– O meu nome... diga ele. Eu sei que você sabe.
ATO VII
Ato I | Ato II | Ato III | Ato IV | Ato V | Ato VI | Ato VII
ATO VII
Ato I | Ato II | Ato III | Ato IV | Ato V | Ato VI | Ato VII
Os lábios de Gorbold moviam-se, mas não produziam som. As palavras pressas em sua garganta, um pouco abaixo da faca, recusavam-se a sair pela boca.
Sua visão, ainda turva, não permitia ver a criatura nitidamente. Via tão somente o tamanho colossal, a pele azulada, os olhos alaranjados e o sorriso amarelo, os quais eram facilmente distinguíveis naquela imagem nublada.
– O que houve? Perdeu a voz? Vamos... diga o meu nome, eu sei que você sabe.
O orc gastou suas últimas energias entregando-se à fúria para vencer o pálido. Seu corpo estava exausto, seus músculos latejavam, seu joelho perfurado o impedia de ficar de pé e o ferimento em sua garganta ainda sangrava. Estava incapacitado para qualquer tipo de combate e até mesmo para erguer seus punhos em sua própria defesa.
Seu tamanho apenas podia ser imaginado, sua cabeça flutuava acerca de vinte metros do chão e grande parte do seu corpo se misturava com as sombras da caverna, tornando-o indistinguível em sua total extensão. Lentamente aquela criatura se aproximava dele. Cravou suas garras na rocha e caminhou para o topo. Cada um dos seus passos eram sentidos pelo orc através das vibrações produzidas na rocha.
– O meu nome... você poderia dizer?
A voz não ecoava pela caverna, ela parecia existir apenas na cabeça de Gorbold, o qual não sabia ao certo se a voz era produzida pela criatura ou se era fruto da sua mente cansada pronta para desabar. Por instinto, o orc olhou em volta e procurou algum suporte para se apoiar em pé. O único objeto possível era o pilar no centro da rocha e no qual a pequena pedra brilhante flutuava.
Ele não estava muito longe, conseguiu rastejar – com grande esforço – e se apoiou no pilar, erguendo-se com seus braços e joelhos trêmulos. Apoiou suas costas no pilar e formou base com suas pernas, virando-se de frente para a criatura para olhar diretamente em seus olhos.
– Ful... gur! – relutante e gaguejando, sussurrou Gorbold.
– Oh! O que você disse? Poderia repetir mais alto? – disse a criatura em tom sarcástico.
Ainda relutante, o orc, de cenho franzido e segurando o pilar para não cair, enche seus pulmões e grita o mais alto que sua atual condição lhe permite: – FULGUR!
– FULGUR!? Como é bom ouvir o meu nome, ainda mais com esse tom de terror vindo da sua voz tremula. Diga o meu nome mais uma vez! Vamos... – a criatura vociferou cheia de orgulho e sarcasmo com uma voz cavernosa e aterrorizante.
Ofegante e de olhos vidrados naquele monstro, o orc põem a sua mão direita sobre o ferimento em seu pescoço em uma vã tentativa de estancar o sangramento. Já sem forças, mal consegue fazer pressão.
Gorbold se sente completamente frustrado naquela situação. Agora que ele está diante de Fulgur ele sequer possui forças para iniciar o combate. O estado de fúria não é uma opção, pois seu corpo não possui nem forças para se manter de pé.
Aos poucos os seus sentidos vão desaparecendo, iniciando pelo seu instinto natural de sobrevivência que, mesmo exausto e diante daquela fera monstruosa, sequer aponta para qualquer sinal de perigo.
– Fu... FULGUR! Eu vim por sua cabeça!
O sorriso da criatura se torna ainda maior e mais amarelado ao ouvir aquelas palavras: – E como pretende pegar? É um looongo caminho até ela – diz o monstro, ainda agarrado a rocha e com sua cabeça na altura de Gorbold, encarando-o com um sorriso estampado em seu rosto.
– De qualquer jeito! – disse Gorbold antes de esticar sua mão para pegar aquela pequena pedra brilhante na intenção de arremessar contra Fulgur. Inesperadamente, assim que a pedra entra em contato com sua mão, o seu corpo adormece e passa a emanar uma forte luz, iluminando ainda mais a caverna e lançando feixes de luz para todos os lados.
Em resposta, Fulgur larga a pedra e dá um salto para trás, abrindo suas enormes asas, as quais eram pelo menos três vezes maiores do que seu corpo, batendo-as para permanecer no ar e, em seguida, ruge com tamanha força que faz a rocha central vibrar e se inclinar para o lado oposto.
O corpo e os sentidos adormecidos de Gorbold lhe impedem de ouvir aquele rugido. Um êxtase toma conta de todo o seu ser, um sentimento diferente de tudo que ele conhecia. Seus joelhos não tremiam mais e ele observava o mundo a sua volta em câmera lenta. Via os feixes de luzes irromperem por debaixo de sua pele e via a besta mítica com sua boca cheia de dentes aberta e batendo suas assas lentamente.
Aos poucos os seus sentidos retomavam e o orc sente o calor daquela pedra em sua mão. Era um calor brando e que aos poucos estava se tornando mais intenso. Então, em um piscar de olhos, a temperatura da pedra subiu tanto que parecia ter se tornado ferro derretido. Imediatamente o orc tentou se livrar daquele objeto, porém, apesar de tentar, não conseguia se mover ou larga-la. Apenas podia observar e gritar de dor enquanto aquele intenso calor queimava sua mão esquerda e emanava ondas de calor por todo o seu corpo.
Em sua frente, flutuando no ar, Fulgur mantinha aquela enorme boca aberta. Pequenas descargas elétricas eram visíveis percorrendo suas assas, seu corpo, sua boca e um chifre que se localizava acima desta e entre os seus olhos. As descargas percorriam o seu corpo até esse chifre que se iluminava com um brilho cada vez mais intenso.
Até que um grande estrondo ecoou por toda a caverna.
A visão de Gorbold se volta para o teto de forma involuntária. Apesar de seus sentidos falharem, o orc consegue ouvir o seu coração batendo muito rápido, esse é o único som que consegue ouvir. Ele se sente transbordando de energia, mas seu corpo, ainda dormente, não responde aos seus comandos.
Por fim, ele sente o impacto da sua cabeça contra o solo e vê os pelos dos seus braços arrepiados e carregados de eletricidade. A frequência das batidas do seu coração diminui aos poucos e esse ainda é o único som que ele consegue ouvir.
Última edição: