🤔 Para Refletir :
""Não é sobre fazer o jogo perfeito, é sobre fazer o seu melhor.""
- Ricky O Bardo

[Rabisco rápido] Título: Outro dia.

Rulho Masculino

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07 de Setembro de 2020
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Abriu os olhos devagar sem nem ter dormido. De novo. O dia brilhava e podia ouvir pessoas conversando e o barulho dos carros. O mundo já acordou, pensou. Tinha dias que duvidava de si mesmo, de sua sanidade. Pensava que tudo não passava de um sonho ou que era uma mentira muito bem elaborada e ainda não descobrira a verdade. Ou talvez já soubesse e apenas se recusava a aceitá-la. Enrolou o quanto pôde, até ser vergonhoso continuar inerte em sua minúscula realidade. Levantou por fim. Lavou a cara e engoliu qualquer coisa apenas para cumprir tabela.

A primeira coisa que fez foi checar o seu e-mail. Já não tinha muita esperança. Passou correndo os olhos pelos spams e propagandas que chegavam todo dia. Nada chamou sua atenção. Apenas um e-mail. Uma resposta enfim. Abriu não esperando nada. Outra resposta negativa. “Ficamos impressionado com seu perfil, mas decidimos seguir com outros mais adequados à vaga” dizia a educada carta. Desejaram até boa sorte, muito simpático. Riu um pouco. Impressionante porém insuficiente, era como se sentia. Não havia o que fazer. Pelo menos eles haviam se dignado a responder. Voltou a abrir o site de empregos e, novamente para sua não surpresa, vagas que já havia se candidatado estavam ali, recém-publicadas. Parece que os outros não eram tão mais adequados assim afinal de contas.

Olhou seu celular finalmente. Evitava o quanto podia porque sabia o que encontraria. Nada. Estava do jeito que o havia deixado ontem. Um minuto se passou. Depois outro. E mais um. Permanecia olhando para a pequena tela de vidro. Quantos dias haviam passado? Não sabia mais, uma semana achava. Dizia para si em voz alta: “Não importa!”, mas importava. Podia mentir para o vento e para suas paredes, mas não para sua mente. Pessoas saindo de sua vida não era algo novo, mas, desta vez, doeu. Ele sempre soube que aquela amizade não seria eterna e que cedo ou tarde eles iriam se afastar. Teria que acontecer cedo ou tarde. Mas havia uma promessa, um acordo feito antes de tudo acontecer de que se alguém achasse que fosse ocorrer, haveria uma conversa, um fechamento. Não houve. Promessas nada significavam, afinal. Conversas divertidas e debates acalorados se tornaram em conversas cada vez mais curtas. Conversas curtas se tornaram trocas de imagens engraçadas seguidas de umas poucas palavras. Então, as palavras foram diminuindo, não indo além do mínimo necessário. Algumas vezes, perguntas eram deixadas sem resposta. A conexão única que sentia se desfez, murchou como flores esquecidas no vaso. Aquela presença tão constante, tão querida e talvez até mesmo necessária durante o desligamento do mundo, esmaeceu. E aquilo era o que mais doía, aquele esfriamento gradual. Pensou se deveria tentar, esticar a mão para ver se encontrava algo do outro lado. Mas não. Rapidamente afugentou aquele pensamento da mente. Era melhor assim, afinal. Não havia o que fazer. Pelo menos agora sua agenda tinha um número. Mais uma pessoa que ele um dia conheceu.

Quando se deu conta, o Sol estava baixando. Mais um crepúsculo vinha lhe saudar, quase como rindo dele. Decidiu que era hora de sair. Foi até o portão de sua casa observar as pessoas por entre as grades. Tudo parecia normal, como sempre havia sido. Algumas pessoas passavam protegidas enquanto outras apenas passavam. Se sentia um tolo. Deveria largar tudo e sair também. Mas sair para onde? Encontrar quem? A verdade era uma, independente de como estivesse o mundo, se estivesse bem ou mal, seguro ou destrutivo, pacífico ou violento, não importava no final. Ele não tinha para onde ir. E não havia o que fazer. Restava apenas esperar outro dia.
 
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