🤔 Para Refletir : "O segredo para desenvolver ótimos jogos é... ahm... bom, se eu contasse, não seria mais segredo." - Jazz

Quem conta história, conta algo mais?

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Existem muitos escritores por aqui, sejam de poesia, contos, romances ou até mesmo ilimitados. O que me peguei pensando hoje, é: o que contam as suas histórias?

Com a intenção de fragmentar um pouco a pergunta principal, mas não limitando-se a esses questionamentos, eu gostaria de saber de vocês o que é que acham mais importante em uma narrativa. O que você quer causar com o seu texto é comoção? Você quer gerar uma nova perspectiva, um novo modo de pensar? Você quer confrontar uma verdade sistêmica ou ajudar a construir o pensamento crítico de outrem? O que é importante pra você?

Os poetas, por exemplo, possuem em suas mãos um repertório tão vasto de possibilidades, que é impossível dizer que só existem poemas românticos, por exemplo. Da mesma forma, acredito que os romances podem criar uma nova perspectiva naquele que lê, seja em relação ao tema tratado no texto ou a personalidade marcante de uma personagem.

Nesse sentido, o que você quer contar quando conta uma história?
 
Essa é um provocação bastante interessante. Remete até mesmo ao princípio de tudo: o porquê de escrever.

Gosto de pensar que quem escreve, o faz por sentir-se incomodado com alguma coisa. É uma inquietação que impele a pessoa a encadear palavras em busca de algum sentido, para si ou para os outros.

Eu, um novelista, gosto de tratar meus trabalhos com a escrita como projetos, onde em cada um pretendo alcançar um objetivo específico. Como normalmente escrevo par entretenimento do leitor, nem sempre estou preocupado com o valor literário da obra, o que importa mesmo é dar ao leitor alguns momentos de fuga da realidade.

Longe da realidade, espero que o leitor sinta curiosidade, raiva, sorria e se emocione. Despertar sentimentos no leitor é algo que me preocupa bastante. Mas como disse antes, depende do projeto. Por exemplo, quando estou escrevendo uma literatura erótica o objetivo é despertar desejo no leitor ao tempo em que em uma comédia romântica a ideia explorar situações cômicas entre casais.

Tem uma novela que escrevi com o intuito de "criticar" e tirar sarro dos curitibanos (a gente besta que acha a cidade de Curitiba o melhor lugar do Brasil). Nesse projeto a ideia é expor o ridículo cotidiano das pessoas daqui de onde moro, dentro de um contexto fantástico, punk e gótico.
 
Faulkner deu um bom motivo sobre o que na visão dele se vale apena escrever "(...) o jovem ou a jovem que hoje escreve tem esquecido os problemas do coração humano em conflito consigo mesmo, os quais por si só fazem a boa literatura, uma vez que apenas sobre isso vale a pena escrever, apenas isso vale a angústia e o sofrimento."

Não há nada na existência tão poderosa quanto o discurso. Podemos iniciar momentos obscuros por filosofias obscuras e perigosas, podemos gerar um florescer intelectual e cientifico gigante após relatar as mais empolgantes descobertas. Um poeta, se agrade em descrever de forma quase mística o sorriso de sua amada, tal qual um objeto que lhe atiça a criatividade e curiosidade. Então, acho que no fim, sempre vão existir vários caminhos para onde nossa literatura pode nos levar.
Na antiguidade, queríamos de algum modo tratar como vivíamos através das pinturas rupestres, no medievo se criam as fábulas para ensinar valores cabíveis a época, a Bela e a Fera(casamentos arranjados), Capuz Vermelho(o risco que uma criança sofre em desobedecer os pais), entre outros, cada um dos objetivos específicos ganham força em seu período histórico relativo.

Eu acredito que em nosso tempo atual. A discussão cai muito mais sobre "qual a minha função no mundo"
Por isso, eu acho que não fujo muito a essa perspectiva quando escrevo. Tento passar as minhas próprias percepções do que certa coisa significa! Por exemplo, ao escrever sobre um caso extraconjugal, quero poder esmiuçar os motivos que levaram a personagem aquilo que é obviamente imoral, o que eu significo nesse mundo? Me perguntar sobre o conflito em meu coração, o que eu faria naquela mesma posição?
PERGUNTA DIFÍCIL DMS SENHOR ELIYUD!
 
Antecipadamente, gostaria de agradecer aos senhores por dedicar um pouco de seu valioso tempo pra responder à minha questão.

Gostaria de destacar um paralelo que encontrei entre as duas respostas, com o qual fico curioso sobre se vocês concordam: escrevemos o que está em nosso coração.

A ideia por trás de um artigo científico, por mais acadêmico que ele seja, tinha, em suas mais puras origens, uma motivação apaixonada - quer dizer, salvas as exceções de casos em que o indivíduo, quando escreve, o faz por obrigação -, me leva a crer que aquilo que se escreve é, em resumo, aquilo que sentimos. Em outras palavras, o que escrevemos é aquilo que um dia amamos. O que embasa essa minha premissa é que, a partir do momento que alguém se dispõe a escrever, senão por obrigação, não o faz sem um sentimento íntimo arraigado em cada palavra.

Corroborando a ideia do @DadoCWB , penso que quando alguém se sente incomodado com algo e, por isso, passa a tecer suas ideias, está na verdade expondo um pedaço íntimo de seu ser expresso textualmente.

É assim que descreve bem Faulkner na citação que nosso querido @Aleth728 trouxe.

Diante de tudo isso, eu ouso dizer que tudo aquilo que escrevemos, é poesia. Ora, o que mais seria? Justo a poesia, que abraça todo e qualquer gênero literário e não perde o charme e sensualidade que um texto pode ter.
 
O que você quer causar com o seu texto é comoção? Você quer gerar uma nova perspectiva, um novo modo de pensar? Você quer confrontar uma verdade sistêmica ou ajudar a construir o pensamento crítico de outrem? O que é importante pra você?
Por mais estranho que pareça, acho que eu nunca escrevi nenhuma estória com uma motivação específica. É meio difícil de explicar, mas é como se eu fizesse uma trilha numa floresta e saísse pegando todos os insetos que eu achasse legais e levasse pra casa só pra analisar. Eu entro na minha cabeça e vou pegando as coisas que eu acho interessante, daí eu vou expandindo e adicionando camadas à essas coisas pra, no final, parecer que tudo foi planejado de forma ortodoxa (sendo que foi o completo oposto). O ponto fraco disso é que, geralmente, vão ter coisas que não vão fazer o menor sentido pra outras pessoas além de você.
Nesse sentido, o que você quer contar quando conta uma história?
Acho que a resposta mais próxima seria externalizar minha ideias.
 
No meu caso, depende muito do tipo do texto que estou escrevendo. Sempre fui um cara que gostava muito de ver coisas relacionadas a mitologia grega e tento colocar algo dela em quase tudo o que eu faço, mas há projetos e projetos. Gosto de usar a violência como forma de expressão para chocar o leitor, de falar de uma galera meio abastada, como forma até de expor que, não importa o quão absurdo é aquilo e o quanto está fora da nossa realidade, essas coisas meio difíceis de engolir ainda rolam na nossa sociedade pelos motivos mais absurdos. É quase como se eu usasse do exagero pra expor coisas para mim que eu considero problemáticas na sociedade.

Quando faço algumas crônicas, costumo tentar mostrar a minha visão sobre coisas do cotidiano que me marcaram de alguma forma e que podem gerar uma identificação com as outras pessoas. É uma barata que me acorda por ser teimoso e dormir no chão da sala, é a minha experiência de volta às aulas depois de uns 3 anos longe da faculdade devido a pandemia, é tentar me colocar no lugar de uma amiga que parou de fazer o que mais curtia, dançar, para poder se dedicar 100% aos estudos para voltar só depois de se realizar como psicóloga.

Sei lá, acho que escrevo para passar sensações, mesmo que seja pura repulsa, as vezes, ou raiva. Ou até que sim, o mundo é esse lugar injusto mesmo que basta você ter má sorte de nascer no lugar errado, de fazer uma escolha errada na vida, você pode se quebrar e aquilo pode te afetar o resto da tua vida. Mas também dizer que não tem como a gente saber do futuro, já que não somos videntes. Pra nós que temos um pouco ou até muita sorte, a depender do ponto de vista, tem sempre aqueles que comem o pão que o diabo amassou e as vezes nos cegamos pra isso.

Bem, este é o meu caso, mas ainda teria um pouco mais pra falar. É bem divertido pensar sobre xD​
 
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