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"Não descarte uma ideia aparentemente ruim, pode ser apenas o efeito do spoiler."
- Frank

O Dilema Moral de um Verdadeiro Herói

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Não tenho nenhum desejo de mudar o mundo.
-Ramza Beoulve


E com essa frase entendemos o por que de Final Fantasy Tactics não ser um RPG qualquer, e o Ramza não ser apenas um protagonista raso com motivações irrelevantes.

Ramza, na verdade, não é um louco visionário com planos mirabolantes de mudar completamente a consistência do mundo e suas sociedades. Ele não deseja tornar o mundo caótico e cheio de guerras em um local de paz e harmonia, pois ele sabe que isso não é possível.

Ao invés disso, ele deseja entender o seu próprio papel perante todos ao seu redor. A sua posição como um membro da realeza que, por sua própria convicção e senso de justiça, traiu a coroa, assim como também se tornou um herege aos olhos da igreja após impedi-la de alcançar seus planos.

Final Fantasy Tactics não é uma história sobre salvar donzelas em perigo ou impedir que um vilão conquiste o mundo, é muito mais que isso, é uma história sobre conflitos políticos, interesses mesquinhos e, claro, boas doses de fantasia.

É justamente o fato do enredo ser tão "pé no chão" -até certo ponto- que pra mim se torna uma das histórias mais cativantes entre os RPGs nipônicos.
Apesar do título, Final Fantasy Tactics não possui uma narrativa nos moldes da série principal, o enredo é muito mais maduro e levado sem aqueles toques de humor, comuns nos outros títulos da franquia.

Toda aquela sistemática de um grupo de heróis bondosos e honrados, sem o mínimo de defeitos, lutando contra um vilão fundamentalmente mau, cruel e arrogante e que deseja dominar o mundo não é o foco principal dessa narrativa.

Bem, não deveria ser... Mas sobre isso falaremos depois.

Vamos focar primeiro nos pontos positivos e nas qualidades do game, já que elas são tantas que nem mesmo os poucos defeitos no enredo parecem ser capazes de manchar o nome dessa obra tão bem executada.

Então, comecemos do princípio.

A partir desse ponto haverão spoilers.
Estejam avisados.​


Fantasia x realidade
E aqui vai todo o plano de fundo da história.

Tudo começa quando Arazlam Durai, historiador de 53 anos, descobre alguns documentos de seus antepassados que podem mudar completamente a visão em relação à famigerada Guerra dos Leões e aos seus verdadeiros heróis. Esses documentos foram escritos por Orran Durai, filho adotivo de Cidolfus Orlandeau, um poderoso espadachim amigo de Barbaneth Beoulve, pai de Ramza e chefe da casa Beoulve, conhecida por lutar fielmente ao lado da coroa.

O reino de Ivalice, naquele momento, passava por uma forte crise. Graças a todos os investimentos na Guerra dos Cinquenta Anos, que havia terminado recentemente, o reino se viu com problemas econômicos: não restavam empregos para os soldados que retornavam da guerra, a economia estava quebrada, diversos grupos de mercenários, arruaceiros e revoltosos contra a coroa começaram a surgir e, para piorar, o rei Ondoria III, até então líder político de Ivalice, havia morrido, deixando apenas seu filho Orinus, de um ano de idade, como o único herdeiro legítimo do trono.

O nascimento de Orinus, no entanto, gerou uma série de conflitos. Quando o rei já estava em seu leito de morte, o conselho, visando impedir que a rainha Louveria tomasse o trono, implantou Ovelia, uma falsa princesa, para se tornar a herdeira do trono. Logo após sua chegada, nasce Orinus, que alguns conspiradores alegavam não ser filho legítimo do rei, mas sim um plano de Louveria juntamente com Duque Larg para subirem ao trono.

Duque Larg, por sua vez, começa uma disputa contra Duque Goltana, ambos generais conhecidos por suas bem sucedidas campanhas na guerra, conhecidos como Leão Branco e Leão Negro, respectivamente. Assim surgiu a Guerra dos Leões, marcada por disputas cada vez mais insanas entre dois duques que almejavam ascender ao poder.

Na verdade, essa guerra estava sendo manipulada por trás dos panos, mas essa parte eu prefiro falar mais adiante.


Como acabamos de ver, FFT é sobre disputas políticas, mas não só isso, é sobre ideais, honra e vingança.

Tudo o que contei anteriormente é o plano de fundo, porém, o foco nos personagens principais e a relação entre Ramza e Delita vão muito além disso.

Delita era um plebeu que, por conta da peste negra perdeu seus pais, que eram camponeses das terras Beoulve. Graças a isso, Barnabeth Beoulve, líder da casa Beoulve e pai de Ramza adotou Delita e sua irmã Tietra, tornando ambos muito amigos de Ramza.​

Por consequência, mesmo sendo um plebeu, Delita frequentou a Gariland Royal Academy, uma academia militar de alto escalão que treinava os soldados reais. Isso aprimorou muito suas técnicas, o tornando um grande cavaleiro.

Porém, ele começaria a questionar sua própria posição perante a realeza quando um certo acontecimento ocorre: o assassinato de sua irmã Tietra.

Esse acontecimento muda completamente o rumo do reino de Ivalice. Delita, que anteriormente era um jovem bom e gentil, se torna um homem meticuloso e corrompido pelo ódio contra a coroa. Dessa forma, ele se vale de manipulações e artimanhas para conquistar seus objetivos.

Delita, na verdade, buscou sempre um bom rumo para Ivalice, porém, utilizando de seus próprios meios. Ele "sequestra" a princesa Ovelia, supostamente à mando de Duque Goltana, mas que na verdade, era um meio de protegê-la, além de manter posse daquela que seria a herdeira do trono.

Mesmo com muita resistência da princesa, Delita vai se tornando mais gentil com ela e, no final, ambos se casam e Delita se torna o rei de Ivalice.

Ovelia, por sua vez, percebe que não passava de mais uma ferramenta utilizada por Delita para concluir seus planos. Ela tenta acertá-lo com uma adaga, porém o mesmo sobrevive.

Após diversos acontecimentos, nos deparamos com mais uma força política agindo por trás das cortinas: a Igreja de Glabados. Os seguidores dessa igreja acreditam na imagem messiânica do Santo Ajora Glabados. Eles buscam as 12 Auracites, conhecidas como Pedras do Zodíaco, com o objetivo de trazer novamente à vida seu santo que, teoricamente, existia com o propósito de destruir os Lucavi, as criaturas malignas, os "demônios".

Acontece que, na verdade, o santo que eles tanto veneram é a encarnação da própria Ultima, a mais poderosa e líder dos Lucavi. As Auracites, por sua vez, possuem um poder devastador e que faz com que o usuário se transforme em uma dessas criaturas demoníacas.

Esse é o ponto onde, justamente, o nome "Final Fantasy" faz jus. Confesso que, quando me deparei com esse arco da igreja Glabados, eu fiquei bastante decepcionado. Isso porque eu realmente esperava que o enredo seria mais focado nas questões políticas e na relação do Ramza com o Delita, sem essa parte de "cristais mágicos", criaturas do submundo e afins. Após concluir, eu realmente achei que foi um tempero interessante à história.

Delita se sagrou como o grande herói da Guerra dos Leões. Já Ramza nunca foi mencionado nos livros e contos sobre esses acontecimentos.

No final da história, Orran Durai é morto pela igreja como um herege por documentar os fatos que realmente aconteceram, mas seu descendente Arazlam os encontrou e finalmente trouxe a verdade à tona.



O Jogo

Final Fantasy Tactics tem fortes influências em Tactics Ogre, o que me surpreendeu bastante quando eu joguei o título de PSP, Tactics Ogre: Let us Gling Together, que por si só já é um Rameke do título de Super Nintendo. As semelhanças são gigantescas, porém, não é cabível dizer que um jogo é cópia do outro. Se quiser saber mais sobre a relação entre os dois títulos, recomendo que leia esse post.

O sistema de batalha possui diversas regrinhas e detalhes, como num jogo de tabuleiro convencional. Aqui, cada personagem, dependendo das habilidades que o mesmo possui, tem um limite de "casas" a se andar. Além disso, a altura e o tipo do terreno influenciam completamente na quantidade em que cada personagem pode andar, bem como no dano, na distância de ataque, na chance de acerto e em tantos outros aspectos.

Existem diversas classes, aqui chamadas de "Jobs" que, para serem desbloqueados, é necessário atingir certos níveis em jobs anteriormente destravados. Isso cria uma dinâmica muito interessante, já que é extremamente necessário mudar de classe constantemente para que os personagens evoluam e fiquem mais fortes.

Cada personagem possui uma classe primária que, além de permitir que aquele personagem utilize suas técnicas, altera também os status gerais dos personagens. Os status são alterados por diversos fatores, não apenas pelas classes. Por exemplo, a Bravura e a Fé são dois atributos bases que são inerentes a cada personagem, independente da classe. Esses atributos podem, com bastante trabalho, serem aumentados ou diminuídos, sendo que em alguns casos, nem sempre é de grande utilidade possuir Brave e Faith muito elevados ou baixo de mais.

Existem também os jobs secundários, que não mudam os status do personagem, mas possibilitam utilizar suas habilidades ativas em qualquer personagem de outra classe. Dessa forma, é possível criar um Mago Negro com habilidades de cura do Mago Branco, ou mesmo um Mago Branco com as magias ofensivas do Mago Negro. É possível também criar um Ninja com habilidades de um Monge, ou um Arqueiro que use magia. Assim, o jogo permite uma customização gigantesca nas classes e permite que o jogador as explore de maneira bastante livre.

No jogo. existem diversos personagens que se unirão ao grupo com o desenrolar da história. A maioria, inclusive, acaba se tornando membro fixo da equipe, além de possuírem classes únicas e específicas de cada personagem. Isso permite que o jogador "colecione" os personagens. Porém, é possível -e recomendável- recrutar novos membros para a equipe. Além disso, é possível também convencer a inimigos se unirem ao grupo, incluindo monstros, com a habilidade da classe Orador. O problema é que alguns desses monstros, como os Chocobos ou os Dragões se reproduzem enquanto estão no grupo. É bastante comum entrar na aba de membros e se deparar com a tela cheia de galinhas coloridas gigantes. Acontece que existe uma quantidade máxima de membros na party, o que atrapalha bastante ter criaturas acasalando loucamente.




Final Fantasy Tactics é, junto com Chrono Trigger -veja bem, junto com o jogo que me inspirou a criar esse blog (baudocrono.blogspot.com)- o meu jogo favorito. A história desse jogo foi uma das coisas que mais me surpreenderam e isso mostra que não devemos julgar um livro pela capa. Eu odiava os gráficos desse jogo, a jogabilidade no estilo xadrez, o sistema de jobs, tudo me afastava cada vez mais de conhecer essa obra. Quando eu de fato conheci, senti que foi quase uma lição de moral para mim. O conteúdo que você encontra pode ser muito mais valioso do que a caixa que o embala. Quando você percebe que adora o conteúdo, a caixa se torna também bonita.

Esse jogo não é para todo mundo, é claro. O gênero tático pode parecer bem entediante para alguns, mas se você gosta de Final Fantasy ou de jogos táticos, recomendo muito que dê uma chance a esse game.

Eu ainda não joguei suas "sequências", o Final Fantasy Tactics Advance, de Game Boy Advance, e o Final Fantasy Tactics A2: Grimoire of the Rift. Confesso que tenho um pouco de receio com relação a esses títulos, pois tenho medo de não chegarem aos pés do título original. Mas, quem sabe um dia, né?



Texto retirado de meu blog autoral, Baú do Crono. Disponível em: Baú do Crono
 
- Que análise completa a respeito do FF Tatics. Confesso, que não gosto do jogo, a mecânica Tatics não cai em meu gosto, embora eu tenha me tornado mais flexível a ela depois de alguns Fire Emblem, mas realmente considero isso como pontos fora da minha curva, concordo com você em relação ao roteiro do Tatics, ele foge dos padrões da série, com uma trama mais sombria e séria, que é um ponto muito positivo. No mais, os Grandes Antigos ficaram satisfeitos com seu trabalho, me parece que tem muito mais de onde isso veio... Fico feliz, então apenas, continue a me entregar o seu conhecimento, não se importa com mais nada além disso... Entregar o seu conhecimento para todos nós... E não ligue para os estranhos sons dentro de sua cabeça, são apenas ecos perdidos no limiar das dimensões...
 
Eu joguei FFT no seu lançamento, lá no PS original e na época ele era todo em japoê Foi um susfoco interessante tarduzir tudos os menus e ficar tentand entender as falas. Algum tempo depois coma versão em inglês pude entender de fato a história e me apaixonar mais ainda pelo jogo.

Eu já fui um grande fã da série FF mas quanto mais velho fui ficando menos fã fui me tornando e recenetemente coloquei em xeque o meu favorito FF7. Honestamente esses jogos nem são tão bons assim.

Porém com FFT aconteceu o contrário: Quanto mais o tempo foi passando mais eu fui gostando do jogo e hoje é com certeza um dos 10 jogos que eu mais gosto de toda minha vida. Gosto em tudo nele (apesar de ainda ser muito fã de Ogre Battle).

Esse texto ficou excelente. Resume bem muito do jogo e nos preenche com uma boa nostalgia. Meus sinceros parabéns. Espero que de suas mãos venham mais textos como esse aqui no Condado.
 
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