É uma proposta disseminada por muitas instituições desse ramo. No país, informática não é algo de domínio de grande parte da população, pouco mais da metade das residências têm internet, o que é muito pouco. Dos que têm, uma fração irrisória disso tiram o proveito que esta tecnologia pode proporcionar além de youtube, facebook, sites de fofoca e pornografia.
E estas instituições fazem bom proveito dessa ignorância do povo. Coisas triviais como uso de e-mail e ferramentas do Microsoft Office, por exemplo, são cursos que oferecem e que, na minha opinião, deveriam fazer parte de um currículo escolar atual, vez que a internet está inserida em mais da metade das profissões. E se exploram o mercado dessas coisas triviais, obviamente explorariam ainda mais áreas mais específicas, como é o caso do desenvolvimento de jogos.
Não bastasse ser uma área mal vista pela parte mais conservadora da sociedade, as escolas aproveitam disso e cobram um pouco mais para lecioná-la. E claro, se existem alunos que matriculam-se nesses cursos para aprender o básico, menos ainda vão saber sobre programação, design e sonoplastia, então por mais banal que seja o curso de desenvolvedor de jogos lecionado por essas escolas, ele ainda vai ser novidade para a grande massa dos alunos e apresentar coisas que não viram até então.
Uma experiência que tive recentemente foi quando resolvi participar de um curso de Desenvolvedor de Jogos Digitais oferecido gratuitamente pela Uaitec de Minas Gerais. Foi na cidade vizinha aqui e como eu estava sem nenhum curso pendente, resolvi fazer. O fato é que o curso abordou o buscou explicar sim, que existem várias linguagens, tipos de variáveis, fases do desenvolvimento de jogos, as profissões que englobam, a história dos jogos, parte artística, tipos de imagens, parte sonora, etc. Pontos que, realmente, quando eu tinha 16 anos e não tinha acesso a internet, eu não sabia nada disso e seriam deslumbrantes para mim ao conhecer. Porém, eu já conhecia inclusive a ferramenta que utilizaram para o desenvolvimento do projeto ao longo do curso (que foi a Construct 2), e, não bancando o sabichão, mas durante as 200 horas que o curso diz ter, nada foi acrescentado ao que eu já sabia. Todavia, eu via outros alunos ficarem com os olhos brilhando toda vez que o professor abria a boca.
Eu acho interessante sim que seja estimulado cursos na área, e é até bom existirem pois podem vir a despertar o interesse do aluno em procurar aprender mais depois de concluí-los, ainda que sintam remorso em terem pago para aprender algo que aprenderiam com tutoriais no youtube. O porém é que propõem uma pseudo-qualificação que segue os mesmos parâmetros do crash de 83: ter jogos de mais com qualidade de menos. E isso é visível no atual estado da Steam: 40% de todos os jogos que existem na Steam foram lançados em 2016 e dentre os oriundos na finada Greenlight, pode-se ver o quão ruins são essas aplicações.
Entretanto isso não é uma exclusividade dos jogos. Também há cursos de design gráfico, web designer, programador, ilustrador digital e muitos outros por aí, sendo que os três primeiros eu também cheguei a fazer, na época achei maravilhoso, mas no mercado de trabalho vi que não tinha aprendido o mínimo necessário para trabalhar. Mas é um mercado que existe, e gera matrículas, lucro, sendo assim, não deixará de existir. Mas creio que, conforme a tecnologia vai ganhando mais facilidade de acesso e os jogos sendo desmistificados, principalmente com o mercado no Brasil crescendo, a tendência é que essas falcatruas sigam melhorando os serviços oferecidos. Porém, é legal que existam e estimulem o pessoal a criar, mesmo joguinhos ruins, para que ao menos despertem o interesse e aí sim comecem a aprender.