Um capítulo de uma história que estou escrevendo.
Desde os primórdios da humanidade, a noite sempre foi causadora de dúvidas e curiosidade. A noite é portadora de mistérios, medos, loucura. Afinal, o que se esconde nas sombras que se formam no breu noturno? Até que ponto se conhece a escuridão, apesar de toda arrogância humana quando se trata de conhecimento? Independentemente de qualquer coisa, algo é inegável: A noite sempre tem seus segredos. Algo sempre deve ser escondido.
E numa noite como aquela, segredos jamais poderiam ser deixados de lado. Quem quer que soubesse os segredos que aquela rua, naquela noite irritantemente fria, guardou, acabaria em uma situação extremamente ruim. E, talvez, só passar por aquela rua naquela noite fosse o suficiente para tornar a situação de qualquer um bem ruim; no entanto, o número de pessoas a se encaixar naquela situação era pequeno: um grupo de bandidos, moleques, arruaceiros com facas e canivetes que costumavam se reunir pelas ruas sujas como as mentes do povo que por ela passava daquela cidade, e, contrastando em antítese perfeita, uma jovem moça. Uma bela moça, como todos os odiados malfeitores das classes média e alta que se espalhavam com mais frequência pelos bairros centrais da cidade, bairros como os que possuíam ruas tão sujas como aquela, notaram. Seu corpo poderia ser considerado escultural, na essência mais perfeita da palavra, afinal, seu corpo realmente lembrava esculturas das mais perfeitas criações, daquelas que se espalham por museus com centenas de anos de história; seu rosto era como o céu de junho: belo, porém tempestuoso, aleatório, enlouquecedor, como as expressões e olhos da moça, olhos estes igualmente belíssimos e esverdeados, que não paravam de se mover um segundo sequer, analisando todos seus arredores; se portava com formalidade singular, da forma que um vestido como aquele seria seda lilás? merecia.
Bela o suficiente para ouvir de qualquer um daqueles moleques o irritante e antiquado:
Psiu, gatinha, quer ter um pouco de diversão? este vindo do chefe da gangue, que considerava aquele o maior lisonjeio e demonstração de educação que ousaria dar a qualquer mulher.
A jovem conquistara o coração do enorme, careca e extra musculoso chefe quando deixou de mostrar qualquer resistência e o encarou nos olhos, sorrindo sem mostrar os dentes, e disse, sem hesitar:
Claro, por que não? Siga-me disse, ainda sorrindo e andando vagarosamente, porém sensualmente para um beco, logo a sua esquerda.
Provocara o riso do monstruoso líder, que correu em seu encontro no beco. Seus subordinados riam baixo e brincavam com seus canivetes, mostrando suas habilidades em girar a lâmina entre os dedos. Habilidade inútil, porém divertida. E em toda sua demonstração de habilidade, não prestaram atenção no silêncio que tomara o ambiente após os dois entrarem no beco, até que o silêncio se quebrou. Uma mistura de gritos, choro e risos em vozes indistinguíveis era a única coisa que poderia ser ouvida nas mediações. O som era de luta, briga, e alguém definitivamente sequer tinha chances de se opor ao outro. E para todos os pivetes, a pessoa indefesa tinha identidade óbvia. Seu chefe era realmente um brutamontes, afinal. E eles sabiam, de todos roubos que viram, de toda pancadaria que fizeram parte, que ele era realmente muito bom em ferir pessoas, mesmo que isso não fosse bom de qualquer forma.
No entanto, os pensamentos definitivamente se romperam quando, subitamente, a sombra de um corpo jogado no chão foi vista. Apenas a sombra, e quem quer que fosse não poderia ser identificado sem que qualquer um que chegasse perto sofresse o mesmo destino. E, para os garotos, que se dividiam entre os que pensavam em correr e os que pensavam em comemorar, o que acontecera era óbvio: seu chefe tinha matado a mulher. Por que seria isso, afinal? Havia resistido após vê-lo de perto? Temia pela sua vida? Pensava que podia fugir?
As dúvidas acabaram sem dificuldade rapidamente quando o provável assassino saiu do beco, e não reconheciam sua silhueta de longe, a noite parecia cada vez mais espantosa e enevoada, tornando impossível para que crianças medrosas no escuro e no frio interpretassem qualquer coisa que não fosse suficientemente óbvia. Sem se importar com o corpo no chão, a figura andou até bem perto da gangue, olhando duas notas de cinquenta e um relógio, e se pronunciou:
Além de babaca, pobretão? disse a mulher.
E continuou a andar, guardando o dinheiro, o relógio e seu punhal na bolsa, ignorando os assustados moleques que se amontoavam, agora com a mesma ideia sendo compartilhada entre todos eles: correr. Definitivamente, correr. Porém, antes de virar à esquerda e sair daquela rua, e se dirigir à próxima, virou-se aos garotos num movimento rápido e disse, antes que fugissem de medo:
Se não quiserem o mesmo destino do lixo do seu chefe, nunca ousem fazer o mesmo que ele fez. Nunca ousem, com qualquer mulher, principalmente se ela tiver um punhal, como eu. Mas, sabe, as vezes elas não precisam disso para acabar com gente como você. Juro, não é difícil. e antes de sair, se prontificou a dar um aviso e se por acaso resolverem ficar parados aí como babacas e seu chefe continuar vivo, lembrem-se de avisá-lo o que fez isso com ele, e porquê.
Quando a perigosa mulher terminou de falar, insistiu em expulsar os já assustados subordinados de um chefe morto endurecendo a expressão e gritar Bu, da forma mais ridícula, porém efetiva, possível, visto que os moleques realmente se puseram a correr para longe.
Riu sem fazer barulho. Não podia se dar ao luxo de chamar a atenção daqueles inúteis, como gostava de chamar, novamente. Logo se pôs a andar também, porém na direção contrária a que fugiram, e sua direção original. Como pretendia antes das interrupções, virou à esquerda, e acabou por dar de cara com quem seria, dessa vez, o gerador de seu susto, diferente do que acabara de acontecer. Porém, este conhecia muito bem. Cabelos grisalhos, um bigode grande e bem arrumado, olhos sob um chapéu, vestindo um terno e luvas.
Não pretende trabalhar, senhorita Rose? perguntou o homem.
Sabe que sempre cumpro minhas tarefas. Principalmente quando a quantia de dinheiro é tão bela e atraente como essa. Apenas tive de lidar com imprevistos, meu bom amigo. respondeu sem hesitar.
Assim espero. Porém lembre-se que caso continue a se preocupar tanto com imprevistos, não terá o dinheiro que almeja. E sabe que talvez essa não seja a única coisa que perca.
Ora, vocês não ousariam respondeu Rose, sorrindo com o canto da boca.
E por que não, afinal?
Simples. Vocês não tem ninguém que mate tão bem quanto eu. E a propósito, quando estou a trabalho meu nome é Nyx.
E numa noite como aquela, segredos jamais poderiam ser deixados de lado. Quem quer que soubesse os segredos que aquela rua, naquela noite irritantemente fria, guardou, acabaria em uma situação extremamente ruim. E, talvez, só passar por aquela rua naquela noite fosse o suficiente para tornar a situação de qualquer um bem ruim; no entanto, o número de pessoas a se encaixar naquela situação era pequeno: um grupo de bandidos, moleques, arruaceiros com facas e canivetes que costumavam se reunir pelas ruas sujas como as mentes do povo que por ela passava daquela cidade, e, contrastando em antítese perfeita, uma jovem moça. Uma bela moça, como todos os odiados malfeitores das classes média e alta que se espalhavam com mais frequência pelos bairros centrais da cidade, bairros como os que possuíam ruas tão sujas como aquela, notaram. Seu corpo poderia ser considerado escultural, na essência mais perfeita da palavra, afinal, seu corpo realmente lembrava esculturas das mais perfeitas criações, daquelas que se espalham por museus com centenas de anos de história; seu rosto era como o céu de junho: belo, porém tempestuoso, aleatório, enlouquecedor, como as expressões e olhos da moça, olhos estes igualmente belíssimos e esverdeados, que não paravam de se mover um segundo sequer, analisando todos seus arredores; se portava com formalidade singular, da forma que um vestido como aquele seria seda lilás? merecia.
Bela o suficiente para ouvir de qualquer um daqueles moleques o irritante e antiquado:
Psiu, gatinha, quer ter um pouco de diversão? este vindo do chefe da gangue, que considerava aquele o maior lisonjeio e demonstração de educação que ousaria dar a qualquer mulher.
A jovem conquistara o coração do enorme, careca e extra musculoso chefe quando deixou de mostrar qualquer resistência e o encarou nos olhos, sorrindo sem mostrar os dentes, e disse, sem hesitar:
Claro, por que não? Siga-me disse, ainda sorrindo e andando vagarosamente, porém sensualmente para um beco, logo a sua esquerda.
Provocara o riso do monstruoso líder, que correu em seu encontro no beco. Seus subordinados riam baixo e brincavam com seus canivetes, mostrando suas habilidades em girar a lâmina entre os dedos. Habilidade inútil, porém divertida. E em toda sua demonstração de habilidade, não prestaram atenção no silêncio que tomara o ambiente após os dois entrarem no beco, até que o silêncio se quebrou. Uma mistura de gritos, choro e risos em vozes indistinguíveis era a única coisa que poderia ser ouvida nas mediações. O som era de luta, briga, e alguém definitivamente sequer tinha chances de se opor ao outro. E para todos os pivetes, a pessoa indefesa tinha identidade óbvia. Seu chefe era realmente um brutamontes, afinal. E eles sabiam, de todos roubos que viram, de toda pancadaria que fizeram parte, que ele era realmente muito bom em ferir pessoas, mesmo que isso não fosse bom de qualquer forma.
No entanto, os pensamentos definitivamente se romperam quando, subitamente, a sombra de um corpo jogado no chão foi vista. Apenas a sombra, e quem quer que fosse não poderia ser identificado sem que qualquer um que chegasse perto sofresse o mesmo destino. E, para os garotos, que se dividiam entre os que pensavam em correr e os que pensavam em comemorar, o que acontecera era óbvio: seu chefe tinha matado a mulher. Por que seria isso, afinal? Havia resistido após vê-lo de perto? Temia pela sua vida? Pensava que podia fugir?
As dúvidas acabaram sem dificuldade rapidamente quando o provável assassino saiu do beco, e não reconheciam sua silhueta de longe, a noite parecia cada vez mais espantosa e enevoada, tornando impossível para que crianças medrosas no escuro e no frio interpretassem qualquer coisa que não fosse suficientemente óbvia. Sem se importar com o corpo no chão, a figura andou até bem perto da gangue, olhando duas notas de cinquenta e um relógio, e se pronunciou:
Além de babaca, pobretão? disse a mulher.
E continuou a andar, guardando o dinheiro, o relógio e seu punhal na bolsa, ignorando os assustados moleques que se amontoavam, agora com a mesma ideia sendo compartilhada entre todos eles: correr. Definitivamente, correr. Porém, antes de virar à esquerda e sair daquela rua, e se dirigir à próxima, virou-se aos garotos num movimento rápido e disse, antes que fugissem de medo:
Se não quiserem o mesmo destino do lixo do seu chefe, nunca ousem fazer o mesmo que ele fez. Nunca ousem, com qualquer mulher, principalmente se ela tiver um punhal, como eu. Mas, sabe, as vezes elas não precisam disso para acabar com gente como você. Juro, não é difícil. e antes de sair, se prontificou a dar um aviso e se por acaso resolverem ficar parados aí como babacas e seu chefe continuar vivo, lembrem-se de avisá-lo o que fez isso com ele, e porquê.
Quando a perigosa mulher terminou de falar, insistiu em expulsar os já assustados subordinados de um chefe morto endurecendo a expressão e gritar Bu, da forma mais ridícula, porém efetiva, possível, visto que os moleques realmente se puseram a correr para longe.
Riu sem fazer barulho. Não podia se dar ao luxo de chamar a atenção daqueles inúteis, como gostava de chamar, novamente. Logo se pôs a andar também, porém na direção contrária a que fugiram, e sua direção original. Como pretendia antes das interrupções, virou à esquerda, e acabou por dar de cara com quem seria, dessa vez, o gerador de seu susto, diferente do que acabara de acontecer. Porém, este conhecia muito bem. Cabelos grisalhos, um bigode grande e bem arrumado, olhos sob um chapéu, vestindo um terno e luvas.
Não pretende trabalhar, senhorita Rose? perguntou o homem.
Sabe que sempre cumpro minhas tarefas. Principalmente quando a quantia de dinheiro é tão bela e atraente como essa. Apenas tive de lidar com imprevistos, meu bom amigo. respondeu sem hesitar.
Assim espero. Porém lembre-se que caso continue a se preocupar tanto com imprevistos, não terá o dinheiro que almeja. E sabe que talvez essa não seja a única coisa que perca.
Ora, vocês não ousariam respondeu Rose, sorrindo com o canto da boca.
E por que não, afinal?
Simples. Vocês não tem ninguém que mate tão bem quanto eu. E a propósito, quando estou a trabalho meu nome é Nyx.