Levando-me de manhã em um dia que de longe se parecia com os dias que venho vivendo nesses últimos anos. Sei que minhas escolhas me levaram para um caminho diferente, não me arrependo da trilha que percorri. Mas, mesmo depois de tanto tempo afastada, nunca me esqueci dos bons momentos em que passei no local para o qual hoje me dirijo e penso, desde o primeiro dia que deixei de visitá-lo, o quanto aquilo me faria e fez falta. Como apenas um pão no café da manhã, já que barriga cheia não combinaria para o lugar onde eu vou. Tomo um banho daqueles que lava a alma e corro pro meu closet. Ao abrí-lo, vejo lindos vestidos, calças jeans estilosas com grandes rasgos nos joelhos e blusas, casacos e jaquetas. Realmente
O caminho que percorri deu-me bons frutos, tudo aquilo eu havia conquistado com o suor do meu trabalho, mas ainda sim faltava algo. Tiro todas aquelas magníficas peças da frente e recolho guardado em um canto meio escondido da vista uma leggin preta com algumas marcas de uso, nada tão glamuroso como as outras, mas com um significado muito forte para mim.
Com os sapatos, a situação era diferente. Havia dois pares de saltos, três de sapatilhas e, também escondido, tênis velhos e coloridos, tão diferente das outras peças monocromáticas que dividiam espaço com ele que a palavra escondido poderia ser considerada um exagero. Pego-os também.
Naquele momento, a nostalgia já fazia o meu coração bater forte em meu peito, e olhe que eu nem tinha achado a camisa de gatinho que eu amava tanto usar. Mais vinte minutos de procura e eu enfim acho-a no quarto de hóspedes. Cheiro-a, o odor do alvejante floral preenche meu olfato. Depois de vesti-la uma sensação diferente me invadiu e inicialmente não percebi do que se tratava, mas depois de algum tempo refletindo, entendi que era como se finalmente eu estivesse completa outra vez.
Finalmente vestida, pego meu chaveiro de cima da mesa e vou rápido na direção do meu carro. Nem acredito que finalmente chegou o dia de voltar. O dia estava tão perfeito que, no caminho do estabelecimento, não houve momento em que o trânsito me parasse, me fazendo chegar lá em tempo record. Para a minha sorte, a professora já estava lá e me deixou entrar. Terminei de me alongar e ninguém tinha chegado ainda. A professora, de nome Cassia, andou para perto um aparelho de som no canto do lugar e falou alto, sua voz ecoando no salão de piso de taco:
Tinha me dito que passou um tempo afastada, porque?
Minha vida estava corrida, tive que optar por duas coisas e já sabemos o que escolhi.
Sim Sabemos. Mas quero que saiba que é bom que esteja de volta. Sua alegria contagia o lugar, nunca vi pessoa mais alegre a dançar aqui.
Fico meio nervosa com tais palavras. Ela lembrava de mim, a anos que não botava os pés aqui e ela lembrava. Mais que acolhida, me senti querida, era um sentimento bom que aquecia o coração. Cassia torna a falar comigo, dessa vez com uma indagação diferente:
Vamos aproveitar que ainda não chegou ninguém. Vou ligar o som em uma música aleatória e você irá fazer uma performance. Com certeza isso te fará bem, me mostra aquela alegria outra vez.
Ela apertou o tal botão. Fechei os olhos e apenas senti a música que tocava. As vibrações pareciam moldar aos poucos os movimentos do meu corpo. No começo errei em tentar seguí-las, a mente até pensava nos movimentos, mas o corpo destreinado ainda resistia um pouco. Depois de poucos minutos, um pouco do antigo costume preenche-me sem que eu perceba e pouco a pouco vou melhorando. A suavidade retorna aos meus braços e pernas e, finalmente, sinto outra vez aquela sensação de outrora, a infinita liberdade que faz uma música com poucos minutos parecer uma eternidade em meus movimentos. Terminei no chão, mas nada de ruim tinha nisso. Estava feliz como não ficava a muito tempo. Até Cassia ria audivelmente ao fundo. Nisso, minhas outras colegas adentraram o lugar e então a classe estava completa e o salão cheio de uma alegria que transbordava pelas paredes daquele lugar. Sou uma psicóloga de renome e estudei muito para conquistar isso, mas sou também uma dançarina e isso me faz feliz. Este é o meu retorno.
Com os sapatos, a situação era diferente. Havia dois pares de saltos, três de sapatilhas e, também escondido, tênis velhos e coloridos, tão diferente das outras peças monocromáticas que dividiam espaço com ele que a palavra escondido poderia ser considerada um exagero. Pego-os também.
Naquele momento, a nostalgia já fazia o meu coração bater forte em meu peito, e olhe que eu nem tinha achado a camisa de gatinho que eu amava tanto usar. Mais vinte minutos de procura e eu enfim acho-a no quarto de hóspedes. Cheiro-a, o odor do alvejante floral preenche meu olfato. Depois de vesti-la uma sensação diferente me invadiu e inicialmente não percebi do que se tratava, mas depois de algum tempo refletindo, entendi que era como se finalmente eu estivesse completa outra vez.
Finalmente vestida, pego meu chaveiro de cima da mesa e vou rápido na direção do meu carro. Nem acredito que finalmente chegou o dia de voltar. O dia estava tão perfeito que, no caminho do estabelecimento, não houve momento em que o trânsito me parasse, me fazendo chegar lá em tempo record. Para a minha sorte, a professora já estava lá e me deixou entrar. Terminei de me alongar e ninguém tinha chegado ainda. A professora, de nome Cassia, andou para perto um aparelho de som no canto do lugar e falou alto, sua voz ecoando no salão de piso de taco:
Tinha me dito que passou um tempo afastada, porque?
Minha vida estava corrida, tive que optar por duas coisas e já sabemos o que escolhi.
Sim Sabemos. Mas quero que saiba que é bom que esteja de volta. Sua alegria contagia o lugar, nunca vi pessoa mais alegre a dançar aqui.
Fico meio nervosa com tais palavras. Ela lembrava de mim, a anos que não botava os pés aqui e ela lembrava. Mais que acolhida, me senti querida, era um sentimento bom que aquecia o coração. Cassia torna a falar comigo, dessa vez com uma indagação diferente:
Vamos aproveitar que ainda não chegou ninguém. Vou ligar o som em uma música aleatória e você irá fazer uma performance. Com certeza isso te fará bem, me mostra aquela alegria outra vez.
Ela apertou o tal botão. Fechei os olhos e apenas senti a música que tocava. As vibrações pareciam moldar aos poucos os movimentos do meu corpo. No começo errei em tentar seguí-las, a mente até pensava nos movimentos, mas o corpo destreinado ainda resistia um pouco. Depois de poucos minutos, um pouco do antigo costume preenche-me sem que eu perceba e pouco a pouco vou melhorando. A suavidade retorna aos meus braços e pernas e, finalmente, sinto outra vez aquela sensação de outrora, a infinita liberdade que faz uma música com poucos minutos parecer uma eternidade em meus movimentos. Terminei no chão, mas nada de ruim tinha nisso. Estava feliz como não ficava a muito tempo. Até Cassia ria audivelmente ao fundo. Nisso, minhas outras colegas adentraram o lugar e então a classe estava completa e o salão cheio de uma alegria que transbordava pelas paredes daquele lugar. Sou uma psicóloga de renome e estudei muito para conquistar isso, mas sou também uma dançarina e isso me faz feliz. Este é o meu retorno.
"Esse texto foi uma homenagem à uma amiga minha que teve que parar de dançar"