Um salve novamente, DadoCWB! Sua opinião é muito interessante e entendo onde quer chegar. É onde também quero, mas estamos pegando caminho diferentes. Me permita comentar seu comentário mais uma vez!
Tive a oportunidade de experimentar um "jogo" que consiste em apertar um botão dos botões de uma caixa de 6 lados. Conforme o botão apertado a caixa reproduz uma gravação (apenas audiível) de um história. É um "jogo/console" para deficientes visuais baseado em sons.
Outro "jogo" que tem uma proposta "diferente" que eu poderia citar é o
Shan Gui. Ele é unicamente uma história linear contada por texto entre a exibição de uma imagem ou outra. É uma visual Novel Visual Linear, onde "jogar" consiste apenas em imergir naquele mundinho e informar ao "programa" quando você quer ler a próxima mensagem.
Nesses dois exemplos eu quero que atente para que jogar não significa necessariamente "jogar" nos termos tradicionais. Já faz tempo que jogo deixou de ser enquadrar no conceito tradicional para assumir o a forma de hipermídia. Logo, "jogos" não precisam necessariamente de interação ativa.
Cara, sou forçado a discordar. Você pode pegar qualquer livro de game design por aí, que fale de jogos analógicos ou digitais. O que define todo e qualquer jogo é a interatividade, um conjunto de regras, e escolhas 'interessantes', com finalidade da pessoa, de forma voluntária, se engaje em um conflito fictício ou brincadeira.
Se não possuir esses elementos, sou forçado a entender que isso não é um jogo, por mais que se use de alguma estética desses. Acredito que esses citados estão mais para hipermídia mesmo, tal como um website, que tem interatividade, mas nada além disso. Então aqui é questão de definição, esticar demais o conceito de jogos não ajuda na concepção exata do que torna um jogo um jogo e isso não ajuda a estudá-los e entendê-los!
A indústria música protege com unhas e dentes o seu produto. Jogos contém música/efeitos sonoros então por que não podem ser protegidos?
A industria cinematográfica protege seus "filmes". Jogos contém cenas (animadas ou não) que podem inclusive contar com dublagem. Por quê isso não pode ser protegido assim como no cinema?
Então, eu acredito que depois da gente já concordar que são coisas essencialmente diferentes, essa é uma comparação um tanto quanto injusta! A indústria da música e do cinema apenas ganham quando uma pessoa está disposta a pagar para poder ver e/ou ouvir aquilo que eles produzem, uma vez que a pessoa já viu/ouviu aquilo, já era. Enquanto em um jogo o valor está em jogar, que não é uma coisa que está sendo transferida em uma transmissão típica de Twitch.
Quando você transmite no Youtube você está essencialmente transmitindo sua experiência de jogar, não o jogo em si, ao contrário de quando você coloca uma música autoral no fundo na qual a música em sua totalidade está sendo transferida. Isso me parece meio óbvio dizer, mas você entende, né?
Agora OK, um jogo pode conter imagens e sons copyrighteados e eles terem preocupação, sabe-se lá por que motivos, de privar a transmissão disso, mesmo isso não sendo o foco (são na verdade adicionais para ajudar a vender o jogo, gráficos e sons o tornam apenas mais marketável). Beleza, vamos supor isso. Então se eu por exemplo fizesse a transmissão, sei lá, de um jogo de Banco Imobiliário, mas trocasse essencialmente as imagens copyrighteadas por outras livres, mas ainda seguisse as mesmas regras, como ficaria a situação pra você? Honestamente queria saber a resposta dessa.
Quando você diz que jogos são um mero conjunto de códigos (bits) que não significam nada quando alguém não o estar utilizado, eu penso que essa é um visão muito triste e com a qual eu tenho que discordar veementemente. Códigos de computador, assim como música ou cinema, são trabalho de pessoas (ainda é ao menos por enquanto). Quando alguém cria por exemplo um script para RPG MAKER, você pode até achar que aquilo não tem o mérito de um uma música música de ou filme, mas de maneira alguma esse amontoado de bits deixa de ser o que é apenas por que alguém não está usando. Códigos de computador devem ser tão protegidos quanto qualquer outra produto.
Esse caso aqui não é questão de proteção ou não, mas sim de realidade objetiva. Eu posso pegar alí um tabuleiro de madeira, umas peças de plástico e isso é exatamente o que são, apenas um amontoado de matéria sem significado nenhum. Aquilo só se torna um jogo a partir do momento que ganha as regras e os jogadores. Já um livro, mesmo que ninguém esteja o lendo, sempre vai ser um livro.
Não estou dizendo que o trabalho das pessoas não deve ser protegido, eu escrevo códigos, sei bem o trabalho que dá fazer aquilo que muitas vezes as pessoas nem veem e valorizam. Não é esse o caso aqui, OK? Você fala de proteção como se transmitir essencialmente estivesse desprotegendo ou privando alguém do resultado dos seus trabalhos, quando é exatamente o contrário. Uma transmissão de um jogo é uma baita divulgação gratuita, só assim jogos como Fall Guys e até o antiguinho Among Us ganhassem a boca do povo.
Eu não posso de maneira nenhuma concordar que quem decide o uso de um produto é o consumidor. Na intimidade da sua casa, você pode usar o produto da maneira que quiser (até mesmo que adquirí-lo ilegalmente se for o caso). Mas publicamente a maneira como você usa o produto deve respeitar as diretrizes do autor. E se este achar que a maneira com a qual o você está usando o produto é inapropriada e causa prejuízos ao autor ou à marca/imagem do produto, ele tem sim direito de contestar o uso que você está dando à obra dele.
[...]
Eu volto a dizer que é o autor quem define o uso da obra. O youtuber que faz live de jogos está usando comercialmente obra de outra pessoa para ganhar dinheiro. Nesses casos, se o autor desejar, ele deveria cobrar do youtuber a licença de uso comercial de sua obra.
O que eu acho é que o autor pode é ***sugerir***, não definir estritamente. Então, contanto que não faça nenhum mal pra empresa, elas não tem motivo pra interferir, mas se o consumidor faz algo potencialmente danoso, OK, as empresas podem tomar ação. Como transmitir jogos não fere nada (muito pelo contrário, comprovadamente beneficia) eu acho que elas não teriam pra que ter esse direito que é baseado apenas no "eu quero", ou seja, em nada objetivo além da vontade da indústria de arrancar mais uma casquinha.
Agora, vamos com cuidado aqui. Ganho comercial com a obra pode querer dizer muitas coisas. Se eu abro um mercadinho eu vou estar literalmente ganhando em cima de fazer uso comercial dos produtos de terceiros. Claro, o que eu não posso é do nada começar a empacotar biscoito no quintal e vender com o nome Passatempo ou Negresco.
Da mesma forma acredito que é justo transmitir jogos, pois essencialmente não estou modificando e vendendo como se fosse meu, estou apenas disponibilizando o serviço de fazer propaganda dele e ganhando uma fração por isso, pois no final o que deve importar pra empresa é a venda do jogo, que é o produto final deles. Por isso que falei se eles inventarem essa coisa de querer cobrar licença pra transmitir, perdão a palavra, uma extrema filhadaputisse querer tornar a divulgação interpessoal (Que está mais para um boca a boca do que pra pirataria) num negócio só por que eles querem arrancar absolutamente cada centavo possível dos jogadores.
Jogos não são bens. Como você mesmo pontuou, o jogo "ideia" que só acontece quando está sendo jogada. O bem pode ser a mídia onde essa ideia acontece (um dvd/console por exemeplo). E lembro que estamos migrando para o modelo de serviço e para a extinção da mídia física. Acredito com bastante entusiasmo que em alguns anos esse amontado de aparato físicos serão relíqias de museu sem valor de mercado. Isso vai ser legal por que finalmente vamos compreender que não importa se você jogar num Playstation ou XBOX, o importante é o jogo e não o console. Assim como o importante é o "alimento congelado" do picolé e não o palito.
Posso sugerir por fim que caso tenha algum DVD musical de algum artista famoso em casa, faça uma live qualquer e depois que tomar strike por violação de direito autoral tente argumentar que você pagou pelo DVD e portanto faz dele o que bem quiser. A mesma lógica deve se aplicara a qualquer produto.
Não, cara, o jogo é um bem, não estou falando da mídia física que o contém, mas sim o conteúdo de fato. Isso em leis de vários países, inclusive esse é o motivo de em alguns lugares você ter uma cópia para uso pessoal ser considerado backup e não pirataria. Que a indústria obviamente está migrando para o modelo de stores como Steam ou GaaS (jogos como serviço) onde as pessoas vão progressivamente perdendo seus direitos sobre os jogos enquanto bens, isso é outro assunto, e outro problema bem maior que esse. Tem um vídeo interessante que fala sobre GaaS, em inglês, no canal Accuserd Farms, que recomendo assistir a respeito.
Mas sim, jogos podem ser jogados como bens ou como serviços, mas isso essencialmente não muda o que os jogos são. Se eu compro meu próprio tabuleiro de War ou alugo um, efetivamente posso jogar dos dois jeitos, não há nada de errado nisso. Já o caso do DVD de novo cai no exemplo de que é uma comparação injusta.
Não quero dizer pra você que eu sou a favor disso tudo da meneira que o é. Digo apenas que essas são as regras do jogo. Vivemos em uma Democracia Liberal Capitalista. Não devemos esperar que bondade das empresas. Empresas não tem objetivo de serem bondosas. Elas objetivam o lucro. Como diz o Marcel do Minicastle: "CNPJ não tem coração". Se a gente que mudar alguma coisa, é preciso contestar as raízes e não as folhas.
Concordo 100%. Por isso mesmo temos que impedir que as empresas se achem no direito demais, atropelando o bom senso.
Um grande abraço!