🤔 Para Refletir :
"O segredo para desenvolver ótimos jogos é... ahm... bom, se eu contasse, não seria mais segredo."
- Jazz

HERANÇA DE CROMWELL: O Grimório das Sombras

Ricky O Bardo Masculino

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28 de Setembro de 2020
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Olá, eu sou @Ricky O Bardo sou o Host do Podcast Toca do Dragão, apresentador do Canal Do Ricky e criador do jogo "ARQUIVOS OCULTOS: O Desaparecimento de Julia Hill", mas o que você não sabe sobre mim é que eu adoro escrever!

Sempre gostei de criar minhas histórias e o mundo da narrativa aliando isso a minha necessidade de comunicar me tragou inevitavelmente para o mundo Roleplaying Game - o famigerado RPG de Mesa - onde eu vivo diversas aventuras, inclusive com pessoas ilustres da nossa comunidade como @Canal_JPÃO @CanalCafé e até mesmo @Dr.XGB .

Por fim, eu escrevia diariamente diversas histórias, e muitas delas se tornaram outros projetos, como o próprio Arquivos Ocultos, já mencionado aqui, cheguei até mesmo a ter uma obra com uma boa continuidade onde escrevia assiduamente chamada "SANGRANDO POEIRA" utilizando como recurso a ferramenta "WATTPAD", com o tempo, outros projetos se tornaram mais interessantes ou tiveram mais feedback do público e eu acabei migrando e deixando de lado (quem sabe um dia eu retorne ao mundo apocalíptico ao estilo MAD MAX que eu criei? Não sei dizer).

Com isso em mente, esses dias atrás o JC (Pãozinho) publicou seus contos de "Vale dos Ossos" que eu recomendo fortemente que leiam, pois ele tem se dedicado muito e tem feito um excelente trabalho evoluindo muito tanto como autor, quanto como contador de histórias. 🍞 Vou deixar o link dele aqui

Dito isso, vou apresentar aqui, o meu novo Projeto - HERANÇA DE CROMWELL: O Grimório das Sombras.

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SINOPSE:
Jason Cromwell estava vivendo sua vida normalmente, até que recebe um e-mail comunicando a morte de seu avó. Ele é o último dos Cromwell, herdeiro de uma gigantesca dívida e uma velha mansão no centro de Punhais. Porém Jason está para descobrir que sua herança vai um pouco além do que ele imaginava.

FREQUÊNCIA:
Minha intenção inicial é postar capítulos novos a cada 30 dias, mas isso pode ser alterado conforme minha disponibilidade de produção, tempo e humor para escrever, estou fazendo isso como um hobby e seria muito legal ter a opinião e companhia de vocês ao longo dessa história

POLÍTICA DE SPOILER:
Preferencialmente, se você estiver acompanhando, não dê spoiler, mas se quiser discutir algo sobre o roteiro, personagens, ou qualquer outra ação que tenha desencadeado uma reação no universo da história, lembre-se de usar o recurso do spoiler aqui no Fórum. Ninguém gosta de estragar a diversão dos demais.


Aqui está o LINK Principal:
https://getinkspired.com/story/500760/heran-a-de-cromwell-o-grim-rio-das-sombras/

Conforme for postando capítulos NOVOS, irei postando os links por aqui e mantendo um índice aqui para facilitar:

ÍNDICE
Prólogo - A Cidade dos Punhais
I. Rastros de Sangue na Madrugada
 
Última edição:
Prólogo - A Cidade dos Punhais
NÃO ESQUEÇA!
Se puder deixe seu comentário, sugestão ou pitaco! E claro se está gostando lembre-se de compartilhar com seus amigos e pessoas que você acha que possam gostar da minha história! Eu agradeço imensamente!


A pedido do @Suchimu - LEIA NO CONDADINHO!
Era madrugada, os vapores subiam das galerias subterrâneas que abrigavam esgotos cheios de ratos e outros seres rastejantes enquanto uma fina camada de chuva mordiscava as luzes amarelas dos postes do escuro beco por entre os arranha-céus sem fim onde caminhava, eu nunca fui um fã de vagar na imensidão de reino de Orfeu e deixar a solta os pesadelos que habitavam os travesseiros da minha cabeceira, e naquele momento, eu queria mesmo era encher a cara de álcool e entorpecer todos os meus sentidos até que as vozes parecem de uma vez de sussurrar loucuras dentro da minha cabeça.
Olhava fixamente nos olhos turvos da noite enquanto o whisky barato fazia seu show e cobrava a sua estadia no meu corpo moribundo, eu não queria voltar, eles já tinham me atormentado o suficiente por uma noite. Agora eu precisava não pensar mais sobre tudo que aconteceu, nem que fosse por apenas um segundo.
Sinto olhares me perseguindo por entre as sombras, como se lambessem cada passo e me agarrassem com línguas de trevas pegajosas que me retardavam passo a passo, quase ao ponto da inércia. Não faço ideia do que desejam e nem por que vieram até mim - Maldita hora em que resolvi beber! Um homem não pode nem sofrer o luto em paz? - me pego imerso em pensamentos intrusivos.
Por dentro das sombras eu ouço o sibilar estranho das línguas mortas que parecem me açoitar com palavras que eu desconheço. Eu creio que seja efeito da bebida. Me sinto assombrado por fantasmas que nem ao menos conheço. Me concentro e tento focar no caminho para fora dali, mas é como se a rua se afastasse a cada passo meu, sinto os pés pesados como se houvesse concreto e chumbo amarrados as pontas deles.
Tudo rodopia em sentido anti-horário e então meu fígado decidi que é hora de nós dois pararmos, enquanto estou regurgitando o ácido da bile do vômito em minha boca, cuspo no chão da sarjeta e me vejo no reflexo da poça d'água, e então eu começo a reorganizar as escolhas que me trouxeram até aqui. Irei refazer meus passos.
Foi no natal de 2011, eu estava em Los Angeles na casa de uma colega, estávamos comemorando o natal juntos, era meu primeiro feriado desde a morte de meu pai e a sua lembrança estava forte em meus pensamentos. Eu gostava da neve, sempre era algo que me acalmava em dias solitários, observar os flocos rodopiando e pousando como plumas feitas de cristais finos, isso me lembrava meu pai nos dias bons. Alzheimer é uma doença triste que se alimenta de você até que seu ultimo brilho de olhar desapareça por completo. Ele descansou. Eu também.
Olho no corredor e vejo que ela vem vindo no sentido oposto:
— Ei, Monica! Eu posso acessar o seu computador, preciso checar meus e-mails do trabalho — peço para ela da outra ponta do corredor —, vai ser rápido eu prometo!
— Claro Jason, você pode usar a senha está na gaveta da escrivaninha. Vê se não demora! Eu fiz uns biscoitos de gengibre e um pouco de gemada, até coloquei uma dose de Whiskey na sua... — a voz dela vai desaparecendo conforme se distancia de mim no corredor, Monica era uma "amizade com benefícios", uma das enfermeiras da equipe, bem, as coisas eram simples entre nós: Sem rótulos e sem obrigações, estava bom para ela e estava bom para mim.
Confesso que era difícil ouvir as pessoas me chamarem de Jason abertamente, soava-me meio torto, quase que impróprio, em meu trabalho no Hospital Santa Fé, sempre referiam-se a mim como "Dr.Cromwell" e às vezes "Sr. Cromwell" o que me fazia sentir-me velho, mesmo aos vinte e nove anos de idade. Meus colegas e amigos nunca me deram um apelido ou coisa parecida. Eu nunca fui uma pessoas de amizades duradouras.
Escolher medicina foi realmente uma decisão difícil e me especializar em angioplastia foi a decisão correta, agora estava fazendo residência, no meu último ano para obter a licença Médica e especialização como cirurgião, por isso precisava checar os memorandos, tabelas, horários, pacientes e prontuários, hoje era natal, mas as pessoas ficam doentes no natal também. Eu olho por entre os papeis espalhados em cima da mesa de Monica, ela era impecável no consultório, então aproveitava para ser sua musa interior quando estava em seu refúgio, a casa era limpa, mas a preocupação quase psicopata em ter os itens corretos e organizados era dedicada somente a sua função na enfermagem do Santa Fé. Ali era despreocupada. Livre.
Eu observo a neve lá fora, sigo com os olhos o ponteiros do relógio, são vinte e duas horas passadas, eu encontro a senha do computador na gaveta como Monica previu, digito a combinação de letras e números no teclado antigo e pegajoso, o sistema se inicia com o som característico que parece despertar o relógio operário que habita em meu ser. Devoro aqueles e-mails, receituários, informações, pisco os olhos e uma hora se passa como um minuto, algumas vezes meu pensamento é interrompido por grunhidos indecifráveis vindo da cozinha , são sonoros "Então para o que eu te chamei?" e mais um pouco de "Por que você não consegue se desligar?" e quando eu estou prestes a encerrar o navegador o alerta de nova mensagem aparece. O e-mail estava escrito com letras que pareciam valsar na tela, se embaralhando em pontos e ligaduras, eu não havia bebido nada, eu não havia usado nenhum medicamento indiscriminadamente, assumi que fosse apenas o estresse ou cansaço. Finalmente a sopa de caracteres flutuantes formam-se em palavras a minha frente e o titulo me deixa chocado: SEU AVÔ FALECEU. VENHA A PUNHAIS COM URGÊNCIA. Sinto uma dificuldade imensa de processar aquela informação, visto que meu pai havia me dito, anos atrás, que meu avô havia falecido antes de meu nascimento. Não tocávamos muito nesse assunto.
Leio para mim mesmo o e-mail, cerca de duas ou três vezes, até que finalmente eu consigo assimilar, que aparentemente eu estava em uma espécie de testamento de meu falecido avô Nathaniel Cromwell, e deveria comparecer com ímpeto de urgência ao Solar Cromwell, todos os registros foram enviados para que eu pudesse checar a veracidade do documento e da ação judicial que envolvia o testamento, juntamente com o e-mail e as instruções de como eu deveria proceder, haviam nele o endereço completo descrito com detalhes incomuns e um PDF anexo de nome "Mapa.pdf", eu me perguntava se simplesmente o GPS não funcionária lá?
"O nome da cidade não me é estranho, Punhais, onde eu já ouvi esse nome, onde essa cidade fica? " Eu começo a raciocinar e me entreter com o agourento e-mail enviado na noite de natal por um remetente oculto. Então como que por um estalo, eu me lembro de Punhais, a Cidade dos Punhais, é uma cidade relativamente grande, ao que me vem a memória, mas o por que não estava em nenhum mapa convencional, é um mistério ainda sem resposta.
Vinte e três e cinquenta e quatro, essa é hora marcada. Volto até a cozinha do apartamento de Monica. Tomo um copo gemada, guardei alguns dos biscoitos de gengibre no bolso do meu casado, para depois, organizo a cozinha e vou até o sofá da sala, pego-a em meus braços, coloco Monica em sua cama para que durma, ela está completamente bêbada de sono (ou talvez gemada batizada com whiskey), dou um beijo em sua testa e deixo um bilhete agradecendo o convite e explicando que eu estaria de volta em alguns dias. Assunto de família.
Não durmo bem naquela madrugada. Tenho alguns sonhos estranhos, estou em um quarto escuro com um homem dentro de uma pintura que conversa comigo, eu não entendo um única palavra do que ele me diz, mas o outro sim, eu estou vendo meu corpo de fora e o Jason do sonhos aparentemente entende e parece ser algo angustiante, eu acordo, com fortes dores na cabeça, ombro esquerdo e maxilar. Tomo café da manhã, jogo o lixo, alimento o gato, e tranco a porta do apartamento. Entro em meu carro, dou a partida no motor e dirijo até Punhais.
São cinco horas de viagem e eu chegou no começo da tarde, eu poderia jurar, se não visse com meus próprios olhos, que aquela cidade era maior que Los Angeles, eram diversos arranha-céus subindo pelo céu escuro piche desafiando a gravidade em uma arquitetura gótica que se mistura a contemporânea por toda a parte, um "neogótico" eu diria, mas eu não entendo nada de arquitetura, ainda assim, foi o que eu consegui perceber.
Passando pelo pórtico da cidade eu comecei a sentir o pesado ar, cheio de fumaça e fuligem que impregna tudo que vê e tudo que toca. As pessoas são extremamente reservadas, agitadas e evitam trocar olhares ou fazer gestos que possam levar a conversas longas. Apesar de estar mais no interior do país, a Cidade dos Punhais tem um grande número de moradores e um forte centro tecnológico à poucas milhas de Los Angeles. Estava tudo cinzento, como se fosse chover a qualquer segundo, as ruas molhadas da neve anterior, eu olho no painel do meu carro, são pouco mais de uma da tarde, eu preciso comer algo.
Paro em um restaurante, essas lanchonetes que víamos em filmes dos anos setenta, padrões de cromo, vermelho e branco, ocasionalmente adornado por um azul piscina desbotado, tudo está muito velho e o estado acompanha o tempo de vida, eu sento e sou atendido por um simpática jovem de cabelos curtos, ela anota meu pedido, traz o café e o creme que pedi, eu desfruto de um típico almoço, o que me traz lembranças, checo meu celular e meu pager, nada do Santa Fé, eu deixei mensagens, mandei e-mails e comuniquei a direção meus motivos para a falta. Estranho ninguém entrar em contato comigo até agora "Devem ser as antenas desse lugar ou sei lá, alguma coisa parecida?", eu falo em voz alta sem perceber que estou sozinho, enquanto checo as mensagens, a garota se aproxima para recolher os pratos, e me diz em tom baixo — Senhor, aqui a recepção e o sinal vivem falhando, se precisar temos uma lanhouse que pode usar — eu agradeço ela, deixo uma gorjeta generosa. Até que a cidade não está tão mal. Mas parece que eu falei cedo demais.
Saindo do restaurante uma viatura da Polícia local me aguardava.
— Los Angeles, hein? — diz o policial com tom de voz anasalado — fizemos uma pequena vistoria com a central, e tirando algumas multas de estacionamento, você parece limpo, senhor?
— Jason. Jason Cromwell, oficial — falo sem titubear olhando fixamente para o homem uniformizado a minha frente e seu parceiro que observa tudo de dentro da viatura — Sem problemas, comigo, vim apenas saber do testamento do meu falecido avô — finalizo.
O policial me encara por mais alguns segundos extremamente incômodos para mim — Achava que estaríamos livres de "vocês", preste atenção ao seu redor, você está liberado... por enquanto. — O tom de arrogância é nítido em sua voz, mas o que me chama mais atenção é a ameaça velada em suas palavras - Como assim livre de "vocês"? O que ele quis dizer com isso? - antes que eu tivesse tempo de questionar ambos, a viatura aciona o giroflex e sai contornando o pequeno estacionamento, deixando uma multa de cem pratas como presente em meu para-brisas.
Meu celular estava completamente morto, não conseguia ligar e nem receber chamadas e o GPS estava completamente pirado, sinalizando que eu estava na Cidade de Cairo, no Egito. Coloquei a multa rabiscada porcamente dentro do porta-luvas, depois eu lidaria com aquilo, agora eu deveria encontrar a casa no endereço passado, e sair daquela cidade logo, antes que mais alguém resolvesse me dar as boas vindas ao estilo Punhais.
Eu tento em vão perguntar as direções, mas a maioria das pessoas me ignorava e as que me davam atenção não sabiam me responder direito onde estava o tal local, cansado. Eu resolvi apelar. Antes de deixar o meu apartamento, eu imprimi o mapa enviando no meu e-mail, aquilo arquivo em PDF e segui a instruções. Eu encontrei finalmente depois de algum esforço tentando entender as orientações rabiscadas a mão, aquilo levou-me um tempo considerável para checar, eram quase dezoitos horas, o crepúsculo começa a manchar o céu, e não tinha certeza se conseguiria resolver aquele testamento ainda nesse dia.
O lugar é imenso. Um portal de ferro antigo e alto jaz imponente a frente da propriedade, um muro de pedra circundava todo o perímetro, quase como uma fortaleza. Naquele instante me incomodou profundamente as pessoas não saberem me informar como eu chegaria naquele lugar, visto que era com certeza uma construção muito distinta daquela cidade.
Está frio, eu desço pela porta do motorista e vou na direção do interfone, aperto o botão enquanto observo que a neve começa timidamente a deslizar do céu noturno. Tento pela segunda vez a chamada ao interfone. Nada. Quando estou a ponto de desistir e sair de uma vez daquele lugar, o portão se abre, o interfone que estava com uma luz verde, volta a ficar vermelha e se apaga. Maravilha - penso sarcasticamente, enquanto imagino os milhares de motivos que tinha para simplesmente ter ignorado esse e-mail, entro no carro e acelero seguindo a estrada, que continua por alguns minutos em meio a um pequeno bosque, finalmente chegamos a casa.
Uma arquitetura gótica assim como as demais construções antigas desse lugar, é quase como se a Cidade estivesse congelada no século dezesseis em alguns aspectos. Algumas luzes dentro do casarão deflagram que alguém estava ali antes de mim. Eu desço do carro, o grande casarão parece imenso de fora, imponente e solitário se distanciando uma boa margem das outras construções da cidade, a porta se abre e uma luz abre caminho nas recém-chegadas sombras da noite. Uma silhueta se projeta no vão e logo com dois passos a frente, uma figura esguia trajando um terno grafite e blusa social preta, usando óculos meia lua e cabelos longos brancos e amarrados com uma fita preta aparece.
— Você deve ser o jovem Jason. Estou correto? — ele aguarda minha resposta pacientemente.
— Isso mesmo, Jason Cromwell, estou aqui a despeito do testamento de Nathaniel Cromwell... ele... era meu avô — fala deslumbrado enquanto olho a construção que nunca me cansa a vista em procurar detalhes.
— Tres bien. Sua chegada há muito é esperada por mim, eu sou Jean Luc D'Ampierre, e sou o advogado da Família Cromwell, a seu dispor — ele faz uma leve reverência com a mão, a qual eu realmente não sei bem como responder, e digo apenas — Casa bonita, não? — ele sorri, provavelmente pensando em como sou ignorante, ele vem até a entrada da casa, vê que eu retiro uma maleta de dentro do carro e prontamente alivia minhas mãos. Eu faço uma reverencia com a cabeça agradecendo. Ele a retorna.
Subindo a escadaria da casa, chegando a varanda eu entro primeiro, e vejo ele chegando a passos curtos ainda fora da residência, ele me aguarda olhando fixamente para mim sorrindo
— Sr. D'Ampierre, você não vai entrar? — falo sentindo-me acanhado, confuso e perplexo.
— Oui, monsieur Cromwell, essa é a sua casa agora, não seria de bom tom de minha parte, simplesmente adentrar seus domínios sem ser convidado. — ele põe um pé mais lentamente a frente no assoalho da porta e então continua o passo normalmente — Muitas tábuas soltas, eu lhe digo, algumas reformas serão bem vindas e outras necessárias, mas não fique preocupado com esses pormenores no momento, com o tempo eu irei lhe auxiliar como puder. — ele termina entrando e fechando a porta atrás de si.
Não acreditava no que meus olhos viam, mas a casa parecia ainda maior do lado de dentro, no hall central havia um grande escadaria de carvalho ornada com fios de prata e entalhes que remetiam ao século quinze talvez, eram como videiras, no centro da escadaria um paredão se levantava com Brasão dos Cromwell destacado, o advogado me estende a mão com a maleta para que eu a segurasse.
— Monsieur Cromwell eu devo começar... — diz ele tirando um documento de dentro de um envelope azul petróleo com marca de cera dourada, eu de ímpeto o interrompo — Pode me chamar apenas de Jason, eu o chamarei de Jean Luc, podemos ficar assim? — ele me olha e assente com a cabeça, e continua — Jason, seu avô lhe deixou algumas propriedades, dinheiros, obras de arte, veículos, aeroplanos, empresas, embarcações... — naquele momento eu sentia meu coração bater mais rápido, eu estava rico? EU ESTAVA RICO! — ... e mais alguns títulos de banco e terras internacionais. Como o advogado dele, fui instruído a quitar todas as dívidas feitas assim que ele falecesse e eu assim o fiz porém — ele faz uma pausa dramática, o que me deixa ainda mais apreensivo, eu estava pobre... de novo. —, existiam alguns itens, que eram, como eu posso lhe explicar... — ele cerra os olhos enquanto procurava por cantos numa caixa imaginária em sua mente — ... esses itens eram "intransferíveis" por assim dizer, esses itens eram compostos por: A casa, uma espada japonesa e um corvo. — ele termina colocando o documento de volta no envelope.
— Ele me deixou... o quê? Um "corvo" e uma "espada"? — despenco em uma das empoeiradas poltronas do hall de entrada apoiando a cabeça com as mãos trêmulas — O que eu vou fazer com isso?
— Sim senhor, um corvo. Animal magnífico, de fato, inclusive está no brasão de sua família, e bem, veja o lado bom disso tudo, o senhor herdou essa maravilhosa propriedade e com certeza deve ter algumas economias para regularizar ela e... — eu levanto de súbito e interrompo ele imediatamente — Como assim regularizar? Regularizar o quê?
Ouço som de passos correndo lá fora, Jean Luc parece tê-los percebido muito antes de mim, ele apenas me olha novamente, dessa vez mudando o semblante para seu padrão calmo europeu de anteriormente.
— Ha! Ha! Guaxinins! Temos muitas dessas "pestes" por aqui durante os meses que marcam o final do inverno. Tres bien, Jason, eu irei me recolher, se não se importar, seu tio reservava um quarto para mim, espero que não seja pedir demais que você mantenha essa gentileza.
— Ah... não... quer dizer, tudo bem Jean Luc, fique à vontade, a casa é sua também, eu preciso assimilar tudo isso... — falo meio desnorteado enquanto continuo ouvindo os "guaxinins" andando furiosamente de um lado para o outro lá fora.
— Muita gentileza sua! Antes preciso lhe informar que não existem mais nenhuma dívida arquivada a não ser a regularização da propriedade, sua espada está no cofre pessoal de seu avô no banco da cidade, que você poderá retira-la amanhã pela manhã, e por último seu corvo fugiu na noite passada, e não faço a menor ideia de onde ele esteja. Desculpe-me. Agora, boa noite! — ele gira em seus calcanhares e sai subindo as escadas pomposamente.
O Solar Cromwell, o que eu vou fazer com essa propriedade gigantesca? Quanto custará para poder regularizar ela? São perguntas que ecoam dentro de minha cabeça cansada da viagem e da hostilização desse lugar, são vinte e duas horas, eu estou sentado no hall da minha "nova casa" e a única pessoa que sabia algo sobre esse lugar já se retirou, ao menos Jean Luc parece alguém de confiança, eu resolvo explorar um pouco mais do casarão, passo pela cozinha muito carregada de mantimentos, parece que as compras foram feitas recentemente, mas eu sinceramente deixei de achar as coisas estranhas por aqui, encontro um curioso jardim de inverno que recebe a luz pálida da lua em uma árvore estranha, a qual jamais havia visto antes. Continuo explorando até a virada da madrugada, onde finalmente o sono vem me buscar, e como que por coincidência encontro o que acredito ter sido o quarto de meu avô, a grande cama centralizada, com madeira adornada e feita inteira de carvalho maciço, eu começo a pensar que eu poderia vender esses móveis para levantar dinheiro e regularizar a casa, não deve ser difícil organizar um leilão.
Deito-me na cama, mas o sono não vem, não perguntei a Jean Luc sobre o enterro de meu avô, nem sei quando aconteceu, ou onde ele estaria enterrado, e ele também não me disse nada sobre a causa da morte de meu avô, apenas tratou comigo a despeito do testamento. O testamento. Me reviro na cama. Agora eu tenho uma dívida, uma espada e um corvo que fugiu. Fecho meus olhos tentando dormir.
Acordo no meio da madrugada com sons terríveis na escuridão, acendo as luzes do quarto e tenho a impressão de ver algo nas janelas, um vulto negro extremamente veloz, não pode ser, deve ser apenas minha imaginação, ando para o corredor da parte superior do solar, deixando a segurança de meu quarto para trás, agora ouço as janelas batendo em algum lugar - Será que vem do quarto de Jean Luc? - penso comigo. Sigo o corredor e encontro um rastro de sangue fresco que leva a um dos aposentos. Há algo de errado aqui.
 
Última edição:
Pó véi, gostei da temática da história toda dark e os pensamentos intrusivos do protagonista. Contudo, acho bem paia ter que logar em um site só pra poder ler seu texto. Não seria possível postar em um lugar que não exige login?

Precisa de login pra ler? Eu achava que só precisava para escrever... Quem me apresentou a plataforma foi o JC.
Mas vou ver se consigo postar em outros lugares, a ferramenta pra escrever deles é muito boa.
 
I. Rastros de Sangue na Madrugada
NÃO ESQUEÇA!
Se puder deixe seu comentário, sugestão ou pitaco! E claro se está gostando lembre-se de compartilhar com seus amigos e pessoas que você acha que possam gostar da minha história! Eu agradeço imensamente!


LEIA NO CONDADINHO!
Me aproximo com a cautela de quem está em uma caçada na savana circundado por feras leoninas e outros predadores ferozes, o vento sopra incansavelmente e a cada nova lufada gélida um arrepio com o estrondo da janela simulando trovões e relâmpagos psicológicos rasgando o céu noturno dramaticamente em minha mente. A trilha de sangue rubro, espesso e pegajoso me leva a um dos diversos aposentos do Solar Cromwell, aquele casarão imponente era imenso tanto por dentro, quanto por fora. Eu coloco meu rosto vagarosamente pelas bordas do batente da porta de madeira de lei e espio o interior do cômodo.
— Sr. D'Ampierre? Vo...você está bem? — digo prendando a respiração e estufando bem o peito. Meu coração acelera tal fosse uma corrida de cavalos furiosos em disparada.
Alguns segundos se passam. Ainda sem resposta. Decido por fim, que deveria entrar e verificar, "Talvez a insônia e um repentino mal-estar noturno tivessem-no feito passar por uma grave hemorragia? Eu já vi coisas piores e muito mais estranhas no Santa Fé acontecerem diante dos meus olhos e em relatos de colegas..." tento encontrar algum sentido ou mesmo razões para explicar o rastro de líquido rubro seguindo por entre as tábuas do assoalho serpenteando para dentro do quarto, mas meus instintos gritam que eu devo largar tudo e sair o mais rápido possível daquele lugar. E nunca mais voltar.
O quarto está malignamente escuro, apenas a luz natural da lua o ilumina pálida através das janelas do quarto, enquanto o vento frio do inverno castiga a estrutura casa se arremessando contra ela com foça usando a janela como um martelo de guerra. Eu me aproximo da janela e posso sentir como se algo me observa-se das sombras dentro do quarto, viro-me rapidamente para me deparar apenas com o vazio e mais escuridão que me afrontava. Olho institivamente para fora e posso ver que existe um cemitério na propriedade, iluminado por postes de jardim com suas rebuscadas arandelas, algo simplesmente traga meu olhar como o oceano traz em ressaca e atinge em cheio meus pensamentos, em dolorosas ondas "Meu avô deve estar enterrado ali? Eu posso perguntar para o Jean Luc quando eu o encontrar, espero que ele esteja bem." sinto novamente o mesmo olhar obsessor vindo de dentro do quarto, então ele cessa subitamente.
Um grasnar de corvo chama minha atenção para fora novamente, acima de uma das lápides no lúgubre cemitério havia um corvo, "Seria esse o tal corvo que fora descrito no testamento, o pássaro que havia sido cedido como uma herança?", ouço as escadas rangendo no corredor central, fecho a janela e verifico rapidamente a tranca e quando termino as luzes se acedem, o quarto, impecável, sem sinal de sangue ou nada que me remetesse ao que havia visto anteriormente, perplexo eu começo procurar pelas evidências que estavam ali anteriormente, mas sem sucesso fico em estado de choque, contemplando apenas em silêncio.
Uma figura adentra o quarto, trajando pijamas finos de seda negra delicadamente bordados, na camisa o brasão de Cromwell habilidosamente bordado entre fios de ouro e prata, era Jean Luc D'Ampierre, que em suas mãos trazia um copo de água até a metade.
— Um copo de água? — ele levanta o copo em minha direção, oferecendo-me — Com sede? Eu sinto muita sede monsieur, em noites como essa particularmente e principalmente antes de me deitar, está tudo bem Sr. Crom... Jason — ele corrige-se chamando meu nome com um fortíssimo sotaque francês, eu finjo que não estou apavorado e perdendo o controle completo da minha sanidade, então decido por não contar para ele sobre o sangue que vi no chão anteriormente no corredor, já que isso faria eu parecer ainda mais fora de si.
— Sim, sim, claro, Jean Luc, está... tudo bem... comigo — eu digo lentamente ao perceber o que parecia ser uma garra monstruosa pendendo sem vida, inanimada, de baixo da cama onde o advogado dos Cromwell, o senhor que se apresentava para mim como Jean Luc D'Ampierre, estava indo deitar-se, finjo não perceber a cena mórbida, dedicando tudo do talento que os seis meses que passei na escola de teatro em Los Angeles durante meu ensino médio conseguiram me ceder naquele momento. Prendo a respiração e desvio meu olhar.
Ele nitidamente pode perceber por dentro de minha ações, dentro de meu nervosismo, era óbvio mas, ele disfarçava também, e com um gesto de sua mão delicadamente ele aponta para o cemitério que jaz lá fora, no momento em que um pássaro negro grasna mais uma vez na noite solitária de inverno sobre a lápide em meu quintal. Ah. senhor Edgar Alan Poe, você ficaria com inveja.
— Parece-me que o seu corvo voltou Sr. Cromwell, amanhã você poderá ir ao banco sozinho, eu deixarei tudo preparado para que eles possam recebê-lo de maneira eficiente e rápida — D'Ampierre toma um gole longo de água em seu copo, enquanto fita-me com os olhos desconfiados. Medindo minhas reações
— Desculpe-me senhor D'Ampierre, eu não sabia que você não estava em seu quarto, eu apenas ouvi a janela batendo no meio da madrugada e vim verificar se estava tudo bem.
— Ora, Jason, essa é a sua casa. S'il vous plait, eu aqui sou um mero hóspede, confesso que eu sofro de terrores noturnos, uma tortura aos meus nervos, por assim dizer, eu prefiro deixar a janela aberta para o ar fresco da noite possa arejar um pouco as coisas, com a calefação da casa funcionando corretamente no piso superior, eu não achei que seria um empecilho para você mas... — diz ele como quem sente-se desconfortável com a situação. Eu respondo.
— De maneira alguma Jean Luc, você pode deixar a janela aberta se isso lhe agrada ou lhe faz bem, bom, eu vou indo agora, preciso retornar para meu quarto e deixá-lo descansar em paz. Ah! Sim, sobre o pássaro, eu duvido que seja o designado como "meu corvo", afinal de contas esse é um animal bem comum por essas bandas não é mesmo?
— Sim, de fato é um animal comum, mas ainda acredito que seja o corvo em questão. — ele dirige-se a porta junto comigo, deseja-me boa noite mais uma vez, e antes de fechar a porta completamente, com ela ainda entreaberta, ele retorna e diz — Amanhã pela manhã você não me verá Mestre Jason, tenho compromissos que não podem ser adiados... — "Mestre?" eu confirmo com a cabeço e sorrio reafirmando que está tudo bem, ele continua —... amanhã você deve ir até o banco e retirar o item do cofre de seu avô, uma antiga espada japonesa, um tesouro de família, depois disso deve retornar imediatamente para o Solar Cromwell, não perca tempo, aguarde o cair do noite aqui dentro. logo eu devo retornar, então poderemos conversar sobre, suas obrigações como herdeiro, sobre as dívidas, o cemitério... e sobre o que você viu embaixo de minha cama. — ele fecha a porta bruscamente, deixando um bafo quente esbofeteando a minha cara, e sinto como se agulhas perfurassem meus tímpanos ao mesmo tempo. Meu Deus. Ele percebeu. Estou morto. Pânico.
Saio correndo cambaleando em direção ao meu quarto, assustado demais para prestar atenção em qualquer outra coisa, "Jesus! Eu preciso sair daqui, rápido! O que era aquela coisa debaixo da cama dele? Uma pessoa? Assassinato? Meu Deus! Meu Deus! Ele é quem realmente diz ser?" os pensamentos entram enfurecidos como pardais desalinhados em uma armadilha de redes, deixando minha mente completamente desfocada e ansiosa em um limite quase insuportável. Eu corro pelo corredor e percebo as manchas estranhas no assoalho, "Sangue?" era sangue seu idiota, agora eu tenho certeza, já havia visto sangue o suficiente para saber o que ele poderia causar quando em contato com uma superfície de madeira como aquela, aquilo era sangue velho, resquícios antigos, entro as pressas no quarto principal da mansão, e tranco a porta atrás de mim, arrasto por precaução a cômoda barricando como pude a porta para me sentir mais seguro, pelo mens ali. Um som familiar. Meu celular toca. — Caralho. São duas e quarenta e sete da manhã, quem poderia me ligar numa hora dessas? — falo sozinho na calada da noite, ainda cego de medo e agonia eu atendo a chamada. Uma voz irrompe o silêncio antes de mim.
— Alô? Jason? Jason, sou eu a Monica, desculpe te incomodar a essa hora, só estou ligando pra saber se você chegou bem e se está tudo certo com você? Jason, nossa a recepção do sinal aí onde você está é terrível e... — escutar aquela voz conhecida no meio da madrugada fria trouxe-me um certo acalento no coração.
— Monica? Graças a Deus, sim, sim, e... eu cheguei, agora escute, eu... — chiados consomem a voz do outro lado da linha, distorcendo e alterando as frequências e então eu posso ouvir a voz dela novamente, mas dessa vez como se conversasse com alguém, mas a voz é a minha? Ela estava falando comigo? Isso não faz sentido, quem está respondendo a ela se eu estou aqui apenas ouvindo as duas vozes dialogando entre si? Aquela voz era idêntica a minha começa afalar, o Jason da chamada diz a Monica que eu devo retornar dentro de algumas semanas a Los Angeles, a voz pede para que ela não se preocupasse e que não era mais necessário ligar checando meu estado, eu penso "Que merda está acontecendo aqui?" minha cabeça fervilha ao tentar juntar as peças de um quebra-cabeça que se quer me foi apresentado, enquanto eu tento inutilmente chamar a atenção da Monica do outro lado da linha — Monica, chama a Polícia! Esse não sou eu! Monica? Monica! Responde merda! — A ligação termina. O tom surdo da chamada arrebenta meus ouvidos como uma flecha de desespero cravando em um cervo amedrontado.
Assusto-me com o barulho na janela do meu quarto, algo repentino, veloz e agudo, como o som de algo se aproximando com um punhal batendo contra o vidro, era o maldito corvo. Aquele animal fazia suas estocadas, bicando a janela com tamanha força que se fosse de um porte maior talvez, poderia derrubá-la com a força de seu bicar incessante. Vou em direção a janela com a intenção de espantar a ave arruaceira que perturba minha paz, mas quando me aproximo ela simplesmente levanta voo, abrindo suas asas na imensidão da noite gelada em direção a lua no horizonte. Nesse momento eu vejo alguém no bosque, uma sombra. Havia alguém lá. Era certo.
De súbito sem entender direito a muito bem a razão, um desejo de proteger aquele lugar invade meu coração, eu retiro a cômoda da frente da porta desfazendo minha desleixada barricada improvisada, e desço as escada de carvalho dois laces por vez, passos largos dignos de uma atleta, abro a porta e me pego no meio da noite, desarmado, em lugar desconhecido, feito um idiota, coração acelerado, pupilas dilatadas para enxergar na escuridão, tudo isso apenas esperando que algo pule das sombras e arraste-me pelo bosque para que nunca mais eu fosse visto novamente, pensei. O sentimento termina por vez, e o medo e a insegurança retornam como velhos amigos que não me viam há séculos num abraço mórbido e quebradiço "O que diabos eu estou fazendo?", essa casa parece ter algum tipo de influência sobre mim. Como seu fosse uma marionete pendurada por cabos invisíveis.
Fecho a porta e de volta ao salão principal decido ir até a cozinha e beber um copo de água, quem sabe isso ajudaria a me acalmar, estava gelado na cozinha, a calefação na parte inferior da casa não era tão boa quanto nos pisos superiores e era fácil pegar um resfriado nessa época do ano. Coloco a mão no bolso instintivamente procurando pelo meu pager e meu celular, me vejo preocupado com o retorno a Los Angeles. Eu havia deixado recado para o quadro de funcionários do Santa Fé, mas nesse ritmo acho que alguém já deveria ao menos tentar entrar em contato comigo, saber se eu havia chegado bem, lembro-me da conversa estranha com Monica ao telefone "Era como se ela não estivesse falando comigo, mas estava me respondendo mesmo assim. Porra!" continuo olhando para o piso antigo da cozinha que se edifica em desenhos de frutas e aparelhos de jantar, o ambiente todo me faz recordar de filmes antigos, da década de setenta talvez? Filmes que eu assistia com meu pai quando o visitava na ala psiquiátrica. Meu consciente se apega a memória mas meus ouvidos me alertam sobre passos chegando.
Me esgueiro até a porta da cozinha com uma vista para o hall central do Solar Cromwell, a porta da entrada simula fechar-se e eu corro em direção, esbaforido, abrindo-a de supetão, e me deparando mais uma vez com a imensidão da noite, sem viva alma para indagar. Minhas mãos estão tremendo. Volto correndo as escadas até me quarto, fecho a porta e coloco minha fiel barricada em ordem novamente, meu pager e celular em cima da mesinha de canto ao lado de minha cama. Sento no confortável colchão, mas isso não diminui minha taquicardia, parado olhando para o canto direito do quarto, em meio a uma sombra que não é perfurada pela luz da lua, começo a imaginar olhos brilhantes em tom de um doentio amarelo me devorando das trevas.
Imagino que o tempo tenha passado e que logo amanheceria, mas me deparo com a surpresa de que todo esse desagradável momento que vivi aqui nessa casa dos infernos, passou-se em menos de dez minutos, o que para mim é algo fisicamente inconcebível, era irreal, "Quer saber? Que se foda essa merda! Eu vou embora daqui agora mesmo!" sugo as últimas gotas do velho Jason corajoso que ainda repousavam naquele corpo cambaleante de medo, trêmulo com os pés que mal encostavam no chão, a cama grande fazia-me senti pequeno, como uma criança assustada, quando levanto-me, em minhas orelhas vindo do canto escuro que estava encarando em meu quarto, escuto uma voz fria e áspera como gelo ártico sendo arranhado por uma navalha de metal "Durma Jason, amanhã seu legado vai se revelar. Agora, apenas durma, você está seguro aqui, por enquanto..."
Eu desabo sobre os lençóis finos. Eu... apenas... durmo.
 
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