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"Pare de pensar nos erros do passado e comece a planejar os erros do futuro!"
- Ricky O Bardo

Romantização de Abuso

Pretty-Belle

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18 de Junho de 2015
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[greenalert]Romantização de Abuso[/greenalert]

Mas o que é isso? Se você não sabe o que é ou se já ouviu falar (provavelmente das redes sociais) mas não entende os detalhes, decidi escrever esse texto para você. Se você já conhece, sinta-se livre para complementar o texto nos comentários.

Você em algum momento já se deparou com uma cena em que um rapaz é tão "apaixonado" por uma moça, que ele fica irritado e incomodado com qualquer outro cara que se aproxime dela porque não consegue controlar o próprio ciúme? Ou uma cena em que uma pessoa se atira em cima de outra, porque "não aguenta mais esperar"?

Se nunca viu, ufa, ainda bem! Mas esse tipo de cena é muito comum em novela, mangá, qualquer tipo de história que tenha um casal. Isso é porque a sociedade já, por padrão, romantiza abuso, então quando existe abuso romantizado na literatura, as pessoas fazem vista grossa ou sequer notam at all. Existe uma chance muito grande que você já ter se deparado com isso, sim, e apenas não ter notado por falta de maturidade ou de senso crítico.

A romantização de abuso ocorre quando algum acontecimento abusivo entre duas pessoas é mostrado ao público de uma forma mais leve do que é, fofa, engraçada ou romântica. Isso existe tanto em ficção, quanto em notícias (de, por exemplo, "crime passional"), quanto na nossa vida cotidiana (pode estar acontecendo na família de vocês ou com vocês mesmos!). Nesse texto, visto que estamos num fórum de desenvolvimento de jogos, vou focar em narrativas de ficção. Caso queiram mais detalhes sobre os outros casos, sugiro dar uma pesquisada em relacionamentos abusivos e em como eles funcionam.

[greenalert]O que constitui um abuso?[/greenalert]

Para algumas pessoas, as atitudes que eu apontar abaixo podem não parecer nada demais. Crescemos e somos instruídos a achar que relacionamentos abusivos são normais, porém não deixam de se caracterizar como abusivos, devido à natureza egoísta e aos danos psicológicos e físicos que podem ser causados ao outro (ou aos dois). Dentre essas atitudes, estão:

  • Se incomodar com ou impedir que essa pessoa seja próxima de outras;
  • Querer e exigir que ela fique com você o tempo todo, mesmo que ela não queira/possa;
  • Jogar a culpa nela por você estar em conflito com os próprios sentimentos;
  • Fazer ameaças físicas ou emocionais a essa pessoa se ela não te quer/quer ser livre/não quer estar com você o tempo todo;
  • Forçar essa pessoa a fazer algo com você que ela não quer ou não tem certeza se quer (seja um abraço ou uma relação sexual);
  • Exigir que ela sinta ciúme por você;
  • Questionar decisões que essa pessoa faz sem consultar você antes;
  • Machucar/ofender/violentar essa pessoa de qualquer forma, com a "justificativa" de que você a ama;
  • Querer que ela fique feia ou se esconda para que ninguém mais se interesse por ela, só você;
  • Beijar ou tocar uma pessoa enquanto ela está bêbada ou dormindo e não pode consentir;
  • Entre vários outros...

[greenalert]Por que "romantizado"?[/greenalert]

Quero deixar muito claro aqui que não vejo qualquer problema em você representar abuso, como o abuso que ele é, em uma história. Afinal, abusos existem, então deixá-los evidentes na história pode ser útil para alertar o público da existência deles, ou só pra deixar a história mais dark n'edgy mesmo - como diz nosso querido TV Tropes, true art is agnsty!

O problema reside em você não mostrar o abuso como abuso, mas sim como algum tipo de demonstração estranha/engraçada de amor excessivo. Como perceber quando isso é o caso? Aqui vai algumas dicas:

  1. A história pareceu mais triste ou pesada nesse instante?
  2. Você ficou torcendo para que a pessoa que sofreu o abuso se afaste/separe da outra para assim ela ser mais feliz?
  3. Se esse for o casal oficial, a obra é de gênero suspense ou drama psicológico?
  4. O personagem que sofreu abuso pareceu cansado, assustado, preocupado ou triste?
  5. O personagem que cometeu o abuso te parece uma pessoa da qual você manteria distância?
  6. O personagem que cometeu o abuso tem uma posição mais de vilão (ou pelo menos anti-herói) do que de herói?
  7. O autor ou a maior parte do público vê aquilo como um abuso?

Quanto mais "não"s houver para essa série de perguntas, mais provável é que o abuso que você acabou de ver esteja romantizado. E não, não é fácil identificar quando um abuso é romantizado ou não; isso é bastante subjetivo. Assim como não é tão fácil detectar quando a ideia do autor é romantizar abuso para que isso seja problematizado in-universe. Afinal, se você criou personagens FDPs que fazem esse tipo de coisa, não quer dizer que você é um FDP que faz esse tipo de coisa, né? Mas ainda assim às vezes é difícil separar o que o personagem defende do que o que o autor defende.

[greenalert]Na prática[/greenalert]

Tá, mas cadê os exemplos?​

No mundo nos animes e mangás, esse post tem uma série de exemplos de abuso sexual retratado como algo leve e cômico, algo que com certeza muitos de vocês viram ainda quando crianças. Já aqui mostra bons exemplos de abuso como algo romântico e fofo. Este blog discute a respeito do mesmo tema no contexto de mangás yaoi, e também tem uma listinha bem longa e amigável de exemplos.

Casos clássicos também podem ser vistos no tão infame Cinquenta Tons de Cinza, e também em novelas brasileiras.

[greenalert]Finalizando[/greenalert]

Então, é isso. Quem quiser, sinta-se à vontade para fazer observações, complementar e apresentar novos exemplos e formas que esse problema pode assumir. Aconselho ler os textos indicados acima também.

A ideia do texto foi fazer os potenciais escritores de ficção aqui do fórum refletirem a respeito desses elementos narrativos e saber quando e como retratá-los da forma mais adequada. Não só porque uma má representação pode passar uma imagem muito irrealista de algo sério e com isso contribuir para um problema social, como também a romantização de abuso é considerada uma má prática de escrita. Quer ser um bom escritor? Seja crítico e faça representações realistas e convincentes ;)

Até mais! :Beijinho2:
 
Adorei. Vivo questionando isso nos mangas shoujo que leio, alguns chegam ao ponto em que eu julgo o abuso digno de uns aninhos de prisão e ainda assim a história trata como se fosse fofo, triste.
 
Muito bom o texto! E tipo, foi o que você disse: É uma coisa que está tão enraizada que as vezes acontece e a gente nem nota. É uma coisa que eu venho tentado prestar atenção tanto quando eu crio obras (seja escritas ou um jogo) quando eu leio.
Acho que se o abuso fosse retratado da forma danosa que realmente é na ficção, mais pessoas reconheceriam esse tipo de coisa quando estivessem vivenciando, mas não é isso que acontece. A maioria das pessoas acha que quando alguém está cometendo algum ato abusivo, acham que é romântico ou fofo.
Enfim, obrigada por postar esse texto, acho que muitas pessoas deveriam ler sobre isso e começar a ficar mais atentas. ^^
 
Muito bom tópico a ser discutido. Acho que o mais interessante é o fato de você ter ido pesquisar e buscar referências pra abordar o assunto. É por essa e outras que eu prefiro muito mais fóruns do que redes sociais.


Durante um tempo eu me relacionei com alguém que sofreu abuso no passado. Na boa, é algo tão estranho e imperceptível na nossa cultura, que num primeiro momento parece "chato" quando alguém levanta o tema. Essa garota que citei achava normal, pelo menos nos três primeiros anos do outro relacionamento, mas depois de 6 anos a coisa tinha ficado complicada.

Quando nos relacionamos, haviam momentos que um simples toque meu era o suficiente pra despertar traumas nela que deixavam a situação bem complicada. Foi uma experiência que me ensinou bastante sobre o abuso, mas que parece ter muita gente faltando nessa aula. Ela acabou indo parar na terapia e ficou um bom tempo até conseguir se relacionar de novo com alguém, mas eu acho que é bem sacanagem alguém ter que parar a vida pra se tratar por causa do comportamento de outros.

Se vamos produzir algo que envolva essa temática ou qualquer outra semelhante, acho importante ser feita uma pesquisa profunda antes, buscando raízes e ramificações. Trabalhar um assunto de qualquer maneira no momento só porque parece divertido pode ser um tiro no pé.



Gostei da maneira como você estruturou e exemplificou o assunto. Traga mais textos assim, por favor o/
 
Ótimo texto, confesso que nunca tinha parado pra pensar nisso dentro desse contexto de animes e outras obras literárias/audio-visuais. Provavelmente passarei a dar mais atenção no futuro.
 
Belle, parabéns pelo tópico! Com certeza é algo que precisa ser explanado, não apenas aqui.



Como já foi dito, nos acostumamos com essa "cultura" e ficamos cegos quando ocorre, fingimos que não é isso e é mais incrédulo (como meu filhote Bruce disse) quando precisamos parar nosso tempo para nos tratarmos ou deixar de lado nosso mundo para satisfazer o outro.

Amor é livre, é respeito, é tempo e espaço, é apoio. Ninguém precisa amarrar, prender, limitar, excluir ou seja o que for de abusivo para "demonstrar" carinho/afeto achando que esse é o caminho.

Filhote Bruce comentou:
Se vamos produzir algo que envolva essa temática ou qualquer outra semelhante, acho importante ser feita uma pesquisa profunda antes, buscando raízes e ramificações. Trabalhar um assunto de qualquer maneira no momento só porque parece divertido pode ser um tiro no pé.

Concordo com o filhote Bruce quando a isto. Busquem, pesquisem, conversem com pessoas, enxerguem e escutem mais, pois, muitas vezes, as pessoas que passam por isso não percebem justamente pela mascaração (aka, romantização) que é o abuso, ela precisa de alguém para ver que aquilo não está certo, que o que é apresentado na cultura não é o correto e, sim, algo destrutivo. E vejam, não precisa ocorrer a pior coisa para ser abuso, nos textos/links de apoio (indico muito lerem) que a Belle colocou exemplificam alguns pontos, como: Relação de Propriedade (falta de privacidade), ciúmes além da conta a ponto de afetar você de diversas formas negativas, entre outros.

Rukh no Teikoku comentou:
[...] permanecem em relacionamentos abusivos na vida real pois acreditam que "ele me ama, posso mudá-lo", e essa mudança nunca acontece.

Não é algo apenas em jogos, pois, se há algo assim seja em games, animes, filmes e afins, é porque existe tal problemática na vida real. Complemento comigo mesma: não é algo fácil, ainda mais quando o que ocorre é algo diferente de sua visão e você sabe que está errado, que está causando algum mal, mas espera que melhore. As pessoas mudam, não é?! Mas por quanto temos que passar e sofrer para que essa mudança ocorra? E precisamos mesmo esperar?! Por sorte tenho ótimos amigos (entre eles o pessoal do Condado, que me deram ótimos conselhos) e família(s) que me abriram os olhos pois eles enxergaram além da mascaração, me apoiaram, continuam me apoiando e torcem pela minha felicidade.
É um assunto extremamente delicado, o caso citado pelo Bruce é um exemplo, então falar sobre também é. Observar além, entender e aceitar a todos sem distinção (leia-se: com seus traumas, problemas e dificuldades) não é fácil, mas apoiar e saber lidar com todas essas problemáticas da forma certa, se atentar para tal, realmente é um passo importante para destruir esses muros.

Para finalizar, adorei o tópico pois me abriu um novo horizonte, o qual eu precisava realmente enxergar (com certeza passarei a ver as coisas com um senso crítico bem maior). Deixo aqui o conselho de que se forem abordar tal temática (e o Bruce já falou, mas só ressaltando), estudem bem a fundo. Não trate com indiferença algo tão importante, saiba o limite que quer defender e o que quer passar para quem for jogar/ler/assistir e como isso poderá afetá-lo (seja positivamente ou negativamente). Utilize-se dos questionamentos no tópico, além dos comentários (até agora postados).

 
Onde se traça a linha entre a romantização e a retratação fidedigna? Ou melhor: é possível fazê-la sem deixar-se cair nas próprias interpretações subjetivas? Como definir, imparcialmente e objetivamente, abuso?
 
Sim, é um problema bem complexo por si só. Eu apenas mudaria algo aqui, não acho que o que temos é tanto uma romantização do abuso, mais do que uma dessensibilização ao assunto. Nós, como uma sociedade, nos acostumamos com a mostragem do abuso na mídia como algo normal e infantil. Isso pode ser danoso? Sim, sabemos disso desde o tempo de Werther (Apesar das soluções que encontramos com o suicídio, tal como a censura, não funcionarem com o abuso, uma vez que é algo já normalizado).
Com os livros é algo mais complexo, uma vez que eles já tiveram tempo de amadurecer como forma de cultura artística, então o problema é mais visto em fanfics, eróticas, livros teen e obras mais antigas. Eles já sabem que se algo existe na narrativa, ela tem o objetivo de demostrar um ponto, essas obras são muito boas para mostrar o abuso tal como algo danoso.
E todo autor têm essa habilidade de tornar uma obra mais real até o ponto em que quiser. O caso com os animes, mangas e a cultura japonesa como um todo é mais de uma preguiça com tropas já repetitivas. Eles montaram uma cultura, um universo fictício coletivo onde aquilo faz sentido. Normalmente não é algo que é esperado ser questionado. Está mais para a preguiça e dessensibilização do escritor do que qualquer credito ao abuso em si. E, infelizmente, é algo que irá continuar, enquanto vender.

Quer ser um bom escritor? Seja crítico e faça representações realistas e convincentes ;)

Quer ser um bom escritor? Entenda que o seu universo criado, por mais fictício  e estilístico que for, sempre terá um pé na realidade e será julgado por tais padrões. Entenda o contexto em que sua história é feita e que inspirações levaram ao que ela é agora e julgue essas inspirações para ter certeza que elas existem por um objetivo além de que "todos fazem dessa forma".

Onde se traça a linha entre a romantização e a retratação fidedigna? Ou melhor: é possível fazê-la sem deixar-se cair nas próprias interpretações subjetivas? Como definir, imparcialmente e objetivamente, abuso?

Yep, esse é o pesadelo da etimologia. Mas eu acho que foge um pouco do tema aqui, já que é uma discussão muito maior que envolve, não só abuso, mas todas as palavras em geral.  É o problema da definição, dos tomates e das frutas.
Normalmente, essa linha é traçada pela sociedade e pelos leitores. Esses legentes são muito bons para dizer se o autor colocou aquilo ali com um objetivo ou foi apenas para efeito cômico, ou taras. É claro, possui exceções. E é impossível definir algo imparcialmente e objetivamente, em tudo. Por mais que encontrássemos uma definição para uma palavra, é fácil encontrar contra exemplos, é fácil encontrar exceções, é fácil encontrar pontos fora da curva. É por isso que nos amarramos a exemplos e comparações em vez de usar definições propriamente ditas. Porque cabe a sociedade em questão definir, caso por caso, o que considerariam como abuso (ruim) ou não (não ruim), e estamos fazendo isso desde o inicio da humanidade.
Jamais encontraríamos definições utópicas e aceitas por todos, mas podemos reavaliar nossos valores com o tempo e mudar o que pensamos sobre alguns pontos.
 
[member=1841]Konnor[/member], sua dúvida é quanto a identificar que um abuso está romantizado, ou identificar um abuso?

Se for o primeiro caso, recomendo o texto da Melissa Suarez, onde ela comparada duas versões de uma mesma cena de estupro: uma na obra original (mais realista), outra na adaptação (romantizada).

Se for o segundo caso, isso é bem delicado mesmo já que a definição de que algo é abuso ou não pode variar de cada pessoa. De acordo com as pessoas ao meu redor, eu tendo a considerar muita coisa como abuso, quando elas não consideram. Qualquer atitude, pra mim, que tenha caráter egoísta e a outra pessoa esteja se sentindo forçada ou pressionada a aceitar, ou que tenha sido manipulada a achar que não é um abuso, por mais besteira que seja, é um tipo de abuso.

Considero ciúme, por exemplo, como um abuso. Sempre. Não precisa ser "excessivo". Porém, é algo tão comum do ser humano (e seres vivos em geral), tão corriqueiro, que eu meio que entendo e perdoo quando um ciúme leve é posto de forma romantizada - isto é, como algo que não causa nenhum dano às partes, e que é apenas uma forma de mostrar que um personagem está apaixonado. Além disso, algumas pessoas podem não considerar um abuso se for leve e a pessoa guardar o ciúme para si mesma, e considerar como algo normal e esperado.

Então, é como o [member=47]rafaelrocha00[/member] disse, não existe uma definição imparcial e objetiva. Mas dá pra identificar alguns extremos, como os listados na seção "O que constitui um abuso?" do texto.
 
Primeiramente parabéns por levantar um tema que acredito seja muito mais complexo (até mesmo para psicólogos), todavia foi muito bem levantado e contendo muitas informações e exemplos.

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Quando assisti ao filme Esquadrão Suicida com minha noiva Bruna. Não gostei do filme e uma das justificativas é a relação entre o casal de personagens Arlequina e Coringa. A forma como o abuso é romantizado no filme mostra a pérfida ideia que as transformações ocorridas na vida da jovem, causadas pela violência e relacionamento abusivo a fazem bem.

Ela é ofuscada e submetida à tortura física e mental pelo companheiro o tempo todo que  a agride constantemente, para o Coringa sua companheira é um objeto para seu prazer e diversão, em vários momentos podemos vê-lo a tratando com desprezo, agredindo e até a submetendo a torturas. E o pior infelizmente é que a grande maioria não atenta para esse fato como muito bem levantando.

O que os filmes, mangás, animes e livros não nos computam, é que na vida real tentar romantizar relações abusivas geralmente não acaba tudo com um felizes para sempre. Na realidade em que vivemos vítimas de relações abusivas não vivem casamentos felizes ou ficam juntos até que “a morte os separe”, pois o final dessas histórias na maioria das vezes não acaba bem.

Novamente parabéns e continue com mais debates interessantes...
 
Depois leio melhor todas as postagens (me perdoem a pressa momentânea, por favor)

Mas realmente é de se observar um choque cultural muito grande, em especial com material vindo do Japão, que ao contrário da sociedade americana ou latina, é bem diferente da nossa em certas concepções no que tange a relacionamentos. Muito mesmo, lá qualquer coisa além de andar de mãos dadas é muito risqué pois as pessoas tem uma de "não me toque" muito grande e preferem se cumprimentar se curvando ao invés de pegar na mão, por exemplo. Isso pra começar a listar as diferenças...

Os animes e mangás é que lutam pra acabar com isso e sugerem possibilidades de relacionamentos e sociedades mais abertas, então nem adianta demonizar os animes e mangás, que o que fazem na verdade é mostrar um pouco da realidade e tentar mudar isso. Tem muita gente que reprova pelo valor cômico dado, mas o valor cômico se vale justamente pra não deixar a situação muito pesada e constrangedora. Ou seja, ganha-se em questionamento sem tornar a obra um saco de acompanhar ou traumática.

De certa forma é inútil julgar as medidas deles com as nossas réguas, mas como muito material desse chega por aqui, ele merece sim ser analisado mais criticamente. Mas sim para guardamos para nós o que for bom (dá pra aprender muito com eles), ao invés de dar pitaco na vida dos japas. Acreditem, até eu que sou mais "durão" fiquei surpreso com demonstrações de abusos intencionais ou não tirados para fins cômicos, tanto em animes shonen, como shoujos, vindo tanto de personagens masculinos, como femininos também. Tem coisa nesses que é realmente muito frustrante.

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Mas voltando pro material mais ocidental, digamos assim, como o exemplo citado pelo Prof. Bento, o Esquadrão Suicida. Quero concordar com ele, mas também acrescentar outra dimensão na discussão. É muito fácil julgar as coisas pelo valor de face, mas relacionamentos, abusivos ou não, são uma complexa rede de ligação de vários símbolos psicológicos, relações de poder, psicologia profunda do indivíduo, sentimentos e visão de mundo, então realmente um relacionamento como o do Coringa & Arlequina pode ser difícil de julgar aos olhos dos que possuem um relacionamento "normal", pois há muito mais do que um relacionamento abusivo e masoquismo alí.

Nesse ponto pra chamar a atenção, romantizado ou não (na verdade romantizado pode até chamar mais a atenção) acho que eles acertaram na cartada, se o objetivo for causar incômodo. Mas a crítica é algo inteligente e pra gente inteligente, só quem é esperto o suficiente que vai sacar e se questionar. Não adianta mostrar o abuso de forma escancarada na tela pra até cego ver, isso é muito chato e foge do contexto da obra. Já o caso dos 50 tons de cinza e similares por lidar com a atração sexual diretamente (sem filtro de classificação etária pra 13 anos) é algo muito mais profundo da psique e biologia feminina, nem compensa entrar nesse vespeiro agora, é muito mais complicado do que parece, até por que iria contra o politicamente correto entrar em detalhes, já que alí temos que lidar com coisas que não são todos que estão dispostos a admitir.

No mais, excelente texto da [member=28]Pretty-Belle[/member], já estava com saudade de textos assim por aqui.
 
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