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O Coelho [+16] [Tópico Sensível] - Pascoalium

Coralium Feminino

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02 de Novembro de 2019
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Obviamente isto não será pontuado, só queria participar de alguma forma.
Alerta de texto cringe sadboy abaixo







O Coelho

Quinta-feira. Naquela manhã, Caroline acordou mais cedo. A Páscoa estava chegando, e por isso se sentia com mais energia do que o normal. Por mais que as coisas estivessem ruins, eventos como esse faziam-na sentir pelo menos um pouco de empolgação. Já conseguia sentir o cheiro do chocolate e o gosto do salmão assado que sua mãe tradicionalmente preparava nessa data todos os anos! Era finalmente uma desculpa para usar suas orelhas de coelho pela casa sem ser julgada; afinal, era Páscoa. Tudo isso se juntava trazendo para seus dias monótonos uma grande expectativa, como se algo mágico estivesse prestes a acontecer.

Desceu as escadas e virou à esquerda para entrar na cozinha. Queria preparar seu café da manhã: omelete com queijo; era quase Páscoa, qualquer coisa com ovos ficaria maravilhosa. Abriu a porta da geladeira, pegou um ovo e o quebrou em uma tigela. Quando foi colocar o sal, percebeu que o ovo possuía duas grandes gemas vermelhas. Uma delas acidentalmente estourou e o líquido vermelho começou a se misturar com a clara.

Ouviu os passos de sua mãe no corredor:

— Mãe! O ovo que peguei tem duas gemas! Que legal, nunca tinha visto.

— Nossa, filha! Realmente é algo raro. Sinal de boa sorte!

E ela sorriu ao pensar que talvez realmente suas emoções influenciassem os acontecimentos do seu dia. Talvez não fossem aleatórios. Ela ouvia o tempo todo sobre a lei da atração. Talvez não fosse besteira! Talvez ela só precisasse ser positiva.

Comeu sua omelete, deu um beijo na mãe e foi para a escola. Gostava de ir sozinha, ouvindo The Neighbourhood e deixando os pensamentos fluírem em sua mente. O dia estava nublado e a temperatura mais baixa o que ela agradecia, considerando que tinham acabado de sair de uma temporada de calor infernal com uma garoa deixando a calçada como estampada de petit pois.

A aula foi o de sempre, as conversas foram as de sempre. A única coisa diferente era a atmosfera do lugar, com todos ansiosos pelo feriado. Comprou um chocolate no intervalo e comeu sozinha no banco debaixo da árvore, observando o movimento do pátio. Não conseguia entender como isso acontecia... as pessoas. Como se relacionavam? Um dia, completos desconhecidos, no outro já marcavam festas e encontros juntos. Como isso acontecia? Era difícil dizer, não conseguia fazer amigos.

Não sabia se o problema era ela ou os outros. Ou se era um problema, de fato. Por que sentia a necessidade de ser validada, de formar laços, mas ao mesmo tempo não conseguia conversar nem com paredes? Seria mais fácil se não sentisse nada disso.

Frustrada, começou a brincar com o papel do chocolate, tentando fazer dobras perfeitas e diminuí-lo até o menor tamanho possível. Enquanto isso, os pensamentos continuavam fluindo. Qual seria o problema? Talvez ela fosse gorda demais. Falante demais. Chata demais. Desinteressante demais. Mas por que não era assim antes? Quando foi que ela perdeu o controle de tudo?

Não conseguiu pensar ou ouvir mais nada além das vozes em sua cabeça no restante do período. Apesar de ser uma pessoa tranquila, sua consciência era hiperativa. Ideias e pensamentos pipocavam em sua cabeça o tempo todo. Bons ou ruins. Isso era um problema também.

Na volta da escola, decidiu fazer o caminho mais longo. Queria passar pela praça. Por mais que fosse pequena, ali parecia estar sempre cercada de uma atmosfera revigorante de ar puro. Do outro lado da rua havia a casa de uma senhora que cuidava muito bem de seu jardim; possuía plantinhas e ervas que exalavam um aroma delicado que abraçava seu pulmão e sua mente como se dissesse “vai ficar tudo bem”. Ela sempre sentia o cheiro de camomila e hortelã passando ali. Era terapêutico.

Resolveu se sentar em frente ao jardim da senhora. Colocou seus fones de ouvido e deixou seus pensamentos ficarem mais à vontade. Talvez a praça tivesse um poder curativo, talvez seus pensamentos pudessem encontrar saídas e soluções ali. Fechou os olhos e inspirou profundamente.

De repente, notou um movimento no jardim. Um movimento discreto, mas...com certeza tinha algo ali. No meio das hortelãs, avistou um rabinho branco e felpudo.

“Coelhos?”

Nunca tinha visto coelhos soltos na cidade. Provavelmente era mais um pedaço de sorte em seu dia. Ficou observando o bumbum do coelho se mexendo entre as folhas, as orelhas levantando-se atentas. Que fofo!

E então, o coelho se vira.

E ela sente seu coração parar. Ou disparar. Sente seu corpo todo arrepiar. Será que está enxergando direito? Com as mãos trêmulas, esfrega os olhos e foca no coelho com toda a sua atenção. E... é isso mesmo. O coelho não possui rosto.

Ele parece querer se aproximar. Pula a grade do portão, e dá mais alguns pulos pela calçada, tentando alcançar a rua. Mesmo sem ter olhos, parecia estar olhando fixamente para ela.

Carol permanece imóvel no banco, com o coração ainda disparado e as mãos suando à medida que a estranha criatura se aproxima. E então, o coelho para bem na sua frente.

— Oi...coelhinho...

Olá

— Você fala?? Como fala se...

Sim, eu posso me comunicar com você

— Mas você não...não tem...rosto.

Rostos são apenas uma ilusão. Você também nunca viu o seu próprio rosto, nem por isso ele não existe.”

— Claro que já vi, eu tenho espelho!

Espelhos apenas mostram uma distorção do que é o seu rosto, assim como fotos. Você nunca pôde olhar para o seu próprio rosto da forma como ele é de fato.

Ela já não sabia mais o que estava acontecendo. E também não sabia o que responder. Mas o coelho continuou.

Eu posso não ter rosto para você, mas eu ainda existo. Essa é a minha forma energética mais pura. De onde venho, não temos rostos.”

— E de onde você vem?

De lugar nenhum. E de todos os lugares ao mesmo tempo. Sempre estive aqui.

“Seria então o coelhinho da Páscoa? ” - Ela pensou. Antes que pudesse perguntar algo, o coelho disse:

“Vim apenas lhe acompanhar até sua casa. Nós aparecemos para ajudar as pessoas que precisam encontrar o lugar onde devem estar. Principalmente nessa época.”

— Ah, bem...certo, obrigada.

Carol se levantou e começou a caminhar. Ainda não conseguia entender bem o que estava acontecendo, nem por que estava obedecendo ao coelho, mas parecia ser o que devia fazer.

Você se sente sozinha?”

— Sim...o tempo todo. Não sinto que meu lugar é aqui. Talvez tenha nascido no lugar errado, na época errada. Nada parece se encaixar.

Seu lugar realmente não é aqui. Não mais.

— E como você sabe?

Se eu não tivesse certeza, não estaria aqui. Isso tudo se tornou demais para você aguentar sozinha

— Isso é verdade…

Não é apenas não ter amigos. Toda a humilhação, toda a dor, o fracasso...eu sei que você nunca experienciou tanta tristeza como essa. Como você levanta da cama todos os dias?”

— Eu não sei...

Gradativamente, ela foi se sentindo mais leve. Entorpecida. Não sentia mais o esforço de cada passo. Ao chegar em seu prédio, não respondeu o “Bom dia!” que o educado porteiro deu a ela. Já não ouvia mais o que estava à sua volta.

Seu lugar realmente não é aqui. Aqui ninguém gosta de você. Você é um peso para todos, inclusive para você mesma.”

— Por quê?...

Você sabe o porquê. Você deu todos os motivos.”

— Eu dei…

Seu lugar não é aqui. Deixe a dor ir embora. Deixe a sua angústia ir embora. É só vir comigo.

Ela não sabia como havia chegado no terraço. Elevador? Escadas? Não importava mais.

Você não tem que ficar aqui. Venha comigo. É muito simples acabar com tudo isso...você sabe o que fazer.”

Ela fitava o movimento na rua abaixo dela. Soprava um vento forte e gelado ali em cima. Mas ela já não conseguia mais sentir. Ela não sentia algo havia tempos.

— Finalmente...

O renascimento a aguardava no chão.
 
Obviamente isto não será pontuado, só queria participar de alguma forma.
Alerta de texto cringe sadboy abaixo







O Coelho

Quinta-feira. Naquela manhã, Caroline acordou mais cedo. A Páscoa estava chegando, e por isso se sentia com mais energia do que o normal. Por mais que as coisas estivessem ruins, eventos como esse faziam-na sentir pelo menos um pouco de empolgação. Já conseguia sentir o cheiro do chocolate e o gosto do salmão assado que sua mãe tradicionalmente preparava nessa data todos os anos! Era finalmente uma desculpa para usar suas orelhas de coelho pela casa sem ser julgada; afinal, era Páscoa. Tudo isso se juntava trazendo para seus dias monótonos uma grande expectativa, como se algo mágico estivesse prestes a acontecer.

Desceu as escadas e virou à esquerda para entrar na cozinha. Queria preparar seu café da manhã: omelete com queijo; era quase Páscoa, qualquer coisa com ovos ficaria maravilhosa. Abriu a porta da geladeira, pegou um ovo e o quebrou em uma tigela. Quando foi colocar o sal, percebeu que o ovo possuía duas grandes gemas vermelhas. Uma delas acidentalmente estourou e o líquido vermelho começou a se misturar com a clara.

Ouviu os passos de sua mãe no corredor:

— Mãe! O ovo que peguei tem duas gemas! Que legal, nunca tinha visto.

— Nossa, filha! Realmente é algo raro. Sinal de boa sorte!

E ela sorriu ao pensar que talvez realmente suas emoções influenciassem os acontecimentos do seu dia. Talvez não fossem aleatórios. Ela ouvia o tempo todo sobre a lei da atração. Talvez não fosse besteira! Talvez ela só precisasse ser positiva.

Comeu sua omelete, deu um beijo na mãe e foi para a escola. Gostava de ir sozinha, ouvindo The Neighbourhood e deixando os pensamentos fluírem em sua mente. O dia estava nublado e a temperatura mais baixa o que ela agradecia, considerando que tinham acabado de sair de uma temporada de calor infernal com uma garoa deixando a calçada como estampada de petit pois.

A aula foi o de sempre, as conversas foram as de sempre. A única coisa diferente era a atmosfera do lugar, com todos ansiosos pelo feriado. Comprou um chocolate no intervalo e comeu sozinha no banco debaixo da árvore, observando o movimento do pátio. Não conseguia entender como isso acontecia... as pessoas. Como se relacionavam? Um dia, completos desconhecidos, no outro já marcavam festas e encontros juntos. Como isso acontecia? Era difícil dizer, não conseguia fazer amigos.

Não sabia se o problema era ela ou os outros. Ou se era um problema, de fato. Por que sentia a necessidade de ser validada, de formar laços, mas ao mesmo tempo não conseguia conversar nem com paredes? Seria mais fácil se não sentisse nada disso.

Frustrada, começou a brincar com o papel do chocolate, tentando fazer dobras perfeitas e diminuí-lo até o menor tamanho possível. Enquanto isso, os pensamentos continuavam fluindo. Qual seria o problema? Talvez ela fosse gorda demais. Falante demais. Chata demais. Desinteressante demais. Mas por que não era assim antes? Quando foi que ela perdeu o controle de tudo?

Não conseguiu pensar ou ouvir mais nada além das vozes em sua cabeça no restante do período. Apesar de ser uma pessoa tranquila, sua consciência era hiperativa. Ideias e pensamentos pipocavam em sua cabeça o tempo todo. Bons ou ruins. Isso era um problema também.

Na volta da escola, decidiu fazer o caminho mais longo. Queria passar pela praça. Por mais que fosse pequena, ali parecia estar sempre cercada de uma atmosfera revigorante de ar puro. Do outro lado da rua havia a casa de uma senhora que cuidava muito bem de seu jardim; possuía plantinhas e ervas que exalavam um aroma delicado que abraçava seu pulmão e sua mente como se dissesse “vai ficar tudo bem”. Ela sempre sentia o cheiro de camomila e hortelã passando ali. Era terapêutico.

Resolveu se sentar em frente ao jardim da senhora. Colocou seus fones de ouvido e deixou seus pensamentos ficarem mais à vontade. Talvez a praça tivesse um poder curativo, talvez seus pensamentos pudessem encontrar saídas e soluções ali. Fechou os olhos e inspirou profundamente.

De repente, notou um movimento no jardim. Um movimento discreto, mas...com certeza tinha algo ali. No meio das hortelãs, avistou um rabinho branco e felpudo.

“Coelhos?”

Nunca tinha visto coelhos soltos na cidade. Provavelmente era mais um pedaço de sorte em seu dia. Ficou observando o bumbum do coelho se mexendo entre as folhas, as orelhas levantando-se atentas. Que fofo!

E então, o coelho se vira.

E ela sente seu coração parar. Ou disparar. Sente seu corpo todo arrepiar. Será que está enxergando direito? Com as mãos trêmulas, esfrega os olhos e foca no coelho com toda a sua atenção. E... é isso mesmo. O coelho não possui rosto.

Ele parece querer se aproximar. Pula a grade do portão, e dá mais alguns pulos pela calçada, tentando alcançar a rua. Mesmo sem ter olhos, parecia estar olhando fixamente para ela.

Carol permanece imóvel no banco, com o coração ainda disparado e as mãos suando à medida que a estranha criatura se aproxima. E então, o coelho para bem na sua frente.

— Oi...coelhinho...

Olá

— Você fala?? Como fala se...

Sim, eu posso me comunicar com você

— Mas você não...não tem...rosto.

Rostos são apenas uma ilusão. Você também nunca viu o seu próprio rosto, nem por isso ele não existe.”

— Claro que já vi, eu tenho espelho!

Espelhos apenas mostram uma distorção do que é o seu rosto, assim como fotos. Você nunca pôde olhar para o seu próprio rosto da forma como ele é de fato.

Ela já não sabia mais o que estava acontecendo. E também não sabia o que responder. Mas o coelho continuou.

Eu posso não ter rosto para você, mas eu ainda existo. Essa é a minha forma energética mais pura. De onde venho, não temos rostos.”

— E de onde você vem?

De lugar nenhum. E de todos os lugares ao mesmo tempo. Sempre estive aqui.

“Seria então o coelhinho da Páscoa? ” - Ela pensou. Antes que pudesse perguntar algo, o coelho disse:

“Vim apenas lhe acompanhar até sua casa. Nós aparecemos para ajudar as pessoas que precisam encontrar o lugar onde devem estar. Principalmente nessa época.”

— Ah, bem...certo, obrigada.

Carol se levantou e começou a caminhar. Ainda não conseguia entender bem o que estava acontecendo, nem por que estava obedecendo ao coelho, mas parecia ser o que devia fazer.

Você se sente sozinha?”

— Sim...o tempo todo. Não sinto que meu lugar é aqui. Talvez tenha nascido no lugar errado, na época errada. Nada parece se encaixar.

Seu lugar realmente não é aqui. Não mais.

— E como você sabe?

Se eu não tivesse certeza, não estaria aqui. Isso tudo se tornou demais para você aguentar sozinha

— Isso é verdade…

Não é apenas não ter amigos. Toda a humilhação, toda a dor, o fracasso...eu sei que você nunca experienciou tanta tristeza como essa. Como você levanta da cama todos os dias?”

— Eu não sei...

Gradativamente, ela foi se sentindo mais leve. Entorpecida. Não sentia mais o esforço de cada passo. Ao chegar em seu prédio, não respondeu o “Bom dia!” que o educado porteiro deu a ela. Já não ouvia mais o que estava à sua volta.

Seu lugar realmente não é aqui. Aqui ninguém gosta de você. Você é um peso para todos, inclusive para você mesma.”

— Por quê?...

Você sabe o porquê. Você deu todos os motivos.”

— Eu dei…

Seu lugar não é aqui. Deixe a dor ir embora. Deixe a sua angústia ir embora. É só vir comigo.

Ela não sabia como havia chegado no terraço. Elevador? Escadas? Não importava mais.

Você não tem que ficar aqui. Venha comigo. É muito simples acabar com tudo isso...você sabe o que fazer.”

Ela fitava o movimento na rua abaixo dela. Soprava um vento forte e gelado ali em cima. Mas ela já não conseguia mais sentir. Ela não sentia algo havia tempos.

— Finalmente...

O renascimento a aguardava no chão.
Uau, realmente me pegou, amei o final, eu falaria muitos palavrões, mas vou tentar me limitar. Adorei o final (apesar de ser um tanto quanto pesado), não foi q nem o meu q o coelho MATOU o mlk, mas ele a convidou para acabar com seu sofrimento. Eu amei a história, n sei nem o q dizer.

Em certos dias ou momentos eu adoraria conhecer este coelho, mas infelizmente é algo impossível. Odeio falar sobre isso, mas, é realmente triste ter essas ideias, me identifico bastante com a protagonista.
 
Uau, realmente me pegou, amei o final, eu falaria muitos palavrões, mas vou tentar me limitar. Adorei o final (apesar de ser um tanto quanto pesado), não foi q nem o meu q o coelho MATOU o mlk, mas ele a convidou para acabar com seu sofrimento. Eu amei a história, n sei nem o q dizer.

Em certos dias ou momentos eu adoraria conhecer este coelho, mas infelizmente é algo impossível. Odeio falar sobre isso, mas, é realmente triste ter essas ideias, me identifico bastante com a protagonista.

Fico feliz que tenha gostado * 3 * e sim, eu me inspirei muito no seu texto pra escrever esse ksksks mas o meu coelho, ao invés de ser meio psicopata, era como a personificação dos problemas emocionais da personagem.

E eu super entendo isso, acho que eu sinto o mesmo e por isso escrevi esse texto.

Obrigada por dedicar seu tempo pra ler hehe
 
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