Sozinho, humilhado e abandonado pelo seu clã, Gorbold Mãonegra, deitado no deserto de areia escura, observa o céu e silenciosamente enquanto sente esvair de seu corpo sua energia. Esteve vagando por vários dias com fome e sede. A vida na Garganta do Diabo é algo tão difícil quanto o nome sugere. Neste lugar, água é tão valiosa quanto o ouro, e todas as formas de vida precisam lutar constantemente para sobreviver.
Neste lugar, um orc sem clã, está fadado à morte.
Há alguns metros de Gorbold, dois abutres aguardam pacientemente a hora certa em que o orc fechará seus olhos para sempre. Orc?... Orc?... Está me ouvindo? o som parecia ser emitidos pelos abutres, e, em resposta, Gorbold, vociferou com uma voz rouca e sem força: Deixe-me em paz, carniceiro maldito. Hoje você não sentirá o gosto da minha carne!
Você ouviu isso, Zuk? Ele ainda consegue falar disse um dos abutres. É claro que eu ouvi, Tark! retrucou o outro abutre, suspirando e, em seguida, concluiu É melhor que ele continue falando, assim saberemos quando ele morreu.
A mente de Gorbold começa a falhar devido à exaustão, curiosamente, o que lhe desperta constantemente é o senso de perigo comum aos orcs diante do risco à vida que os abutres representam, e o barulho causado pelos grunhidos interminável dos visitantes desagradáveis. Se vocês não saírem, VOCÊS é que se tornaram minha refeição com esforço, o orc grita.
Uma ameaça? Tark, ele está nos ameaçando? e logo após questionar, os abutres começam a gralhar como se estivessem gargalhando das palavras do orc. Escute, orc, você está no chão e sozinho, enquanto nós, estamos de pé e em grupo, você não está em vantagem nem em condições de ameaçar alguém, você não passa de um... um... um pedaço de carne secando ao sol enquanto os abutres debochavam do orc, caminhavam em círculos ao seu redor desista, orc! Você já está nas ultimas, é importante saber quando desistir continuou o abutre eu e meu amigo aqui somos especialistas, se você ficar quietinho, você nem vai sentir a morte chegando logo em seguida, o primeiro abutre completou é verdade! Iremos contar lindas histórias sobre os seus feitos, ninguém ficará sabendo dessa sua vida miserável.
Por algum motivo, as palavras do abutre fizeram o orc lembrar do líder de seu antigo clã, Zorrag Sede-de-sangue, e de tudo que aconteceu nos últimos dias em que fez parte do clã. O nome Mãonegra fora, inclusive, um presente de seu antigo líder.
Apesar de Gorbold ser ligeiramente maior do que a maioria dos orcs, ele não era tão forte quanto o seu tamanho implicava, nem se destacava em batalhas. De fato, Gorbold estava abaixo da média dos orcs quando o assunto era o combate, e apesar de saber da importância dos saques e das campanhas de guerras para a sobrevivência do clã, questionava se era a melhor forma de sobreviver.
Orcs que fazem muitas perguntas e não se destacam em combate geralmente não vivem por muito tempo, e Gorbold não era uma exceção. Após uma campanha de guerra mal sucedida, Zorrag, furioso, pôs a culpa do insucesso no orc e lhe baniu do clã para recuperar o respeito do resto do bando.
Na língua nativa dos orc, mão negra é uma palavra utilizada para ofender. Traduzindo, literalmente, seria algo como dizer que ele possui duas mãos esquerdas. O mesmo que dizer que ele não passa de um fardo para o clã.
Assim, o orc ficou conhecido como Gorbold Mãonegra.
Desista! Você não é um orc, você nunca será um guerreiro. Você não passa de um fardo, um animal inútil. Você não tem lugar neste clã. Você é uma vergonha, e, a partir de hoje, será conhecido como inimigo deste clã. Saia agora e não retorne nunca mais! essas foram as palavras ditas por Zorrag enquanto esmurrava Gorbold e lhe humilhava em frente aos guerreiros do clã. Apesar de ceder as provocações do líder enfurecido e revidar, Gorbold não tinha a menor chance de vencer ele em um duelo. Zorrag era um grande guerreiro, conhecido e temido por muitos orcs em razão de sua selvageria.
Banido do seu clã, Gorbold decidiu cruzar metade do deserto para enfrentar uma mítica besta temida pelos orcs daquela região, acreditando que com isso conseguirá recuperar a sua honra e mostrar o seu valor. O sentido de honra para um orc é algo bastante extremo. Orcs vivem e morrem para defender a sua honra. A honra para um orc é mais importante do que a sua própria vida. Humilhado e banido, a única forma de Gorbold recuperar a sua honra é morrendo em uma batalha de forma honrosa, e como seu algoz, o orc escolheu a criatura mais temida da região.
Contudo não foi o primeiro em pensar isso, muitos orc banidos antes dele já tiveram essa mesma ideia, porém poucos conseguiram cruzar o deserto vivo.
Em um de seus lampejos de consciência, Gorbold percebe que um dos abutres está se preparando para dar um mergulho fatal em seu pescoço, neste momento o seu sangue ferve e a raiva toma conta do seu corpo, agindo rapidamente e desferindo um golpe certeiro contra o abutre. Em seguida, o orc tenta agarrar o abutre, porém, sem êxito, de modo que os abutres conseguem tomar distância, bater asas e subir aos céus, gargalhando da desgraça do orc.
Gorbold, vendo sua refeição bater asas para longe, suspira decepcionado. Esse evento serviu para ensinar ao orc que não há espaço para falhas em meio ao deserto. Além do mais, continua faminto, sabe que se não encontrar uma boa refeição nos próximos dias, provavelmente se tornará mais um dos esqueletos espalhados pelo deserto.
Assim, o orc continua em sua jornada para recuperar sua honra.
Continua...
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