Quinta-feira, novembro, no necrotério
O corpo sequer fede. Vai ver é só um envolucro oco por dentro, como esses babaquinhas filhos-de-papai que se matam atoa, resmunga Sojínstikin, enquanto o saco com o cadáver posto à mesa ainda está fechado. Todos os dias fazendo a mesma coisa, ele provavelmente é o que parece o adulto desleixado, cínico e de barba rala na casa dos trinta. Tanto faz. A morte não tira folga e pior do que ela só as cobranças do empresário tagarela dono do cubículo que Sojínstikin aluga. Eu devo é ter me acostumado com o cheiro podre daqueles vizinhos nojentos e farejadores de lixo.
Ele aprendia no curso preparatório sobre como os médicos legistas estudavam para exercerem uma profissão cheia de métodos, análises e técnicas. Época em que alguém se importava com quem morria, as cidades eram menores e a taxa era de apenas 60 mil mortes por ano, quando muito.
Como estava sozinho na sala e os supervisores pouco se importavam com os procedimentos, fazia hora, perdia-se em monólogos enquanto agia no modo automático. Era uma benção quando o elevador de seu prédio quebrava, a desculpa perfeita para descer as escadas sem fôlego para conversas. A pior companhia, mais desagradável do que os adolescentes desajustados e pseudo-revolucionários e os jovens chapados de droga, ele remoía este pensamento, eram os vendedores e recém adentrados nas profissões de colarinho branco, todos com a vã inspiração à ascensão social e talento nato para o trambique. E isso ele concluía das palestras motivacionais que eles insistiam em dar a quem quer que tivesse a infelicidade de os acompanhar entre quatro paredes. Parodiando-os em seus discursos: Eu consegui, qualquer um consegue se tiver força de vontade e se entregar, ao contrário dos mendigos sujos e trabalhadores braçais condenados a morrerem na fossa; e se entregar, é claro, às fofocas, a cobrar metas desumanas feito um autêntico filho da mãe e bajulador de patrão, sem alma nem vergonha na cara feito ladrão de carteira elevado à escala corporativa.
O pequeno Sacha era calado e pretensioso desde o colégio. Sua predisposição à arrogância foi elevada às alturas desde que perdeu a esposa. O caso foi ignorado como todos os outros, desgaste inerente ao ofício de colarinho azul, alegaram, já que as rotinas excruciantes se tornaram moda. Ela estava grávida. A fábrica, porém, também estava, sempre está, nunca pode parar de produzir. Um processo para investigação de abuso moral foi solicitado. O patrão respondeu com exigências mais rigorosas de uma burocracia patentemente impraticável e críticas frequentes. Ela perdeu o controle. Com o laudo do suicídio, o caso foi arquivado.
Hora de encerrar a papelada acerca do corpo. É uma mulher, branca, cabelos loiros e maltratados embora isso de forma alguma importe. O relatório lá de cima, com seu palavrório entediante, a descreve como viciada em drogas, 28, comportamento sexual promíscuo, intoxicada devido a danos na máscara de gás, morte em trabalho. Entregue junto a um envelope de natureza pessoal, mas não tão pouco frequente no ambiente de trabalho dele, Retirar a bonificação especial oferecida pelo sr. R. D. F., conforme padrão (breve confirmação de dados). Um detalhe, porém, começa a amargar os pensamentos de Sacha, seguidos de outros e outros. Ele sentiria vontade de anotar este dia. Até de contar a alguém.
A máscara no rosto dela não é tão velha. Está danificada, sim, mas aparenta mais ser uma rachadura intencional. O corpo está rígido, o que estaria dentro da estimativa de morte 4 horas antes de parar em suas mãos. Mas está gélido, quase como o frio de inverno que invade a sala deteriorada do necrotério. O exame de sangue indica overdose. Há marcas de apertos em pernas, braços, seios. As células da pele estão mortas morta há mais de 24 horas. No pulso consta uma tatuagem de um coração. E perto dele está escrito: À nossa sempre pequena Nastya.
O corpo sequer fede. Vai ver é só um envolucro oco por dentro, como esses babaquinhas filhos-de-papai que se matam atoa, resmunga Sojínstikin, enquanto o saco com o cadáver posto à mesa ainda está fechado. Todos os dias fazendo a mesma coisa, ele provavelmente é o que parece o adulto desleixado, cínico e de barba rala na casa dos trinta. Tanto faz. A morte não tira folga e pior do que ela só as cobranças do empresário tagarela dono do cubículo que Sojínstikin aluga. Eu devo é ter me acostumado com o cheiro podre daqueles vizinhos nojentos e farejadores de lixo.
Ele aprendia no curso preparatório sobre como os médicos legistas estudavam para exercerem uma profissão cheia de métodos, análises e técnicas. Época em que alguém se importava com quem morria, as cidades eram menores e a taxa era de apenas 60 mil mortes por ano, quando muito.
Como estava sozinho na sala e os supervisores pouco se importavam com os procedimentos, fazia hora, perdia-se em monólogos enquanto agia no modo automático. Era uma benção quando o elevador de seu prédio quebrava, a desculpa perfeita para descer as escadas sem fôlego para conversas. A pior companhia, mais desagradável do que os adolescentes desajustados e pseudo-revolucionários e os jovens chapados de droga, ele remoía este pensamento, eram os vendedores e recém adentrados nas profissões de colarinho branco, todos com a vã inspiração à ascensão social e talento nato para o trambique. E isso ele concluía das palestras motivacionais que eles insistiam em dar a quem quer que tivesse a infelicidade de os acompanhar entre quatro paredes. Parodiando-os em seus discursos: Eu consegui, qualquer um consegue se tiver força de vontade e se entregar, ao contrário dos mendigos sujos e trabalhadores braçais condenados a morrerem na fossa; e se entregar, é claro, às fofocas, a cobrar metas desumanas feito um autêntico filho da mãe e bajulador de patrão, sem alma nem vergonha na cara feito ladrão de carteira elevado à escala corporativa.
O pequeno Sacha era calado e pretensioso desde o colégio. Sua predisposição à arrogância foi elevada às alturas desde que perdeu a esposa. O caso foi ignorado como todos os outros, desgaste inerente ao ofício de colarinho azul, alegaram, já que as rotinas excruciantes se tornaram moda. Ela estava grávida. A fábrica, porém, também estava, sempre está, nunca pode parar de produzir. Um processo para investigação de abuso moral foi solicitado. O patrão respondeu com exigências mais rigorosas de uma burocracia patentemente impraticável e críticas frequentes. Ela perdeu o controle. Com o laudo do suicídio, o caso foi arquivado.
Hora de encerrar a papelada acerca do corpo. É uma mulher, branca, cabelos loiros e maltratados embora isso de forma alguma importe. O relatório lá de cima, com seu palavrório entediante, a descreve como viciada em drogas, 28, comportamento sexual promíscuo, intoxicada devido a danos na máscara de gás, morte em trabalho. Entregue junto a um envelope de natureza pessoal, mas não tão pouco frequente no ambiente de trabalho dele, Retirar a bonificação especial oferecida pelo sr. R. D. F., conforme padrão (breve confirmação de dados). Um detalhe, porém, começa a amargar os pensamentos de Sacha, seguidos de outros e outros. Ele sentiria vontade de anotar este dia. Até de contar a alguém.
A máscara no rosto dela não é tão velha. Está danificada, sim, mas aparenta mais ser uma rachadura intencional. O corpo está rígido, o que estaria dentro da estimativa de morte 4 horas antes de parar em suas mãos. Mas está gélido, quase como o frio de inverno que invade a sala deteriorada do necrotério. O exame de sangue indica overdose. Há marcas de apertos em pernas, braços, seios. As células da pele estão mortas morta há mais de 24 horas. No pulso consta uma tatuagem de um coração. E perto dele está escrito: À nossa sempre pequena Nastya.
A. S., quinta-feira, o resto não importa