Para o
Bardo e para os trovadores de plantão — cinéfilos ou não — ofereço, na verdade, para todos que leem essa mensagem:
saudações!
Primeiro preciso confessar que nem me lembro da última vez que pisei num cinema e, assim como o mano
Paradiddle, a tevê daqui de casa também se aposentou faz alguns anos já, hduehdue. Contudo, tenho recentemente voltado admirar os grandes feitos da sétima arte graças a uma coletânea de clássicos (embora estejam mais para 'esquecidos') que encontrei.
Quando vi este tópico pela primeira vez os meus pensamentos me levaram a poucas produções que realmente gostaria de escrever sobre — ainda que cada palavra que eu expressasse para ninguém fosse uma surpresa. Portanto, a minha análise/recomendação de hoje leva a uma obra que para muitos poderá soar exótica, mas peço que tentem entender a singularidade deste rapaz, sobretudo. xD
NOME: Anjō-ke no butōkai (O Baile na Casa Anjō)
ANO: 1947
GÊNERO: Drama
NOTA: 8.5/10
O filme dirigido por
Kōzaburō Yoshimura conta sobre uma família aristocrata japonesa e o seu iminente fim devido à reforma agrária imposta pelos Aliados na
Ocupação do Japão. Com a perda de todos os seus bens e status social — não conseguindo nem ao menos quitar a hipoteca da casa — a família Anjō se vê obrigada a deixar a mansão que tanto ama para viver entre o povão. Como despedida da gloriosa vida de luxo, o pai viúvo, Tadahiko, ordena que seja feito um baile com todas as regalias que se tenha direito, enquanto a filha, Atsuko, se esforça para reconstruir as suas vidas pouco a pouco.
O que mais me chamou a atenção neste filme — fora toda a estética das produções dos anos 40/50, aliás, coisa que aprecio muito — foi a
direção. A “movimentação” e o posicionamento das câmeras, a progressão das cenas e toda a sua montagem são realmente impressionantes! Principalmente levando-se em consideração as circunstâncias nas quais o filme foi feito.
O
roteiro é mais uma… joia escondida. Ele tem o seu brilho, realmente, e devo confessar que simpatizei muito com a forma que as relações sociais e os aspectos culturais da época, impregnados no consciente dos personagens, foram demonstrados; é tudo muito humano — e isso é bom! A trama, apesar de sucinta (unida ao fato do filme decorrer-se praticamente no mesmo lugar), consegue te sustentar interesse, com diálogos bem elaborados junto a uma boa pitada de suspense dramático (
“Que fim levará a família Anjō, afinal?”).
A
atuação tem o seu charme, mas não espere muito; principalmente se estiver usando de referência as estrelas grandes de
Hollywood do século vinte e um. O Japão nunca foi uma grande menção na área da atuação, afinal de contas (embora neste filme tenha achado-a notavelmente fluida).
Ler até aqui pode tê-lo feito pensar que o tal filme não possui defeitos, sim? Bom,
se estivéssemos em 1947 talvez não tivesse mesmo. Ainda que seja injusto, acredito possuir a obrigação ser sincero em minha análise se realmente quero convencê-los de apreciar este trabalho — e não será forçando-os a consumir um produto pessoalmente desinteressante que farei isso. Há algumas décadas, o mercado cinematográfico não era nem a sombra do que é hoje; produzir um filme custava uma grana das boas e conseguir um financiamento não era tão fácil assim, portanto, a duração dos longas era geralmente menos flexível da que temos atualmente (em que se pode cogitar adicionar vinte minutos extras sem maiores sufocos). O que acontecia nestes caso — e aqui temos um deles — é um sério problema de ritmo, onde alguns '
takes' acabavam por ficar bem menores do que de fato deveriam, coisa que destrói a naturalidade da cena e ajuda na quebra da imersão do espectador. Acredito fielmente que se
O Baile na Casa Anjō tivesse mais dez, vinte, quinze minutos — que seja! — poderia (e gostaria de) considerá-lo uma obra-prima! Todavia, assim sendo, fica como uma ótima obra de arte mesmo.
Considerações finais: se vale a pena assistir
O Baile na Casa Anjō? Se você curte obras de época e/ou filmes independentes com pegadas artísticas, nem desconsidere. Para os demais, acho válido deixar um convite para apreciar esta obra. Mesmo que no fim a experiência geral seja tediosa, é sempre motivador lembrar o quanto a arte e a tecnologia evoluíram de lá pra cá e igualmente inspirador perceber o quão grande era o empenho da galera na era em que tudo era mais limitado.
Nota: pelo que percebi, esse filme é um pouco difícil de se encontrar fora de acervos específicos. Não vi menção em nenhum serviço de streaming, mas parece que dá pra assistir pelo YouTube.