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"Água mole em pedra dura tanto bate até que fura... Bem, exceto se você alterar as configurações de resistência elemental do seu projeto!"
- Moge

Vassia (Prólogo)

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07 de Janeiro de 2017
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Vaissa
[Prólogo]

Naquela manhã Roger se levantou renovado. Fazia um bom tempo que ele não dormia tão bem assim. Ao descer a escada, viu Lucas passando com um copo numa mão e um sanduíche na outra.

– Ah, bom dia. – Disse Lucas.
– Bom dia.
– Sabe? Eu estive pensando essa manhã e cheguei a uma conclusão.
– Sobre ela?
– Sim.
– O que é?
– Primeiro de tudo: Nós temos que arrumar umas roupas melhores para ela.
– Ah, cara... Pensei que você estava falando sério. – Respondeu Roger indo para cozinha preparar seu café.
– E estou! Por que não?
– Affs! Qual é o problema com as roupas que ela está usando?
– Ah, sei lá... Elas se parecem com as roupas de uma personagem de filme de ação, ou de ficção científica. Ela precisa de roupas mais comuns, tipo... Que não deixem tão na cara que ela é diferente.
– E o que você sugere?
– Sugiro que nós saiamos para comprar roupas para ela!
Roger riu.
– Que foi?
– E agora, quem é que tá parecendo uma menininha com esse papo de comprar roupas de mulher?
– Ih... Eu tô falando sério. Você não acha que seria melhor se ela tivesse roupas mais comuns?
– Olha, tanto faz a roupa que ela tá usando. Eu não sei se vou ligá-la mesmo.
– Affs... Qual é? E se alguém, algum dia, entrar aqui e ver uma mulher dormindo, em um compartimento secreto dentro da parede, no seu porão? O que eles dirão?

Roger cortava o pão e colocava o recheio, enquanto Lucas dizia.

– Olha... Acompanha o raciocínio. Se você ligar ela e deixar aqui dentro... Vai chamar menos atenção. Você sabe que o chanceler tem câmeras por toda parte. Se ele ver que toda vez que você chega em casa, fica olhando para os lados, como se estivesse algo para esconder, ele vai notar. E pode ser que ele mande uma patrulha pra averiguar.

Roger parou o que estava fazendo. Ambos olharam para a rua através da janela da cozinha que estava bem a frente deles.

– O tempo todo nós vemos esses carros blindados passando pelas ruas da cidade. – Continuou Lucas. – Não sei como eles não vieram aqui esse tempo todo...
– Na verdade eles vieram. – Respondeu Roger, voltando a preparar seu café da manhã. – Várias vezes.
– E o que você fez?
– O compartimento onde ela fica é giratório. A parte de trás é da mesma cor e textura da parede. Eu soube do risco que corria de perder meu trabalho desde o dia em que a capital anunciou que nós também seríamos uma colônia. Por isso... Me preparei.
– Então você entende que seria melhor ligá-la... Agora.
– Mas... Ligá-la? Agora?
– É.


Mais tarde...

Naquele dia, depois de terem comido no shopping center, os dois amigos chegam na casa de Roger cheios de sacolas com as roupas que compraram.

– Puxa vida! Não sei como as mulheres gostam tanto disso. – Comentou Lucas, jogando-se no sofá da sala.
– Ainda assim, teríamos nos saído muito mal, se não fossem as vendedoras nos ajudando.
– É. Disso, você pode ter certeza.

Roger tirou algumas peças de dentro das sacolas, observando-as.

– E então? Já decidiu qual vamos colocar nela? – Perguntou Lucas.
– Hm... Não sei. Espera! O que? “Vamos” nada! Eu vou colocar nela. Você pode ter dado a ideia, mas quem a vestirá vai ser eu.
– Uai... Qual o problema de eu te ajudar? Tem alguma coisa nela que eu não posso ver?
– É, você sabe muito bem que tem.
– Não. Não sei não. – Respondeu Lucas, levantando-se do sofá curioso. – Mas... Se você tá falando, então quer dizer que... Oh, man! O que foi que você fez? Quer dizer que ela...?
– É! É. Se você já entendeu, então vê se para de gaguejar.
– Cara! Você fez o corpo dela... Igual... Ao de mulher? De verdade?! Quer dizer... Ele todo?!

Roger olhou para Lucas com uma expressão de quem não estava nem um pouco surpreso com a reação dele. Ao ver a cara de Roger, Lucas riu com as mãos na cabeça.

– Cara! Você é insano! Como assim, velho?!

Roger voltou a escolher qual ele vestiria em sua criação.

– Não... Agora, falando sério. Ficou igualzinho ao de verdade?
– É claro que ficou! – Respondeu Roger ainda com a mesma expressão. – Eu queria... Que ficasse perfeito. E ficou! Tá? Se você quer saber... Agora vê se...

Roger percebeu que Lucas devia estar imaginando como devia ser.

– Ei! Para de imaginar como deve ser, que sua saliva tá caindo aí no meu carpete. Vai manchar! Não sabe nem disfarçar. Credo!
– Nossa, cara... Sou seu fã agora!
– Tá. Agora espera aqui, que eu já volto. Depois que tiver trocado ela...

Roger trancou a porta do porão e foi até o compartimento onde ela ficava. Após trazê-la para o meio do laboratório, retirou os braceletes de seus pulsos. Roger tinha colocado nela uma blusa regata branca, por cima uma jaqueta de couro sintético marrom e uma calça jeans. Ah, qual é? Não tá tão ruim assim. Pensou ele. Alguns minutos depois, Roger abriu a porta do porão procurando por Lucas.

– Lucas! Cadê você? Pode vir.

Lucas veio da cozinha com um pedaço de pão de forma na mão.

– Ah... Já terminou? Posso ver? – Perguntou adentrando o porão. Ao ver a porta da sala aberta, Roger disse:
– Ei, espera aí! Espera aí!

Lucas parou, olhou para Roger e viu que ele estava apontando para a sala com uma expressão de preocupação.

– A porta.
– O que? O que tem a porta? – Perguntou Lucas, voltando para ver o que era.
– Desde quando ela está aberta?
– Ah... É que eu fiz uns sanduíches de atum e fui comer lá fora. Você estava demorando, então...
– O que? Você usou meu atum? Eu ia levar isso para minha mãe.
– Foi mal. Eu não sabia.

Roger foi até a porta da sala, fechou-a e foi até o andar de cima devagar, sem fazer barulho.

– Você acha que alguém pode...? – Perguntou Lucas.
– Shhh...

Roger olhou no seu quarto. Estava tudo muito quieto. Tudo estava no seu devido lugar. Na suíte, nada. No quarto de visitas, tudo quieto. Lucas não havia arrumado a cama. Ele olhou para a porta do sótão e viu que estava fechada. Acho que tá tudo bem. Roger se sentiu aliviado.

– Tudo certo? – Perguntou Lucas, aos pés da escada, curioso.
– Tudo. Vê se presta mais atenção da próxima vez. Você poderia ter colocado todos nós em risco.
– Foi mal, cara.
– Tudo bem. Vamos lá pra você ver como ela ficou.

Eles desceram ao porão.

– Nossa, ela tá a maior gata, desse jeito. Boa escolha, mano.
– É... Eu quis fazer com que ela... Ficasse mais como se já fosse de casa.

Ela estava usando uma blusa de frio cinza com uma estampa colorida no meio. A blusa, que ia até quase metade das coxas, tinha mangas que deixavam a mostra apenas os dedos dela. Podia não parecer, mas ela tinha uma bermuda curta por baixo da blusa e também usava uma meia rosa, listrada de branco.

– E conseguiu. – Comentou Lucas olhando para as coxas da animatronick. Ele percebeu que havia até mesmo finos pelos, quase imperceptíveis, na pele dela. Ele ficou impressionado com os detalhes. – Que isso, cara? Isso é insano. Como você fez esses pelos? Olha isso!
– Ei, ei! – Interrompeu Roger, ao ver seu amigo acariciando a perna de sua criação.
– Tá bom. Foi mal, foi mal. Mas diz aí: como se faz para ligá-la?
– Você já vai ver.

Roger, então, pegou um cabo de energia e trouxe até a mesa no centro do laboratório.

– É só eu apertar aqui... – Disse Roger, enquanto pressionava a parte de trás da cabeça dela. Uma pequena parte se abriu, deixando à mostra o plugue usado para recarregá-la. – E então eu conecto isso aqui. Agora é só apertar esse botão aqui para dar o pulso inicial para ela ficar pronta pra ligar.

Então ele apertou o botão que estava na parede, próximo a algo parecido com um disjuntor. As luzes do laboratório se desligaram por um segundo e religaram lentamente.

– Ei. Você não acha que isso chama muita atenção, não? – Perguntou Lucas – Quer dizer, se as pessoas passarem na rua e verem as luzes piscando uma noite dessas, eles vão chamar os militares na mesma hora.
– Não. O laboratório tem seu próprio sistema de energia. Vem tudo daquele gerador ali. Você viu que demorou para religar? Pois então...
– Hm... Mas acho que não funcionou. Ela nem se mexeu.
– Eu sei. Eu fiz assim mesmo por questão de segurança. Pra poder ligá-la você tem que fazer um negócio aqui.

Roger colocou sua mão por baixo da blusa dela e, ao fazer algo, ela se mexeu. Um leve movimento com a cabeça e os dedos, praticamente imperceptível. Porém continuava com os olhos fechados.

– Pronto. – Disse Roger, orgulhoso de sua invenção.
– “Pronto”, o que? Ela ainda tá do mesmo jeito. O que você fez?
– Eu liguei o corpo dela. Agora tem que ligar o software. Vem cá, pra você ver. Ela já está respirando. Sente só.

Lucas aproximou sua mão do nariz dela e percebeu que estava mesmo respirando.

– Eu procurei fazê-la o mais convincente possível, exteriormente. E pela sua reação, acho que consegui.
– Hã? É... Mano, isso é insano. Não tem outra palavra. Olha... Até o peito dela mexe conforme ela respira.
– É lógico. Esse é o sistema de refrigeração dela. Todo computador tem um.
– E por que ela não abre os olhos?

Roger retirou o cabo de energia de trás da cabeça dela e tapou o local. Não dava nem para imaginar que havia aquilo ali, com todo aquele cabelo.

– É que o software dela ainda não está em execução. – Respondeu ele com seu smartphone na mão. – Está preparado? Então... Não, espera! Eu já ia me esquecendo.
– O que é dessa vez?!
– É que ela não tem um nome. Que nome você acha que combina com ela?

Eles a observaram por alguns segundos e ambos disseram ao mesmo tempo:

– Cloé – Disse Lucas.
– Dalva – Disse Roger. Eles se entre olharam.
– Dalva? – Perguntou Lucas. Roger caiu na risada. – Sério? Dalva? Você quer esse nome mesmo?
– Claro que não. Tô de zuera.
– É... A zuera não tem fim mesmo.
– Não, não... Agora é sério. Eu acho que vai ser...
– Pera aí. E o nome que eu falei? Eu acho ele bom. Você não vai nem considerar?
– É ele é bom, mas... Se você não se importa, eu acho que vai ser Vaissa.
– Vaissa? Hm... Esse, eu gostei. Combina com ela.
– Não é? Agora é só... Ligá-la.

Então Roger apertou o botão exibido na tela do smartphone. Ela abriu os olhos.



Vaissa.jpg


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