso desta figura e de outras da língua portuguesa. Ninguém nasce sabendo, reconhecer as falhas faz parte do desenvolvimento, a outra parte se faz com trabalho árduo.

Cuidado com os parágrafos, vírgulas e os pontos finais. Existem pontos finais que poderiam ser trocados por vírgula - em prol de uma leitura mais orgânica - e há vírgulas aonde não deveria existir. Quanto aos parágrafos, cuidado na construção. Muitas ideias você inicia em um parágrafo e termina em outro - quando não passa por três ou mais - o que causa uma certa confusão no leitor. Seja conciso, antes de contar uma história você precisa deixar o leitor interessado em ouvir. Seja claro e fale com poucas palavras. Evite floreio desnecessário.​


??? OBJETIVO ???


Qual o foco desta história?

Grande parte das narrativas - principalmente em livros - pode ser resumida pelos diálogos, contudo, percebi que na sua narrativa, apenas os diálogos banais são escritos, por outro lado, aqueles importantes estão bastante resumido, como neste parágrafo: "Ela explicou que eram mapas de localidades próximas que estava desenvolvendo, além de desenhos com cálculos e especificidades de peças e maquinários com os quais Hugo trabalhava". Com esse resumo, você diz ao leitor que a sua personagem não é importante e que o assunto é irrelevante, sequer merecendo a sua atenção. O que não seria tão assustador quando se percebe que você dá mais destaque aos diálogos banais do que aqueles que aparentam levar a narrativa em diante. Com isso, parece-me que nem o contador da história está interessado em contar.

Você perdeu uma grande oportunidade de dar profundidade à personagem com este resumo, este era o momento em que você deveria fazer sua personagem não ser apenas mais um nome-que-deve-ser-decorado-pelo-leitor. Você poderia ter usado deste acontecimento para que a personagem apresentasse a sua paixão ou o desgosto por esse trabalho. Principalmente, levando em consideração que o diálogo anterior foi extremamente superficial.

Tenha em mente sempre um objetivo ao narrar uma cena, por mais banal que a cena aparente ser. Até mesmo em uma conversa de bar entre dois coadjuvantes pode haver informações importantes para o desenrolar da trama. Por outro lado, evite diálogos monossílabos, triviais ou que não levem a trama para frente.

Pergunte-se sempre antes de escrever: O que eu quero passar ao leitor? Como vou passar isso ao leitor? Por que devo passar isso ao leitor? ou seja, tenha sempre em mente qual o real objetivo da cena.

Foque-se nas cenas que avancem na trama, sirvam para construir um personagem ou explicar um evento muito importante para a narrativa. Evite dar foco as trivialidades sem uma segunda intenção. A leitura precisa ser agradável, busque sempre recompensar o leitor por ter lido o parágrafo com alguma informação importante. Em sua narrativa, consigo ver poucas informações importantes e muita informação desnecessária, o que pode levar o leitor em se achar "enganado", por perder seu tempo lendo, e afetar negativamente no interesse em continuar lendo.

Particularmente, em muitos trechos da narrativa, eu me senti enganado, tive a sensação de ler um grande bloco de texto que não acrescentou em nada.​


??? RITMO ???


Para escrever uma narrativa envolvente é importante que você tenha em mente sempre a tensão da cena. Você precisa aumentar a tensão, e aliviar ela, sendo que a frequência destes recursos ditará o ritmo da sua narrativa. Se não há tensão, não há narrativa, trata-se, ao meu ver, de apenas um texto descritivo.

Em um parágrafo você aumenta e alivia a tensão da cena tão rápido que o leitor sequer percebe que se trata de uma cena de ação (uma dica: essa cena envolve fogo), e, nos próximos parágrafos, você retira completamente a tensão e passa para uma escrita descritiva. O texto é longo, porém a tensão é mínima, o que torna a leitura enfadonha. Isso, corroborado por uma descrição confusa, torna o texto cansativo.

Treine as construções literárias básicas antes de partir para as mais complexas. Evite narrar a cena antes de introduzir os personagens que a integram, pois isso deixa o texto bastante confuso. As palavras devem servir para guiar o leitor na construção mental da cena, se você narrar a ação sem dizer quem estava participando dela, você prejudica a imagem mental do leitor, e quando você apresenta o personagem após a ação, o leitor precisará voltar no texto para conseguir ligar a ação ao personagem.

Lembre-se, você não deve dificultar a leitura, mas sim facilitar, o seu foco deve ser convencer o leitor em continuar lendo, e não simplesmente apresentar as suas ideias. Você não pode jogar as informações sobre o leitor, você deve convencer ele a ir em busca das informações, recompensando-o pela leitura dedicada.

??? SUPERFICIALIDADE ???


Normalmente não costumo adentrar no aspecto certo/errado da narrativa, limito-me as questões técnicas, contudo, não pude deixar de perceber que a narrativa estava sendo levada por um caminho altamente improvável e conveniente. Dois pontos que acho bastante importante destacar.

Quem é o protagonista? Por que ele tem uma atitude tão passiva com as pessoas ao seu redor? Ele estava ajudando a Hasgan, por semanas, e de repente parece esquecer ela por completo para ficar junto da Catarina, um acontecimento muito conveniente para apresentar os personagens, contudo nem um pouco orgânico na construção dos personagens como "pessoas".

Com efeito, o protagonista não possui qualquer preocupação, responsabilidade ou objetivo ao ponto de resolver perder semanas inteiras acompanhando pessoas completamente desconhecidas? Acredito que se trate de um evento extremamente improvável, principalmente considerando que no inicio da narrativa o personagem é mostrado como alguém que deixou a civilização para viver em meio a selva. É, no mínimo, contraditório.

O que pessoas comuns fariam nessas situações? Será que uma pessoa comum sentiria empatia com os personagens ao ponto de concordar com o rumo que a narrativa está sendo levada? Destaco que estes dois eventos citados não foram os únicos improváveis e/ou convenientes que encontrei durante a leitura.

Na minha opinião, essa superficialidade levada pela extrema conveniência e improbabilidade tornam a narrativa rasa, o que pode ser resolvido apresentando melhor os personagens, expondo as suas fraquezas e demonstrando o real motivo por trás das ações.​



Gostaria de destacar que não quis em momento algum lhe ofender ou desmotivar em seguir na escrita. Essa é apenas a minha sincera opinião, dediquei meu tempo escrevendo esses comentários apenas por acreditar que você poderá melhorar como escritor.

Por fim, recomendaria a ler livros, bastantes livros. Se você quer ser um escritor, saiba que a leitura e a escrita são tão importantes quanto a alimentação. Não deixe de ler nem escrever, e mantenha um olhar técnico sobre a sua leitura, buscando identificar o que o escritor quis dizer por trás de cada um dos parágrafos, como ele disse e por que ele disse. É um exercício bem bacana e vai lhe ajudar a expandir o seu arsenal de técnicas.


Fico no aguardo do segundo capítulo.
Abraços!

Salve! Fiquei feliz por ter dedicado parte do seu tempo para comentar! Reconheço que acabei escrevendo com desleixo, mesmo sem pressão. Serei breve por estar com a mente um tanto cansada nessa semana, mas saiba que prestei atenção em todo o feedback. Estou ainda digerindo tudo sem levar a mal, é claro.

A intenção envolve a apresentação de alguns personagens que serão mencionados no Outer Heart: Void's Whisper (o qual se passa num tempo mais adiante), seja como uma simples referência ou como parte das "origens"/conexões dos personagens principais e outros recorrentes no futuro game.

Uma tentativa de "expandir" as coisas, despertar mais curiosidade, contando pequenas histórias ligadas ao mesmo universo.

Especificamente se tratando dessa história, é sobre os pais de uma personagem principal do game.

Não posso revelar mais ou talvez sim... é que as ideias surgem o tempo todo e sinto a necessidade de aplicá-las de alguma forma, pra alimentar o projeto.

Sobre os apontamentos mais incisivos, não sei o que dizer. Vejo sentido em todos os comentários, eles estão me ajudando a refletir.

Destaco esse trecho um dos mais importantes: "você não deve dificultar a leitura, mas sim facilitar".

Ter utilizado alguns exemplos pra fundamentar seus comentários também, mostra que se atentou aos detalhes, fez um esforço na leitura (apesar de tudo) em troca do meu esforço em produzir e compartilhar essas ideias de aspirante a escritor.

Acho que acabo usando excessivamente uma linguagem subjetiva que no fim se apresenta de maneira superficial. Um dos diferentes pontos a melhorar...

De qualquer forma, muito grato pelo feedback! Não me senti ofendido, foi uma crítica necessária, diria que a mais 'profissional' que já recebi.

De fato é imprescindível ler mais. Me baseio mais em obras audiovisuais, acabo imaginando as coisas como se tivesse locações, atores e vozes a minha disposição pra dar vida a qualquer ideia maluca.

Geralmente só tenho jogado as ideias na folha em branco sem parar pra estudar (e revisar) mais.

Enfim, na realidade, me sinto mais motivado a melhorar e continuar a escrever. "Ser lido" é gratificante. E mais ainda quando vem acompanhado de apontamentos duros e ao mesmo tempo essenciais.

Tomara que curta a segunda parte! Tal como uma eventual v2 dessa primeira.

Valeu, abraço.
 
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