A história que vou lhes contar, leitores e leitoras, aconteceu na última sexta 13, em março desse ano. Tinha me despedido dos meus camaradas, após uma grande deliciosa breja, e ia para minha casa. Mas vou te dizer, era meia noite, e eu tinha que correr para não perder o último bus. Veja bem, leitor, eu estava bêbado e dependendo da então nova rede de busões da madrugada.
Peguei o último metrô, para um ponto de ônibus, onde eu geralmente pego o busão mesmo. Tinham mais 3 pessoas no ponto. Sentadas, todas em silêncio. E acho isso engraçado, é como se a sexta-feira 13 estimulasse isso nas pessoas: um silêncio sepulcral vindo de dentro da alma. Às vezes eu pigarreava, para quebrar aquele silêncio. Mas todo permaneciam parados, olhando para a frente, como se nada acontece em suas costas, ou ao seu lado.
Pouco a pouco, cada pessoa subiu em um ônibus e apenas eu fiquei no ponto. Sentei-me na guia da calçada. Respirei fundo. Tentei me manter calmo, saca? Mas vou dizer que não é fácil, ainda mais na madrugada de sampa. Não desejo isso a ninguém. Talvez minha criação tenha contribuído com a coisa toda, mas o fato é que eu comecei a respirar pesado, como em um ataque de claustrofobia. Comecei a suar frio, e o frio da madrugada me deixava desconfortável.
Algo dizia para mim, a todo momento, a todo momento, a todo momento: Hoje o ônibus não vem. E uma angústia batia em minha alma, meu coração acelerava o ritmo. Eu olhava para cima, e via apenas a escuridão do seu paulistano. Nenhuma estrela. O Vazio. Olhava de um lado a outro, de um lado a outro, e não havia nada.
Sempre senti um apelo para com Vazio, devo dizer. Principalmente na época em que eu lia e debatia filósofos existencialistas com o Levs. 2012, 2013? Não faz muita diferença agora, faz? Olhar para a imensidão do céu, e ao invés de ver o Universo, ver o vazio; olhar para a rua, e ao invés de ver pessoas, ver o vazio. Por mais contemplativo que seja, dá um cagaço do caralho. Principalmente em Sampa.
Meia hora, desde que me sentei no guia da calçada, uma da matina. Uma da matina, nem ônibus, nem vida. Apenas o vazio. Eu queria apenas abaixar a cabeça, e sentir todo aquele vazio, fazer parte dele, mas abaixar a cabeça significa abaixar a guarda. Ao longe ouço um grito, triste, melancólico. Nem de cachorro, nem de humano. Provavelmente alguma Banshee. Alguma alma transita entre a vida e a morte, nessa madrugada de sexta 13.
Sair para beber em uma quinta-feira 12, após a faculdade, foi a pior decisão da minha vida. Sou supersticioso, quem lê o que escrevo já deve ter percebido. Se passo por gatos pretos, tenho que cuspir no chão, passar de baixo de escadas? Tou fora, chapa. Mas a questão é, naquela avenida nem gato preto passava. Era eu, eu, e eu, e às vezes a voz, que me dizia que hoje não teria ônibus.
A solidão e o vazio faziam um jogo engraçado em minha mente. Não sei explicar o sentimento, mas é como se eu entendesse a solidão de Thorreau em A vida no bosque, ou a paranoia e a loucura de Kerouac em Big Sur, com a diferença de que eu não passei dias e dias excluído da sociedade, mas apenas uma hora sentado, em plena solidão duma cidade que, na teoria, nunca dorme.
Quando era duas e pouco da matina, o silêncio sepulcral foi interrompido por um leve bater de metal em concreto. Uma sombra, um tanto quanto alta, vinha em minha direção, com a perna esquerda enfaixada, apoiando-se em uma bengala. Me levantei, e me virei totalmente olhando para a figura. Oh, teriam os deuses virados as costas para mim? Seria esse o destino de minha vida? Morrer bêbado? Nesse meu desespero embriagado, não percebi a lentidão em que ele vinha em minha direção. Em 15 minutos de caminhada, eu despistei o homem.
Não sei se foi uma boa ideia, mas andei por muito tempo. E o mesmo sentimento, e o mesmo cenário. O vazio estava ali. Andei por mais duas horas inteiras, em busca de vida, de pessoas. Tudo era tão vazio. São Paulo, a cidade dos santos, onde todos estavam mortos e enterrados embaixo de suas cobertas, enquanto um bêbado qualquer andava, desnorteado, procurando o sentido da vida, o despertar da civilização, numa cidade imersa no Silêncio.
Eu gritava, gritava e gritava, em busca de alguém, em busca de algo, qualquer coisa. É como se todos tivessem trancado suas casas, colocado sal nas portas e janelas, e eu tivesse me tornado uma criatura da noite, que vaga resgatando velhas lendas e superstições, tentando devorar almas.
Por fim abro meus braços, como Cristo, e solto meu corpo, caindo de cara no concreto. E então algo me ilumina. Levanto minha cara, deixando o sangue de meu nariz escorrer, e vejo que um ônibus vir em minha direção, não um ônibus qualquer, é claro, mas o meu ônibus. Dou sinal, ele para, eu entro. Simples assim. Sorrio para o motorista, com meus dentes vermelhos, do sangue que escorre do meu nariz. São 4h30, os ônibus voltaram a sua circulação habitual. Mas a voz na minha cabeça estava certa, nessa noite meu ônibus não passou, e se passou eu estava embriagado o bastante para não perceber. Atravessei a catraca e o cobrador disse: Uma noite daquelas hein? . Você nem imagina, chapa, respondi, você nem imagina.
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Blá blá blá no meu blog, blá blá blá mais textículos aqui
Paz e blá blá blá
Peguei o último metrô, para um ponto de ônibus, onde eu geralmente pego o busão mesmo. Tinham mais 3 pessoas no ponto. Sentadas, todas em silêncio. E acho isso engraçado, é como se a sexta-feira 13 estimulasse isso nas pessoas: um silêncio sepulcral vindo de dentro da alma. Às vezes eu pigarreava, para quebrar aquele silêncio. Mas todo permaneciam parados, olhando para a frente, como se nada acontece em suas costas, ou ao seu lado.
Pouco a pouco, cada pessoa subiu em um ônibus e apenas eu fiquei no ponto. Sentei-me na guia da calçada. Respirei fundo. Tentei me manter calmo, saca? Mas vou dizer que não é fácil, ainda mais na madrugada de sampa. Não desejo isso a ninguém. Talvez minha criação tenha contribuído com a coisa toda, mas o fato é que eu comecei a respirar pesado, como em um ataque de claustrofobia. Comecei a suar frio, e o frio da madrugada me deixava desconfortável.
Algo dizia para mim, a todo momento, a todo momento, a todo momento: Hoje o ônibus não vem. E uma angústia batia em minha alma, meu coração acelerava o ritmo. Eu olhava para cima, e via apenas a escuridão do seu paulistano. Nenhuma estrela. O Vazio. Olhava de um lado a outro, de um lado a outro, e não havia nada.
Sempre senti um apelo para com Vazio, devo dizer. Principalmente na época em que eu lia e debatia filósofos existencialistas com o Levs. 2012, 2013? Não faz muita diferença agora, faz? Olhar para a imensidão do céu, e ao invés de ver o Universo, ver o vazio; olhar para a rua, e ao invés de ver pessoas, ver o vazio. Por mais contemplativo que seja, dá um cagaço do caralho. Principalmente em Sampa.
Meia hora, desde que me sentei no guia da calçada, uma da matina. Uma da matina, nem ônibus, nem vida. Apenas o vazio. Eu queria apenas abaixar a cabeça, e sentir todo aquele vazio, fazer parte dele, mas abaixar a cabeça significa abaixar a guarda. Ao longe ouço um grito, triste, melancólico. Nem de cachorro, nem de humano. Provavelmente alguma Banshee. Alguma alma transita entre a vida e a morte, nessa madrugada de sexta 13.
Sair para beber em uma quinta-feira 12, após a faculdade, foi a pior decisão da minha vida. Sou supersticioso, quem lê o que escrevo já deve ter percebido. Se passo por gatos pretos, tenho que cuspir no chão, passar de baixo de escadas? Tou fora, chapa. Mas a questão é, naquela avenida nem gato preto passava. Era eu, eu, e eu, e às vezes a voz, que me dizia que hoje não teria ônibus.
A solidão e o vazio faziam um jogo engraçado em minha mente. Não sei explicar o sentimento, mas é como se eu entendesse a solidão de Thorreau em A vida no bosque, ou a paranoia e a loucura de Kerouac em Big Sur, com a diferença de que eu não passei dias e dias excluído da sociedade, mas apenas uma hora sentado, em plena solidão duma cidade que, na teoria, nunca dorme.
Quando era duas e pouco da matina, o silêncio sepulcral foi interrompido por um leve bater de metal em concreto. Uma sombra, um tanto quanto alta, vinha em minha direção, com a perna esquerda enfaixada, apoiando-se em uma bengala. Me levantei, e me virei totalmente olhando para a figura. Oh, teriam os deuses virados as costas para mim? Seria esse o destino de minha vida? Morrer bêbado? Nesse meu desespero embriagado, não percebi a lentidão em que ele vinha em minha direção. Em 15 minutos de caminhada, eu despistei o homem.
Não sei se foi uma boa ideia, mas andei por muito tempo. E o mesmo sentimento, e o mesmo cenário. O vazio estava ali. Andei por mais duas horas inteiras, em busca de vida, de pessoas. Tudo era tão vazio. São Paulo, a cidade dos santos, onde todos estavam mortos e enterrados embaixo de suas cobertas, enquanto um bêbado qualquer andava, desnorteado, procurando o sentido da vida, o despertar da civilização, numa cidade imersa no Silêncio.
Eu gritava, gritava e gritava, em busca de alguém, em busca de algo, qualquer coisa. É como se todos tivessem trancado suas casas, colocado sal nas portas e janelas, e eu tivesse me tornado uma criatura da noite, que vaga resgatando velhas lendas e superstições, tentando devorar almas.
Por fim abro meus braços, como Cristo, e solto meu corpo, caindo de cara no concreto. E então algo me ilumina. Levanto minha cara, deixando o sangue de meu nariz escorrer, e vejo que um ônibus vir em minha direção, não um ônibus qualquer, é claro, mas o meu ônibus. Dou sinal, ele para, eu entro. Simples assim. Sorrio para o motorista, com meus dentes vermelhos, do sangue que escorre do meu nariz. São 4h30, os ônibus voltaram a sua circulação habitual. Mas a voz na minha cabeça estava certa, nessa noite meu ônibus não passou, e se passou eu estava embriagado o bastante para não perceber. Atravessei a catraca e o cobrador disse: Uma noite daquelas hein? . Você nem imagina, chapa, respondi, você nem imagina.
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Paz e blá blá blá