Na manhã seguinte os orcs se despediram. Você tem certeza que não quer vir para o sul comigo?. Questiona o Areiapele, o silencio de Gorbold foi a resposta. Eu ti desejo sorte, Gorbold, que Orcum guie seus passos após essas palavras, o Areiapele bate com sua mão direita no peito em reverência a Gorbold, que retorna o sinal, despedindo-se, mas antes de virar as costas o Areiapele retira de sua cintura o machado de ferro e entrega junto com o velho odre para Gorbold: Não vai ajudar em nada contra Fulgur, mas pode ajudar você a chegar vivo até ele.
Gorbold olha para o presente e, muito embora seu rosto não demonstre o sentimento, fica comovido com o gesto do orc, questionando: Areiapele, você não disse seu nome? Quem devo elogiar se encontrar Orcum?. Ouvindo essas palavras, o Areiapele dá um pequeno sorriso involuntário, vira-se de costas e segue em sua viagem: Eu morri junto ao meu chefe guerreiro, não tenho mais um nome ou feitos para serem elogiados. Não diga nada a Orcum, se você encontrar ele....
Por alguns segundos Gorbold apenas observou o Areiapele se distanciando e sumindo em meio as cores do deserto. Depois iniciou sua marcha, entretanto ao invés de seguir as instruções do Areiapele, Gorbold decidiu refazer seus passos de volta até o cacto púrpuro que encontrara dias atrás.
Dessa vez os espinhos venenosos do cacto não representaram qualquer perigo, o orc usou uma manopla improvisada feita com o couro da sabriena para proteger seu braço enquanto descascava o cacto com golpes de machado, por fim enchendo quase que completamente o odre com água.
Essa pequena conquista preencheu Gorbold de entusiasmo, foi a primeira após uma grande maré de angústia, tão forte que conseguiu lhe retirar um sorriso de satisfação, entretanto, poucos segundos depois, ao perceber que estava sozinho em meio ao deserto e aos abutres, o sorriso desapareceu.
Gorbold traçou seu caminho de volta até a caverna, chegando nela buscou em sua memória as coordenadas passadas pelo Areiapele até o local em que foi atacado por Fulgur. Quando pensou em desistir, lembrou-se de Zorrag e toda a humilhação que passou em seu clã antes de ser banido, essas memórias lhe trouxeram a motivação que precisava para sair da caverna em busca do seu destino.
Antes de sair, Gorbold cobriu sua mão esquerda com o resto da fogueira e golpeou a entrada da caverna, deixando seu punho marcado naquela rocha, sinalizando o inicio ou o fim de sua jornada.
Nos próximos três dias Gorbold apenas vagou pelo deserto sem encontrar qualquer forma de vida e até mesmo o clima do local parecia invariável. Seguindo os conselhos do Areiapele, Gorbold acordava cedo e marchava até o sol começar a se pôr, momento em que buscava abrigo para repousar durante a noite.
No anoitecer do quarto dia o orc comeu a última tira de carne de sabriena que guardou para a viagem. Balançando o odre percebeu que ainda tinha água, mas sabia que não iria durar por mais um dia.
Novamente me encontro nas mãos do destino, mas o que será que ele me preparou dessa vez? Pensou enquanto observava o céu.
O Areiapele não disse quantos dias passaram entre o ataque de Fulgur e o seu encontro com o orc, de qualquer forma, Gorbold calculava que ocorrera a menos de uma semana. O orc sabia que agora também precisava se preocupar com comida e água, porém decidiu esquecer todas essas questões naquela noite e ficou apenas observando as estrelas até que por fim caiu no sono.
Após vagar por algum tempo no deserto, no quinto dia, Gorbold acaba por encontrar uma grande cratera em meio ao deserto, a areia escura nos arredores indicava que houve fogo ali e isso só podia significar que chegou ao local do ataque informado pelo Areiapele. O acampamento estava completamente soterrado próximo a cratera, apenas o mastro da cabana do chefe guerreiro podia ser visto fora da areia.
Gorbold começou a escavar com suas próprias mãos e o trabalho não foi completamente em vão já que em meio aos destroços foi possível encontrar parte do suprimento daquele batalhão, contudo o que lhe intrigou foi não ter encontrado nenhum corpo no local.
Durante a noite inteira Gorbold ficou escavando e imaginando o que poderia ter acontecido ali: Não há sinais de luta. Não é um local propício para uma emboscada. Como o batalhão poderia ter sido dizimado sem resistência? Cadê os corpos? Será que errei o local ou aquele orc me passou as coordenadas errada?
Enquanto as dúvidas consumiam o orc, ele mal percebeu que a noite parecia ficar de repente mais escura. As estrelas foram sumindo do céu como se um lobo fosse as devorando, uma a uma, até restar apenas um longo véu negro no céu.
Uma sensação estranha tomava Gorbold, uma angústia inexplicável como se precedesse algo muito terrível. Quando percebeu isso, o orc foi tomado por uma vontade súbita de correr para qualquer direção, desde que fosse para longe daquele lugar.
Uma inquietude inexplicável tomava aquele lugar, mas nem mesmo os olhos treinados do orc conseguiam captar qualquer movimento. Sua boca, seca, apenas sentia um gosto muito amargo e seus ouvidos apenas conseguiam ouvir o retumbar do seu coração acelerado. Um frio percorria a espinha de Gorbold, de baixo para cima, arrepiando sua pele e seus pelos.
A estranha sensação de estar sendo observado era enlouquecedora, para qualquer lugar que o orc olhasse havia apenas areia e escuridão, e, mesmo assim, a sensação ficava cada vez mais forte. As pernas de Gorbold estavam trêmulas e quase se moviam involuntariamente. Seus grandes braços sequer conseguiam erguer o machado, o qual, naquele momento, parecia pesar toneladas.
Os olhos do orc começaram a fraquejar como se várias camadas de véus fossem lentamente colocadas diante dele, uma atrás da outra, deixando sua vista embaralhada e nublada, e, com isso, a agonia ia progressivamente lhe consumindo, acelerando ainda mais a sua pulsação.
Suas mãos sequer conseguiam segurar o machado que escorre entre seus dedos em direção ao chão.
Em um ato desesperado, Gorbold ruge com toda a sua força apenas para perceber que não possui mais ar em seus pulmões e que nem ele consegue ouvir a sua própria voz.
... Continua.
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