Segredo das Luzes
- E então, mãe? Está impressionada?
- Sim. - Diz Lua. - Estou impressionada com sua tolice.
- Mãe? - Indaga Lirk, assustado. - A senhora viu o que fiz? Tenha um pouco de orgulho do seu filho, pela primeira vez.
Muito espanto se via naqueles que continuavam a ver o reino voar sobre a cidade, mais alto que qualquer dirigível. Espectadores, congelados como estátuas. O tempo passou, a situação permanecia. Entardeceu.
- Já não podemos mais permanecer. Nos leve de volta, seja lá como. Não me interessa. Se voa, também se move e desce. - Dizia Kharl, alterado.
Lirk toma a direção, feita com uma enorme engrenagem reluzente, material desconhecido pelos pais, uma barra de ferro e linhas de algum material não identificável. Também haviam alguns circuitos ligados atrás da engrenagem, mas estavam ocultos por uma placa de metal. A maneira como que a direção era manuseada não parecia nada agradável, apesar de se assemelhar a um leme. Porque não foi feita para aquilo, sendo pontuda e desagradável de movimentar, pareceu uma péssima ideia já muito depois de ter sido executada.
Notando depois de alguns minutos que a viagem de volta seria longa, Lua e Kharl começam a se locomover pelo reino para trabalhar. Demorou muito mais tempo do que deveria para ambos perceberem que o local ainda estava todo ali, e as terras que envolviam o reino eram desnecessárias para exercer as funções. A sensação de trabalhar em voo era estranha, mas imperceptível depois de um tempo.
Em todo o reino, tudo o que se falava dentre os ignorantes era sobre Lirk e seu feito. O único que não havia se pronunciado era o conselheiro, mas este nem havia sido encontrado naquele dia. Uma junção estranha de tristeza e angústia era o sentimento que o rei e a rainha compartilhavam do filho.
O dia estava perto do fim e Lua encontrava-se observando a paisagem se locomover pela janela de uma das torres do castelo. Kharl que a procurava, a viu tão hipnotizada que se aproximou lentamente e a abraçou pelas costas.
- Kharl Fui rude, não fui? - Indaga Lua ao notar que foi envolvida pelos braços do marido.
- Lua. Sempre tivemos aversão aos luzianos. Suas ideias de querer desafiar o tempo e a lógica com suas invenções e sua tecnologia. E ainda têm a audácia de dizer que somos atrasados. E Lirk
- Lirk está indo para o mesmo caminho. - Completou Lua. - Não quero que meu filho se torne um luziano e perca a razão e a sabedoria. Não precisamos de desgraças, certo?
- Paciência. - Kharl responde, já cabisbaixo - Ainda é muito jovem, deixa-se levar facilmente pelas influências.
- Nessa idade, pelo menos, devia ter consciência do que faz. Mas a última coisa que desejo é que ele vá pelos luzianos. Por favor, converse com ele. Primeiro entendê-lo, depois repreendê-lo. - Pede Lua.
Foi chegada a hora em que o reino parou de locomover e um estrondo se ouviu com um leve tremor, notaram todos que o destino foi alcançado. Aproveitando que o filho deixaria o controle de sua invenção, quis Kharl conversar com ele. Aguardou até que o jovem estivesse em seu quarto e bateu na porta.
- Lirk? Lirk, por favor. - Dizia em voz serena. Ao ouvir a voz do pai, Lirk abre a porta e o convida para se sentar com um gesto.
- Lirk, bem Já de antemão peço perdão por nossa atitude agressiva. Mas de qualquer modo, eu gostaria de entender como conseguiu executar isso.
- Bem. Eu sei o reino não tem uma relação muito boa com os luzianos, porque
- Porque eles além de entrar em guerra conosco, roubaram todas as nossas riquezas para que sua tecnologia fosse mantida. - Kharl interrompe.
- Eu sei, mas - Lirk tenta argumentar. - Talvez se pudéssemos relevar, tentar esquecer os erros do passado.
- Eles se negam. - Explica Kharl. - Querem tentar apagar, esconder, esquecer a verdade de que tudo que eles possuem só existe hoje porque nos saquearam no passado. Sem nossas riquezas, sem nosso poder, nada seriam hoje. Mas lhe darei a palavra agora, para que me conte tudo.
- Certo, pai. - Inicia Lirk.
Disfarçado estava na Cidade das Luzes, Lirk precisava descobrir o segredo que tanto empoderava a cidade. A tecnologia dos dirigíveis. Depois de ter estudado a cidade, sua história, e tudo que nela havia várias e várias vezes pôde finalmente ir à fábrica de dirigíveis. Com a tecnologia certa, faria algo tão grandioso, talvez até mais, que um dirigível. E para benefício de seu próprio reino. E parecia ser algo tremendamente justo, considerando tudo que havia sido retirado no passado. Porém, não eram jóias e metais raros.
Era conhecimento. Ao adquirir conhecimento, quem o deu não o perde. Riquezas sim. E era esse pensamento que guiava Lirk.
Repleta de guardas e praticamente impenetrável. Esta é a descrição da fábrica de dirigíveis. Dois deles protegiam a entrada, com trajes especiais e fatais. Carregavam uma fraqueza. Como os equipamentos eram fracos contra a água, eram revestidos por uma camada oleosa, porém inflamável. Com tal fraqueza em mente, Lirk pôde se livrar dos guardas na entrada facilmente, de modo tão fácil quanto acender uma fogueira. A maioria dos guardas se foram desta maneira.
Porém havia algo que ele não pôde prever. Dois protótipos assustadores de armas enormes com rodas e garras foram avistados por Lirk numa sala. Protegidos por uma densa camada de vidro e com uma placa que dizia Mechassassino. Somente o nome já foi o bastante para amendrontar o jovem e causar arrepios por todo o corpo. O desespero o fez tropeçar, gerando um barulho que ecoou na fábrica.
- Alguém está aqui dentro! - Gritavam sem parar os guardas que ouviram o som. Lirk tentou imaginar como que cogitaram que se tratava de um invasor, e não um guarda qualquer. Mas se lembrou que os guardas não saem de seus lugares caso não haja uma invasão (ou ao fim de expediente) então não vão tropeçar em nada.
Passos foram ouvidos e o único esconderijo disponível era a parte traseira do vidro espesso que protegia o Mechassassino. A sorte e a estupidez dos guardas eram os dois fatores que determinariam sua salvação. E todos os guardas foram embora. Ao lado, havia outro Mechassassino, porém sem o vidro de proteção. A maior vontade de Lirk naquele momento era montar naquilo e destruir tudo, mas pensando duas vezes, seria estúpido.
Continuou a seguir vagarosamente pelos corredores até encontrar uma sala com dezenas de plantas e cartazes com projetos protegidos. No segundo depois de entrar, o alarme dispara. A porta se fecha atrás de Lirk, paralisado e tremendo. Se arrependia naquele momento de ter vindo. Mas nenhum arrependimento seria maior do que o sentido quando um Mechassassino se ligou no canto daquela sala. Não foi avistado antes, mas naquele momento era naquilo que os olhos do jovem se fixavam.
A máquina avançou com velocidade para atacá-lo, que salta para tentar desviar, mas falha caindo em cima da máquina. Então a máquina tenta retirá-lo dali com suas garras, mas tudo o que faz é desferir golpes contra ele. Começa a manusear os botões para fazê-la parar, e de tanto esmagar tudo que ali havia, o Mechassassino para de funcionar. Com alívio, começa a coletar todas as plantas e cartazes rapidamente e deixa o local às pressas. Sangrando, porém com a vitória nos braços.
Continuará em breve...