"colore a minha vida com o caos do problema."
O Anel
Tudo seria mais fácil se a minha memória não me pregasse uma peça toda vez em que me perco no meio de meus próprios pensamentos. Se eu estou nesse tipo de situação não é porque Gabriel deixou de me avisar com três meses e seis avisos diferentes de antecedência para refrescar a minha cuca. Deixo o cartão e as chaves na mesa antes de entrar no banho.
Saio do banho. Ele deixou uma mensagem antes de sair pela manhã, “Chego mais tarde com o queijo ralado e frango, eu te amo.”
Meu cabelo está bagunçado e a tinta manchada na minha blusa me faz parecer mais adolescente que não sabe lidar com pinceis do que mulher. Coloco as minhas botas, luvas e um casaco, eu sei que vou para a guerra, se você enfrenta a Rússia no pique do inverno ou o shopping lotado durante o natal você não fica seminua por ai.
Pego então as chaves para partir. Já deveriam ter pelo menos cinco meses que eu não tocava em um volante, isso me deixou angustiada. Só que, você me entende, certo? Não se pede para o seu namorado te levar para comprar o presente dele no natal, quando ele já te alertou um bocado de vezes antes, faz parecer que você não tá nem ai.
Uma torrada com ovo, um gole de café e umas balas que estavam no bolso da minha calça sei lá quantos milênios é o meu suprimento do dia, se quero ter tempo de embrulhar o box do Senhor dos Anéis, colocar um vestido preto que deixa a minha bunda bonita e ainda por cima enrolar na cama brincando com os gatos eu preciso ser uma garota esperta.
O shopping da cidade, bem como eu esperava, parecia um formigueiro. Nota mental: no próximo ano vou apenas pedir a droga do seu presente através da amazona ou qualquer porcaria de site de entregas.
Eu empurro uma mulher sem intenção. — Me dá espaço sua vaca! — ela me disse isso, sem nenhum espírito de natal e três crianças penduradas, admito que pensei na mamãe Noel sendo feita de cavalinho pelos elfos.
Bufei, mas apenas mantive a pose. Continuei procurando a livraria, e lá estava o meu precioso, bem exposto em uma prateleira dourada, os enfeites em torno faziam a coisa brilhar e tudo, foi a cena mais mágica que eu havia visto envolvendo qualquer livro (ou, grupo deles), foi ai que eu me dei conta... Onde estava a droga do cartão?
Só poderia ser brincadeira, quando me dei conta de que esqueci foi mais humilhante que ser gofada por outra criança na minha volta da derrota até em casa.
Olho o celular, perdi cerca de duas horas e ele já havia enviado uma foto do trabalho, tinha visto um esquilo na hora do almoço. Agora sim, após confirmar todo o meu inventário do itens importantes volto para a loja.
O grande problema foi... Onde estava o meu precioso?
Aquilo só poderia ter sido armado para estragar o meu presente perfeito de natal.
A urgência nos motiva a usar o lado mais criativo do cérebro, se alguém comprou o livro provavelmente eu poderia pegar o item de volta oferecendo um pouco acima do preço de mercado, mas onde aquele maldito Smeagol tinha se enfiado com o box do Gabriel? Pensa, Rosi... Pensa, para onde você iria após comprar um monte de livros enormes no meio desse lugar cheio?
A quem eu quero enganar? Eu teria dado o fora daqui o mais rápido que pudesse.
Então, qual a chance do Papai Noel resolver esse problema de transação?
Saio para investigar. Quem tivesse mais cara de nerd era o culpado.
Eu tão rápido pelo corredor que sinto mais do que as minhas mãos sendo tomadas pelo suor, a respiração começa a ficar pesada e já perdi tanto tempo aqui dentro que dirigir sem destino em busca de outra possível livraria deixava de ser uma alternativa viável.
Foi então que algo ocorreu, aquela mulher, a bendita mamãe Noel e seus elfinhos.
O garoto mais velho estava com o seu nariz por cima dos livros, enquanto isso os outros dois ficavam com as suas cabeças encostadas no box para dormir. Tentei me aproximar de forma estratégica.
— Olá, desculpe. A senhora comprou um box do Senhor dos Anéis, não é?
— Arrãn. Agora cai fora.
— Calma ai, é tipo.
— Não enche, eu to cansada.
— Não é isso, deixa eu explicar. — engoli a seco, — Eu realmente queria dar o box de presente para o meu namorado, você não gostaria de me revender ele?
— Quero não.
— Por favor, eu sei que esbarrei em você sem querer, mas... — estava ficando sem voz, — Eu te pago 200 por eles. Que tal?
— 200, é?
— Isso, você ainda vai estar lucrando uns 25% em cima do que você pagou.
— Vinte o que?
— Não é nada. Temos um acordo?
— Faço por 300 pra você.
Ela poderia até não ser boa com porcentagem, mas era boa em extorquir.
— Tá bem, tá bem. Eu realmente preciso dos livros, só pede pro seu filho tirar o nariz do box.
— Cadê o dinheiro?
— Eu vou sacar para você, só me dá um minuto.
Fiz como o prometido, saquei o dinheiro e voltei para pegar os livros ainda com baba alienígena de criança. Finalmente posso me despedir e voltar para casa, mas antes, comprar a embalagem de presente para que não me esqueça dessa parte também.
Quando deixo o carro, Gabriel está na porta de casa me esperando. Ele sorri.
Sinto como se um Orc estivesse me usado de saco de pancadas, minha blusa continua suja de tinta e meu cabelo também ficou suado. Não imaginava que ele iria aparecer antes do horário com algo nas mãos.
— A porcaria do box, feliz natal. Preciso mesmo de banho.
Ele me olha, mas não responde, e parece tão suado quanto eu.
— O que foi? Deu um trabalhão para conseguir esse tá!
Gabriel se ajoelha, e ele quem me mostra o anel mais bonito de toda a vida. Ele não era muito bom falando, se embolou tanto que o pedido quase não saiu, mesmo assim, não tive duvidas ao responder “sim”.
Não podia esperar que aquele fosse o natal mais feliz da minha vida.
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Isso é só fanfic a realidade não foi assim!!!Texto da #EquipeElfosNatalinos