Caso queira ter uma experiência de leitura superior, utilize o link abaixo para ler via Google Docs:
http://bit.ly/PrototipoPremiado
Se não se importar com isso, abra o Spoiler abaixo para ler a história completa. Boa leitura.
Obs.: O final do texto foi cortado no tópico por causa do limite de caracteres do próprio fórum, ao chegar no limite, é necessário acessar o link para continuar lendo!
O Protótipo Premiado é uma curta história que estive bolando durante um curto período de tempo. Não tenho muita experiência em escrever histórias, mas acho que pelo menos me diverti com essa daqui. Apesar do título da história ser O Protótipo Premiado, a história não gira completamente em torno deste evento. Preferi tomar a liberdade de utilizar os demais capítulos para contar a história de nossos personagens que vão possuir um papel importante num futuro próximo. E até alguns deles já possuíam um papel importante no passado. De qualquer modo, espero que esta seja a primeira de muitas, peço perdão por quaisquer erros que encontrar, não sou muito habilidoso com esse tipo de coisa, como disse anteriormente. Boa leitura!
Capítulo 1 - O Protótipo Premiado (Pág. 2)
Capítulo 2 - O garoto que morava num condado (Pág. 8)
Capítulo 3 - Tale John (Pág. 12)
Capítulo 4 - Os jovens que guerreavam (Pág. 16)
Capítulo 5 - Rickas e Mágico D (Pág. 21)
Capítulo 6 - O garoto que falava com os corvos (Pág. 25)
Capítulo 7 - O Protótipo Premiado (Pág. 31)
O Sol brilhava alto aos céus sobre a Cidade Dourada. A animação das pessoas se assemelhava muito com a que ocorria em dias de festival, mas aquele não era o caso. A praça da cidade estava cheia de pessoas que apresentavam um largo sorriso no rosto após cada meia dúzia de frases ditas. Várias figuras diferentes eram vistas naquele local, como um homem vestido com peles de urso que fazia brincadeiras e distribuía doces às crianças. Outro tocava flauta e deixava os mais jovens impressionados com seu talento e uma senhora vendia alimentos caseiros. Era certamente uma praça muito frequentada pelos moradores.
A fonte da praça chamava atenção, mesmo estando ali há algum tempo. O que realmente atraía a atenção das pessoas era seu sistema automatizado que permitia que ela fosse ativada e desativada de tempos em tempos para exibir um efeito bonito e impressionar a todos. Exibir a tecnologia da sociedade era de certeza uma chance de atrair turistas. Afinal, quem não se impressiona com uma boa dose de tecnologia?
O momento e o lugar para ter uma vida boa com o suor do trabalho desde o simples vendedor ambulante de todos os dias até o construtor mais esforçado dos quatro cantos até os aviadores sonhadores. Claro que neste caso se aplica aquele provérbio: Quanto maior seu sonho, maior sua queda. E se podia dizer que não era uma simples queda metafórica.
Em uma parte daquela praça podia se ver um grande tumulto, e não era sem motivo. Um cartaz em cores vivas e ilustrações em grandes detalhes colado na parede chamou grande atenção. Difícil era se contar a dedo a quantidade de pessoas presentes naquele ponto. E nem eram tantas pelo simples motivo de tentarem ler e estarem impossibilitadas. Era apenas uma discussão calorosa sobre o assunto que estava escrito naquele cartaz. Parece até que as pessoas se mantinham ali próximas para discutir sobre o assunto para que ele não se perdesse. Como se a presença do conteúdo colado no muro se mostrasse necessário para falar sobre.
Um jovem curioso tentava atravessar a floresta de pessoas para ler o que estava escrito, mas foi barrado pelos autores da discussão. Se mantiveram ali como guardas de segurança para um pedaço retangular de papel colado no muro. Ninguém estava em posição de julgar caso seja mesmo essa a intenção, mas de certeza não era. A barreira de pessoas se mostrou impenetrável.
Ouvir a conversa era inútil, porque aquele falatório soava tão aleatório e incompreensível. E falavam tão alto que sua voz não foi ouvida quando perguntou a qualquer um sobre tudo aquilo que estava acontecendo. Quanta confusão. Hora de montar uma estratégia ele pensou.
Sua primeira ideia foi dar a volta e subir em cima do muro e ler pendurado ali. Não era a ideia mais genial, mas em sua cabeça funcionaria. Correu para atrás do muro e foi escalando. O muro não era muito alto, bastava algum esforço e conseguiu chegar em cima. Mas aparentemente havia pessoas demais na frente do cartaz, não era possível ler de modo algum. Quanta frustração! e desceu do muro.
- Mas que droga! - Berrou enquanto empurrava as pessoas uma em cima da outra e algumas caíam como um monte de dominós enfileirados e pulava como um coelho sem mãe. - Será que ninguém pode me ouvir? Quero saber o que está escrito neste maldito cartaz!
Após elevar o tom de maneira que sobrepos todas as outras vozes, finalmente obteve êxito e aquilo que mais queria: o silêncio e a atenção. Um sentimento de vitória passou por seu corpo, mas de maneira tão rápida e silenciosa para dar espaço à surpresa, que foi imperceptível até mesmo por ele.
- Olhe, este é o Felan! Um dos selecionados para a competição! - Um deles exclamou em meio ao silêncio e se virou para ir até o cartaz e apontar a fotografia acompanhada de seu nome na lista dos trinta selecionados. Curiosamente, não houve resistência por parte das pessoas. Apenas se afastaram do cartaz depois de se levantarem do chão não-tão-limpo.
- Vê? Aqui está seu nome. É um dos trinta. - O garoto continuava apontando para o rosto de Felan e passava o dedo sobre seu nome, de início a fim. Podia se ver dúvida nos olhos de Felan. Se perguntava o que estava acontecendo utilizando o olhar. Até que fez o esperado e parou de olhar apenas para seu nome e rosto naquele cartaz e finalmente leu o que estava escrito.
Apresentamos a primeira competição de inventores amadores da cidade, o PROTÓTIPO PREMIADO. Trinta inventores amadores foram selecionados para participar desta competição por votação da comunidade e dos governantes. Cada um foi selecionado pela sua maestria em uma ou mais invenções que fizeram sucesso na comunidade e tinham como objetivo fazer a vida das pessoas melhor ou melhorar a comunidade como um todo. Os trinta participantes devem apresentar uma ótima invenção para competir, e ela deve ser a mesma até o fim da competição. Modificações são permitidas durante o curso das etapas contando que o núcleo da ideia não seja alterado. A primeira apresentação terá início no dia 15 de maio. Se preparem. O prêmio será de duzentas moedas douradas para o primeiro lugar e a medalha de vencedor do PROTÓTIPO PREMIADO, cem moedas douradas para o segundo lugar e cinquenta moedas douradas para o terceiro lugar. A lista de participantes pode ser vista abaixo. Quero ver todos dando seu melhor! Seu governante, Rickas!
Leitura mental finalizada, as vozes começaram a surgir em sua cabeça, mas afinal de conta eram reais. Como se tivesse ido para outro mundo durante o momento da leitura e tapado seus ouvidos com algo impenetrável, como o desejo das vítimas de noites maldormidas.
- Qual será sua invenção?
- Vai ganhar? Está confiante?
- Eu também estou competindo.
- Também estou! De certeza te vencerei com minha invenção extraordinária!
A mente de Felan se atola de informações. Não consegue compreender ou responder nenhuma das perguntas que são metralhadas em sua direção. O falatório estava pior que o anterior, de certeza. Sua vontade interior era de fugir, desaparecer dali imediatamente, que um teleportador o enviasse para outra dimensão. Tudo aquilo era sufocante. Pensava e pensava numa maneira de sair daquela situação desagradável e nada aparecia em sua mente. Após alguns segundos o que o atolava deixou de ser apenas informação e palavras gritadas e passou a ser pessoas atiradas em sua direção. Tudo se tornou ainda pior.
Fugir com a mente para um lugar bem longe dali era a única opção para respirar um ar mais puro. Para pensar o que fazer, como fugir daquela maldita situação. E o óbvio lhe acerta na cabeça tão forte que sente até mesmo vergonha alheia de si mesmo, se é que isso é possível. Correr. Haviam menos pessoas atrás dele que em sua frente, na direção do cartaz e isso foi ideal. Suspira, se prepara psicológica e fisicamente, se vira bem devagar para que nada levante suspeitas desnecessárias e partiu como uma flecha.
Assim que o cérebro das pessoas processou o acontecimento, fizeram a única coisa sensata que restava. Correr desesperadamente atrás de Felan. A corrida teve real início, errata, a perseguição teve real início numa das quatro entradas da praça. Sim, a praça era circular cercada por muros e quatro entradas largas sem portão nos pontos cardeais. A perseguição seguia nas ruas de pedregulho da cidade abençoada pela tecnologia da Era Steampunk. A quantidade de ódio que se acumulava no coração de Felan ao perceber que o cartaz do PROTÓTIPO PREMIADO havia sido colado em mais pontos da cidade aumentava cada vez mais. Toda aquela confusão poderia ter sido evitada com um pouco mais de cautela e pesquisa.
A calmaria dos estabelecimentos era interrompida bruscamente ao ver um jovem correndo na frente e a manada atrás. Sem saber o que acontecia, alguns indivíduos se juntavam ao grupo de perseguidores e cada vez o grupo aumentava mais sendo formado por quem não sabia nada. Aquela loucura chegou num certo ponto que a maior parte das pessoas não sabiam o que estavam fazendo, mas continuavam correndo atrás daquele jovem. Dessa maneira se manteve por muito tempo. De um lado para o outro, passando por estabelecimentos, casas, até instituições de ensino e bibliotecas. Alguns desistiram da corrida, outros se juntavam, mas Felan nunca se cansava. Sabe se lá de onde tirava tanta vitalidade.
Não demorou muito para que a tal corrida chegasse aos ouvidos atentos e aos olhos que tudo viam de Rickas. Houve dúvida. Poderia ser simplesmente algo ignorável e estúpido, mas pela quantidade de pessoas, que chegava a casa das centenas valia a pena saber do que se tratava.
- As pessoas estão se animando para perder alguns quilos, Mágico D? - Rickas olha para seu aliado no governo da grande Cidade Dourada.
- Parece que estão correndo atrás de um jovem. É um dos trinta escolhidos para o Protótipo Premiado, Felan Agnelo. Acho que querem um autógrafo, não é?
Rickas não riu. Pensou no tumulto que uma perseguição poderia causar na sua cidade. Podia não ser nada, mas podia ser algo preocupante.
- Vamos esperar um pouco, Mágico D. Se a perseguição, ou corrida, tanto faz, não se encerrar, podemos ir intervir. Pode ser interessante. Se não for nada, não vamos estragar a diversão das pessoas. - Dizia enquanto se dirigia à sacada e ficava ali, olhando as pessoinhas se movimentando como formiguinhas nas ruas de pedregulho. Querendo ou não, era engraçado de se ver. Chegou até mesmo a abrir um sorriso de canto de boca.
- Nós estamos quase o alcançando! - Ao ouvir esta frase aleatória de um dos corredores, Felan tomou um enorme susto. Quando olhou para trás e viu que a mão de um deles quase o tocava, aí sim quase teve um ataque cardíaco, mas continuou correndo. Não valia a pena parar ali, nem por um segundo. O que poderia fazer? O que essas pessoas fariam quando o pegassem? Será que estavam tão irritadas assim por ele ter fugido?
Felan estava no fim de suas energias, mas conseguiu prender a corrida num único quarteirão para analisar onde se esconder. Viu uma loja em que o vendedor estava nos fundos e não havia nenhum cliente. Bastou acelerar um pouco o passo para que os corredores o perdessem de vista. Não querendo ficar para atrás, a manada acelerou também um pouco o passo, mas a maioria deles estava cansada demais para sequer se importar. Eventualmente o alcançariam com um pouco de esforço e revezamento.
Bastou Felan se esconder na loja na próxima volta ao redor do mesmo quarteirão. De vício, todos continuaram correndo algumas voltas, mas eventualmente desistiram. O balconista viu Felan abaixado atrás de uma mesa forrada com um pano bordado até o chão, mas antes que liberasse uma palavra sequer, Felan fez um sinal de silêncio com o dedo nos lábios. O vendedor compreendeu e continuou seu trabalho com indiferença. Ele só saiu da loja com total certeza que todos haviam ido embora.
Aliviado, saiu para a rua e começou a seguir o caminho para sua casa. Infelizmente, ao virar a primeira esquina, notou que o grupo continuava lá apenas esperando que ele aparecesse. E continuaram correndo atrás dele. Dessa vez se sentiu encurralado. Dois grupos estavam correndo atrás dele numa mesma rua, um grupo veio da direita e o outro grupo veio da esquerda. Não havia escapatória. Ele ia ser pego. Se aproximaram, se aproximavam, ele suspirou e eles chegavam cada vez mais perto. Desistiu até mesmo de correr, não havia caminho nenhum para fugir. Eles iam pegá-lo agora.
- O que estão fazendo aí? - Ao ouvir esta voz, todos pararam bruscamente, como se soubessem de quem era. Olharam para um lado e viram Rickas na rua, acompanhado de Mágico D.
- Por que estão perseguindo ele? Não veem que ele está incomodado? Por favor, deixem ele ir embora em paz. - Após isso, um olhou para o outro, se perguntando realmente o motivo de estarem perseguindo Felan. Ninguém sabia dizer.
Rickas deixou o local junto de Mágico D e assim fizeram todos os outros. Em menos de minutos, todos haviam ido embora. Felan ficou muito confuso, mas acabou indo para casa também. No caminho, pensou no que tinha acontecido e estava realmente confuso. E se lembrou: O Protótipo Premiado! Não sei o que fazer, preciso pensar. A competição é daqui a um mês e meio e todos já devem estar trabalhando em seus respectivos projetos. O que fazer? Que raios!
Com toda aquela distração, acabou colidindo com outra pessoa na rua que estava carregando alguma coisa. Os dois caíram no chão e aquilo que o outro estava segurando acabou caindo para longe e quase quebrou.
- Não presta atenção por onde anda? Quase que quebrou meu projeto vencedor! O que pensa que está fazendo? - O outro, que parecia um pouco mais velho que Felan e visivelmente alterado empurrou-o, ainda caído no chão.
- Me desculpe, eu estava distraído. Perdão, diz projeto vencedor? Você também está participando do Protótipo Premiado?
- Você também? Bem, eu estava carregando uma das partes do meu projeto, até que um certo desastrado acabou o derrubando no chão. De qualquer forma, meu nome é Roy.
- Roy, prazer em conhecê-lo, peço desculpas. - E estendeu a mão para cumprimentar Roy, mas ele simplesmente não correspondeu.
Roy Valentia, o filho de Lua Valentia e Kharl Valentia era um garoto feliz, animado e que sempre aprendia com seus erros. Seus pais apenas puderam o acompanhar no início de sua vida, quando logo depois tiveram que assumir o governo do condado e Roy não os via muito desde quando isso aconteceu, e ele se acostumou a ficar sozinho, sem a companhia dos pais. Mas isso não o afetou, poderia lidar.
Roy, desde que se reconhecia por ser humano sabia que o seu futuro era governar o magnífico Condado Coração Valente e era algo que se orgulhava de saber. Apreciava muito a ideia de governar o condado que amava tanto e sabia que não havia sido escolhido para tal tarefa por mero acaso. Esta parte é até bem literal, pois seus pais são governantes do condado e carregam o sobrenome Valentia. Tanto o sobrenome quanto o nome do condado remetiam à sua vitória na Guerra Dourada. Por serem valentes durante todas as batalhas e só desistirem quando a morte os ordena.
Mesmo que seu destino já estivesse escrito nas estrelas, não era apenas questão de tempo para Roy obter tal cargo. Aguardar até que sua hora chegasse não seria o certo. O outro requisito era o merecimento. De alguma forma ele deveria se provar capaz de carregar nas costas tamanha responsabilidade e fazer alguma coisa que mostrasse seu amor pelo povo. Certamente nunca foi a forma mais democrática de se decidir isso, e quando este sistema foi introduzido gerou muita discórdia e problemas no condado, mas era no mínimo poético e as pessoas se acostumaram.
Desde criança foi apaixonado por inventos. Mesmo com a educação precária da área que ainda estava em desenvolvimento e pais ausentes, sempre preocupados com o governo, estudava sempre. Por conta própria e na biblioteca do condado, mas ainda contava como estudo. Todas as matérias eram suas favoritas e sempre queria aprender um pouco sobre tudo e tudo sobre algumas coisas, tudo o interessava. E aqueles estudos o levaram à paixão pelos inventos. Não queria apenas colocar em prática o que estava aprendendo e obter mais conhecimento, mas também se distrair, conseguir um porto seguro, um hobby, algo que o atraísse e que gostasse de fazer.
Sua vida era monótona, haviam poucas formas de se divertir no condado, além dos festivais que em sua maioria eram para adultos e pessoas mais habilidosas. Mesmo com seus estudos não tinha habilidades, somente conhecimento. Encontrou nos inventos uma forma de diversão que funcionava bem para si mesmo, e ficava feliz com isso.
No começo foi complicado. Não saiu nada muito incrível de suas mãos, mas rendiam algumas palmas e moedinhas na rua. Não que precisasse de dinheiro, mas ganhar algum com seu esforço próprio era recompensador e gratificante. Mas com o passar do tempo suas criações foram evoluindo e ele começou a chamar a atenção. Nunca chamou antes, mesmo sendo filho de quem era filho.
Esta era sua rotina desde então. Criar e criar e criar. Sempre estava trabalhando em alguma coisa. Por mais assustador que parecesse, era isso que o manteve são. Trabalhava muito e colocava seu suor em seus trabalhos. Mas era recompensador. Depois de tudo isso, tomou a decisão. Faria uma invenção como sua prova para entrar no governo. A ideia perfeita.
Não podia ser uma invenção comum, de modo algum. Somente algo inédito, incrível e superior a tudo que já fez seria o ideal. Algo que fosse um desafio real. Que viesse a revolucionar aquele condado. Afinal seus pais eram ausentes com um bom motivo. Eles investiam todo o tempo que tinham no condado. O povo era sua família. E eles nunca iam deixar de valorizar isso.
Ideias nunca foi o forte de Roy. Ele sempre trabalhava com sugestões, e por isso seus inventos agradavam o público. Mas agora ele não podia simplesmente perguntar. Que futuro governante estúpido e sem criatividade era esse que não conseguia ver o que era melhor para seu povo? Quanto mais perto estava de uma ideia, mais difícil era enxergá-la. Tocá-la então, fora de questão.
Depois que decidiu fazer um invento para revolucionar onde vivia, seus dias se resumiram a andar por aí, ler um pouco na biblioteca e se deitar no gramado de sua casa para ver as nuvens se moverem. Talvez aquilo poderia lhe dar uma inspiração. Em alguns momentos se sentia até mal. Os outros poderiam ter uma imagem errada de Roy, achando que tudo que ele fazia de sua vida era vadiar pelas ruas da cidade e cochilar na grama. Podiam achar que ele era apenas um preguiçoso.
Num desses cochilos, de repente uma sombra tapava o sol sobre a cabeça de Roy. Ao olhar para cima viu que se tratava de um dirigível que vinha da Cidade Dourada por causa das engrenagens ilustradas que eram como um símbolo da cidade. Extremamente reconhecíveis. Aparentemente um voo comercial. Alguns desses que sobrevoavam com muita frequência para manter relações comerciais com cidades vizinhas. Mesmo já se tornando algo mais comum e recorrente, ainda era impressionante ver algo daquele tamanho voando lá no alto. Não havia um que não olhasse para cima boquiaberto. Se acostumar fácil com tecnologias era uma tarefa difícil quando evoluíam em tamanha velocidade.
Isso poderia ser uma boa ideia. Roy pensou que seria genial fazer algo do tipo. Mas um simples dirigível (nem tão simples) não seria inovador e grandioso o bastante. Então tudo lhe estalou. Em vez de fazer um dirigível voador, faria um condado voador. De alguma forma faria aquele condado possuir habilidades de voo podendo se locomover para qualquer lugar do mundo e se manter onde o governo achar necessário ou conveniente. Parecia pura loucura e impossível, muito difícil mesmo, mas quem disse que nosso jovem inventor gostava de tarefas fáceis?
Bolava e rebolava em sua mente e o dirigível continua seu caminho. A partir daquele momento tudo seria diferente. O seu tempo livre acabava de assinar um contrato de escravidão eterna acompanhado de um sofrimento bem temperado. Uma coisa ele sabia. Teria que suar e sangrar para tornar seu sonho estúpido realidade. E nem sabia por onde começar, que belo governante.
Numa de suas viagens para cidades vizinhas em busca de conhecimento e itens para a construção de seu projeto ele encontrou um cartaz pregado num muro da Cidade Dourada anunciando que o governo está se interessando em ver trabalhos de inventores para uma competição futura. Roy abraçou a chance e estava curioso para saber no que isso resultaria. Foi se apresentar e apresentar seu trabalho para Rickas e Mágico D.
E no fim de tudo isso, foi aceito para participar do Protótipo Premiado. Aquela seria a oportunidade ideal. Com a vitória em suas mãos naquela competição poderia mostrar ainda mais seu valor ao povo de Coração Valente, obter algum dinheiro para futuros projetos e aquela linda medalha seria um agradável prêmio extra para colocar em sua parede e sempre se lembrar duma vitória tão memorável.
- E então, Roy Em qual projeto está trabalhando?
- Peço perdão, mas não falo sobre meu projeto, ele é secreto. - E abaixava a cabeça como quem quisesse se desculpar, tentando esconder a tristeza.
- Sem problemas. Foi bom te conhecer Roy. - E seguiu seu caminho para casa numa direção e o outro na direção oposta. Os dois andavam na mesma velocidade e na mesma linha, então parecia que havia um espelho gigante no meio da rua com imagens diferentes.
Já estava escurecendo que a lua era visível ao alto. Mas nem por isso a cidade perdia sua atividade. Vários bares e restaurantes abriram e as luzes da Instituição de Ensino podiam ser vistas de longe. Algumas pequenas poças de bebidas alcoólicas podiam ser encontradas na rua de pedregulhos acompanhadas de cacos de vidro camuflados, mas apagando estes pontos da memória a rua estava muito limpa. A moradia de Rickas e Mágico D era visível em qualquer ponto da cidade por ser localizada no lugar mais alto, que nem era tão alto se for comparar ao resto.
Chegou em casa e rapidamente cumprimentou sua irmã e mãe e já corria para se banhar rapidamente. Mal se via seus movimentos.
- Qual é o motivo de tanta pressa, irmão? Está indo encontrar sua namorada? - A irmã de Felan diz em tom de ironia e solta uma risada silenciosa, sem ser correspondida.
- Acho que tem louça para lavar, Anna Os adultos nunca lhe disseram que namoradas são perda de tempo e dinheiro? - E bateu a porta de casa com tanta força que os pratos e copos tremeram. Seguiu para a casa de seu amigo, Tale. Algumas luzes haviam se apagado nesse meio tempo. Talvez tenha perdido mais tempo que deveria.
- O seu sorriso cintilante é como uma lua minguante Que com seu brilho const Ei, Felan! - E Tale interrompe bruscamente sua cantoria e acena para Felan que se aproxima enquanto segura seu violão com a outra mão.
Quando o visitante se aproximou o suficiente, Tale se levantou e foi apertar sua mão. Em outra cadeira uma mulher de óculos estava sentada lendo um livro. Felan rapidamente olhou para sua barriga avantajada mas desviou o olhar rapidamente.
- Ah, não te contei as boas novas? - Tale dizia como se pudesse ler seu olhar. - Mint está grávida! E tenho certeza que será um ou uma artista espetacular como seu incrível pai! - Apontava para seu peito com o polegar e abriu um sorriso confiante. Felan sorriu de volta.
- Se for um menino, vou colocar o nome de Zaggo! Se for uma menina será Luka. Bons nomes. - E fazia um gesto para Felan entrar e seguiram o caminho para dentro de casa. Mint nem se moveu, estava muito distraída em seu livro.
Os dois se sentaram no sofá da sala e Tale tentava tocar alguma coisa em seu violão. Da ausência de harmonia da primeira deslizada de dedos sobre as cordas, rapidamente surgia uma música agradável que se assemelhava muito à cantada anteriormente. Mas desta vez Tale nem abriu sua boca. Parecia que algo estava faltando na música, mas aquele sentimento foi logo substituído por algo que já tinha sentido, mas não sabia o que era.
Era notável que a música já havia acabado e que apenas se repetia, mas o cérebro de Felan estava tão hipnotizado e relaxado que nem se importou. Até tentou buscar alguma inspiração, uma faísca que seja para seu projeto, mas nada. Era apenas uma música para ele. E se encerrou.
- Certo, o que lhe traz aqui? - Se vira bruscamente para seu visitante e olhava em seus olhos.
- As pernas. Na verdade só vim por tédio mesmo. - Fechou seus olhos lentamente.
- Você pode enganar sua inocente mãe e sua tola irmã, mas não a mim. - Dizia isso se levantando como se estivesse atrasado para algo. - Tenho muito mais idade que você, e isso inclui conhecimento.
- Tudo bem - Fecha os punhos com força e suspira. - Estou sem ideias para criar uma invenção para o Protótipo Premiado. Se eu quiser fazer algo, preciso começar já. Não há mais tempo a perder.
Tale abriu um sorriso e se sentou novamente no sofá.
- Então você foi selecionado? Sabia que ter um amigo artista como eu lhe faria algum bem! Que orgulho! Hah!
Felan sorriu de modo ligeiro e se virou para frente tentando evitar contato visual. Estava um pouco apreensivo e achava que aquela conversa o levaria a lugar nenhum.
- Querida, pode trazer um bolo e suco para a gente? - Tale gritou e Mint seguiu para a cozinha.
- Já ouvi boatos sobre alguns inventos que estão fazendo para a competição. Alguns chegam a ser delirantes. Você vai ter que se esforçar ao máximo, dar seu sangue para ganhar.
- Sei O que mais? - Dizia em tom irônico.
- Felan - Olhava com desprezo e reprovação.
- Ahn Tá - E segurava o queixo apoiando o cotovelo na coxa.
- Alguns projetos vão de máquinas de construções até novas formas de locomoção por terra que pretendem superar as que já conhecemos. Sei que tem potencial para criar algo tão complexo, já vi suas invenções milhares de vezes. Só está escondido dentro de você.
- Não está escondido. Eu poderia fazer algo assim se quisesse. Mas nunca me ocorreu e o trabalho era excessivo. Essas coisas devem ser projetos antigos destes participantes, nem daqui a mil anos poderiam fazer coisas assim em apenas um mês e meio. - Cruzou os braços com um pouco de dúvida e raiva.
- Pode até ser. Mas vamos dar início à sessão de ideias. - Tale levantou-se e foi até a escrivaninha pegar um caderno pequeno e uma caneta depois retornou. Nesse meio tempo, Mint chega com o bolo e o suco.
- Fazer algo mirabolante e inútil não vai adiantar. Se for útil para a comunidade é mais provável que ganhe. Que tal um meio de transporte?
- Não. - Balançou a cabeça. - Já devem ter mil desses por aí, e também o dirigível é bem avançado e fazer algo melhor que isso pode não ser possível.
- Um meio de comunicação! - E se virou bruscamente para Felan apontando a caneta para ele.
- Pode ser uma boa, apesar de ser muito complexo. Anote aí. - E Tale escreveu a ideia no caderninho.
E por vários minutos algumas ideias foram surgindo, Tale as anotou no seu caderno, e uma lista foi formada, que ocupou apenas uma página do caderno pequeno. Não muitas linhas.
- Acho que está bom por hoje, Tale. - E Felan olhou em seu relógio de bolso que estava tarde. - Amanhã podemos continuar e filtrar as melhores ideias, certo? Quais já temos?
- Temos um meio de comunicação, uma máquina que contribua na pecuária, uma que contribua à agricultura, alguma máquina que sirva para escrever e organizar arquivos, uma máquina de
- Espere aí! Escrever e organizar arquivos? Isso é inútil comparado às anteriores, não é? - Tale negou.
- Um meio de comunicação não seria muito diferente do que temos agora, porque não há mais muito ao que acrescentar. Uma máquina que contribua na pecuária ou agricultura pode ser algo simples como uma máquina de ordenha automática ou irrigação. Uma máquina que sirva para escrever e organizar arquivos pode ser algo maior. - E fazia gestos com as mãos exibindo sua clara empolgação. Realmente queria executar esta ideia.
- A máquina pode escrever de uma maneira diferente. Diferente de uma máquina de escrever convencional, esta poderia exibir o texto numa tela em vez de escrever diretamente no papel. Desta maneira não era necessário tinta e se poderia ver o texto a qualquer momento e modificá-lo facilmente. E para enviar a outras pessoas que possuem o aparelho, o texto seria armazenado num compartimento eletrônico! A máquina também poderia armazenar os textos escritos nela e os escritos por outras pessoas que possuem a máquina. Genial, não? - E olhava para Felan com aquele sorriso no rosto mas um nervoso também aparente, como se quisesse dizer: Eu coloquei muitos pensamentos nesta ideia, por favor a aceite.
E um silêncio destroçador toma conta da sala. Não se ouvia nada além dos grilos noturnos e o zumbido dos mosquitos passeando nas orelhas de ambos. Tale até chegou a matar um deles com uma palma. Se olham, tentando se comunicar apenas através de pensamentos, mas há uma barreira impedindo a comunicação. Se passam alguns minutos, Mint aparece na sala, mas volta de costas refazendo suas pegadas após notar que não deveriam ser incomodados.
- Perfeito. - Felan sorri. - É o que vai ser. Obrigado, Tale.
- Já vai embora? - Tale vê ele se levantar e ir em direção a porta.
- Sim, isso deve servir. Agradeço pela ajuda. - E sai calmamente pela porta carregando aquele sorriso montado na ideia nas costas e parte de volta para sua casa. Ele pensava: Agora é a parte mais difícil.
Ao chegar em casa, cogitou em ir direto para a cama. Mas não tinha sono nenhum, e não valia a pena trabalhar em seu projeto ali naquela noite. Seria infinitamente melhor fazer isso no dia seguinte, de manhã e trabalhar o dia inteiro. O que poderia lhe distrair enquanto pegava no sono?
Encarou um pouco a estante de livros. Olhou pra ela, ela olhou para ele, eles se olharam e ele aceitou: Tá bom, eu vou ler um livro. Mas qual livro? Já li todos. Nesse meio tempo ia passando o olho pelos títulos e trazendo a memória todos os que já tinha lido e todos os que não leu. Mas parecia que já tinha lido todos que estavam ali. Menos um, que notou assim que passou o olhar pela penúltima fileira de livros. Contos da Guerra era o nome do livro. Se tratava de uma história real contada pelo líder de um grupo do Condado Coração Valente durante a guerra contra a Cidade Dourada. Uma história real! pensou. Vai ser uma experiência completamente nova, vou ler!. E deu início a leitura.
Eu nunca soube como raios isso pôde acontecer! A Cidade Dourada, e o Condado Coração Valente, que eram tão aliados de repente acabaram em guerra. Muitos previram que ela aconteceria e tentaram com todas as forças evitar sem sucesso. Não tinham outra escapatória senão lutar. Apesar de que os conselhos sempre diziam que o combate era a pior e de certeza a mais dolorosa solução para os problemas, os grandes governantes Rickas e Kharl não ouviram e o resultado foi este.
Na mente de alguns, a violência é o que faz mais sentido. Diálogo é uma palavra que havia se perdido. Se algo não vai conforme um, ou todos os lados desejaram, esta seria a única solução. Mas de qualquer forma, quais seriam as consequências disto tudo? Em vez de entrarem num acordo, guerrearam até que ambos já estavam em ruínas, milhares de pessoas mortas no calor da batalha, tudo havia se tornado um caos.
A guerra havia chegado ao seu limite máximo. Alguns dos sobreviventes do Condado Coração Valente e da Cidade Dourada continuavam batalhando, porém uma minoria que não queria mais continuar este combate acabou por tentar fugir do campo de batalha, para sobreviver em outro lugar, com maior estabilidade e começar uma nova vida e restabelecer pelo menos uma parte do que havia sido estabelecido antes. Eu era o capitão de um dos times que foi mandado para a guerra.
- Certo, Equipe 23 do Condado, todos venham comigo, estamos começando a nos distanciar, porém ainda há muitos combatentes deste lado. Acompanhem-me, e tudo vai ficar bem Digo eu, Elinor John, o líder da Equipe 23 do Condado Coração Valente, que juntou alguns membros que não desejavam mais participar para fugir, composta de Elinor, Yudson, Kepiano, Krähe, Naya e Kalina.
- Eu sinto que há ameaças próximas... Me viro e avisto um dos combatentes da Cidade Dourada se aproximando para o combate com um machado de guerra pesado em suas mãos.
- Naya e Kalina, juntem-se a mim e façam a posição protetiva Delta!
- Sim, senhor! Dizem ambas.
- Agora, vamos atordoá-lo! Protejam minha retaguarda! E vou em direção ao inimigo por trás enquanto Kepiano ataca pela frente, e dou um golpe atordoador. E ele adormece.
- Ele já está atordoado! Darei o ataque final! Diz Naya, retirando a foice contida em suas costas e rapidamente desferindo um golpe num ponto vital para evitar que o sangue voe sujando todos seus companheiros. O inimigo cai morto.
- Muito bem. Vamos continuar! Digo apontando para uma trilha onde as chamas da batalha começaram a se dissipar, e um vale pode ser visto ao longe.
Nós começamos a andar, e observamos tudo ao nosso redor. Os destroços do Condado, pedaços caídos, grandes rochas, tudo destruído, e as pessoas que foram perdidas nessa maldita guerra. Tudo parecia perdido e destruído. Mas havia uma esperança. Com aquele seleto grupo de pessoas, poderiam reconstruir novamente o Condado Coração Valente.
Porém, aparece quem estava escondida atrás de um monte de rochas, a Cavaleira da Discórdia, Revalia! Ela faz uma pose ameaçadora para o grupo.
- Ora, ora... Esta não é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Digo com dúvidas se estava vendo corretamente.
- Sim, sou eu, Revalia, a Cavaleira da Discórdia.
- Então, Kalina, é ela mesmo? Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Diz Naya.
- Eu acho que sim. Kepiano, essa é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Diz Kalina.
- Eu acho que sim, mas o Krähe deve saber. Krähe, esta é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? - E isso continua por algum tempo.
- Não me interessa se acreditam em mim ou não. Revali grita em raiva interrompendo Kepiano. Aquele sujeito perdia sua paciência com muita facilidade.
- Que besteira... Revalia remove a espada de sua bainha e prepara sua posição de ataque, enquanto o grupo forma a posição de defesa Delta com Elinor, Naya e Kalina, e posição de ataque Alfa com Krähe, Kepiano e Yudson.
Eu fixo meus olhos em Revalia desejando prever cada um de seus movimentos, enquanto Naya agarra-se fortemente em Kalina, Kepiano se esconde atrás de Krähe, e Yudson cruza suas duas espadas para gerar uma defesa fácil que se possa transformar rapidamente em um ataque.
- Vamos formar uma barreira de ataque! Kepiano chama Yudson e Krähe que possuem as melhores habilidades de ataque e defesa simultâneas do grupo para formar uma barreira que poderia proteger e atacar.
Revalia começa a ficar mais furiosa e parte para o ataque. Tenta me golpear com sua espada, mas Kalina avança na frente, com seu escudo a mão. Faz um sinal balançando a cabeça para Naya, que dá a volta para atrás de Revalia por longe para tentar criar uma abertura. Já Revalia, frustrada com a falha de seu ataque, prepara-se para desferir outro golpe que é interceptado por Naya que já estava atrás.
Revalia então aproveita que o trio Alfa estava com a guarda baixa e avança rapidamente em direção a eles. Então quando ela vai golpear Kepiano, que já estava em posição de defesa, acaba por jogar sua espada para trás na direção de Kalina, que não estava em defesa. Sendo assim, aquele suposto golpe na direção do trio Alfa era apenas uma distração para seu real objetivo, acertar um membro do trio Delta.
Naya ao ver a arma saindo da mão do inimigo, avança na direção de Kalina, a empurrando ao chão e levando o golpe da lâmina no braço direito em seu lugar, caindo. Revali corre para retomar a posse de sua espada, porém Kalina avança e segura seu braço.
- Se preparem! Kalina solta a mão de Revalia e empunha sua lança avançando-a na direção do rosto dela e atravessando sua cabeça. Ela simplesmente caiu para trás com a lança atravessando sua cabeça. Kalina não demonstrando nenhuma expressão retira a lança e procura o lago mais próximo para limpá-la.
- Ela está muito ferida, creio que não poderá lutar mais. Kepiano, faça os primeiros socorros. - Ordenei enquanto fui verificar se os outros membros da Equipe 23 estavam bem.
Krähe queria continuar viajando. Mesmo sabendo que seria necessário socorrer Naya naquele momento, levaria muito tempo. Precisava se distrair um pouco. Ele então decide explorar um pouco o ambiente, coisa que não tem feito há alguns tempos. Leva sua mochila, e se equipa com seus olhos (metaforicamente), para explorar os arredores das montanhas.
Andando um pouco, nota certas cavernas nas montanhas, que seria interessante explorar. Por fim, procede para fazer verificações. A caverna não estava muito distante, então foi fácil para se aproximar. Olhando aos arredores para saber se não há alguém por perto ele adentra na caverna. Como esperado, tudo estava extremamente escuro, logo de início, mesmo sendo uma manhã ensolarada e maldormida.
Krähe acende seu lampião para continuar sua exploração com o mínimo de iluminação que era necessário. Carregar um pesado lampião não era uma das coisas mais agradáveis de fazer, mas se mostrou necessário. Ao andar pela caverna se ouvia um barulho de água corrente ao fundo, bem baixo, mas nada que podia se ouvir com clareza. Optou por continuar seguindo em frente, para descobrir mais.
Ao continuar seguindo, percebe que a caverna se bifurcava. Agora ele teria que escolher entre o caminho da esquerda ou o caminho da direita. Pensando um pouco ele resolve que para não se perder pegaria carvão e riscaria o caminho pelo qual acabou de passar, assim saberia por onde voltar. Procurou em sua mochila um pequeno pedaço, e após encontrar, fez um pequeno risco no chão para indicar por onde deveria retornar, e seguiu o caminho da direita.
Seguindo o caminho da direita, tudo parecia entediante, e normal, mas o barulho da água corrente continuava aumentando. Apesar de na sua cabeça se tratar de apenas de uma fonte de água subterrânea, que não teria a menor graça encontrar, resolveu continuar seguindo.
Ainda não tendo descansado completamente depois da última batalha, após minutos e minutos andando e andando numa direção sem nenhum resultado, resolve parar para descansar um pouco. Vai até sua mochila e pega sua garrafa de água para tomar alguns goles. A água estava quente, e isso desagradava. Mas não podia reclamar. A curiosidade começa a bater mais forte para ver o fim da caverna. Krähe se levanta e continua seguindo em frente.
O barulho da água corrente começa a ficar mais forte, e ele começa a ver uma espécie de brilho ao fim da caverna e corre para ver do que se trata. Já abre um sorriso em seu rosto, esperando encontrar algo interessante que valha o tempo investido. Ele corre e corre para encontrar um alçapão. Havia algumas entradas de ar, e por elas passava uma luz. Se assemelhava muito ao lampião que estava carregando até o momento. Também se escutava um burburinho. Outras pessoas?
Krähe toma coragem e abre o alçapão e começa a descer a
E Felan dorme.
- Mágico D? O que está fazendo aqui? Não consegue dormir? - Rickas tira os olhos do livro que estava em seu colo ao notar Mágico D acordado na madrugada.
- Rickas, lhe faço a mesma pergunta. Não tem o costume de ler até esta hora da noite. - Mágico D ainda sonolento esfrega os olhos com os dedos debaixo do óculos.
- Este livro é muito interessante e não consegui parar até agora. Fico sempre empolgado para saber o que acontece.
- Interessante. - Dizia Mágico D demonstrando zero interesse e andando para a cozinha. - Enfim, vou tomar um leite quente para ver se consigo pegar no sono. Vê se diminui um pouco o nível da iluminação, está muito forte.
E Rickas continuava focado em seu livro, não queria tirar os olhos dele por nada. O tempo passava, vários minutos iam e vinham e continuava lendo. O livro era longo, mas aquilo não o desanimava.
- Mas que droga, Rickas! - Mágico D surge novamente na sala após falhar novamente em pegar no sono. - Vá dormir, você tem um dia cheio amanhã e tem que trabalhar! Não vou aceitar você dormindo no serviço!
- Sabe, Mágico D Você não era assim. Tão agressivo. Tenho total consciência de minhas responsabilidades, mas seja razoável. - E abaixou sua cabeça em tom triste. - Me lembro da época em que você fazia jus ao nome Mágico D.
Mágico D recuou um pouco e desviou o olhar. Após alguns segundos, também abaixou sua cabeça como quem quisesse dizer: Você ainda se lembra?.
Rickas e Mágico D sempre trabalharam juntos no governo da Cidade Dourada. Na verdade, Rickas que tomou a posse do governo há trinta anos e Mágico D veio depois da Guerra Dourada, há dezesseis anos. Claro que este é só um apelido, seu nome verdadeiro é Dale. Mas acabou conhecido por todos por este apelido pela sua habilidade de resolver conflitos e problemas com tamanha facilidade que achavam que ele era um mágico.
Mas este apelido não se encaixava mais em Dale. Tinha se tornado um reclamão apenas focado no seu trabalho. O que não era tão ruim, se não fosse pelo fato que tudo em excesso pode se tornar um problema. Mas Dale recebeu grande parte do apoio do povo para acompanhar Rickas no governo após suas ações na guerra.
Foi o capitão da Equipe 12 da Cidade Dourada e sempre que havia algum conflito, ele sabia o que fazer, era sábio, calmo e esperto. De certeza não o melhor em combate, mas isso não o desmerecia de modo algum. Sempre se mostrou fiel ao seu time. Nunca aprovou a violência como forma de resolver qualquer situação, mas se a guerra se mostrava necessária, havia algum motivo. Se possível, tentava resolver tudo com uma boa conversa.
No começo seu governo, sempre apoiou a evolução e a revolução. Quando podia, apoiava financeiramente as novas indústrias e fábricas e fazia tudo para que as engrenagens da Cidade Dourada continuassem a se mexer. Mas depois, conforme o tempo foi passando, o peso foi aumentando e começou a ser jogado apenas nas costas de Rickas.
Houveram brigas e desentendimentos, mas eles continuaram lá. Houveram conflitos na própria cidade, mas eles continuaram lá. O vento soprou, a chuva choveu, a neve caiu, e eles continuaram lá. Firmes e fortes. Por menos determinado que Dale fosse, ele ainda estava lá pelo povo e pela cidade. Até que depois de um tempo, Dale se mostrou mais ausente em festivais e eventos relacionados à cidade. A situação parecia estar elevando e abaixando, elevando e abaixando. Mas mesmo com a ausência, mesmo com a baixa determinação, ele continuava lá.
Os dois ainda trabalhavam juntos. Organizavam e planejavam e criavam festivais e eventos, as leis, as reclamações e melhorias que deviam ser feitas, o apoio a empresas de pequeno e grande porte para sempre se certificar que a cidade evoluiria com o tempo e não ficaria presa numa época.
- Sim, eu não era. - Respondeu Dale. - Mas as coisas mudam, e eu fiquei mais velho. Por mais que não pareça, eu me preocupo com a cidade. Sei que tudo vai se ajeitar e você tem consciência disso. Não gosta de se preocupar demais e ficar com a cabeça cheia. Eu aprecio isso, mas às vezes é bom ter um pouco de consciência. Não vai te fazer bem ficar acordado até esse horário. Todo dia é dia de trabalho.
Rickas suspirou duas vezes, fechou seu livro e o colocou em cima da mesinha. Se levantou e aguardou alguns segundos. Estava pensando no que fazer ou até mesmo no que havia acontecido naquele momento. Decidiu então ir dormir.
Ao colocar a cabeça no travesseiro, tentou dormir. Virava-se de um lado, virava-se do outro. Colocava o travesseiro em cima da própria cabeça, invertia a direção. Olhava pela janela. O céu começava a puxar um leve tom alaranjado no oceano azul escuro como um pintor que respingou sem querer um pouco de tinta laranja em seu quadro de noite estrelada e teve que espalhar com o pincel para disfarçar.
Cada vez que o pincel esparramava mais tinta laranja no céu azul escuro, maior era a preocupação de Rickas. E esta preocupação adicionava ainda mais à pilha de coisas que lhe impediam de dormir. E a tinta laranja cobriu o céu por inteiro, dando espaço a um tom azulado claro que indicava o começo da manhã. Havia falhado naquela simples tarefa: conseguir dormir. Agora já não lhe restava mais escapatória. Encararia o dia.
Naquele dia, a vida se mostrou a dor mais difícil de suportar. Ao sentar em sua escrivaninha, sua cabeça doía, sentia náusea e sono e dores fortes no corpo. Apenas pediu que isso parasse, mesmo que tivesse que levar sua vida junto. Não é possível que somente com uma noite mal dormida se sentiria tão mal. E desmaiou ali mesmo em sua escrivaninha.
- Rickas! Rickas! - Grita Dale ao ver ele caído em cima dos papéis. - O que aconteceu? Você não precisa fazer tudo sozinho, sabia? Vá dormir, eu compenso seu trabalho aqui.
Dale deixou Rickas em sua cama e foi fazer seu trabalho. Não era muita coisa, mas alguém tinha que fazer.
- Pobre velho - Dale olhava para a direção onde estava seu quarto. - Tudo bem, vamos continuar.
E Dale fez o trabalho de Rickas naquele dia. No dia seguinte ele já estava se sentindo melhor e voltou ao trabalho.
- Ei, quer brincar com a gente?
- Não dispenso.
- Por favor, é uma brincadeira muito divertida, a gente vai fazer uma...
- Já disse para me deixar sozinho.
- Mas
- Vá Embora...
Poe tinha seis anos, mas era muito anti social e seus pais estranhavam seus hábitos. Sempre preferia utilizar roupas negras e dizia que tinha a habilidade de falar com os corvos. Parecia que atraía corvos para perto de si. Por causa deste fato, foi apelidado de Corvo. Enquanto todos os outros garotos de sua idade brincavam e se divertiam inocentemente, Poe preferia ler livros o dia todo e se isolar num canto. Quando não estava lendo, estava escrevendo. E quando não fazia nenhum dos dois, observava o dia passar, como Roy outrora.
Seus pais, Krähe e Mercília ficavam preocupados com este comportamento. Compreendiam que exercitar a leitura e a escrita eram coisas super importantes para seu desenvolvimento, mas se isolar e não socializar com outros de sua idade poderia prejudicá-lo.
Tentavam empurrar ele para ter amizades mas ele simplesmente rejeitava e se irritava com seus pais por atrapalharem sua leitura ou sua escrita. Mas no fundo, compreendia a preocupação dos dois. Mas simplesmente não queria viver neste estilo de vida que haviam preparado para ele: rodeado de amigos, brincando e se divertindo. Achava que tudo aquilo era fútil e desnecessário. Uma perda de tempo. Pensava que não iria melhorar suas capacidades com brincadeiras infantis.
Isso vindo de uma criança de seis anos realmente assustava os dois. Pensavam de quem ele havia puxado tais características. Ou com quem andava para ter uma mentalidade tão auto isolante. Quando saía de casa, os pais iam escondidos atrás, querendo ver para onde ele estava indo e com quem ia se encontrar. Acabaram não encontrando ninguém. Ele só ia na praça, na floresta da Cidade Dourada e em alguns estabelecimentos olhar alguns livros.
A leitura era uma das práticas mais apreciadas na cidade. Quase todo mundo lia, então não era algo anormal. A biblioteca da cidade contava com milhares e milhares de livros. As livrarias então, outros milhares que não estavam disponíveis na biblioteca. Apenas para quem tinha o dinheiro. Por vezes, Poe pedia livros a seus pais. Mas eles por vezes faziam condições como: Somente se você fizer amigos e brincar com eles. O que fazia ele ficar apenas chateado e desistir. No fim das contas, os pais ficavam com o coração partido e davam o livro a ele. Ler era o que o distraía, e era algo saudável, então por que negar isso a seu próprio filho?
Depois de muitas tentativas falhas, decidiram apenas aceitar o que o filho era e seu comportamento. Não seria tão nocivo para ele ficar sozinho, era apenas sua vontade, e acreditavam que deveria ser respeitada. Um relacionamento entre pais e filhos deveria ser construída através de respeito e compreensão.
E quando não fazia nenhuma dessas outras coisas, ele conversava com os corvos. Ou ao menos dizia que conversava. Os pássaros vinham até ele e ele simplesmente dialogava com eles como se estivesse falando com uma pessoa normal. Dizia que os corvos eram sua fonte de informação e falavam sobre o mundo exterior e tudo que estava acontecendo por aí. Algumas pessoas acreditavam, porque contava relatos de lugares distantes que um garoto de seis anos não poderia alcançar. Coisas que só podiam ser vistas pelos olhos de um corvo. Mas se era verdade, como que ele conseguia se comunicar com este pássaro? Ele havia nascido com um dom único?
Os corvos não eram mera fonte de informação, eram seus amigos. Ele falava com o corvo como se estivesse falando com um amigo, que bem, ele não tinha nenhum. Mas parecia que substituía as amizades humanas pela amizade pelos corvos. E os pássaros correspondiam. Da maneira deles, eles respondiam a suas perguntas e somente Poe poderia compreender. Assim que perguntava, o corvo fazia um barulho, de uma maneira que se assemelhava muito a uma conversa e que o animal estava compreendendo.
Este dom nunca foi questionado, porque a maioria das pessoas pensavam que ele era um garoto criativo e ignoravam, mas outros acreditavam que ele falava com os corvos e ficavam calados. Mas quase ninguém se comunicava com o garoto por causa da sua aversão a contato social. Seus únicos amigos eram os corvos. E ele era feliz assim.
- Rickas, tem certeza que está bem para trabalhar?
- Sim, eu estou, Mágico D. - Respondia com uma voz cansada. - Não se preocupe comigo.
- Se quiser descansar novamente hoje, não há problema.
Rickas sentiu uma leve raiva e fez uma cara feia para Dale, que compreendeu no mesmo momento e não tocou mais no assunto. Continuaram a organizar alguns papéis. E quando Rickas foi organizar os papéis em sua escrivaninha, um homem abre a porta com extrema violência e entra na sala. Os dois olham para a porta e assustados.
- Rickas! Mágico D! É uma emergência! A Indústria Kepian está em chamas!
Dale se levanta rapidamente e Rickas logo depois. De início, pensaram: Que droga, vamos ter que resolver isso. Suspiraram, e seguiram o homem até o local do incêndio.
Ao sair da residência de Dale e Rickas já estava explícito que um incêndio estava acontecendo. A fumaça já tinha ido longe demais. E como a casa deles era distante da indústria, deve ter sido uma boa caminhada para chegar até lá. Quanto mais eles se aproximavam, mais claramente era possível ver a fumaça e o incêndio que se aproximava.
Ao chegar lá, notaram o que realmente era. As chamas tomavam conta de toda a construção, mas se ouvia vozes lá dentro gritando por socorro. Eram várias vozes distintas, e de vez em quando uma delas gritava muito alto e depois se cessava. De fora, o que parecia era que cada vez mais os trabalhadores eram engolidos pelas chamas.
Os cidadãos olhavam de fora horrorizados, e os familiares das vítimas choravam, alguns até tentavam se aventurar para salvar seus entes queridos, mas acabavam indo parar no estômago das chamas em poucos segundos. Por sorte, alguns eram parados. É notável que em momentos de desespero as pessoas não conseguem pensar com clareza, mas se matar num mar de chamas estava fora de questão.
- Dale, vá chamar os Dirigíveis de Água! - O desespero no rosto de Rickas era aparente ao dar tais ordens.
- Mas Rickas, vão demorar muito para
- Não interessa! - Interrompe Dale por não querer perder tempo discutindo. Dizia com os olhos: Vá logo, não questione, idiota! - É a nossa única chance, as chamas estão muito potentes. Deve ser vazamento de óleo ou algo assim. Eu vou fazer outras coisas mais leves. Não estou cem por cento ainda.
Ali perto já haviam muitas e muitas pessoas, apenas assistindo para saber o que acontecia. Algumas até se sentiam mal por não estar ajudando, mas sabiam que no fundo não podiam fazer nada.
E os dois correram em direções opostas. Dale foi para o Centro de Dirigíveis discutir com o coordenador de lá para a liberação dos Dirigíveis de Água. Rickas foi fazer alguma coisa importante.
Numa de suas caminhadas, Poe passava ali perto e começava a observar o incêndio com um corvo em seu ombro. Os gritos das pessoas lá dentro não eram muito altos e eram menos a cada momento, dando a entender que ou elas se cansaram de gritar, ou notaram que a ajuda já estava próxima, ou estavam morrendo.
Poe suspira e fala com seu corvo. O pássaro voa e alguns minutos depois chega com um monte de outros corvos rodeando a criança. As pessoas estavam tão focadas nas chamas hipnotizantes que nem notaram ou se importaram de ver um garotinho rodeado de corvos.
O menino conversa com os corvos e eles começam a voar para dentro da indústria. E um tempinho depois os corvos aparecem carregando uma das vítimas com trabalho em equipe, parecendo muito um gavião carregando uma carcaça de um animal que matou. A cena assustou as pessoas que estavam ali próximas que notaram que havia uma pessoa sendo carregada por corvos até o lado de fora da fábrica. O homem que foi salvo, não teve reação ao chegar ao lado de fora. O pânico não o deixava raciocinar direito.
E um a um, os trabalhadores iam sendo retirados de dentro da indústria pelos pássaros, até que sobrasse somente os que já estavam mortos. E eles estavam muito confusos, ainda não conseguiam discernir o que era real e o que não era. Seus familiares se aproximavam e os abraçavam e iam carregando-os nas costas para o hospital. Quem não tinha família ali, era levado pelos desconhecidos mesmo, e todos foram levados ao hospital.
Depois de terminar, em silêncio, o garoto deixou o local e voltou para sua casa como se nada tivesse acontecido.
Quanto Rickas e Dale retornaram e não viram aquela floresta de pessoas que estava no local antes, estranharam um pouco e questionaram a um dos poucos que estava ali.
- Um garoto de roupas negras, chamou corvos para salvar as vítimas do incêndio.
De início, ambos pensaram que era apenas um delírio e que aquele homem estava louco, então deixaram a parte do questionamento para depois. Mas notaram que realmente não havia mais gritos nem a voz de ninguém lá dentro. Poderia ser que todos estivessem mortos.
E finalmente, os Dirigíveis de Água chegaram e começaram a despejar milhões e milhões de litros de água no incêndio, e o fogo pouco a pouco desaparecia e era possível ver os destroços da indústria com mais clareza. E realmente, os únicos corpos que haviam lá dentro, já estavam sem vida.
Mesmo sem acreditar nem um pouco na história do sujeito, Rickas o pergunta:
- Para onde foram as vítimas?
- Estão todas no hospital.
Foram para lá.
A maioria dos trabalhadores sofreram apenas ferimentos leves, então os dois conseguiram falar com todos, e fizeram a mesma pergunta. E coincidentemente, obtiveram a mesma resposta.
- Quem os salvou do incêndio?
- Um monte de corvos me carregaram até o lado de fora.
- Fui salvo por um monte de corvos.
- Os corvos me ajudaram.
- Recebi ajuda de alguns corvos que me levaram para um lugar seguro.
- Corvos
A resposta de todos era a mesma, e isso intrigava muito os dois. Como que corvos poderiam ajudar alguém? Parecia sem sentido. E aí se lembraram do que o sujeito que encontraram na rua disse:
- Um garoto de roupas negras, chamou corvos para salvar as vítimas do incêndio.
Um garoto de roupas negras que falava com corvos. Não parecia ser plausível o bastante. Mas como que todos os trabalhadores contaram a mesma história? Eles não ganhariam nada criando uma mentira tão absurda, ganhariam? Por fim, resolveram procurar o tal garoto de roupas negras.
Chamaram alguns de seus funcionários para ajudar na busca. Ir de casa em casa procurando o tal garoto de roupas negras que sabia falar com corvos ia ser uma tarefa muito difícil para duas pessoas.
Por fim, encontraram onde morava o garoto. Filho de Krähe e Mercília, dois comerciantes que tiveram uma participação importante na Guerra Dourada.
- O que foi que meu filho fez? - Dizia Mercília que desatava a chorar. - Quanto orgulho Eu sabia que no fundo ele é uma boa pessoa!
- Sabia que nós não erramos. Ele só não queria mostrar seu lado bondoso para as outras pessoas - Respondia Krähe, quase chorando, mas limpava suas lágrimas para não soar fraco na frente de Rickas e Dale.
- Podemos falar com ele? - Disse Rickas, movendo o corpo para a direita para tentar ver algo dentro da casa deles.
- Bem Ele é extremamente anti social. Não gosta de falar com as pessoas. Mas posso tentar. - Encheu seu pulmão de ar sem motivo algum e gritou - Corvo! Rickas e Mágico D querem falar você!
Não houve resposta. Mas eles aguardaram mais um pouco e ouviram uma voz bem fraquinha dizer:
- Não quero falar com ninguém. Me deixe sozinho.
Os pais de Poe ficaram envergonhados e Krähe coçou a nuca como se quisesse se desculpar pelo comportamento do filho enquanto Mercília abaixava a cabeça e cruzava as mãos.
- Compreendemos. - Disse Dale, por fim. - Vamos voltar, Rickas.
E eles voltaram.
Felan estava trabalhando feito louco em seu projeto. Havia feito um bom progresso em poucos dias, mas estava feliz com seu trabalho. Não havia se esforçado tanto em alguma coisa há muito tempo.
Ficar enfurnado no seu quarto de invenções trabalhando duro era algo especial. Morava com sua mãe e sua irmã, mas como sua irmã estava o dia todo na Instituição de Ensino e sua mãe trabalhando para colocar comida na mesa, só encontrava as duas durante a noite, e isso era perfeito. Poderia colocar seus pensamentos em ordem e trabalhar à vontade sem a gritaria da irmã menor ou o barulho das panelas que sua mãe fazia. Parecia que todo dia era dia de manifestação.
E enquanto estava ali montando a sua máquina de digitar, hesitava por alguns momentos, pensando: Eu deveria fazer isso mesmo? Eu deveria me esforçar tanto? É apenas uma medalha, não é? Se eu parasse de fazer isso agora mesmo, influenciaria em alguma coisa? Parava de produzir a máquina e saía do quarto. Mas acabava voltando de novo porque não queria desistir.
Infelizmente, o fórum não permite mais caracteres no tópico :T.T:, para ler o texto completo, acesse: http://bit.ly/PrototipoPremiado
http://bit.ly/PrototipoPremiado
Se não se importar com isso, abra o Spoiler abaixo para ler a história completa. Boa leitura.
Obs.: O final do texto foi cortado no tópico por causa do limite de caracteres do próprio fórum, ao chegar no limite, é necessário acessar o link para continuar lendo!
O Protótipo Premiado - Introdução
O Protótipo Premiado é uma curta história que estive bolando durante um curto período de tempo. Não tenho muita experiência em escrever histórias, mas acho que pelo menos me diverti com essa daqui. Apesar do título da história ser O Protótipo Premiado, a história não gira completamente em torno deste evento. Preferi tomar a liberdade de utilizar os demais capítulos para contar a história de nossos personagens que vão possuir um papel importante num futuro próximo. E até alguns deles já possuíam um papel importante no passado. De qualquer modo, espero que esta seja a primeira de muitas, peço perdão por quaisquer erros que encontrar, não sou muito habilidoso com esse tipo de coisa, como disse anteriormente. Boa leitura!
[size=20pt]O Protótipo Premiado - Capítulos
Capítulo 1 - O Protótipo Premiado (Pág. 2)
Capítulo 2 - O garoto que morava num condado (Pág. 8)
Capítulo 3 - Tale John (Pág. 12)
Capítulo 4 - Os jovens que guerreavam (Pág. 16)
Capítulo 5 - Rickas e Mágico D (Pág. 21)
Capítulo 6 - O garoto que falava com os corvos (Pág. 25)
Capítulo 7 - O Protótipo Premiado (Pág. 31)
[size=20pt]Capítulo 1 O Protótipo Premiado
O Sol brilhava alto aos céus sobre a Cidade Dourada. A animação das pessoas se assemelhava muito com a que ocorria em dias de festival, mas aquele não era o caso. A praça da cidade estava cheia de pessoas que apresentavam um largo sorriso no rosto após cada meia dúzia de frases ditas. Várias figuras diferentes eram vistas naquele local, como um homem vestido com peles de urso que fazia brincadeiras e distribuía doces às crianças. Outro tocava flauta e deixava os mais jovens impressionados com seu talento e uma senhora vendia alimentos caseiros. Era certamente uma praça muito frequentada pelos moradores.
A fonte da praça chamava atenção, mesmo estando ali há algum tempo. O que realmente atraía a atenção das pessoas era seu sistema automatizado que permitia que ela fosse ativada e desativada de tempos em tempos para exibir um efeito bonito e impressionar a todos. Exibir a tecnologia da sociedade era de certeza uma chance de atrair turistas. Afinal, quem não se impressiona com uma boa dose de tecnologia?
O momento e o lugar para ter uma vida boa com o suor do trabalho desde o simples vendedor ambulante de todos os dias até o construtor mais esforçado dos quatro cantos até os aviadores sonhadores. Claro que neste caso se aplica aquele provérbio: Quanto maior seu sonho, maior sua queda. E se podia dizer que não era uma simples queda metafórica.
Em uma parte daquela praça podia se ver um grande tumulto, e não era sem motivo. Um cartaz em cores vivas e ilustrações em grandes detalhes colado na parede chamou grande atenção. Difícil era se contar a dedo a quantidade de pessoas presentes naquele ponto. E nem eram tantas pelo simples motivo de tentarem ler e estarem impossibilitadas. Era apenas uma discussão calorosa sobre o assunto que estava escrito naquele cartaz. Parece até que as pessoas se mantinham ali próximas para discutir sobre o assunto para que ele não se perdesse. Como se a presença do conteúdo colado no muro se mostrasse necessário para falar sobre.
Um jovem curioso tentava atravessar a floresta de pessoas para ler o que estava escrito, mas foi barrado pelos autores da discussão. Se mantiveram ali como guardas de segurança para um pedaço retangular de papel colado no muro. Ninguém estava em posição de julgar caso seja mesmo essa a intenção, mas de certeza não era. A barreira de pessoas se mostrou impenetrável.
Ouvir a conversa era inútil, porque aquele falatório soava tão aleatório e incompreensível. E falavam tão alto que sua voz não foi ouvida quando perguntou a qualquer um sobre tudo aquilo que estava acontecendo. Quanta confusão. Hora de montar uma estratégia ele pensou.
Sua primeira ideia foi dar a volta e subir em cima do muro e ler pendurado ali. Não era a ideia mais genial, mas em sua cabeça funcionaria. Correu para atrás do muro e foi escalando. O muro não era muito alto, bastava algum esforço e conseguiu chegar em cima. Mas aparentemente havia pessoas demais na frente do cartaz, não era possível ler de modo algum. Quanta frustração! e desceu do muro.
- Mas que droga! - Berrou enquanto empurrava as pessoas uma em cima da outra e algumas caíam como um monte de dominós enfileirados e pulava como um coelho sem mãe. - Será que ninguém pode me ouvir? Quero saber o que está escrito neste maldito cartaz!
Após elevar o tom de maneira que sobrepos todas as outras vozes, finalmente obteve êxito e aquilo que mais queria: o silêncio e a atenção. Um sentimento de vitória passou por seu corpo, mas de maneira tão rápida e silenciosa para dar espaço à surpresa, que foi imperceptível até mesmo por ele.
- Olhe, este é o Felan! Um dos selecionados para a competição! - Um deles exclamou em meio ao silêncio e se virou para ir até o cartaz e apontar a fotografia acompanhada de seu nome na lista dos trinta selecionados. Curiosamente, não houve resistência por parte das pessoas. Apenas se afastaram do cartaz depois de se levantarem do chão não-tão-limpo.
- Vê? Aqui está seu nome. É um dos trinta. - O garoto continuava apontando para o rosto de Felan e passava o dedo sobre seu nome, de início a fim. Podia se ver dúvida nos olhos de Felan. Se perguntava o que estava acontecendo utilizando o olhar. Até que fez o esperado e parou de olhar apenas para seu nome e rosto naquele cartaz e finalmente leu o que estava escrito.
Apresentamos a primeira competição de inventores amadores da cidade, o PROTÓTIPO PREMIADO. Trinta inventores amadores foram selecionados para participar desta competição por votação da comunidade e dos governantes. Cada um foi selecionado pela sua maestria em uma ou mais invenções que fizeram sucesso na comunidade e tinham como objetivo fazer a vida das pessoas melhor ou melhorar a comunidade como um todo. Os trinta participantes devem apresentar uma ótima invenção para competir, e ela deve ser a mesma até o fim da competição. Modificações são permitidas durante o curso das etapas contando que o núcleo da ideia não seja alterado. A primeira apresentação terá início no dia 15 de maio. Se preparem. O prêmio será de duzentas moedas douradas para o primeiro lugar e a medalha de vencedor do PROTÓTIPO PREMIADO, cem moedas douradas para o segundo lugar e cinquenta moedas douradas para o terceiro lugar. A lista de participantes pode ser vista abaixo. Quero ver todos dando seu melhor! Seu governante, Rickas!
Leitura mental finalizada, as vozes começaram a surgir em sua cabeça, mas afinal de conta eram reais. Como se tivesse ido para outro mundo durante o momento da leitura e tapado seus ouvidos com algo impenetrável, como o desejo das vítimas de noites maldormidas.
- Qual será sua invenção?
- Vai ganhar? Está confiante?
- Eu também estou competindo.
- Também estou! De certeza te vencerei com minha invenção extraordinária!
A mente de Felan se atola de informações. Não consegue compreender ou responder nenhuma das perguntas que são metralhadas em sua direção. O falatório estava pior que o anterior, de certeza. Sua vontade interior era de fugir, desaparecer dali imediatamente, que um teleportador o enviasse para outra dimensão. Tudo aquilo era sufocante. Pensava e pensava numa maneira de sair daquela situação desagradável e nada aparecia em sua mente. Após alguns segundos o que o atolava deixou de ser apenas informação e palavras gritadas e passou a ser pessoas atiradas em sua direção. Tudo se tornou ainda pior.
Fugir com a mente para um lugar bem longe dali era a única opção para respirar um ar mais puro. Para pensar o que fazer, como fugir daquela maldita situação. E o óbvio lhe acerta na cabeça tão forte que sente até mesmo vergonha alheia de si mesmo, se é que isso é possível. Correr. Haviam menos pessoas atrás dele que em sua frente, na direção do cartaz e isso foi ideal. Suspira, se prepara psicológica e fisicamente, se vira bem devagar para que nada levante suspeitas desnecessárias e partiu como uma flecha.
Assim que o cérebro das pessoas processou o acontecimento, fizeram a única coisa sensata que restava. Correr desesperadamente atrás de Felan. A corrida teve real início, errata, a perseguição teve real início numa das quatro entradas da praça. Sim, a praça era circular cercada por muros e quatro entradas largas sem portão nos pontos cardeais. A perseguição seguia nas ruas de pedregulho da cidade abençoada pela tecnologia da Era Steampunk. A quantidade de ódio que se acumulava no coração de Felan ao perceber que o cartaz do PROTÓTIPO PREMIADO havia sido colado em mais pontos da cidade aumentava cada vez mais. Toda aquela confusão poderia ter sido evitada com um pouco mais de cautela e pesquisa.
A calmaria dos estabelecimentos era interrompida bruscamente ao ver um jovem correndo na frente e a manada atrás. Sem saber o que acontecia, alguns indivíduos se juntavam ao grupo de perseguidores e cada vez o grupo aumentava mais sendo formado por quem não sabia nada. Aquela loucura chegou num certo ponto que a maior parte das pessoas não sabiam o que estavam fazendo, mas continuavam correndo atrás daquele jovem. Dessa maneira se manteve por muito tempo. De um lado para o outro, passando por estabelecimentos, casas, até instituições de ensino e bibliotecas. Alguns desistiram da corrida, outros se juntavam, mas Felan nunca se cansava. Sabe se lá de onde tirava tanta vitalidade.
Não demorou muito para que a tal corrida chegasse aos ouvidos atentos e aos olhos que tudo viam de Rickas. Houve dúvida. Poderia ser simplesmente algo ignorável e estúpido, mas pela quantidade de pessoas, que chegava a casa das centenas valia a pena saber do que se tratava.
- As pessoas estão se animando para perder alguns quilos, Mágico D? - Rickas olha para seu aliado no governo da grande Cidade Dourada.
- Parece que estão correndo atrás de um jovem. É um dos trinta escolhidos para o Protótipo Premiado, Felan Agnelo. Acho que querem um autógrafo, não é?
Rickas não riu. Pensou no tumulto que uma perseguição poderia causar na sua cidade. Podia não ser nada, mas podia ser algo preocupante.
- Vamos esperar um pouco, Mágico D. Se a perseguição, ou corrida, tanto faz, não se encerrar, podemos ir intervir. Pode ser interessante. Se não for nada, não vamos estragar a diversão das pessoas. - Dizia enquanto se dirigia à sacada e ficava ali, olhando as pessoinhas se movimentando como formiguinhas nas ruas de pedregulho. Querendo ou não, era engraçado de se ver. Chegou até mesmo a abrir um sorriso de canto de boca.
- Nós estamos quase o alcançando! - Ao ouvir esta frase aleatória de um dos corredores, Felan tomou um enorme susto. Quando olhou para trás e viu que a mão de um deles quase o tocava, aí sim quase teve um ataque cardíaco, mas continuou correndo. Não valia a pena parar ali, nem por um segundo. O que poderia fazer? O que essas pessoas fariam quando o pegassem? Será que estavam tão irritadas assim por ele ter fugido?
Felan estava no fim de suas energias, mas conseguiu prender a corrida num único quarteirão para analisar onde se esconder. Viu uma loja em que o vendedor estava nos fundos e não havia nenhum cliente. Bastou acelerar um pouco o passo para que os corredores o perdessem de vista. Não querendo ficar para atrás, a manada acelerou também um pouco o passo, mas a maioria deles estava cansada demais para sequer se importar. Eventualmente o alcançariam com um pouco de esforço e revezamento.
Bastou Felan se esconder na loja na próxima volta ao redor do mesmo quarteirão. De vício, todos continuaram correndo algumas voltas, mas eventualmente desistiram. O balconista viu Felan abaixado atrás de uma mesa forrada com um pano bordado até o chão, mas antes que liberasse uma palavra sequer, Felan fez um sinal de silêncio com o dedo nos lábios. O vendedor compreendeu e continuou seu trabalho com indiferença. Ele só saiu da loja com total certeza que todos haviam ido embora.
Aliviado, saiu para a rua e começou a seguir o caminho para sua casa. Infelizmente, ao virar a primeira esquina, notou que o grupo continuava lá apenas esperando que ele aparecesse. E continuaram correndo atrás dele. Dessa vez se sentiu encurralado. Dois grupos estavam correndo atrás dele numa mesma rua, um grupo veio da direita e o outro grupo veio da esquerda. Não havia escapatória. Ele ia ser pego. Se aproximaram, se aproximavam, ele suspirou e eles chegavam cada vez mais perto. Desistiu até mesmo de correr, não havia caminho nenhum para fugir. Eles iam pegá-lo agora.
- O que estão fazendo aí? - Ao ouvir esta voz, todos pararam bruscamente, como se soubessem de quem era. Olharam para um lado e viram Rickas na rua, acompanhado de Mágico D.
- Por que estão perseguindo ele? Não veem que ele está incomodado? Por favor, deixem ele ir embora em paz. - Após isso, um olhou para o outro, se perguntando realmente o motivo de estarem perseguindo Felan. Ninguém sabia dizer.
Rickas deixou o local junto de Mágico D e assim fizeram todos os outros. Em menos de minutos, todos haviam ido embora. Felan ficou muito confuso, mas acabou indo para casa também. No caminho, pensou no que tinha acontecido e estava realmente confuso. E se lembrou: O Protótipo Premiado! Não sei o que fazer, preciso pensar. A competição é daqui a um mês e meio e todos já devem estar trabalhando em seus respectivos projetos. O que fazer? Que raios!
Com toda aquela distração, acabou colidindo com outra pessoa na rua que estava carregando alguma coisa. Os dois caíram no chão e aquilo que o outro estava segurando acabou caindo para longe e quase quebrou.
- Não presta atenção por onde anda? Quase que quebrou meu projeto vencedor! O que pensa que está fazendo? - O outro, que parecia um pouco mais velho que Felan e visivelmente alterado empurrou-o, ainda caído no chão.
- Me desculpe, eu estava distraído. Perdão, diz projeto vencedor? Você também está participando do Protótipo Premiado?
- Você também? Bem, eu estava carregando uma das partes do meu projeto, até que um certo desastrado acabou o derrubando no chão. De qualquer forma, meu nome é Roy.
- Roy, prazer em conhecê-lo, peço desculpas. - E estendeu a mão para cumprimentar Roy, mas ele simplesmente não correspondeu.
[size=20pt]Capítulo 2 O garoto que morava num condado
Roy Valentia, o filho de Lua Valentia e Kharl Valentia era um garoto feliz, animado e que sempre aprendia com seus erros. Seus pais apenas puderam o acompanhar no início de sua vida, quando logo depois tiveram que assumir o governo do condado e Roy não os via muito desde quando isso aconteceu, e ele se acostumou a ficar sozinho, sem a companhia dos pais. Mas isso não o afetou, poderia lidar.
Roy, desde que se reconhecia por ser humano sabia que o seu futuro era governar o magnífico Condado Coração Valente e era algo que se orgulhava de saber. Apreciava muito a ideia de governar o condado que amava tanto e sabia que não havia sido escolhido para tal tarefa por mero acaso. Esta parte é até bem literal, pois seus pais são governantes do condado e carregam o sobrenome Valentia. Tanto o sobrenome quanto o nome do condado remetiam à sua vitória na Guerra Dourada. Por serem valentes durante todas as batalhas e só desistirem quando a morte os ordena.
Mesmo que seu destino já estivesse escrito nas estrelas, não era apenas questão de tempo para Roy obter tal cargo. Aguardar até que sua hora chegasse não seria o certo. O outro requisito era o merecimento. De alguma forma ele deveria se provar capaz de carregar nas costas tamanha responsabilidade e fazer alguma coisa que mostrasse seu amor pelo povo. Certamente nunca foi a forma mais democrática de se decidir isso, e quando este sistema foi introduzido gerou muita discórdia e problemas no condado, mas era no mínimo poético e as pessoas se acostumaram.
Desde criança foi apaixonado por inventos. Mesmo com a educação precária da área que ainda estava em desenvolvimento e pais ausentes, sempre preocupados com o governo, estudava sempre. Por conta própria e na biblioteca do condado, mas ainda contava como estudo. Todas as matérias eram suas favoritas e sempre queria aprender um pouco sobre tudo e tudo sobre algumas coisas, tudo o interessava. E aqueles estudos o levaram à paixão pelos inventos. Não queria apenas colocar em prática o que estava aprendendo e obter mais conhecimento, mas também se distrair, conseguir um porto seguro, um hobby, algo que o atraísse e que gostasse de fazer.
Sua vida era monótona, haviam poucas formas de se divertir no condado, além dos festivais que em sua maioria eram para adultos e pessoas mais habilidosas. Mesmo com seus estudos não tinha habilidades, somente conhecimento. Encontrou nos inventos uma forma de diversão que funcionava bem para si mesmo, e ficava feliz com isso.
No começo foi complicado. Não saiu nada muito incrível de suas mãos, mas rendiam algumas palmas e moedinhas na rua. Não que precisasse de dinheiro, mas ganhar algum com seu esforço próprio era recompensador e gratificante. Mas com o passar do tempo suas criações foram evoluindo e ele começou a chamar a atenção. Nunca chamou antes, mesmo sendo filho de quem era filho.
Esta era sua rotina desde então. Criar e criar e criar. Sempre estava trabalhando em alguma coisa. Por mais assustador que parecesse, era isso que o manteve são. Trabalhava muito e colocava seu suor em seus trabalhos. Mas era recompensador. Depois de tudo isso, tomou a decisão. Faria uma invenção como sua prova para entrar no governo. A ideia perfeita.
Não podia ser uma invenção comum, de modo algum. Somente algo inédito, incrível e superior a tudo que já fez seria o ideal. Algo que fosse um desafio real. Que viesse a revolucionar aquele condado. Afinal seus pais eram ausentes com um bom motivo. Eles investiam todo o tempo que tinham no condado. O povo era sua família. E eles nunca iam deixar de valorizar isso.
Ideias nunca foi o forte de Roy. Ele sempre trabalhava com sugestões, e por isso seus inventos agradavam o público. Mas agora ele não podia simplesmente perguntar. Que futuro governante estúpido e sem criatividade era esse que não conseguia ver o que era melhor para seu povo? Quanto mais perto estava de uma ideia, mais difícil era enxergá-la. Tocá-la então, fora de questão.
Depois que decidiu fazer um invento para revolucionar onde vivia, seus dias se resumiram a andar por aí, ler um pouco na biblioteca e se deitar no gramado de sua casa para ver as nuvens se moverem. Talvez aquilo poderia lhe dar uma inspiração. Em alguns momentos se sentia até mal. Os outros poderiam ter uma imagem errada de Roy, achando que tudo que ele fazia de sua vida era vadiar pelas ruas da cidade e cochilar na grama. Podiam achar que ele era apenas um preguiçoso.
Num desses cochilos, de repente uma sombra tapava o sol sobre a cabeça de Roy. Ao olhar para cima viu que se tratava de um dirigível que vinha da Cidade Dourada por causa das engrenagens ilustradas que eram como um símbolo da cidade. Extremamente reconhecíveis. Aparentemente um voo comercial. Alguns desses que sobrevoavam com muita frequência para manter relações comerciais com cidades vizinhas. Mesmo já se tornando algo mais comum e recorrente, ainda era impressionante ver algo daquele tamanho voando lá no alto. Não havia um que não olhasse para cima boquiaberto. Se acostumar fácil com tecnologias era uma tarefa difícil quando evoluíam em tamanha velocidade.
Isso poderia ser uma boa ideia. Roy pensou que seria genial fazer algo do tipo. Mas um simples dirigível (nem tão simples) não seria inovador e grandioso o bastante. Então tudo lhe estalou. Em vez de fazer um dirigível voador, faria um condado voador. De alguma forma faria aquele condado possuir habilidades de voo podendo se locomover para qualquer lugar do mundo e se manter onde o governo achar necessário ou conveniente. Parecia pura loucura e impossível, muito difícil mesmo, mas quem disse que nosso jovem inventor gostava de tarefas fáceis?
Bolava e rebolava em sua mente e o dirigível continua seu caminho. A partir daquele momento tudo seria diferente. O seu tempo livre acabava de assinar um contrato de escravidão eterna acompanhado de um sofrimento bem temperado. Uma coisa ele sabia. Teria que suar e sangrar para tornar seu sonho estúpido realidade. E nem sabia por onde começar, que belo governante.
Numa de suas viagens para cidades vizinhas em busca de conhecimento e itens para a construção de seu projeto ele encontrou um cartaz pregado num muro da Cidade Dourada anunciando que o governo está se interessando em ver trabalhos de inventores para uma competição futura. Roy abraçou a chance e estava curioso para saber no que isso resultaria. Foi se apresentar e apresentar seu trabalho para Rickas e Mágico D.
E no fim de tudo isso, foi aceito para participar do Protótipo Premiado. Aquela seria a oportunidade ideal. Com a vitória em suas mãos naquela competição poderia mostrar ainda mais seu valor ao povo de Coração Valente, obter algum dinheiro para futuros projetos e aquela linda medalha seria um agradável prêmio extra para colocar em sua parede e sempre se lembrar duma vitória tão memorável.
- E então, Roy Em qual projeto está trabalhando?
[size=20pt]Capítulo 3 - Tale John
- Peço perdão, mas não falo sobre meu projeto, ele é secreto. - E abaixava a cabeça como quem quisesse se desculpar, tentando esconder a tristeza.
- Sem problemas. Foi bom te conhecer Roy. - E seguiu seu caminho para casa numa direção e o outro na direção oposta. Os dois andavam na mesma velocidade e na mesma linha, então parecia que havia um espelho gigante no meio da rua com imagens diferentes.
Já estava escurecendo que a lua era visível ao alto. Mas nem por isso a cidade perdia sua atividade. Vários bares e restaurantes abriram e as luzes da Instituição de Ensino podiam ser vistas de longe. Algumas pequenas poças de bebidas alcoólicas podiam ser encontradas na rua de pedregulhos acompanhadas de cacos de vidro camuflados, mas apagando estes pontos da memória a rua estava muito limpa. A moradia de Rickas e Mágico D era visível em qualquer ponto da cidade por ser localizada no lugar mais alto, que nem era tão alto se for comparar ao resto.
Chegou em casa e rapidamente cumprimentou sua irmã e mãe e já corria para se banhar rapidamente. Mal se via seus movimentos.
- Qual é o motivo de tanta pressa, irmão? Está indo encontrar sua namorada? - A irmã de Felan diz em tom de ironia e solta uma risada silenciosa, sem ser correspondida.
- Acho que tem louça para lavar, Anna Os adultos nunca lhe disseram que namoradas são perda de tempo e dinheiro? - E bateu a porta de casa com tanta força que os pratos e copos tremeram. Seguiu para a casa de seu amigo, Tale. Algumas luzes haviam se apagado nesse meio tempo. Talvez tenha perdido mais tempo que deveria.
- O seu sorriso cintilante é como uma lua minguante Que com seu brilho const Ei, Felan! - E Tale interrompe bruscamente sua cantoria e acena para Felan que se aproxima enquanto segura seu violão com a outra mão.
Quando o visitante se aproximou o suficiente, Tale se levantou e foi apertar sua mão. Em outra cadeira uma mulher de óculos estava sentada lendo um livro. Felan rapidamente olhou para sua barriga avantajada mas desviou o olhar rapidamente.
- Ah, não te contei as boas novas? - Tale dizia como se pudesse ler seu olhar. - Mint está grávida! E tenho certeza que será um ou uma artista espetacular como seu incrível pai! - Apontava para seu peito com o polegar e abriu um sorriso confiante. Felan sorriu de volta.
- Se for um menino, vou colocar o nome de Zaggo! Se for uma menina será Luka. Bons nomes. - E fazia um gesto para Felan entrar e seguiram o caminho para dentro de casa. Mint nem se moveu, estava muito distraída em seu livro.
Os dois se sentaram no sofá da sala e Tale tentava tocar alguma coisa em seu violão. Da ausência de harmonia da primeira deslizada de dedos sobre as cordas, rapidamente surgia uma música agradável que se assemelhava muito à cantada anteriormente. Mas desta vez Tale nem abriu sua boca. Parecia que algo estava faltando na música, mas aquele sentimento foi logo substituído por algo que já tinha sentido, mas não sabia o que era.
Era notável que a música já havia acabado e que apenas se repetia, mas o cérebro de Felan estava tão hipnotizado e relaxado que nem se importou. Até tentou buscar alguma inspiração, uma faísca que seja para seu projeto, mas nada. Era apenas uma música para ele. E se encerrou.
- Certo, o que lhe traz aqui? - Se vira bruscamente para seu visitante e olhava em seus olhos.
- As pernas. Na verdade só vim por tédio mesmo. - Fechou seus olhos lentamente.
- Você pode enganar sua inocente mãe e sua tola irmã, mas não a mim. - Dizia isso se levantando como se estivesse atrasado para algo. - Tenho muito mais idade que você, e isso inclui conhecimento.
- Tudo bem - Fecha os punhos com força e suspira. - Estou sem ideias para criar uma invenção para o Protótipo Premiado. Se eu quiser fazer algo, preciso começar já. Não há mais tempo a perder.
Tale abriu um sorriso e se sentou novamente no sofá.
- Então você foi selecionado? Sabia que ter um amigo artista como eu lhe faria algum bem! Que orgulho! Hah!
Felan sorriu de modo ligeiro e se virou para frente tentando evitar contato visual. Estava um pouco apreensivo e achava que aquela conversa o levaria a lugar nenhum.
- Querida, pode trazer um bolo e suco para a gente? - Tale gritou e Mint seguiu para a cozinha.
- Já ouvi boatos sobre alguns inventos que estão fazendo para a competição. Alguns chegam a ser delirantes. Você vai ter que se esforçar ao máximo, dar seu sangue para ganhar.
- Sei O que mais? - Dizia em tom irônico.
- Felan - Olhava com desprezo e reprovação.
- Ahn Tá - E segurava o queixo apoiando o cotovelo na coxa.
- Alguns projetos vão de máquinas de construções até novas formas de locomoção por terra que pretendem superar as que já conhecemos. Sei que tem potencial para criar algo tão complexo, já vi suas invenções milhares de vezes. Só está escondido dentro de você.
- Não está escondido. Eu poderia fazer algo assim se quisesse. Mas nunca me ocorreu e o trabalho era excessivo. Essas coisas devem ser projetos antigos destes participantes, nem daqui a mil anos poderiam fazer coisas assim em apenas um mês e meio. - Cruzou os braços com um pouco de dúvida e raiva.
- Pode até ser. Mas vamos dar início à sessão de ideias. - Tale levantou-se e foi até a escrivaninha pegar um caderno pequeno e uma caneta depois retornou. Nesse meio tempo, Mint chega com o bolo e o suco.
- Fazer algo mirabolante e inútil não vai adiantar. Se for útil para a comunidade é mais provável que ganhe. Que tal um meio de transporte?
- Não. - Balançou a cabeça. - Já devem ter mil desses por aí, e também o dirigível é bem avançado e fazer algo melhor que isso pode não ser possível.
- Um meio de comunicação! - E se virou bruscamente para Felan apontando a caneta para ele.
- Pode ser uma boa, apesar de ser muito complexo. Anote aí. - E Tale escreveu a ideia no caderninho.
E por vários minutos algumas ideias foram surgindo, Tale as anotou no seu caderno, e uma lista foi formada, que ocupou apenas uma página do caderno pequeno. Não muitas linhas.
- Acho que está bom por hoje, Tale. - E Felan olhou em seu relógio de bolso que estava tarde. - Amanhã podemos continuar e filtrar as melhores ideias, certo? Quais já temos?
- Temos um meio de comunicação, uma máquina que contribua na pecuária, uma que contribua à agricultura, alguma máquina que sirva para escrever e organizar arquivos, uma máquina de
- Espere aí! Escrever e organizar arquivos? Isso é inútil comparado às anteriores, não é? - Tale negou.
- Um meio de comunicação não seria muito diferente do que temos agora, porque não há mais muito ao que acrescentar. Uma máquina que contribua na pecuária ou agricultura pode ser algo simples como uma máquina de ordenha automática ou irrigação. Uma máquina que sirva para escrever e organizar arquivos pode ser algo maior. - E fazia gestos com as mãos exibindo sua clara empolgação. Realmente queria executar esta ideia.
- A máquina pode escrever de uma maneira diferente. Diferente de uma máquina de escrever convencional, esta poderia exibir o texto numa tela em vez de escrever diretamente no papel. Desta maneira não era necessário tinta e se poderia ver o texto a qualquer momento e modificá-lo facilmente. E para enviar a outras pessoas que possuem o aparelho, o texto seria armazenado num compartimento eletrônico! A máquina também poderia armazenar os textos escritos nela e os escritos por outras pessoas que possuem a máquina. Genial, não? - E olhava para Felan com aquele sorriso no rosto mas um nervoso também aparente, como se quisesse dizer: Eu coloquei muitos pensamentos nesta ideia, por favor a aceite.
E um silêncio destroçador toma conta da sala. Não se ouvia nada além dos grilos noturnos e o zumbido dos mosquitos passeando nas orelhas de ambos. Tale até chegou a matar um deles com uma palma. Se olham, tentando se comunicar apenas através de pensamentos, mas há uma barreira impedindo a comunicação. Se passam alguns minutos, Mint aparece na sala, mas volta de costas refazendo suas pegadas após notar que não deveriam ser incomodados.
- Perfeito. - Felan sorri. - É o que vai ser. Obrigado, Tale.
- Já vai embora? - Tale vê ele se levantar e ir em direção a porta.
- Sim, isso deve servir. Agradeço pela ajuda. - E sai calmamente pela porta carregando aquele sorriso montado na ideia nas costas e parte de volta para sua casa. Ele pensava: Agora é a parte mais difícil.
[size=20pt]Capítulo 4 - Os jovens que guerreavam
Ao chegar em casa, cogitou em ir direto para a cama. Mas não tinha sono nenhum, e não valia a pena trabalhar em seu projeto ali naquela noite. Seria infinitamente melhor fazer isso no dia seguinte, de manhã e trabalhar o dia inteiro. O que poderia lhe distrair enquanto pegava no sono?
Encarou um pouco a estante de livros. Olhou pra ela, ela olhou para ele, eles se olharam e ele aceitou: Tá bom, eu vou ler um livro. Mas qual livro? Já li todos. Nesse meio tempo ia passando o olho pelos títulos e trazendo a memória todos os que já tinha lido e todos os que não leu. Mas parecia que já tinha lido todos que estavam ali. Menos um, que notou assim que passou o olhar pela penúltima fileira de livros. Contos da Guerra era o nome do livro. Se tratava de uma história real contada pelo líder de um grupo do Condado Coração Valente durante a guerra contra a Cidade Dourada. Uma história real! pensou. Vai ser uma experiência completamente nova, vou ler!. E deu início a leitura.
Eu nunca soube como raios isso pôde acontecer! A Cidade Dourada, e o Condado Coração Valente, que eram tão aliados de repente acabaram em guerra. Muitos previram que ela aconteceria e tentaram com todas as forças evitar sem sucesso. Não tinham outra escapatória senão lutar. Apesar de que os conselhos sempre diziam que o combate era a pior e de certeza a mais dolorosa solução para os problemas, os grandes governantes Rickas e Kharl não ouviram e o resultado foi este.
Na mente de alguns, a violência é o que faz mais sentido. Diálogo é uma palavra que havia se perdido. Se algo não vai conforme um, ou todos os lados desejaram, esta seria a única solução. Mas de qualquer forma, quais seriam as consequências disto tudo? Em vez de entrarem num acordo, guerrearam até que ambos já estavam em ruínas, milhares de pessoas mortas no calor da batalha, tudo havia se tornado um caos.
A guerra havia chegado ao seu limite máximo. Alguns dos sobreviventes do Condado Coração Valente e da Cidade Dourada continuavam batalhando, porém uma minoria que não queria mais continuar este combate acabou por tentar fugir do campo de batalha, para sobreviver em outro lugar, com maior estabilidade e começar uma nova vida e restabelecer pelo menos uma parte do que havia sido estabelecido antes. Eu era o capitão de um dos times que foi mandado para a guerra.
- Certo, Equipe 23 do Condado, todos venham comigo, estamos começando a nos distanciar, porém ainda há muitos combatentes deste lado. Acompanhem-me, e tudo vai ficar bem Digo eu, Elinor John, o líder da Equipe 23 do Condado Coração Valente, que juntou alguns membros que não desejavam mais participar para fugir, composta de Elinor, Yudson, Kepiano, Krähe, Naya e Kalina.
- Eu sinto que há ameaças próximas... Me viro e avisto um dos combatentes da Cidade Dourada se aproximando para o combate com um machado de guerra pesado em suas mãos.
- Naya e Kalina, juntem-se a mim e façam a posição protetiva Delta!
- Sim, senhor! Dizem ambas.
- Agora, vamos atordoá-lo! Protejam minha retaguarda! E vou em direção ao inimigo por trás enquanto Kepiano ataca pela frente, e dou um golpe atordoador. E ele adormece.
- Ele já está atordoado! Darei o ataque final! Diz Naya, retirando a foice contida em suas costas e rapidamente desferindo um golpe num ponto vital para evitar que o sangue voe sujando todos seus companheiros. O inimigo cai morto.
- Muito bem. Vamos continuar! Digo apontando para uma trilha onde as chamas da batalha começaram a se dissipar, e um vale pode ser visto ao longe.
Nós começamos a andar, e observamos tudo ao nosso redor. Os destroços do Condado, pedaços caídos, grandes rochas, tudo destruído, e as pessoas que foram perdidas nessa maldita guerra. Tudo parecia perdido e destruído. Mas havia uma esperança. Com aquele seleto grupo de pessoas, poderiam reconstruir novamente o Condado Coração Valente.
Porém, aparece quem estava escondida atrás de um monte de rochas, a Cavaleira da Discórdia, Revalia! Ela faz uma pose ameaçadora para o grupo.
- Ora, ora... Esta não é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Digo com dúvidas se estava vendo corretamente.
- Sim, sou eu, Revalia, a Cavaleira da Discórdia.
- Então, Kalina, é ela mesmo? Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Diz Naya.
- Eu acho que sim. Kepiano, essa é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? Diz Kalina.
- Eu acho que sim, mas o Krähe deve saber. Krähe, esta é Revalia, a Cavaleira da Discórdia? - E isso continua por algum tempo.
- Não me interessa se acreditam em mim ou não. Revali grita em raiva interrompendo Kepiano. Aquele sujeito perdia sua paciência com muita facilidade.
- Que besteira... Revalia remove a espada de sua bainha e prepara sua posição de ataque, enquanto o grupo forma a posição de defesa Delta com Elinor, Naya e Kalina, e posição de ataque Alfa com Krähe, Kepiano e Yudson.
Eu fixo meus olhos em Revalia desejando prever cada um de seus movimentos, enquanto Naya agarra-se fortemente em Kalina, Kepiano se esconde atrás de Krähe, e Yudson cruza suas duas espadas para gerar uma defesa fácil que se possa transformar rapidamente em um ataque.
- Vamos formar uma barreira de ataque! Kepiano chama Yudson e Krähe que possuem as melhores habilidades de ataque e defesa simultâneas do grupo para formar uma barreira que poderia proteger e atacar.
Revalia começa a ficar mais furiosa e parte para o ataque. Tenta me golpear com sua espada, mas Kalina avança na frente, com seu escudo a mão. Faz um sinal balançando a cabeça para Naya, que dá a volta para atrás de Revalia por longe para tentar criar uma abertura. Já Revalia, frustrada com a falha de seu ataque, prepara-se para desferir outro golpe que é interceptado por Naya que já estava atrás.
Revalia então aproveita que o trio Alfa estava com a guarda baixa e avança rapidamente em direção a eles. Então quando ela vai golpear Kepiano, que já estava em posição de defesa, acaba por jogar sua espada para trás na direção de Kalina, que não estava em defesa. Sendo assim, aquele suposto golpe na direção do trio Alfa era apenas uma distração para seu real objetivo, acertar um membro do trio Delta.
Naya ao ver a arma saindo da mão do inimigo, avança na direção de Kalina, a empurrando ao chão e levando o golpe da lâmina no braço direito em seu lugar, caindo. Revali corre para retomar a posse de sua espada, porém Kalina avança e segura seu braço.
- Se preparem! Kalina solta a mão de Revalia e empunha sua lança avançando-a na direção do rosto dela e atravessando sua cabeça. Ela simplesmente caiu para trás com a lança atravessando sua cabeça. Kalina não demonstrando nenhuma expressão retira a lança e procura o lago mais próximo para limpá-la.
- Ela está muito ferida, creio que não poderá lutar mais. Kepiano, faça os primeiros socorros. - Ordenei enquanto fui verificar se os outros membros da Equipe 23 estavam bem.
Krähe queria continuar viajando. Mesmo sabendo que seria necessário socorrer Naya naquele momento, levaria muito tempo. Precisava se distrair um pouco. Ele então decide explorar um pouco o ambiente, coisa que não tem feito há alguns tempos. Leva sua mochila, e se equipa com seus olhos (metaforicamente), para explorar os arredores das montanhas.
Andando um pouco, nota certas cavernas nas montanhas, que seria interessante explorar. Por fim, procede para fazer verificações. A caverna não estava muito distante, então foi fácil para se aproximar. Olhando aos arredores para saber se não há alguém por perto ele adentra na caverna. Como esperado, tudo estava extremamente escuro, logo de início, mesmo sendo uma manhã ensolarada e maldormida.
Krähe acende seu lampião para continuar sua exploração com o mínimo de iluminação que era necessário. Carregar um pesado lampião não era uma das coisas mais agradáveis de fazer, mas se mostrou necessário. Ao andar pela caverna se ouvia um barulho de água corrente ao fundo, bem baixo, mas nada que podia se ouvir com clareza. Optou por continuar seguindo em frente, para descobrir mais.
Ao continuar seguindo, percebe que a caverna se bifurcava. Agora ele teria que escolher entre o caminho da esquerda ou o caminho da direita. Pensando um pouco ele resolve que para não se perder pegaria carvão e riscaria o caminho pelo qual acabou de passar, assim saberia por onde voltar. Procurou em sua mochila um pequeno pedaço, e após encontrar, fez um pequeno risco no chão para indicar por onde deveria retornar, e seguiu o caminho da direita.
Seguindo o caminho da direita, tudo parecia entediante, e normal, mas o barulho da água corrente continuava aumentando. Apesar de na sua cabeça se tratar de apenas de uma fonte de água subterrânea, que não teria a menor graça encontrar, resolveu continuar seguindo.
Ainda não tendo descansado completamente depois da última batalha, após minutos e minutos andando e andando numa direção sem nenhum resultado, resolve parar para descansar um pouco. Vai até sua mochila e pega sua garrafa de água para tomar alguns goles. A água estava quente, e isso desagradava. Mas não podia reclamar. A curiosidade começa a bater mais forte para ver o fim da caverna. Krähe se levanta e continua seguindo em frente.
O barulho da água corrente começa a ficar mais forte, e ele começa a ver uma espécie de brilho ao fim da caverna e corre para ver do que se trata. Já abre um sorriso em seu rosto, esperando encontrar algo interessante que valha o tempo investido. Ele corre e corre para encontrar um alçapão. Havia algumas entradas de ar, e por elas passava uma luz. Se assemelhava muito ao lampião que estava carregando até o momento. Também se escutava um burburinho. Outras pessoas?
Krähe toma coragem e abre o alçapão e começa a descer a
E Felan dorme.
[size=20pt]Capítulo 5 Rickas e Mágico D
- Mágico D? O que está fazendo aqui? Não consegue dormir? - Rickas tira os olhos do livro que estava em seu colo ao notar Mágico D acordado na madrugada.
- Rickas, lhe faço a mesma pergunta. Não tem o costume de ler até esta hora da noite. - Mágico D ainda sonolento esfrega os olhos com os dedos debaixo do óculos.
- Este livro é muito interessante e não consegui parar até agora. Fico sempre empolgado para saber o que acontece.
- Interessante. - Dizia Mágico D demonstrando zero interesse e andando para a cozinha. - Enfim, vou tomar um leite quente para ver se consigo pegar no sono. Vê se diminui um pouco o nível da iluminação, está muito forte.
E Rickas continuava focado em seu livro, não queria tirar os olhos dele por nada. O tempo passava, vários minutos iam e vinham e continuava lendo. O livro era longo, mas aquilo não o desanimava.
- Mas que droga, Rickas! - Mágico D surge novamente na sala após falhar novamente em pegar no sono. - Vá dormir, você tem um dia cheio amanhã e tem que trabalhar! Não vou aceitar você dormindo no serviço!
- Sabe, Mágico D Você não era assim. Tão agressivo. Tenho total consciência de minhas responsabilidades, mas seja razoável. - E abaixou sua cabeça em tom triste. - Me lembro da época em que você fazia jus ao nome Mágico D.
Mágico D recuou um pouco e desviou o olhar. Após alguns segundos, também abaixou sua cabeça como quem quisesse dizer: Você ainda se lembra?.
Rickas e Mágico D sempre trabalharam juntos no governo da Cidade Dourada. Na verdade, Rickas que tomou a posse do governo há trinta anos e Mágico D veio depois da Guerra Dourada, há dezesseis anos. Claro que este é só um apelido, seu nome verdadeiro é Dale. Mas acabou conhecido por todos por este apelido pela sua habilidade de resolver conflitos e problemas com tamanha facilidade que achavam que ele era um mágico.
Mas este apelido não se encaixava mais em Dale. Tinha se tornado um reclamão apenas focado no seu trabalho. O que não era tão ruim, se não fosse pelo fato que tudo em excesso pode se tornar um problema. Mas Dale recebeu grande parte do apoio do povo para acompanhar Rickas no governo após suas ações na guerra.
Foi o capitão da Equipe 12 da Cidade Dourada e sempre que havia algum conflito, ele sabia o que fazer, era sábio, calmo e esperto. De certeza não o melhor em combate, mas isso não o desmerecia de modo algum. Sempre se mostrou fiel ao seu time. Nunca aprovou a violência como forma de resolver qualquer situação, mas se a guerra se mostrava necessária, havia algum motivo. Se possível, tentava resolver tudo com uma boa conversa.
No começo seu governo, sempre apoiou a evolução e a revolução. Quando podia, apoiava financeiramente as novas indústrias e fábricas e fazia tudo para que as engrenagens da Cidade Dourada continuassem a se mexer. Mas depois, conforme o tempo foi passando, o peso foi aumentando e começou a ser jogado apenas nas costas de Rickas.
Houveram brigas e desentendimentos, mas eles continuaram lá. Houveram conflitos na própria cidade, mas eles continuaram lá. O vento soprou, a chuva choveu, a neve caiu, e eles continuaram lá. Firmes e fortes. Por menos determinado que Dale fosse, ele ainda estava lá pelo povo e pela cidade. Até que depois de um tempo, Dale se mostrou mais ausente em festivais e eventos relacionados à cidade. A situação parecia estar elevando e abaixando, elevando e abaixando. Mas mesmo com a ausência, mesmo com a baixa determinação, ele continuava lá.
Os dois ainda trabalhavam juntos. Organizavam e planejavam e criavam festivais e eventos, as leis, as reclamações e melhorias que deviam ser feitas, o apoio a empresas de pequeno e grande porte para sempre se certificar que a cidade evoluiria com o tempo e não ficaria presa numa época.
- Sim, eu não era. - Respondeu Dale. - Mas as coisas mudam, e eu fiquei mais velho. Por mais que não pareça, eu me preocupo com a cidade. Sei que tudo vai se ajeitar e você tem consciência disso. Não gosta de se preocupar demais e ficar com a cabeça cheia. Eu aprecio isso, mas às vezes é bom ter um pouco de consciência. Não vai te fazer bem ficar acordado até esse horário. Todo dia é dia de trabalho.
Rickas suspirou duas vezes, fechou seu livro e o colocou em cima da mesinha. Se levantou e aguardou alguns segundos. Estava pensando no que fazer ou até mesmo no que havia acontecido naquele momento. Decidiu então ir dormir.
Ao colocar a cabeça no travesseiro, tentou dormir. Virava-se de um lado, virava-se do outro. Colocava o travesseiro em cima da própria cabeça, invertia a direção. Olhava pela janela. O céu começava a puxar um leve tom alaranjado no oceano azul escuro como um pintor que respingou sem querer um pouco de tinta laranja em seu quadro de noite estrelada e teve que espalhar com o pincel para disfarçar.
Cada vez que o pincel esparramava mais tinta laranja no céu azul escuro, maior era a preocupação de Rickas. E esta preocupação adicionava ainda mais à pilha de coisas que lhe impediam de dormir. E a tinta laranja cobriu o céu por inteiro, dando espaço a um tom azulado claro que indicava o começo da manhã. Havia falhado naquela simples tarefa: conseguir dormir. Agora já não lhe restava mais escapatória. Encararia o dia.
Naquele dia, a vida se mostrou a dor mais difícil de suportar. Ao sentar em sua escrivaninha, sua cabeça doía, sentia náusea e sono e dores fortes no corpo. Apenas pediu que isso parasse, mesmo que tivesse que levar sua vida junto. Não é possível que somente com uma noite mal dormida se sentiria tão mal. E desmaiou ali mesmo em sua escrivaninha.
- Rickas! Rickas! - Grita Dale ao ver ele caído em cima dos papéis. - O que aconteceu? Você não precisa fazer tudo sozinho, sabia? Vá dormir, eu compenso seu trabalho aqui.
Dale deixou Rickas em sua cama e foi fazer seu trabalho. Não era muita coisa, mas alguém tinha que fazer.
- Pobre velho - Dale olhava para a direção onde estava seu quarto. - Tudo bem, vamos continuar.
E Dale fez o trabalho de Rickas naquele dia. No dia seguinte ele já estava se sentindo melhor e voltou ao trabalho.
[size=20pt]Capítulo 6 O garoto que falava com os corvos
- Ei, quer brincar com a gente?
- Não dispenso.
- Por favor, é uma brincadeira muito divertida, a gente vai fazer uma...
- Já disse para me deixar sozinho.
- Mas
- Vá Embora...
Poe tinha seis anos, mas era muito anti social e seus pais estranhavam seus hábitos. Sempre preferia utilizar roupas negras e dizia que tinha a habilidade de falar com os corvos. Parecia que atraía corvos para perto de si. Por causa deste fato, foi apelidado de Corvo. Enquanto todos os outros garotos de sua idade brincavam e se divertiam inocentemente, Poe preferia ler livros o dia todo e se isolar num canto. Quando não estava lendo, estava escrevendo. E quando não fazia nenhum dos dois, observava o dia passar, como Roy outrora.
Seus pais, Krähe e Mercília ficavam preocupados com este comportamento. Compreendiam que exercitar a leitura e a escrita eram coisas super importantes para seu desenvolvimento, mas se isolar e não socializar com outros de sua idade poderia prejudicá-lo.
Tentavam empurrar ele para ter amizades mas ele simplesmente rejeitava e se irritava com seus pais por atrapalharem sua leitura ou sua escrita. Mas no fundo, compreendia a preocupação dos dois. Mas simplesmente não queria viver neste estilo de vida que haviam preparado para ele: rodeado de amigos, brincando e se divertindo. Achava que tudo aquilo era fútil e desnecessário. Uma perda de tempo. Pensava que não iria melhorar suas capacidades com brincadeiras infantis.
Isso vindo de uma criança de seis anos realmente assustava os dois. Pensavam de quem ele havia puxado tais características. Ou com quem andava para ter uma mentalidade tão auto isolante. Quando saía de casa, os pais iam escondidos atrás, querendo ver para onde ele estava indo e com quem ia se encontrar. Acabaram não encontrando ninguém. Ele só ia na praça, na floresta da Cidade Dourada e em alguns estabelecimentos olhar alguns livros.
A leitura era uma das práticas mais apreciadas na cidade. Quase todo mundo lia, então não era algo anormal. A biblioteca da cidade contava com milhares e milhares de livros. As livrarias então, outros milhares que não estavam disponíveis na biblioteca. Apenas para quem tinha o dinheiro. Por vezes, Poe pedia livros a seus pais. Mas eles por vezes faziam condições como: Somente se você fizer amigos e brincar com eles. O que fazia ele ficar apenas chateado e desistir. No fim das contas, os pais ficavam com o coração partido e davam o livro a ele. Ler era o que o distraía, e era algo saudável, então por que negar isso a seu próprio filho?
Depois de muitas tentativas falhas, decidiram apenas aceitar o que o filho era e seu comportamento. Não seria tão nocivo para ele ficar sozinho, era apenas sua vontade, e acreditavam que deveria ser respeitada. Um relacionamento entre pais e filhos deveria ser construída através de respeito e compreensão.
E quando não fazia nenhuma dessas outras coisas, ele conversava com os corvos. Ou ao menos dizia que conversava. Os pássaros vinham até ele e ele simplesmente dialogava com eles como se estivesse falando com uma pessoa normal. Dizia que os corvos eram sua fonte de informação e falavam sobre o mundo exterior e tudo que estava acontecendo por aí. Algumas pessoas acreditavam, porque contava relatos de lugares distantes que um garoto de seis anos não poderia alcançar. Coisas que só podiam ser vistas pelos olhos de um corvo. Mas se era verdade, como que ele conseguia se comunicar com este pássaro? Ele havia nascido com um dom único?
Os corvos não eram mera fonte de informação, eram seus amigos. Ele falava com o corvo como se estivesse falando com um amigo, que bem, ele não tinha nenhum. Mas parecia que substituía as amizades humanas pela amizade pelos corvos. E os pássaros correspondiam. Da maneira deles, eles respondiam a suas perguntas e somente Poe poderia compreender. Assim que perguntava, o corvo fazia um barulho, de uma maneira que se assemelhava muito a uma conversa e que o animal estava compreendendo.
Este dom nunca foi questionado, porque a maioria das pessoas pensavam que ele era um garoto criativo e ignoravam, mas outros acreditavam que ele falava com os corvos e ficavam calados. Mas quase ninguém se comunicava com o garoto por causa da sua aversão a contato social. Seus únicos amigos eram os corvos. E ele era feliz assim.
- Rickas, tem certeza que está bem para trabalhar?
- Sim, eu estou, Mágico D. - Respondia com uma voz cansada. - Não se preocupe comigo.
- Se quiser descansar novamente hoje, não há problema.
Rickas sentiu uma leve raiva e fez uma cara feia para Dale, que compreendeu no mesmo momento e não tocou mais no assunto. Continuaram a organizar alguns papéis. E quando Rickas foi organizar os papéis em sua escrivaninha, um homem abre a porta com extrema violência e entra na sala. Os dois olham para a porta e assustados.
- Rickas! Mágico D! É uma emergência! A Indústria Kepian está em chamas!
Dale se levanta rapidamente e Rickas logo depois. De início, pensaram: Que droga, vamos ter que resolver isso. Suspiraram, e seguiram o homem até o local do incêndio.
Ao sair da residência de Dale e Rickas já estava explícito que um incêndio estava acontecendo. A fumaça já tinha ido longe demais. E como a casa deles era distante da indústria, deve ter sido uma boa caminhada para chegar até lá. Quanto mais eles se aproximavam, mais claramente era possível ver a fumaça e o incêndio que se aproximava.
Ao chegar lá, notaram o que realmente era. As chamas tomavam conta de toda a construção, mas se ouvia vozes lá dentro gritando por socorro. Eram várias vozes distintas, e de vez em quando uma delas gritava muito alto e depois se cessava. De fora, o que parecia era que cada vez mais os trabalhadores eram engolidos pelas chamas.
Os cidadãos olhavam de fora horrorizados, e os familiares das vítimas choravam, alguns até tentavam se aventurar para salvar seus entes queridos, mas acabavam indo parar no estômago das chamas em poucos segundos. Por sorte, alguns eram parados. É notável que em momentos de desespero as pessoas não conseguem pensar com clareza, mas se matar num mar de chamas estava fora de questão.
- Dale, vá chamar os Dirigíveis de Água! - O desespero no rosto de Rickas era aparente ao dar tais ordens.
- Mas Rickas, vão demorar muito para
- Não interessa! - Interrompe Dale por não querer perder tempo discutindo. Dizia com os olhos: Vá logo, não questione, idiota! - É a nossa única chance, as chamas estão muito potentes. Deve ser vazamento de óleo ou algo assim. Eu vou fazer outras coisas mais leves. Não estou cem por cento ainda.
Ali perto já haviam muitas e muitas pessoas, apenas assistindo para saber o que acontecia. Algumas até se sentiam mal por não estar ajudando, mas sabiam que no fundo não podiam fazer nada.
E os dois correram em direções opostas. Dale foi para o Centro de Dirigíveis discutir com o coordenador de lá para a liberação dos Dirigíveis de Água. Rickas foi fazer alguma coisa importante.
Numa de suas caminhadas, Poe passava ali perto e começava a observar o incêndio com um corvo em seu ombro. Os gritos das pessoas lá dentro não eram muito altos e eram menos a cada momento, dando a entender que ou elas se cansaram de gritar, ou notaram que a ajuda já estava próxima, ou estavam morrendo.
Poe suspira e fala com seu corvo. O pássaro voa e alguns minutos depois chega com um monte de outros corvos rodeando a criança. As pessoas estavam tão focadas nas chamas hipnotizantes que nem notaram ou se importaram de ver um garotinho rodeado de corvos.
O menino conversa com os corvos e eles começam a voar para dentro da indústria. E um tempinho depois os corvos aparecem carregando uma das vítimas com trabalho em equipe, parecendo muito um gavião carregando uma carcaça de um animal que matou. A cena assustou as pessoas que estavam ali próximas que notaram que havia uma pessoa sendo carregada por corvos até o lado de fora da fábrica. O homem que foi salvo, não teve reação ao chegar ao lado de fora. O pânico não o deixava raciocinar direito.
E um a um, os trabalhadores iam sendo retirados de dentro da indústria pelos pássaros, até que sobrasse somente os que já estavam mortos. E eles estavam muito confusos, ainda não conseguiam discernir o que era real e o que não era. Seus familiares se aproximavam e os abraçavam e iam carregando-os nas costas para o hospital. Quem não tinha família ali, era levado pelos desconhecidos mesmo, e todos foram levados ao hospital.
Depois de terminar, em silêncio, o garoto deixou o local e voltou para sua casa como se nada tivesse acontecido.
Quanto Rickas e Dale retornaram e não viram aquela floresta de pessoas que estava no local antes, estranharam um pouco e questionaram a um dos poucos que estava ali.
- Um garoto de roupas negras, chamou corvos para salvar as vítimas do incêndio.
De início, ambos pensaram que era apenas um delírio e que aquele homem estava louco, então deixaram a parte do questionamento para depois. Mas notaram que realmente não havia mais gritos nem a voz de ninguém lá dentro. Poderia ser que todos estivessem mortos.
E finalmente, os Dirigíveis de Água chegaram e começaram a despejar milhões e milhões de litros de água no incêndio, e o fogo pouco a pouco desaparecia e era possível ver os destroços da indústria com mais clareza. E realmente, os únicos corpos que haviam lá dentro, já estavam sem vida.
Mesmo sem acreditar nem um pouco na história do sujeito, Rickas o pergunta:
- Para onde foram as vítimas?
- Estão todas no hospital.
Foram para lá.
A maioria dos trabalhadores sofreram apenas ferimentos leves, então os dois conseguiram falar com todos, e fizeram a mesma pergunta. E coincidentemente, obtiveram a mesma resposta.
- Quem os salvou do incêndio?
- Um monte de corvos me carregaram até o lado de fora.
- Fui salvo por um monte de corvos.
- Os corvos me ajudaram.
- Recebi ajuda de alguns corvos que me levaram para um lugar seguro.
- Corvos
A resposta de todos era a mesma, e isso intrigava muito os dois. Como que corvos poderiam ajudar alguém? Parecia sem sentido. E aí se lembraram do que o sujeito que encontraram na rua disse:
- Um garoto de roupas negras, chamou corvos para salvar as vítimas do incêndio.
Um garoto de roupas negras que falava com corvos. Não parecia ser plausível o bastante. Mas como que todos os trabalhadores contaram a mesma história? Eles não ganhariam nada criando uma mentira tão absurda, ganhariam? Por fim, resolveram procurar o tal garoto de roupas negras.
Chamaram alguns de seus funcionários para ajudar na busca. Ir de casa em casa procurando o tal garoto de roupas negras que sabia falar com corvos ia ser uma tarefa muito difícil para duas pessoas.
Por fim, encontraram onde morava o garoto. Filho de Krähe e Mercília, dois comerciantes que tiveram uma participação importante na Guerra Dourada.
- O que foi que meu filho fez? - Dizia Mercília que desatava a chorar. - Quanto orgulho Eu sabia que no fundo ele é uma boa pessoa!
- Sabia que nós não erramos. Ele só não queria mostrar seu lado bondoso para as outras pessoas - Respondia Krähe, quase chorando, mas limpava suas lágrimas para não soar fraco na frente de Rickas e Dale.
- Podemos falar com ele? - Disse Rickas, movendo o corpo para a direita para tentar ver algo dentro da casa deles.
- Bem Ele é extremamente anti social. Não gosta de falar com as pessoas. Mas posso tentar. - Encheu seu pulmão de ar sem motivo algum e gritou - Corvo! Rickas e Mágico D querem falar você!
Não houve resposta. Mas eles aguardaram mais um pouco e ouviram uma voz bem fraquinha dizer:
- Não quero falar com ninguém. Me deixe sozinho.
Os pais de Poe ficaram envergonhados e Krähe coçou a nuca como se quisesse se desculpar pelo comportamento do filho enquanto Mercília abaixava a cabeça e cruzava as mãos.
- Compreendemos. - Disse Dale, por fim. - Vamos voltar, Rickas.
E eles voltaram.
[size=20pt]Capítulo 7 O Protótipo Premiado
[size=14pt]Felan estava trabalhando feito louco em seu projeto. Havia feito um bom progresso em poucos dias, mas estava feliz com seu trabalho. Não havia se esforçado tanto em alguma coisa há muito tempo.
Ficar enfurnado no seu quarto de invenções trabalhando duro era algo especial. Morava com sua mãe e sua irmã, mas como sua irmã estava o dia todo na Instituição de Ensino e sua mãe trabalhando para colocar comida na mesa, só encontrava as duas durante a noite, e isso era perfeito. Poderia colocar seus pensamentos em ordem e trabalhar à vontade sem a gritaria da irmã menor ou o barulho das panelas que sua mãe fazia. Parecia que todo dia era dia de manifestação.
E enquanto estava ali montando a sua máquina de digitar, hesitava por alguns momentos, pensando: Eu deveria fazer isso mesmo? Eu deveria me esforçar tanto? É apenas uma medalha, não é? Se eu parasse de fazer isso agora mesmo, influenciaria em alguma coisa? Parava de produzir a máquina e saía do quarto. Mas acabava voltando de novo porque não queria desistir.
Infelizmente, o fórum não permite mais caracteres no tópico :T.T:, para ler o texto completo, acesse: http://bit.ly/PrototipoPremiado