A existência virtual é mais como um "JOGO" de azar que sempre dá prêmios. Ronaldo Bento
Papo vai e papo vem... Trocando ideias com professores sobre o tempo livre ocasionado pela PANDEMIA e pela conjetura política que vivenciamos no momento. Mencionei que estou tão “PUTO” que para distrair, transformei meus rascunhos (como sou um velhinho de 40 anos - escrevo no papel e só depois digito em um editor de texto) em um livro (edição do autor) com o título COMO ERA SER GAMER ANTES DO ADVENTO DA INTERNET promovendo principalmente os famigerados Arcade ou fliperama. Sério! Um professor de 45 anos (não de 80) disse que os fliperamas eram centros frequentados exclusivamente por MARGINAIS.
O ano era 1992, tinha 12 anos e cabulei aula com colegas e seguimos direto para o BAR DO GORDO um boteco fedorento que possuía um tesouro para nós denominado: ―máquina de fliperama‖ com o estrondoso, magnífico, inovador STREET FIGHTER II. Desde então, nasceu Ronaldo Bento o viciado em videogames (pejorativo sim, mas não para época).
Trecho do meu livro: COMO ERA SER GAMER ANTES DO ADVENTO DA INTERNET
Há alguns aspectos a serem considerados. Arcade – ou fliperama – era uma diversão barata e, em muitas localidades, era uma das poucas formas de lazer disponíveis para crianças e adolescentes. Também pelo fato de não exigirem a compra do equipamento por parte do comerciante, pois a operação geralmente ocorria em regime de divisão de faturamento 40/60, as máquinas estavam presentes nas localidades mais periféricas e pobres imagináveis como o bar do Gordo mencionado.
Podiam estar instaladas em estabelecimentos destinados exclusivamente a esta finalidade ou praticamente em qualquer comércio (exceto escolas!), gerando uma renda extra para seu proprietário. Tamanha era sua popularidade, que havia localidades onde era mais fácil encontrar uma máquina de Street Fighter do que um orelhão ou caixa de correio, para citar dois objetos ainda bastante utilizados nos anos 90.
Nas casas de casas de fliperamas que ali se encontravam, jogavam democraticamente os office-boys, estudantes – após as aulas ou matando aulas -, alguns “mauricinhos” aventureiros, as diversas tribos de gamers da época e claro, também os “moleques de rua”, muitos dos quais também pequenos trabalhadores informais como tomadores de conta de carro, vendedores de chicletes, engraxates, vendedores de garrafas vazias (ainda relativamente comuns nessa época) e outros.
A questão é que, costumeiramente, pobreza sempre foi injustamente associada de forma preconceituosa a marginalidade, quando na verdade os jogadores, em sua esmagadora maioria, independentemente de sua condição social, estavam ali simplesmente em busca de alguns minutos de diversão inofensiva.
Sim, brincávamos na rua. Quando já éramos “maiorzinhos”, lá pelos sete ou oito anos, nossos pais permitiam que brincássemos na rua, sob a condição de obedecermos rigorosamente às suas instruções e à autoridade por eles conferida à criança mais velha da turma. Uma das instruções do meu pai era: “Fique longe do fliperama”. O “fliperama” perto de casa era uma garagem comprida sempre escura, anexa ao bar e mercearia do Seu Gerson que sempre que era chamado de gordo. O bar com as máquinas tinha a porta de entrada dando para a rua e outra, interna, que se comunicava com a mercearia. Às vezes, quando me pediam para buscar algo no bar, como o litro de Fanta para o almoço do domingo, eu ia, seguindo todas as recomendações e cuidados, mas sempre dava uma espiada pela portinha interna, e lá estavam elas: as máquinas de pinball com suas luzes piscantes e sons alucinantes, sempre convidativas.
Contudo, muitas vezes lá estavam também os bêbados deitados sobre as máquinas ou caídos ao lado delas; às vezes presenciava brigas e discussões de frequentadores, via o pai do vizinho agarrado atrás dos pilares do fundo com uma mulher que não era a mãe do vizinho, e por aí afora. Ou seja, estavam longe de serem locais projetados para crianças ou adolescentes mais novos.
Pois bem, cientes da imagem negativa e marginalizada do setor junto à opinião pública, assim como dos fatos que fundamentaram a consolidação dessa visão, muitos empresários de entretenimento, recebemos a desafiadora missão de melhorar a imagem do segmento e a tarefa árdua e crucial de transformar o setor em si. Os fliperamas estiveram presentes em rodoviárias, shoppings, bares e botecos, lojinhas de doces e estabelecimentos conhecidos como casas de fliperamas (em outros lugares é conhecido como loja de fliperamas) ao redor de quase todo o Brasil.
Enfim, hoje muitos jogaram fliperamas principalmente nos shoppings e casas de fliperamas, mas os velhinhos não tinham alternativas, pois ter um console era caro e na época TV era só uma e os pais acreditavam que vídeo games estragavam as TVs. Era dureza!
Diga lá, Acredita que existam muitos preconceitos como o mencionado ou eu que sou azarado?