Esta é uma história/conto que comecei a escrever mais para praticar a escrita e a narrativa. Principalmente de cenas de suspense/terror. Meu objetivo é que o texto gere algum tipo de desconforto/medo/receio ao leitor. Qualquer crítica, comentário ou sugestão é muito bem vinda.
DIA 1
DIA 1
Alessa observa com atenção a tela do celular. Olha pela décima vez a foto postada há dois minutos atrás. Se decepciona ao ver que ninguém havia comentado. Uma leve queimação no estômago a lembra de que não comia nada desde cedo. Sente um leve arrependimento por não ter saído para comer com os pais, que logo passa, quando imagina que iria gastar a noite toda com conversas forçadas e respondendo perguntas bobas.
Ela envia uma mensagem para Leonardo, seu amigo do apartamento ao lado.
Fome! Pediu alguma coisa pra comer hoje?
Ele era a perfeita definição de um bom amigo para uma mulher. Alguém com quem ela nunca iria ter qualquer relação íntima, mas que sempre a iria ajudar com problemas essenciais da vida, como não ter nada pra comer às dez da noite.
Eu pedi pizza aqui. Ainda tem se quiser. Responde ele logo depois.
Ele a achava definitivamente bonita, mas já tinha abandonado suas segundas intenções há certo tempo. Era apenas da sua personalidade tentar ser uma pessoa amigável.
Alessa coloca o celular na bolsa, apaga a luz do quarto e encosta a porta.
O corredor está uma penumbra. Sou racional demais para ter medo de escuro, pensa ela, enquanto caminha tateando a parede em busca do interruptor.
A luz amarelada vinda da rua penetra pela sacada e ilumina levemente a sala. Alessa evita olhar adiante, a silhueta e sombra dos móveis fornecia um cenário fértil para ver coisas que talvez não estivessem ali. Ela dá mais um passo e alcança o interruptor, acendendo a luz do corredor, um caminho reconfortante e iluminado surge a sua frente. Ela caminha até a sacada, a porta dupla de vidro está aberta, uma brisa úmida entra carregada pelo vento e a faz estremecer. Ela fecha a porta e a cortina. Pega suas sandálias que estavam jogadas no canto e se senta no sofá para calçá-las. Sons de passos ecoam pelo corredor. Alguém bate na porta.
Será que esqueceram de levar a chave? Pensa ela tentando não se alarmar. Algumas semanas atrás uma senhora havia sido assaltada no prédio. Desde então Alessa ficava receosa sozinha. Diziam que foi um sobrinho dela drogado, mas isso não a fazia se sentir mais otimista.
Alessa caminha até a porta e gira a chave. Ninguém. Somente o corredor vazio a encara. Uma brisa suave atinge sua nuca. Não fechei a porta da sacada? Pensa ela.
De imediato tenta se virar, porém seus ombros se tencionam, todos os músculos de seu corpo se enrijecem antes que pudesse fazer qualquer movimento. Alessa fica paralisada como um animal empalhado. Ela sente novamente aquela brisa, possui um ritmo constante, agora acompanhado por um som arfado. Não é o vento. Era uma respiração, há centímetros de sua nuca. Sua garganta trava antes mesmo de pensar em gritar.
Por um minuto sua mente se esvai. É muito difícil limpar a mente de qualquer pensamento. Mas em pânico entramos em uma espécie de modo de suspensão. Todos os sentidos se voltam para nós mesmos. De súbito nos damos conta de como nosso corpo se esforça para realizar tarefas básicas, a respiração metódica, o coração batendo como uma máquina, os tendões e músculos rangendo com um mínimo movimento.
Não posso ficar aqui parada. Pensa ela.
O lampejo de razão se mostra inútil, a linha entre corpo e mente está rompida. Alguns longos segundos são necessários para que o instinto assuma o controle. Alessa se move para frente em um espasmo descoordenado. Mas seu pulso é agarrado com violência. Ela tenta gritar mas está sem ar algum. O pavor aumenta e ela se debate histericamente.
Meu Deus, não. Neste momento todas as possibilidades que passam por sua mente são ruins. Sua imaginação preenche as lacunas de terror puro com cenas de abuso, agressões, sangue e dor. Alessa se joga para todos os lados com mais força. Sem aviso seu pulso é solto e ela atinge o chão com violência. Sua cabeça bate contra o piso frio impulsionada por todo o peso do seu corpo. Ela tenta manter os olhos abertos mas sua visão fica turva. Em um último esforço ela olha pelo corredor procurando por alguém. Mas está sozinha.
A consciência de Alessa volta lentamente, como se estivesse acordando de um sono de doze horas. Sua cabeça lateja como se estivesse prestes a estourar.
- Alessa. Diz Leo ao se abaixar do lado dela segurando uma caixa de pizza. O que aconteceu?
- Me ajuda. Responde Alessa se esforçando para abrir os olhos.
- Vamos lá pra dentro, consegue levantar?
Alessa leva a mão até a cabeça e sente seu cabelo encharcado e pastoso. Ela abre os olhos e vê suas mãos vermelhas de sangue.
- Me leva pra sua casa por favor. Responde Alessa encarando as mãos.
- Beleza. Vem, levanta devagar.
Leo segura o braço de Alessa e a ergue com cuidado, a apoia andando até seu apartamento. Alessa se deita no sofá com a cabeça em uma almofada.
- Fica aí que vou ligar pra sua mãe. A presença dele já a faz se sentir melhor.
Leo caminha até a cozinha com o celular no ouvido. O apartamento dele era semelhante ao dela, mas parecia ter sido reformado recentemente. Os pisos eram novos e as paredes ainda cheiravam a tinta fresca.
- Eles estão vindo, já estão aqui perto. Diz Leo voltando para a sala.
- O que você disse pra ela?
- Que você tinha caído, mas que não era sério.
- Tinha alguém dentro de casa.
- Só vi você caída apagada. Responde Leo de forma reflexiva, considerando que era tão distraído que se tivesse um urso lá dentro provavelmente sequer teria notado.
- Não vi ninguém. Mas, quando fui sair pela porta me segurou. Eu tentei correr e me soltar. Mas ele me segurava com força, foi horrível.
- Será que é bom ligar pra polícia? Pergunta Leo.
- Não sei. Espera meu pai chegar.
Leo por precaução fecha a porta com a chave, volta e se senta ao lado dela ligando a TV. A cabeça de Alessa ainda dói mas aparentemente não está mais sangrando. Seus pensamentos aos poucos estão mais lúcidos e ela começa a se lembrar dos segundos de pânico. Dá onde aquele cara saiu!? Não tinha ninguém na sala nem na cozinha quando passei. Pensa Alessa tentando se lembrar de cada detalhe.
Os dois ficam em silêncio por alguns minutos. Ele muda de canal sem parar enquanto Alessa continua deitada com os olhos fechados.
- Nada que presta nessa porcaria. Diz Leo.
- Leo. Você acha que é alguém daqui do prédio? Pergunta Alessa, se sentando no sofá. O porteiro não iria deixar ninguém estranho entrar essa hora.
- Vou interfornar lá pra ele e perguntar. Responde Leo, deduzindo que seria melhor mostrar boa vontade ao invés de tentar dissuadi-la.
Alessa se deita novamente. Levantar foi uma ideia ruim. Muito ruim. Sua cabeça de súbito começou a latejar mais forte. Vou ter que ficar três dias deitada. Conclui ela.
- Ele falou que não entrou ninguém. Diz Leo se sentando de novo em frente a TV. Pode ser que alguém só quis te assustar. Tem um monte de retardado aqui.
- Não conheço ninguém daqui. Diz Alessa. E teria que ser muito retardado mesmo pra fazer uma merda dessas.
A campainha toca.
- Deve ser meus pais. Alessa se levanta cambaleante e segue em direção a porta se escorando nos móveis.
- Ainda quer a pizza? Pergunta Leo sorrindo.
- Não. Valeu. Responde ela sem olhar pra trás.
Seus pais a encaravam preocupados. Sua mãe se abaixa na sua frente enquanto seu pai está atrás imóvel. Sua mãe a deita na cama tentando limpar seu cabelo com um pano umedecido.
- Filha o que aconteceu? Pergunta Ana enquanto limpa o corte de Alessa.
- Alguém me segurou quando estava saindo pela porta. Mas não vi quem era. Quando me soltou eu caí e apaguei.
- Vou falar pro seu pai ligar pra polícia. Diz a mãe tentando tranquilizar Alessa.
- Será que vai ter que dar pontos? Pergunta Alessa.
- Não sei. Mas você sabe que temos que ir no hospital ver isso aí melhor. Fica aqui e tenta descansar. Eu vou lá falar com seu pai.
Ana se levanta e sai do quarto. Ela fecha a porta e apaga a luz.
- Deixa a luz acesa mãe. Grita Alessa.
A mãe volta e acende a luz novamente. Coitada, ela vai ficar um bom tempo com medo. Pensa a mãe. O pai de Alessa se aproxima e coloca a mão em seu ombro. Ela fecha a porta e os dois vão para a sala.
- Alguém atacou ela aqui dentro. Diz Ana.
- Falei com o porteiro, ele disse que não entrou ninguém estranho mas vou ligar pra polícia mesmo assim.
- Será que precisa mesmo? Questiona Ana.
- Você acha que ela tá mentindo?
- Claro que não, mas... Ana desvia o olhar de seu marido.
- Você deveria estar mais preocupada. Deixa ela descansar um pouco e desce pra irmos no hospital. Vou esperar lá embaixo. Ele sai irritado e bate a porta.
Alessa odiava hospitais. O cheiro de gaze misturado com soro a deixava incomodada. Ela sempre ficava imaginando quantas pessoas sentaram e tocaram nos mesmos locais que ela estava agora, sofrendo das mais diversas doenças, muitas delas contagiosas. Ela se levanta das cadeiras de espera e caminha até um balcão com panfletos. Os olha somente a distância sem tocá-los. A enfermeira surge e chama por seu nome.
Ela e a mãe entram no consultório. O médico pede para que ela se deite na maca enquanto isso a enfermeira se aproxima para limpar e esterilizar o ferimento. Logo depois ele se aproxima e faz alguns procedimentos para verificar sua condição.
- Vamos ter que dar alguns pontos. Afirma o médico enquanto olha sua cabeça afastando os cabelos do pequeno corte. Você vai sentir uma leve picada da anestesia, sabe que não vai doer certo?
- Não é a primeira vez que eu preciso de uns pontos. Responde ela com um leve sorriso.
Em alguns minutos já estava pronta para ir para casa. A cabeça já não dói muito e o pânico havia passado. Sua mãe assina alguns papeis no balcão enquanto seu pai a chama para ir para o carro. Um homem entra correndo carregando um menino desacordado. Os pés do menino acertam seu ombro e o chinelo de um dos pés cai no chão. Ela se abaixa e pega para devolvê-lo. O pai está em desespero enquanto alguns enfermeiros já surgem no fim do corredor para socorrer a criança. Ela coloca o chinelo em uma das cadeiras e sai pela porta. Será que ele vai morrer? Pensa ela olhando atordoada para o pai em desespero. Seu pai a chama novamente e ela sai.
- O médico falou que o impacto foi um pouco forte mas que não iria precisar de um raio x. Diz a mãe enquanto entra no carro.
- Eu liguei pra polícia, eles fizeram uma busca no prédio inteiro e arredores mas não acharam nada. Conta o pai enquanto liga o carro.
Todos ficam em silêncio. Alessa olha pela janela contemplando a madrugada, pensa como era engraçado o fato de que enquanto a maioria dorme tranquilamente, várias coisas ruins podem estar acontecendo.
- A polícia já foi embora? Pergunta a mãe de Alessa.
- Acho que sim. Responde ele.
- E não vão fazer mais nada?
- Eles olharam as gravações das câmeras de segurança e ninguém entrou ou saiu naquele horário. Disseram que não tinham mais o que fazer. Para qualquer coisa ligar pra eles.
Alessa apenas ouve quieta a discussão. Pareciam conversar sobre algo que não tinha nada ver com ela. Por hoje só queria chegar em casa e dormir.
Ela envia uma mensagem para Leonardo, seu amigo do apartamento ao lado.
Fome! Pediu alguma coisa pra comer hoje?
Ele era a perfeita definição de um bom amigo para uma mulher. Alguém com quem ela nunca iria ter qualquer relação íntima, mas que sempre a iria ajudar com problemas essenciais da vida, como não ter nada pra comer às dez da noite.
Eu pedi pizza aqui. Ainda tem se quiser. Responde ele logo depois.
Ele a achava definitivamente bonita, mas já tinha abandonado suas segundas intenções há certo tempo. Era apenas da sua personalidade tentar ser uma pessoa amigável.
Alessa coloca o celular na bolsa, apaga a luz do quarto e encosta a porta.
O corredor está uma penumbra. Sou racional demais para ter medo de escuro, pensa ela, enquanto caminha tateando a parede em busca do interruptor.
A luz amarelada vinda da rua penetra pela sacada e ilumina levemente a sala. Alessa evita olhar adiante, a silhueta e sombra dos móveis fornecia um cenário fértil para ver coisas que talvez não estivessem ali. Ela dá mais um passo e alcança o interruptor, acendendo a luz do corredor, um caminho reconfortante e iluminado surge a sua frente. Ela caminha até a sacada, a porta dupla de vidro está aberta, uma brisa úmida entra carregada pelo vento e a faz estremecer. Ela fecha a porta e a cortina. Pega suas sandálias que estavam jogadas no canto e se senta no sofá para calçá-las. Sons de passos ecoam pelo corredor. Alguém bate na porta.
Será que esqueceram de levar a chave? Pensa ela tentando não se alarmar. Algumas semanas atrás uma senhora havia sido assaltada no prédio. Desde então Alessa ficava receosa sozinha. Diziam que foi um sobrinho dela drogado, mas isso não a fazia se sentir mais otimista.
Alessa caminha até a porta e gira a chave. Ninguém. Somente o corredor vazio a encara. Uma brisa suave atinge sua nuca. Não fechei a porta da sacada? Pensa ela.
De imediato tenta se virar, porém seus ombros se tencionam, todos os músculos de seu corpo se enrijecem antes que pudesse fazer qualquer movimento. Alessa fica paralisada como um animal empalhado. Ela sente novamente aquela brisa, possui um ritmo constante, agora acompanhado por um som arfado. Não é o vento. Era uma respiração, há centímetros de sua nuca. Sua garganta trava antes mesmo de pensar em gritar.
Por um minuto sua mente se esvai. É muito difícil limpar a mente de qualquer pensamento. Mas em pânico entramos em uma espécie de modo de suspensão. Todos os sentidos se voltam para nós mesmos. De súbito nos damos conta de como nosso corpo se esforça para realizar tarefas básicas, a respiração metódica, o coração batendo como uma máquina, os tendões e músculos rangendo com um mínimo movimento.
Não posso ficar aqui parada. Pensa ela.
O lampejo de razão se mostra inútil, a linha entre corpo e mente está rompida. Alguns longos segundos são necessários para que o instinto assuma o controle. Alessa se move para frente em um espasmo descoordenado. Mas seu pulso é agarrado com violência. Ela tenta gritar mas está sem ar algum. O pavor aumenta e ela se debate histericamente.
Meu Deus, não. Neste momento todas as possibilidades que passam por sua mente são ruins. Sua imaginação preenche as lacunas de terror puro com cenas de abuso, agressões, sangue e dor. Alessa se joga para todos os lados com mais força. Sem aviso seu pulso é solto e ela atinge o chão com violência. Sua cabeça bate contra o piso frio impulsionada por todo o peso do seu corpo. Ela tenta manter os olhos abertos mas sua visão fica turva. Em um último esforço ela olha pelo corredor procurando por alguém. Mas está sozinha.
A consciência de Alessa volta lentamente, como se estivesse acordando de um sono de doze horas. Sua cabeça lateja como se estivesse prestes a estourar.
- Alessa. Diz Leo ao se abaixar do lado dela segurando uma caixa de pizza. O que aconteceu?
- Me ajuda. Responde Alessa se esforçando para abrir os olhos.
- Vamos lá pra dentro, consegue levantar?
Alessa leva a mão até a cabeça e sente seu cabelo encharcado e pastoso. Ela abre os olhos e vê suas mãos vermelhas de sangue.
- Me leva pra sua casa por favor. Responde Alessa encarando as mãos.
- Beleza. Vem, levanta devagar.
Leo segura o braço de Alessa e a ergue com cuidado, a apoia andando até seu apartamento. Alessa se deita no sofá com a cabeça em uma almofada.
- Fica aí que vou ligar pra sua mãe. A presença dele já a faz se sentir melhor.
Leo caminha até a cozinha com o celular no ouvido. O apartamento dele era semelhante ao dela, mas parecia ter sido reformado recentemente. Os pisos eram novos e as paredes ainda cheiravam a tinta fresca.
- Eles estão vindo, já estão aqui perto. Diz Leo voltando para a sala.
- O que você disse pra ela?
- Que você tinha caído, mas que não era sério.
- Tinha alguém dentro de casa.
- Só vi você caída apagada. Responde Leo de forma reflexiva, considerando que era tão distraído que se tivesse um urso lá dentro provavelmente sequer teria notado.
- Não vi ninguém. Mas, quando fui sair pela porta me segurou. Eu tentei correr e me soltar. Mas ele me segurava com força, foi horrível.
- Será que é bom ligar pra polícia? Pergunta Leo.
- Não sei. Espera meu pai chegar.
Leo por precaução fecha a porta com a chave, volta e se senta ao lado dela ligando a TV. A cabeça de Alessa ainda dói mas aparentemente não está mais sangrando. Seus pensamentos aos poucos estão mais lúcidos e ela começa a se lembrar dos segundos de pânico. Dá onde aquele cara saiu!? Não tinha ninguém na sala nem na cozinha quando passei. Pensa Alessa tentando se lembrar de cada detalhe.
Os dois ficam em silêncio por alguns minutos. Ele muda de canal sem parar enquanto Alessa continua deitada com os olhos fechados.
- Nada que presta nessa porcaria. Diz Leo.
- Leo. Você acha que é alguém daqui do prédio? Pergunta Alessa, se sentando no sofá. O porteiro não iria deixar ninguém estranho entrar essa hora.
- Vou interfornar lá pra ele e perguntar. Responde Leo, deduzindo que seria melhor mostrar boa vontade ao invés de tentar dissuadi-la.
Alessa se deita novamente. Levantar foi uma ideia ruim. Muito ruim. Sua cabeça de súbito começou a latejar mais forte. Vou ter que ficar três dias deitada. Conclui ela.
- Ele falou que não entrou ninguém. Diz Leo se sentando de novo em frente a TV. Pode ser que alguém só quis te assustar. Tem um monte de retardado aqui.
- Não conheço ninguém daqui. Diz Alessa. E teria que ser muito retardado mesmo pra fazer uma merda dessas.
A campainha toca.
- Deve ser meus pais. Alessa se levanta cambaleante e segue em direção a porta se escorando nos móveis.
- Ainda quer a pizza? Pergunta Leo sorrindo.
- Não. Valeu. Responde ela sem olhar pra trás.
Seus pais a encaravam preocupados. Sua mãe se abaixa na sua frente enquanto seu pai está atrás imóvel. Sua mãe a deita na cama tentando limpar seu cabelo com um pano umedecido.
- Filha o que aconteceu? Pergunta Ana enquanto limpa o corte de Alessa.
- Alguém me segurou quando estava saindo pela porta. Mas não vi quem era. Quando me soltou eu caí e apaguei.
- Vou falar pro seu pai ligar pra polícia. Diz a mãe tentando tranquilizar Alessa.
- Será que vai ter que dar pontos? Pergunta Alessa.
- Não sei. Mas você sabe que temos que ir no hospital ver isso aí melhor. Fica aqui e tenta descansar. Eu vou lá falar com seu pai.
Ana se levanta e sai do quarto. Ela fecha a porta e apaga a luz.
- Deixa a luz acesa mãe. Grita Alessa.
A mãe volta e acende a luz novamente. Coitada, ela vai ficar um bom tempo com medo. Pensa a mãe. O pai de Alessa se aproxima e coloca a mão em seu ombro. Ela fecha a porta e os dois vão para a sala.
- Alguém atacou ela aqui dentro. Diz Ana.
- Falei com o porteiro, ele disse que não entrou ninguém estranho mas vou ligar pra polícia mesmo assim.
- Será que precisa mesmo? Questiona Ana.
- Você acha que ela tá mentindo?
- Claro que não, mas... Ana desvia o olhar de seu marido.
- Você deveria estar mais preocupada. Deixa ela descansar um pouco e desce pra irmos no hospital. Vou esperar lá embaixo. Ele sai irritado e bate a porta.
Alessa odiava hospitais. O cheiro de gaze misturado com soro a deixava incomodada. Ela sempre ficava imaginando quantas pessoas sentaram e tocaram nos mesmos locais que ela estava agora, sofrendo das mais diversas doenças, muitas delas contagiosas. Ela se levanta das cadeiras de espera e caminha até um balcão com panfletos. Os olha somente a distância sem tocá-los. A enfermeira surge e chama por seu nome.
Ela e a mãe entram no consultório. O médico pede para que ela se deite na maca enquanto isso a enfermeira se aproxima para limpar e esterilizar o ferimento. Logo depois ele se aproxima e faz alguns procedimentos para verificar sua condição.
- Vamos ter que dar alguns pontos. Afirma o médico enquanto olha sua cabeça afastando os cabelos do pequeno corte. Você vai sentir uma leve picada da anestesia, sabe que não vai doer certo?
- Não é a primeira vez que eu preciso de uns pontos. Responde ela com um leve sorriso.
Em alguns minutos já estava pronta para ir para casa. A cabeça já não dói muito e o pânico havia passado. Sua mãe assina alguns papeis no balcão enquanto seu pai a chama para ir para o carro. Um homem entra correndo carregando um menino desacordado. Os pés do menino acertam seu ombro e o chinelo de um dos pés cai no chão. Ela se abaixa e pega para devolvê-lo. O pai está em desespero enquanto alguns enfermeiros já surgem no fim do corredor para socorrer a criança. Ela coloca o chinelo em uma das cadeiras e sai pela porta. Será que ele vai morrer? Pensa ela olhando atordoada para o pai em desespero. Seu pai a chama novamente e ela sai.
- O médico falou que o impacto foi um pouco forte mas que não iria precisar de um raio x. Diz a mãe enquanto entra no carro.
- Eu liguei pra polícia, eles fizeram uma busca no prédio inteiro e arredores mas não acharam nada. Conta o pai enquanto liga o carro.
Todos ficam em silêncio. Alessa olha pela janela contemplando a madrugada, pensa como era engraçado o fato de que enquanto a maioria dorme tranquilamente, várias coisas ruins podem estar acontecendo.
- A polícia já foi embora? Pergunta a mãe de Alessa.
- Acho que sim. Responde ele.
- E não vão fazer mais nada?
- Eles olharam as gravações das câmeras de segurança e ninguém entrou ou saiu naquele horário. Disseram que não tinham mais o que fazer. Para qualquer coisa ligar pra eles.
Alessa apenas ouve quieta a discussão. Pareciam conversar sobre algo que não tinha nada ver com ela. Por hoje só queria chegar em casa e dormir.