Ferido e sangrando, Gorbold se apoia com suas costas na parede rochosa daquela caverna. Já enfraquecido, ele reluta em cair ao solo, reluta em se deixar abater. A ideia de uma morte naquele lugar não era o que ele esperava quando iniciou sua jornada.
Enquanto se ancorava na parede, tentou se agarrar em alguma recordação de sua vida, buscou em sua memória por algo forte o suficiente para manter sua cabeça funcionando e capaz de lhe afastar da fúria desenfreada que pedia para ser liberta.
Àquela altura, não ceder as provocações do orc pálido já era uma conquista.
As sombras sinuosas da caverna não lhe permitiam confiar em seus olhos. O ambiente parecia ser muito bem conhecido por seu adversário. Esses eram os principais obstáculos que precisavam ser superados para ter uma chance de vitória. Confiando apenas em sua audição, Gorbold fecha os seus olhos.
O orc pálido, observando seu inimigo imóvel, gargalha em uma risada alta e debochada que, sem ele saber, sinaliza claramente a sua localização.
O som de passos começa a ficar mais alto. Segurando firmemente o machado em sua mão, Gorbold consegue ver – em sua mente – o orc pálido se aproximando cuidadosamente para um ataque, ouve o seu adversário se esgueirando pelas sombras e ouve o seu adversário se lançando contra ele.
Inerte até o último momento, Gorbold brande o seu machado em um abrupto ataque de baixo para cima, interceptando o orc e abrindo-lhe um rasgo em seu abdômen, caso tivesse acertado. O ataque apenas golpeia o ar e o frio do aço perfurando a carne é sentido por Gorbold, seguido do calor do seu sangue escorrendo por suas costas.
– Tolo! Como pode um orc do teu tamanho ser tão estúpido e fraco? Tu te chamas de guerreiro, mas, aos meus olhos, não passas de uma criança assustada implorado por morte. Há há há, escolhestes o adversário errado. Conheço as tuas crenças e conheço os teus medos. Farei de tudo para que não sejas bem visto por Orcum. Farei de tudo para que a tua morte não signifique NADA!
Em fúria, Gorbold lança um rugido de ódio que ecoa por toda a caverna, mas, antes de uma ação inconsequente, consegue retomar o controle. Nesse momento ele teve a certeza que o seu adversário estava apenas brincando com a sua vida.
Sem conseguir enxergar uma solução, o grande orc olha para o alto em busca de uma intervenção divina, lembrando que jamais desejou ser um guerreiro. Desejava apenas uma vida simples, desejo esse que não era compreendido nem partilhado por qualquer outro membro do seu antigo clã.
Observando a luz no teto da caverna, seu coração é tomado por uma paz tranquilizadora. O escudo, sem mais utilidade, é solto no chão. O machado, por outro lado, ele reluta em deixar cair.
Mantendo o seu olhar voltado para cima, Gorbold percebe que a luz no teto não se movimenta e recorda de um local que se mantêm sempre iluminado: o topo da rocha central. Isso renova as suas esperanças de vencer aquela batalha.
Aquela distração não passou impune para Gorbold, desta vez a criatura pálida atravessou uma adaga em seu joelho, fazendo-o perder as forças em uma das pernas e cair com o joelho machucado no chão. A ferida foi grave, incapacitou o orc de se apoiar com uma das pernas e trouxe, de uma só vez, todos os sentimentos de ódio reprimidos. Fazendo com que ele se entregasse a fúria desenfreada que tanto evitou.
Entregando-se a fúria, Gorbold se lançou nas sombras, golpeando, pulando e gritando freneticamente em busca de um alvo. Seus músculos extremamente enrijecidos estavam tão duros quanto o aço e o sentimento de dor era aparentemente inexistente naquele estado. Seus movimentos bruscos e selvagens eram apenas observado à distância pelo orc pálido, o qual se mantinha o mais distante possível daquela fera.
O preço da fúria seria cobrado em breve e, considerando o estado físico do orc, seria um preço bastante alto.
Os movimentos aleatórios de Gorbold não tinham chance alguma de acertar o seu inimigo, mas em poucos segundos a fera enfurecida já estava no topo da rocha central, surpreendendo o seu adversário. Por fim, o orc caiu exausto no chão.
– Parabéns! Tu conseguistes chegar à luz, mas a tua morte não será evitada por isso. Orcs, tão fortes e tão estúpidos... gastando toda a tua energia de uma maneira tão pífia. Pensei que conseguirias te manter em fúria por mais tempo, mas, no final, tu és apenas carne, como todos os outros.
Enquanto discursava, o orc pálido se aproximava lentamente do corpo exausto de Gorbold. Com sua adaga em punho ele caminhou vagarosa e cuidadosamente até se aproximar o suficiente para golpear o pescoço do orc. – Agora, morra! – foram as últimas palavras do orc pálido.
Em um movimento abrupto, o primeiro soco acerta o nariz do orc pálido como um grande bloco de concreto, fazendo-o se afogar em seu próprio sangue. O segundo soco de Gorbold veio logo em seguida e arremessou uma das presas do adversário para longe daquela rocha. Antes que o orc pálido atingisse o chão, recebeu mais três socos diretamente em seu rosto.
De pé, os olhos de Gorbold estava completamente tomados pela cor de sangue e a sua respiração projetava o vapor fervente de seu sangue pela boca.
Músculos rígidos e veias saltadas. A faca ainda estava pendurada no seu pescoço, perfurou a sua pele e ficou presa entre as fibras do seu músculo. O inflar dos seus músculos foi o suficiente para fechar qualquer ferida e o seu batimento cardíaco era audível como um tambor de guerra, porém o que mais assustou o seu adversário foi ter ouvido, naquele estado completamente insano, em uma voz branda e calma: – Você não pode mais se esconder, agora eu sinto o cheiro do seu medo.
Em poucos segundos, o corpo do orc pálido desapareceu em meio a poeira e as lascas de rocha criadas pela força descomunal do punho de Gorbold.
Vencida a batalha, ele cai no chão sentado e, com a visão ainda turva, olha em volta.
A luz do interior da caverna era produzida por uma pequena pedra – um pouco maior do que um dos dedos do orc – que flutuava no topo da rocha central. Olhando para baixo o orc percebeu que as sombras que se moviam na caverna eram na verdade a silhueta de uma enorme criatura banhada pela luz daquela pequena e flutuante pedra.
Agora Gorbold conseguia ver a criatura olhando diretamente em seus olhos.
... Continua.
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